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Entrevista

Tatau comenta suposta saída do Araketu: 'contrato está acabando'

Por Rafael Albuquerque

Tatau comenta suposta saída do Araketu: 'contrato está acabando'
O cantor Tatau está completando dois anos de retorno aos vocais do Araketu e concedeu entrevista ao Bahia Notícias para falar das novidades deste Carnaval. O artista falou sobre sua relação com o pagode e arrocha e opinou sobre a redução no circuito Osmar (Campo Grande): “Acho que é experimental e por isso é prematuro a gente sair falando muita coisa. (...) Fico preocupado com a tradição”. Sobre os camarotes, ele foi enfático: “Quem defende o camarote fala em segurança, mas acho que não é isso. O Carnaval no chão tem segurança, polícia, cordeiros, os blocos com equipes de segurança”. Tatau, que em sua primeira temporada permaneceu por duas décadas na banda, explicou como é a divisão de atividades no grupo: “Defini minha cabeça focada para a parte musical. O processo do bloco e das outras coisas ligadas ao Araketu eu fiquei de fora. Me informam e eu informo às pessoas”. Por fim, o vocalista confirma o fim do contrato com a banda e fala sobre seu futuro, se vai continuar no Araketu ou seguir carreira solo.
 

 
Bahia Notícias: Pra começar, vamos falar de Carnaval e sobre a homenagem que a banda Araketu fará a Nelson Mandela.
Tatau: A homenagem não é da banda, é minha. Na verdade fiz uma música (Protesto Olodum) há 25 anos que de forma simpática e breve faz uma citação a Mandela. Acho que uma citação é muito pouco. Não será nada tão grandioso, pois prestar uma homenagem a Mandela e às coisas que ele conseguiu fazer enquanto carne é imensurável. Gostaria de fazer mesmo algo maior do que só citá-lo em uma música minha, que foi “Protesto Olodum”, música campeã do Festival do Olodum e música do ano na época. Sinto que devo algo maior pra ele, então estamos estudando de que forma vamos fazer algo que possa trazer um pouco à tona essa grandiosidade que é ele e marcar. Estou pensando em cantar um pouco o hino da África do Sul, que eu acho bacana, intercalando com alguma coisa da Bahia.

BN: Quais as outras novidades?
Tatau: Olha, Dona Vera (dona do Araketu) sempre teve envolvida e agora mais do que nunca ela está totalmente com a cabeça voltada para o carnaval e o bloco. Ela repassa pra mim algumas informações sobre o que vai acontecer no Carnaval. Posso adiantar que na quinta vamos praticamente fazer a abertura da festa com os blocos afro. Será um desfile especial onde a gente vai se juntar com o Ilê Aiyê, o Malê, o Olodum, o Muzenza, etc, que são verdadeiramente, na minha visão, a grande válvula de escape na cultura da Bahia, que conseguem trabalhar bem os temas. Eu lembro que todos os blocos afro serviam de fonte para bandas como Reflexus, Banda Mel, e isso se perdeu.

BN: Será que comercialmente isso não interessava?
Tatau: Acho que é interessante. Atualmente as pessoas investem as coisas. O certo é cantar lá embaixo para chegar lá em cima. Mas tem muita gente começando lá em cima e depois querendo ir pro gueto. Não chega! Quando se conhece a verdade e a linguagem do gueto é muito mais fácil tirar dali e levar pra outro patamar. Eles têm conteúdo e é importante que a gente continue pesquisando e gravando músicas dos blocos afro.

BN: Mas como vai ser esse desfile na quinta?
Tatau: Vai ter a participação de todos os cantores em um só trio, uma espécie de revezamento. Deve ter uma batida completamente percussiva, pois a ideia é essa, mostrar a beleza rústica. O Araketu já fazia isso. De 1980 a 1989 a gente era só percussão, depois que veio a banda toda. A gente vai meio que reeditar isso, intercalar a Banda Araketu com a parte percussiva durante o trajeto.

BN: E nos outros dias de Carnaval?
Tatau: Vamos sair no Pipocafro no domingo. Esse é um presente que resolvemos dar a Salvador. Eu tive essa ideia com Cristiano Lacerda para fazer um bloco diferente, para o Araketu presentear o público com algo de graça, sem cordas, assim como fizemos o ano passado e foi lindo. No sábado vamos sair no tradicional bloco Araketu na Avenida e na terça-feira vamos pra o circuito Barra-Ondina.

BN: Há a tendência de grandes artistas se apresentarem em trios sem corda. Saulo foi o precursor disso na atualidade. A que se deve isso? Seria um caminho contra a elitização do Carnaval?
Tatau: Eu compartilho da tese de que a escolha de fazer isso no Carnaval deve acontecer através da sintonia dessas ideias. No caso do Araketu, a ideia primordial foi presentear a cidade do Salvador. Não pensamos em outras ideias. Penso que todo mundo que trabalha o ano todo, que vive da Bahia e do carinho do povo baiano, poderia pelo menos uma vez por ano dar um presente à cidade. Não necessariamente no Carnaval, como o Araketu está fazendo, como Saulo e Psirico fizeram. Tem que ser uma festa para agradecer ao público baiano que nos dá tanto durante o ano. Eu pensei no Araketu, que tem mais de 20 anos de carreira e nunca tínhamos tocado de graça pra o povo. Pensamos em presentear o público baiano. Agora, se Saulo, Márcio Victor e a moçada toda tem outro pensamento sobre isso eu não sei. Acho que tem que continuar o que já existe, mas o camarote tem que sobreviver, os blocos, etc. Existe um custo e uma demanda pra isso. Não é justo que não se ganhe algo em cima disso. O Carnaval é muito nosso, é muito esperado. O pessoal pensa no povo, na alegria, mas pensa também em ganhar algo em cima do Carnaval.  
 

 
BN: Você concorda com uma das principais mudanças do Carnaval 2014, que é a redução do circuito Osmar, onde os trios vão seguir só pela Avenida Sete?
Tatau: Acho que é experimental e por isso é prematuro a gente sair falando muita coisa. Esse lance de tentar fazer alguma coisa pelo carnaval nesse sentido é louvável. Mas sou muito tradicionalista. Considero o circuito do Centro, do jeito que ele sempre foi, o meu grande Maracanã, meu grande estádio. Aquilo ali é muito envolvente. Nós temos outros dois circuitos completamente arejados, com outro tipo de organização, e o bequinho, o circuito do Centro, onde a gente passa pelo meio das casas, dos casarões.

BN: É uma energia diferente?
Tatau: Completamente diferente. É um lugar já aquecido e a gente já entra bem lá. Eu acho que são ideias, mas vou esperar um pouco mais pra me posicionar. Deixa ver. Eu quero primeiro passar por isso pra depois me manifestar a respeito. Vale a pena a gente ver de que forma isso funciona. Eu gosto desse lance de estar mexendo na cidade, mas fico preocupado com a tradição, com o que eu sempre curti.

BN: Você falou anteriormente que é a favor desse formato que já existe com camarotes...
Tatau: Eu falei que sou a favor que os dois lados se beneficiem, ganhem seu dinheiro e organizem suas coisas. Mas acho que tem moderação pra isso. O carnaval da Bahia não foi feito com esse pensamento de que teria camarote; foi feito pra o chão, pro trio. Os anos passaram e as coisas mudaram e hoje tem o carnaval de camarote, pra quem quer ver, e o mais participativo, no chão, na pipoca, no bloco. Quem defende o camarote fala em segurança, mas acho que não é isso. O Carnaval no chão tem segurança, polícia, cordeiros, os blocos com equipes de segurança.

BN: Como você avalia a participação popular no Carnaval de Salvador?
Tatau: Acho que depende da atmosfera que estamos vivendo. Pelo que tenho sentido, esse ano a gente vai ter um carnaval que não vai dar pra perceber de forma contundente isso que nós estamos conversando aqui. Esse ano a festa vai estar grande, povoada.

BN: Por quê?
Tatau: Porque esse ano as músicas estão influenciando muito, porque as bandas têm boas canções. Isso mexe com os outros estados e faz com que as pessoas venham pra cá. A cidade já respira carnaval. Eu viajo muito e vejo muito as pessoas falando que vêm pra cá. Eu acredito que esse vai ser o carnaval mais cheio dos últimos anos no camarote e no chão. Ainda dá pra ter um carnaval de massa, de muita participação. Hoje quem tem bloco tem camarote, pelos menos os grandes nomes. Então, essa discussão é complicadíssima, pois cada um puxa sardinha pra o seu lado.

BN: O Araketu se apresentou na festa de Réveillon no Comércio. Como foi o show?
Tatu: A ideia foi sensacional. Acho que a prefeitura teve uma sacada muito especial, pois lá a festa foi pra o povo suburbano, da cidade alta, cidade baixa, pra todo mundo. O Comércio é um ponto estratégico e o evento foi um golaço. A grade de atrações também contemplou todo tipo de som, com atrações nacionais e locais. Gostaria que no próximo ano começasse um pouco mais cedo e abrisse mais espaço pra outras bandas consideradas emergentes e que estão buscando espaço. Isso vai dar mais oportunidades às bandas que existem em Salvador e que não têm espaço.
 

 
BN: E como foi a apresentação do Araketu?
Tatau: Fantástica. Esse talvez tenha sido o ano que a gente menos tocou em Salvador. E sinto que há uma comoção na cidade. Fomos a última atração da noite e o público não arredou o pé. Tinha muita gente. Eu tinha feito um repertório completamente autoral, mas quando senti que o público queria mais coisas eu me rendi e fui colocando mais coisas. O Ara atende o anseio do público, não temos radicalismo. A gente tem um legado autoral bacana, mas tocamos de tudo.

BN: Enquanto artista que tem contato com o povo, o que o público mais pede?
Tatau: Ah, dá pra sentir. Eu trabalho com um repertório, mas tenho uma base de comunicação com a banda e a gente sente qual a tendência. O cantor e o diretor musical fazem um apanhado do que está tocando na região, as dez mais tocadas na cidade. Às vezes não funciona, mas a gente sente. Outra coisa, o Araketu é uma banda de mais de vinte anos. Quem acompanhou o Ara tem certa idade, mas temos também o público novo. É pra esses novos que vem o plano B do show, com o microfone aberto pra que a gente possa tocar músicas como “Fui Fiel” (Pablo).

BN: Você se rendeu a essa tendência do pagode e arrocha? 
Tatau: Não, não é que eu me rendi. Eu tenho essa relação, eu vim daí, do samba de roda, junino, que é quase irmão desse movimento que hoje existe. Não caí do nada aí. Sou inserido nesse contexto, eu tinha relação com várias comunidades através de desfiles juninos. Falando em pagode, tem duas músicas minhas no DVD do Psirico, já gravei com OZ Bambaz, Pablo. Aliás, Pablo grava música minha pra caramba. “Claudinha Bagunceira” é minha também com Xixinho. O Chiclete com Banana também vai gravar música minha; Claudinha gravou quatro no DVD, Sorriso Maroto também grava muitas músicas minhas e Alinne Rosa também tá gravando. Acho bacana criar essa relação. Eu toco de tudo no show da gente. Acredito que o Araketu seja o mais ousado de todos, pois enquanto todo mundo pensa na música estilo “murro no olho” de Carnaval, eu quebro isso com o romântico com “Sempre Será”, “Tentação”, “Nossa Guerra é Santa”, “Tá na Cara”, “Minha Razão de Viver”, “Face Oculta”, “Mal Acostumado” e “Amantes”, todas grandes sucesso do Ara. Acho que é música, boa música. Sou completamente avesso ao radicalismo, de segmentar. O som do Araketu é aberto pra todo mundo.

BN: Você falou que esse foi ano que o Ara menos tocou em Salvador e isso me remete aos ensaios em Periperi e na Rua Chile. Por que esse ano não teve ensaio?
Tatau: É, não teve. Esse ano eu tive uma conversa com todos que compõem o corpo do Araketu e defini minha cabeça focada para a parte musical. O processo do bloco e das outras coisas ligadas ao Araketu eu fiquei de fora. Preferi dar atenção 100% à reestruturação da parte musical, parte artística da banda. Tem uma música nova minha e de Xixinho chamada “Estilo Meu”. Disso aí eu cuido. O Araketu é muita coisa eu. Tem coisas dentro disso aí que eu não saberia informar precisamente. Me informam e eu informo às pessoas.

BN: Mas é uma vontade sua ter essa reaproximação com o público soteropolitano?
Tatau: Sempre! Tanto que quando eu voltei pra o Araketu eu trouxe algumas ideias como o Pipocafro e o retorno da escolha da Rainha do Araketu, pois é importante resgatar coisas que deram e vão continuar dando certo aqui. Acredito que isso tem que voltar. Por mim teria ensaio no subúrbio, em Periperi, na quadra do Araketu; por mim a gente teria o Araketu nos bairros. Isso temos que discutir e implementar, pois o Araketu surgiu assim, com essa coisa do povo, veio do subúrbio. Então, temos que ter essa relação com o público.

BN: E por que não aconteceu ainda?
Tatau: Esse ano eu preferi dar uma atenção à parte da música, pois acho que a Bahia precisa dar uma revigorada nesse sentido. Disso aí a gente faz acontecer um monte de coisas. Graças a Deus a gente tem viajado muito e voltado para as mesmas cidades. O que tem acontecido é que a gente anuncia no palco, no dia do evento, que vamos voltar no ano seguinte. Isso pra mim é um termômetro de que estamos fazendo um trabalho certo e que a dedicação da equipe está surtindo efeito.

BN: Tatau, quanto tempo já de banda Araketu?
Tatau: Tô indo pra 22 anos de banda. Eu saí quatro anos e voltei no carnaval do ano passado. A banda está completando 26. O bloco Araketu deve ter uns trinta e poucos anos.

 

BN: Nesses 22 anos no Ara, o que passa em sua cabeça quando você olha pra trás e vê o iniciozinho do Araketu?
Tatau: Nossa, é um legado, né? O Araketu, talvez, seja a banda que mais acertou em música, e durante anos seguidos, uns oito anos. E uma música te dá uma sobrevida de dois anos, você roda com uma música durante dois anos. Então foram dezesseis anos rodando com muita tranquilidade. Foi muita dedicação, teve muito suor e muita ralação nessa história. O Araketu rodou todo o mundo, só não tocamos no continente asiático. Trabalhei com muita gente bacana, como Jimmy Cliff, Julio Iglesias, Alcione, Zeca Pagodinho, etc. O Araketu me deu tudo isso, me deu régua e compasso, foi minha grande escola. Eu devo quase tudo ao Araketu. O Araketu trouxe pra cidade muita música, história, comportamento e cultura. O olhar das pessoas pra o Araketu no palco ainda é muito cultural. É uma história bacana.

BN: Há alguma negociação corrente para que a partir de abril você deixe o Araketu e volte novamente à carreira solo?
Tatau: Eu tenho um contrato com Araketu que está acabando. Tivemos um diálogo muito bacana quando eu estava retornando para o Araketu e o Araketu retornando pra mim. Tivemos a ideia de fazer um contrato curto e que a gente se estudasse nesse período. A ideia era um se apaixonar pelo outro de novo. Existe o contrato e estamos analisando. Tem que ser bom para os dois lados. A gente tem trabalhado, mas depois vamos ter uma reunião pra bater o martelo para ver se a gente continua ou se a gente volta para a carreira solo. Eu acho que a tendência é eu vá continuar.

BN: Pra finalizar, qual a agenda completa do Araketu no Carnaval?
Tatau: Estaremos quatro dias no Carnaval de Salvador. Na quinta tem a abertura do Carnaval no Centro; sábado no bloco Araketu; domingo tem o Pipocafro e o camarote da Schin e na terça no bloco Araketu na Barra e show em Porto Seguro. Os outros dias a gente toca em outros estados.

Fotos: Francis Juliano // Bahia Notícias