Opinião: A disputa para ver quem é mais órfão, Geraldo Jr. ou a derrota dele em Salvador
Por Fernando Duarte
A Quarta-Feira de Cinzas de Geraldo Jr. (MDB) durou pouco mais de uma semana. Diante da derrota acachapante na candidatura a prefeito de Salvador, o vice-governador ficou “apenas” nove dias fora dos holofotes. Após perder a coragem que rendeu até ameaças como “jogar fora das quatro linhas” e sequer falar à imprensa depois do resultado das urnas, Geraldo Jr. escolheu um ambiente “confiável” e “amigável” para desabafar.
Ao falar a Mário Kértesz, na Rádio Metrópole, onde até bem recente esteve com o microfone como radialista, começou falando em “forças ocultas” e tentou compartilhar a responsabilidade da derrota com o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e a base aliada. É um esforço discursivo que até encaixa com a lógica do “filho feio não tem pai”, porém há quem discorde diametralmente da posição do vice-governador.
Até mesmo caciques emedebistas, ao final da eleição, admitiam que o peso da derrota deveria ser maior para Geraldo Jr. Ouvi de um nome importante do partido que “quem não ouve conselho, ouve coitado”. O correligionário confessou que, para o MDB, era mais relevante ter um vice-governador do MDB correndo as cidades em que a sigla tinha candidaturas do que dando “murro em ponta de faca” contra um prefeito bem avaliado, com a máquina municipal na mão e cujo favoritismo era evidente. O vice insistiu. E disse ter “se doado ao máximo” na campanha.
Na entrevista, Geraldo Jr. sugeriu que Salvador está caminhando para a direita e extrema-direita ao se apresentar como centro-esquerda. E, convenhamos, ele está muito mais à direita do que Bruno Reis está à extrema-direita. O emedebista usou números de abstenções, votos em branco e nulos para tentar justificar a terceira colocação na disputa. Sobraram eufemismos para minimizar os efeitos políticos da derrota, ao mesmo tempo, em que se vendeu como uma figura inteiramente comprometida com a pauta de esquerda — após passar anos alinhado prioritariamente com a elite econômica soteropolitana.
O constrangimento não fora suficiente com a derrota. O agora apenas vice-governador se comparou a Luiz Inácio Lula da Silva e suas três derrotas antes de ser eleito presidente e a Jaques Wagner, que perdeu disputas em Camaçari e no estado antes de ser eleito governador. Wagner, certa feita, disse ser possível sair maior de uma derrota — ou que é possível ganhar perdendo. Não imagino o ex-governador avaliando o episódio eleitoral de Salvador como um desses casos. E a derrota não é necessariamente órfã, como apontou o vice.
Ao se colocar na condição de candidato a prefeito de Salvador, Geraldinho sabia dos riscos que corria e preferiu fazê-lo. Colocou sob risco a própria permanência como vice-governador em 2026. Ele não só tinha conhecimento como já antecipou o tema ao falar com MK, transferindo para Jerônimo o ônus por uma eventual substituição. Talvez ele precise fazer as pazes com o próprio ego antes de seguir em frente.