A ponte vai sair, mas eu só acredito vendo
Por Fernando Duarte
Depois de tantas idas e vindas, incluindo uma pandemia que teve como epicentro original a cidade chinesa de Wuhan, o contrato para a construção da ponte entre Salvador e a ilha de Itaparica foi finalmente assinado pelo governo da Bahia. O projeto faraônico que aparece como promessa dos governos petistas há mais de 10 anos deve, finalmente, deixar o papel para se tornar uma obra. Pelo menos é a expectativa criada ontem, com o último passo formal para que os chineses toquem a intervenção que tende a modificar a configuração logística do sul baiano.
Há muito otimismo em relação à iniciativa. O governador Rui Costa chegou a tratar o contrato como um marco para o investimento chinês em grandes obras no Brasil. É possível. Há um interesse dos asiáticos em tocar obras de infraestrutura, que podem gerar dividendos de longo prazo para a China. A construção da ponte, por exemplo, inclui a concessão dela para exploração. É um modelo replicado em parcerias com grandes empreiteiras brasileiras no passado e agora acabou escalonado para parceiros internacionais.
Por ser tão complexa, a ponte Salvador-Itaparica terá que ter um acompanhamento desde a concepção do projeto até o início da operação por parte de órgãos de fiscalização. A transparência nesse processo será fundamental para que a relação entre Brasil e China permaneça a longo prazo, algo que parece beneficiar ambos os países - isso se o Itamaraty não entrar na onda ideológica para atacar os nossos principais parceiros comerciais.
Agora é preciso também ter a noção de que o desenvolvimento precisa ser integrado. Até aqui, a prefeitura de Salvador tem reclamado publicamente de não ter sido convidada a participar das discussões sobre o projeto. Para além das questões de licenciamento, a obra terá um impacto importante para a capital, mas também para todos os municípios que terão o acesso facilitado a partir do equipamento. O alerta do governador para os próximos gestores é nesse sentido. O envolvimento dos prefeitos será importante para que a ponte não gere ainda mais desigualdade.
Não há ressalvas quanto a ponte. Quer dizer, poucas grandes ressalvas até existem. Mas ela é algo extremamente importante para a Bahia e para os baianos. No entanto, seguro morreu de velho. A ponte é uma obra tão faraônica que nessas horas São Tomé não deixa de ter razão. Essa ligação entre Salvador e Itaparica eu só acredito vendo.
Este texto integra o comentário desta sexta-feira (13) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. O comentário pode ser acompanhado também nas principais plataformas de streaming: Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e TuneIn.