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Entrevista

Manuela Dias detalha final de Amor de Mãe e relembra anos de Ufba com Wagner e Jean

Por Júnior Moreira Bordalo

Manuela Dias detalha final de Amor de Mãe e relembra anos de Ufba com Wagner e Jean
Montagem: Bahia Notícias

“Ser baiana é régua, compasso, axé, família, berço, ‘suingue’, jeito de corpo, forma de ver o mundo, de ver o corpo, religião… Eu sou do candomblé, toda minha família é da Bahia. A Bahia é minha terra, minha verdadeira casa e meu lugar no mundo. Em qualquer outro lugar, sempre serei uma estrangeira”. É desta forma que a autora Manuela Dias - que irá abrir um centro cultural por aqui (veja) -  entende sua formação humana. Soteropolitana, jornalista - formada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) -, ex-atriz e autora, ela está de volta ao horário nobre da Rede Globo com um dos principais produtos da emissora, a continuação da novela Amor de Mãe. Ou como eles intitularam, “a fase final” - que terá quatro semanas de capítulos inéditos. 

 

Apesar de Amor de Mãe ser sua estreia como autora principal de uma novela da platinada, Manuela já coleciona diversos trabalhos que ficaram na memória do público. Ela foi roteirista dos seriados Sandy & Junior, Bambuluá (infantil protagonizado por Angélica em 2000-2001) e A Grande Família; colaborada nas novelas Cordel Encantado e Joia Rara e autora principal das séries Ligações Perigosas e a premiada Justiça - que terá segunda temporada. “Soube sempre que seria autora. Comecei a trabalhar como atriz porque não tinha com quem ficar e minha mãe é produtora de teatro e cinema”, explicou.

 

Voltando à trama das nove, que foi interrompida em março de 2020 por conta da Covid-19, um ano depois o público saberá o desfecho das protagonistas Vitória (Taís Araújo), Thelma (Adrianas Esteves) e Lurdes (Regina Casé). Para isso, e por se tratar de um enredo realista, a pandemia foi inserida nos dilemas das personagens, como já pode ser visto nos capítulos exibidos desde o retorno. Na entrevista concedida ao Bahia Notícias, Manuela falou ainda sobre sua história, tempos de faculdade - ela foi da mesma turma de nomes como Wagner Moura e Jean Wyllys - e desfecho da história. “Posso dizer que uma boa jornada é aquela que desafia o herói com oportunidades de ele ser o máximo do que é em cada uma das suas características. Cada personagem será levado ao máximo dele mesmo”, contou. Confira a entrevista completa:  

 

Manuela, "Amor de Mãe" voltou com capítulos inéditos após quase um ano da paralisação por conta da pandemia da Covid-19. Primeiro, como você se sentiu ao saber que a novela seria interrompida? Qual foi sua reação?

Parar as gravações naquele momento foi uma decisão muito acertada da Globo e fundamental para proteger todos os envolvidos. Minha primeira preocupação naquele momento era com as milhares de pessoas que estavam morrendo de uma doença desconhecida. Algo tão avassalador que não havia espaço para me preocupar com outra coisa. 

 

Quais foram os ajustes e reformulações mais diretas para que esta fase final acontecesse dentro das limitações impostas pela pandemia? Pelas chamadas é possível ver que a pandemia entrou na história.

Em uma novela realista como Amor de Mãe, não ter o coronavírus inserido significaria mudar o gênero da nossa narrativa. E ter a pandemia inserida na história também ajudou a cumprir o protocolo. Assim como na vida real, o distanciamento é necessário. E para cenas com maior contato físico, os atores ficaram isolados antes de gravar, usamos acrílico e outras técnicas para criar segurança.

 

Como foi para você seguir e adaptar a história diante de tudo que o Brasil está vivendo?

Sobre adaptar a história, essa é a vida dos roteiristas. Estamos sempre nos adaptando continuamente à realidade. E eu gosto disso! Nos adaptamos ao sol e à chuva, à saúde dos atores, imprevistos no trânsito, a tudo. A pandemia foi mais uma coisa à qual nos adaptamos. Claro, foi um fator intenso e decisivo. Porém, é emocionante e dá orgulho ver com que disciplina e paixão que as pessoas envolvidas com audiovisual se empenham para entregar as histórias para o público. 


O que o público pode esperar dos desfechos das três protagonistas?

 Não vou dar spoiler, mas posso dizer que uma boa jornada é aquela que desafia o herói com oportunidades de ele ser o máximo do que é em cada uma das suas características. Cada personagem será levado ao máximo dele mesmo. É isso que vamos ver na segunda fase da novela. 

Já vi entrevistas de atores, como a própria Taís Araújo, relatando o peso de protagonizar uma novela das nove da Globo. Como foi essa experiência para você enquanto autora?

A experiência ainda está em andamento, então não tenho uma visão do todo. Mas nesse período de isolamento deixou muito clara a importância da produção audiovisual. Ter acesso a séries, novelas e filmes foi um auxílio imprescindível para suportarmos não só o isolamento, mas essa proximidade tão cotidiana com a morte que a pandemia traz. Contar histórias é um ato central na formação do que chamamos de humano. Contamos histórias desenhando nas cavernas, ao redor da fogueira, com teatro, pinturas, fotografias, livros, filmes, TV, internet, 3D, realidade virtual… O veículo pode mudar com o tempo, mas o impulso fundamental da contação de histórias segue o mesmo. Porque as histórias ajudam a tecer essa malha de padrões éticos e comportamentais que usamos para nos amparar. Precisamos de histórias como precisamos de comida, de sono, água e afeto. 


Assim como eu, você é baiana, jornalista e também formada em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia. Como este ‘combo’ te formou enquanto autora? 

Ser baiana é um ponto fundamental na formação da minha identidade. É régua, compasso, axé, família, berço, ‘suingue’, jeito de corpo, forma de ver o mundo, de ver o corpo, religião… Eu sou do candomblé, toda minha família é da Bahia. A Bahia é minha terra, minha verdadeira casa e meu lugar no mundo. Em qualquer outro lugar, sempre serei uma estrangeira. Passei toda vida na casa de meu avô Fernando na casa da Federação, comendo manga da mangueira do quintal. 

 

Como foi sua geração na época de estudante de comunicação da Ufba? 

Minha turma na Ufba era um estouro! Eu, Wagner [Moura], Jean Wyllys, Amaranta César que foi pra Paris e voltou pra Universidade no Recôncavo. Lula Oliveira, diretor e produtor de audiovisual. Tínhamos aulas com Wilson Gomes! E logo ali na Católica estavam Vlad [Vladimir Brichta], João Rodrigo Mattos, também roteirista e diretor de cinema hoje, e mais adiante no Campo Grande tinha Laz no Vila Velha… É a formação de uma geração da qual sinto muito orgulho de fazer parte. E seguimos juntos de muitas formas. Acabei de fazer o "Falas Negras" com Lázaro [Ramos]. Vlad fez Justiça e está em “Amor de Mãe”. Jean e Wag seguem fazendo parte da minha vida mesmo morando fora. Então, respondendo sua pergunta: estudar na Ufba onde fiz amigos e parceiros pra vida é uma etapa fundamental da minha formação. 

 

Por fim, ser autora sempre foi seu sonho?

Fui atriz dos sete aos 19 anos, quando escrevi minha primeira peça de teatro (Soul4, dirigida pelo Luis Salém). Aliás, parcerias são tão relevantes para mim que a Arieta Corrêa, que fez essa peça, está em Amor de Mãe [Ela vive a Leila, ex-mulher de Magno, interpretado por Juliano Cazarré], é uma atriz imensa! Soube sempre que seria autora. Comecei a trabalhar como atriz porque não tinha com quem ficar e minha mãe é produtora de teatro e cinema. Eu ia com ela para os ensaios e o Ciro Barcellos, diretor da peça, acabou inventando um papel para mim. Eu era o Hare Krishna! Daí, fiz várias peças e estudei muito o dificílimo ofício da atuação. Mas sempre foi sofrido pra mim. Aos 19 anos escrevi ‘Soul4’ e no dia do primeiro ensaio, quando a Arieta fez a primeira marca, da primeira fala da peça, eu fiquei muito emocionada ao ver meu pensamento andar, girar e falar. Ao sair do teatro liguei para minha mãe e disse: descobri o que eu quero fazer! Quero escrever.