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Ildazio Jr.: 102 anos de Dodô, 100 de Osmar, 70 de Armandinho e um fenômeno chamado Trio Elétrico

Por Ildazio Jr.

Ildazio Jr.: 102 anos de Dodô, 100 de Osmar, 70 de Armandinho e um fenômeno chamado Trio Elétrico
Foto: Jotta Fotógrafo

Para uma pessoa que vive, respira, ama e foi criada com essa palavra linda e enigmática chamada “cultura” como norte, é fantástico entender que na minha terra, onde eu nasci, dois caras, a saber, Adolfo e Osmar, estudantes eletrotécnicos que se conheceram em 1938 em um programa de rádio (sempre o rádio!), inventariam um tal de pau (lá ele) elétrico. E ainda, ousadamente, iriam sair para brincar o carnaval de 1950 em um Ford 29 e formar uma "dupla elétrica" que, de repente, não mais que de repente, essa pretensão de um preto (sempre, né, fera?! Sempre um preto ou uma preta foda na parada para dar certo nessa terra!) e um suburbano raiz iria crescer e, no ano seguinte, 1951, incorporar a pessoa que eternizaria o termo TRIO ELÉTRICO. Temístocles, que nessa sequência bomba de vez chamando a atenção da empresa de refrigerantes estourada na época, a FRATELLI VITTA, que de longe percebeu o sucesso dos caras e fera em marketing promocional, colocou um "caminhão decorado" à disposição. Sendo assim, se iniciou todo um processo evolutivo constante onde esse bólido, eletrificado e amplificado sonoricamente foi também microfonado. Daí foram subindo músicos e mais músicos, técnicos e mais técnicos, cantoras e cantores e, assim, embarcados, centenas de motoristas literalmente aceleraram a música, levando ao crescimento da nossa maior festa de sobremaneira. E o melhor de tudo: geraram muito emprego e renda nessa parte de Pindorama bem festiva, alegre, porém bem pobre!

 

Diferentemente de Dodô, que faleceu em 1978 e não pôde gozar do estrondoso sucesso de sua criação, evolução, e também não formou uma família de artistas, "Seu Osmar", que se foi dessa para melhor em 1997, teve esse privilégio, pois esteve in loco no auge do Axé Music. E ainda deixou um legado musical foda, liderado pelo estupendo músico Armandinho Macêdo e sua guitarra elétrica, junto com os "Irmãos Macedo", Betinho, Haroldo e André, que arrebentam no nosso carnaval elevando assim não só o nome do pai, mas também e de certo modo, o fantástico Dodô!

 

Armandinho, que completa 70 anos, para a Bahia é motivo de orgulho sim, e estar presente na cerimônia de recebimento do título de Doutor Honoris Causa da UFBA para mim é mais que uma honra cultural! Moraes, quando saiu dos Novos Baianos (Galvão não permitiu que ele tivesse uma babá para seu filho no sítio que não fosse da comunidade, e esse foi o real motivo do fim, botem fé!), chamou Armandinho para tocar com ele em sua então recente carreira solo lá no Rio de Janeiro. E daí, em uma dessas descidas para a Bahia no carnaval e em cima do trio, pediu para usar o microfone de comunicação da produção para cantar "Jubileu de Prata". O resto é história que ainda continua a ser contada e tá aí, tudo registrado ad aeternum!

 

Mas como entender que não exista nada nessa terra que demonstre um mínimo de respeito pela grandeza do que esses dois caras juntos fizeram, que os homenageie além de nomes em circuitos que só aparecem no carnaval?! Por que não um monumento ao Trio Elétrico em tamanho real, na pegada “digital tiny museum”, contando a história deste grande veículo para turistas e público em geral de maneira tecnológica? E também com estátuas de bronze, placa e tudo mais onde os criadores e a criatura concebida por eles, responsáveis por toda uma rica economia festeira e por carregar toda a alegria, festa e swing de uma sensacional e diversa Axé Music, estariam assim realmente homenageados! 

 

Super ideia essa e, com todo respeito ao bloco Camaleão, ali na praça onde colocaram uma estátua da pata, deveria ter esse monumento ao trio de Dodô & Osmar. Pois afinal, sem eles, provavelmente a referida entidade carnavalesca e tantos outros blocos não teriam acontecido na avenida ou em qualquer lugar. E o que seria de nós?

 

Com a palavra, o prefeito Bruno Reis e seu secretariado. Pois, com certeza, sucesso como mais um ponto turístico será e, assim, vão poder compensar, no meu entender, o erro grave de sua equipe – que entende muito de entretenimento, mas de cultura engatinha – de não ter homenageado no carnaval que passou e de forma merecida o velho “Séo Osmar”, um dos pais de tudo isso, em seu centenário!

 

Viva Dodô, Osmar e, de quebra, Armandinho, esse jovem senhor Doutor Honoris Causa.

 

Carnaval é entretenimento, porém Dodô e Osmar são CULTURA!