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Entrevista

'Quando sentir que não está bom, vou mudar', diz Péricles sobre 'pressão' para emagrecer

Por Júnior Moreira Bordalo

'Quando sentir que não está bom, vou mudar', diz Péricles sobre 'pressão' para emagrecer
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Um dos sambistas mais respeitados do Brasil, Péricles resolveu eternizar seu carinho pela Bahia e escolheu Salvador como local de gravação do seu mais novo DVD. O evento acontecerá no dia 6 de julho, na Arena Fonte Nova, e já foi confirmado show de Belo, além de participação de Xanddy, vocalista do Harmonia do Samba, e Tiee, revelação do pagode. Por conta disso, o veterano esteve pela capital na última semana para iniciar o processo de divulgação e visitou a redação do Bahia Notícias.

 

No papo, entre outras coisas, comentou como anda a briga judicial pelo direito da marca do Exaltasamba (relembre aqui), banda que comandou até 2012, disse sobre a possibilidade de se reunir com Thiaguinho e outros membros do antigo grupo para uma celebração e revelou sentir falta atualmente de uma atração na TV brasileira como o “Esquenta!”, programa comandado por Regina Casé na Globo até janeiro de 2017. A atração focava em discutir questões sociais. “Além de entretenimento, ele levava questões para a gente discutir durante a semana, assuntos espinhosos eram debatidos com leveza. Essa era a função do programa e sinto falta. Quero crer que logo a gente terá um programa como esse. O público hoje olha para a TV e não se sente representado. Fica esse buraco”, ressaltou.

 

Faltando pouco mais de um mês para completar meio século de vida – seu aniversário é no dia 22 de junho -, Péricles reconheceu – com a tranquilidade da experiência de quase 30 anos de carreira – que paga um preço alto por ser negro e gordo, mas diz ter optado pelo conhecimento para lidar com a discriminação. “A maior arma que a gente tem contra qualquer preconceito é a informação. Acredito nisso”. Contudo, admitiu que todos os dias recebe “dicas” de dietas, médicos e cirurgias para perda de peso.

 

“Diariamente ouço alguém falar ‘você tá muito gordo’, ‘você vai ficar doente’, ‘você precisa fazer uma cirurgia’. Ouço e sigo em frente porque esses comentários não podem mudar minha maneira de ser. Acredito em quem eu sou e o que quero fazer por mim. Quando eu sentir que do jeito que estou não está bom, vou fazer qualquer coisa para mudar. Sou gordo, mas sou feliz demais do jeito que sou, procuro fazer meus exames, faço meus exercícios, jogo minha bola quando posso e dá tempo e sigo feliz porque sei quem eu sou. Sei meu lugar e sigo em frente”, reafirmou. Confira a entrevista completa:

 

Péricles, você vai gravar o seu DVD aqui em Salvador, no dia 6 de julho. O que pode adiantar desse evento?

Existe um suspense que é bom, né? Em um momento como esse, é legal deixar a curiosidade da galera mais aguçada, o que ajuda para que todo mundo venha participar. É um DVD que vai ter o show e a participação do Tiee, cantando uma música comigo. Tem outras participações bem legais, mas que ainda não posso adiantar. Teremos um show de Belo para abrilhantar e fazer um carinho no público. Vai ser uma noite do jeito que Salvador merece, com bastante samba e emoção. O repertório tem um bom apanhado de tudo que fiz da carreira, algumas homenagens aos ídolos que tenho, vou cantar em inglês, espanhol... É um show baseado no CD ‘Em Sua Direção’ e algumas novidades, como músicas inéditas.

 

Salvador é um lugar em que você já se sente em casa?

É um lugar muito especial. Tenho um carinho imenso. Não só por ser bem recebido... sinto-me em casa aqui e sempre tive a vontade de poder retribuir o carinho que a gente recebe gravando um DVD. Chegou a hora. Creio mesmo que será uma noite inesquecível porque é como se eu sentisse o dever de devolver todo o carinho que os baianos têm comigo.

 

Você já lotou a Concha Acústica com 'Péricles In Concert', um projeto mais intimista. É figura cativa nos grandes eventos. Participa com artistas de vários seguimentos, fez até samba-enredo pela Mangueira. Para o artista é fundamental ser versátil?

Eu sou inquieto por aí. A música e o universo artístico são amplos. A gente pode explorar várias vertentes. Então, nada mais justo que onde eu puder semear e ter frutos bons eu queira estar. Dentro desse pensamento, fui convidado para participar da Mangueira. Estar com outros artistas é sempre bom e quando a gente pode aceitar é a maior alegria do mundo.

 

E quanto aos novos artistas? Você, por exemplo, é um grande apoiador da carreira da atriz e cantora Jeniffer Nascimento, vencedora do último “PopStar” e do seu marido, o ator baiano Jean Amorim.

Ela é um talento nato e venceria de qualquer maneira porque é além do normal. Além de grande atriz está podendo mostrar que é cantora. Conheço-a de antes disso. Tive a sorte de ver esse talento se transformar. Hoje, a relação está muito mais estreita a ponto de ser convidado para ser padrinho de casamento deles. Estou muito feliz por ela e pelo Jean, que é daqui da Bahia. Outro grande ator, que há muito tempo batalha pelo cinema brasileiro. É muito legal. Acho que vou arrastá-la para esse DVD. É uma boa ideia.

 

Como vê o movimento do pagode/samba que é feito aqui na Bahia?

Vejo o pagode baiano, adoro, sou muito fã de várias bandas. Gosto da maneira que é feito aqui. A festa O Encontro – evento que reuniu Harmonia do Samba, Parangolé e Léo Santana - , por exemplo, trouxe o Tony Salles, que para mim é o cabeça de todo esse movimento, depois o Xanddy e Léo Santana, que é alguém que bebeu na fonte e fez com que seu trabalho fosse encarado de igual para igual. São os ícones do pagode da Bahia. Essa festa é uma revolução no pagode da Bahia. Muita gente esperava. Torço muito pelo sucesso daqui. Queria ter visto em outros tempos esse pagode bem representado e agora temos isso.

 

Pesquisando sobre você, revi o vídeo de seu filho Lucas Morato cantando pra você no "Esquenta" um dos momentos mais especiais do programa (reveja aqui). Você sempre o incentivou?

Muito pelo contrário, porque a gente sabe que é uma vida de muito sacrifício, muita entrega; a ponto de, às vezes, você ficar muito tempo longe da família. O Lucas sempre viveu nessa atmosfera e tinha medo de não poder cria-lo como um bom cidadão. Hoje, já tem 26 anos, mas tinha medo dele sofrer. Porém, em um belo dia sentamos, levei-o para a estrada e ele adorou... quando menos vi já estava escrevendo. Atualmente, compõe com vários outros artistas, tem música com Thiaguinho, Ferrugem... hoje, eu sou o pai do Lucas. Isso é o máximo.  

 

Aliás, o “Esquenta!” era um presente? Sente falta?

Sinto. Como fã, sinto que falta na TV brasileira um programa como ‘Esquenta!’. Além de entretenimento, ele levava questões para a gente discutir durante a semana, assuntos espinhosos eram debatidos com leveza. Essa era a função do programa e sinto falta. Quero crer que logo a gente terá um programa como esse. O público hoje olha para a TV e não se sente representado. Fica esse buraco. Tenho certeza que o ‘Esquenta!’ cumpriu sua missão e deixou um buraco enorme na televisão brasileira.

 

O programa discutia muito sobre preconceito. Vi uma entrevista em que você confessou já ter sido vítima do racismo. Como você vê o preconceito racial hoje em dia? E como tenta se blindar?

A maior arma que a gente tem contra qualquer preconceito é a informação. Acredito nisso. Quando as pessoas sabem que são e as outras conhecem a nossa história, acho que o preconceito cai por terra. Quanto mais pudermos informar às pessoas que não nos conhece, ele cai por terra.

 

Acha que o racismo é aliviado por ser quem é?

Em muitos momentos, a gente sente um pouco disso. Não só comigo, mas outros cidadãos negros que a gente vê por aí. Parece que a cor da pele passa batido quando você tem algo a oferecer. E todo mundo tem. Seja branco, gordo, mulher, todos têm algo a oferecer. O que a gente precisa é tirar essa venda dos olhos das pessoas e conviver.

 

Não sei se sabe, mas muitas pessoas se inspiram em você. Quando digo pessoas, digo gordos também. Você mostra que é possível ser quem é e conseguir o sucesso. Qual o preço que o Péricles paga por ser quem é?

A gente sempre paga um preço. Acredito que o maior preço que é justamente o fato de ser abordado por pessoas que queriam estar onde estou, queriam ser quem eu sou e vêm com o discurso ‘diferente’, vamos dizer assim. Mas creio que temos que nos capacitar para vivermos certas coisas. Procuro trazer informação para mim, me preparar para poder encarar as pessoas de igual para igual. Fui sapateiro, metalúrgico, barbeiro, inspetor de alunos e todas essas profissões ajudaram a lidar melhor com os seres humanos e é isso que procuro fazer.

 

Já recebeu ataques gordofóbicos?

Eu prefiro não prestar muita atenção. Sei que os comentários estão ali, leio alguns, mas não vou apagar fogo com fogo. Ao invés de retrucar – porque acabaria não falando apenas para aquela pessoa e faria com que várias que não têm relação também tivessem acesso a aquilo – procuro fazer diferente. Acho que para muitos o castigo tá dado. A gente tem que dar o que tem. Eu dou o amor porque tenho amor, se a pessoa não tem, ela que vá procurar os melhores meios. É por aí que tem que ser.

 

Por ser gordo, suponho que lide com a pressão estética para emagrecer que pessoas surjam com constância oferecendo dietas, indicando médicos, cirurgias etc. Confere essa impressão?

O tempo todo. Diariamente ouço alguém falar ‘você tá muito gordo’, ‘você vai ficar doente’, ‘você precisa fazer uma cirurgia’. Ouço e sigo em frente porque esses comentários não podem mudar minha maneira de ser. Acredito em quem eu sou e o que quero fazer por mim. Quando eu sentir que do jeito que estou não está bom, vou fazer qualquer coisa para mudar. Sou gordo, mas sou feliz demais do jeito que sou, procuro fazer meus exames, faço meus exercícios, jogo minha bola quando posso e dá tempo e sigo feliz porque sei quem eu sou. Sei meu lugar e sigo em frente.  

 

Pinha Presidente, ex-integrante do Exaltasamba esteve aqui comigo há um tempo e plantou a semente sobre um futuro retorno da banda com vocês e Thiaguinho. Pensam nisso?

Em 2015, fizemos o projeto ‘A Gente Faz a Festa’, que serviu para relembrar as coisas do Exalta e tal. Hoje ficou mais difícil por causa de agenda, mas não deixa de ser uma ideia. Como a gente demorou muito tempo para pensar no assunto, hoje a prioridade é outra. Quero fixar minha carreira, Thiaguinho a dele, Pinha na dele. Quem sabe um dia. Não quero dizer ‘nem que sim, nem que não’, mas uma coisa que sempre falo para as pessoas é: ‘A história do Exaltasamba jamais irá se apagar, pois está no coração da gente’.

 

Os outros fundadores do grupo, Brilhantina e Thell, entraram com uma ação em 2016 solicitando o uso da marca para seguir com uma nova formação, com três outros membros. Como ficou essa situação?

Ainda não se resolveu. Eles estão usando a marca. Hoje em dia todo mundo pode usar. Acho que ainda estão usando.

 

Vocês restabeleceram os laços?

Acabou que a gente nunca mais se viu. Eles estão seguindo com o nome... sei lá... espero que se deem bem.

 

Por fim, não temos como não perguntar, como anda a recuperação do Arlindo? Tem acompanhado?

Tenho acompanhado não tão de perto como gostaria, mas a gente vê a recuperação dele bem gradativa. Do que ele estava para o hoje, melhorou em 90%. Recentemente, a família postou uma imagem dele comendo sozinho, isso é um alívio para a gente que ama esse cara. Ainda não pude estar com ele, quero fazer isso logo assim que estiver no Rio, mas essas vitórias a gente comemora. Vejo que ele vai acabar se recuperando.

 

Confira como foi a passagem de Péricles pela redação do Bahia Notícias e aproveite para ver um quiz que fizemos com ele