Davidson pelo Mundo: Jalapão; o ouro líquido do Cerrado brasileiro
Entre dunas douradas e fervedouros azuis, o Jalapão revela um Brasil ainda intocado, onde o tempo parece descansar e a natureza dita o ritmo da vida.
O TEMPO EM ESTADO DE POESIA
Há lugares no Brasil esculpidos pela paciência do tempo, e o Jalapão é um deles.
Ali, no coração quente do Tocantins, o vento sopra poesia nas dunas douradas, o sol se reflete nas águas translúcidas dos fervedouros, e o silêncio do cerrado é quebrado apenas pelo som das cachoeiras e pelo canto de aves que parecem guardar o segredo de um Brasil ainda puro.
O Jalapão não é um destino, é uma travessia. Chegar até lá exige estrada de chão, sacolejo e alma aberta. Mas quem aceita o convite encontra um dos últimos redutos de natureza bruta e soberana, onde o homem ainda é visitante e a paisagem, a verdadeira anfitriã.
O OURO QUE NASCE DA TERRA
Depois de se deixar envolver pela imensidão, o visitante descobre que o Jalapão também tem um brilho próprio, nascido da terra.
O nome “Jalapão” evoca o brilho de seu maior símbolo: o capim-dourado, planta que brota humilde nas veredas e se transforma em arte pelas mãos das comunidades quilombolas locais.
Nas vilas de Mumbuca e Prata, mulheres tecem com delicadeza o que o cerrado lhes oferece — chapéus, bolsas, mandalas, adornos e peças que reluzem sob o sol, como se o ouro líquido do cerrado se materializasse em cada fio.
Mais do que artesanato, o capim-dourado é identidade e resistência, expressão de um modo de vida que floresce entre o calor e o silêncio.
O ENCANTO DAS ÁGUAS QUE NÃO DEIXAM AFUNDAR
Nada prepara o visitante para a experiência de mergulhar em um fervedouro.
A sensação é literal: flutuar sobre a terra.
A água brota do chão com tanta força que ninguém consegue afundar.
Fervedouro Bela Vista, Ceiça, Encontro das Águas… Cada um tem um tom diferente de azul e uma história guardada entre buritis e areias brancas.
Ali, o corpo descansa e a mente se desprende — é impossível sair igual depois de um banho no coração líquido do cerrado.
DUNAS E TRAVESSIAS
No fim da tarde, o Jalapão muda de cor.
O sol se deita sobre as Dunas do Jalapão, e o dourado se acende em todas as direções.
É um espetáculo silencioso, quase místico. O viajante sente-se pequeno diante da imensidão.
De um lado, a Serra do Espírito Santo recorta o horizonte; de outro, o vento levanta a areia fina, como se o tempo voltasse a ser poeira de eternidade.
O pôr do sol ali é um ritual de despedida e renascimento — uma das experiências mais marcantes do Cerrado brasileiro.
ENTRE A AVENTURA E A CONTEMPLAÇÃO
O Jalapão também é território da aventura: trilhas, canoagem, rafting no Rio Novo — um dos poucos rios de água potável do planeta — e caminhadas até cachoeiras de nomes sonoros: Formiga, Lajeado, Veredinha.
Mas, mais do que adrenalina, o Jalapão oferece um turismo de silêncio, de olhar demorado.
É um destino para quem busca reconexão com o essencial, para quem entende que o verdadeiro luxo é ter tempo e natureza.
O DESAFIO DO FUTURO
Apesar de seu encanto, o Jalapão vive o dilema de tantos lugares intocados: como crescer sem se perder.
A infraestrutura ainda é simples, o acesso difícil — e talvez seja justamente isso que o preserva.
O desafio é fomentar um turismo sustentável, valorizando as comunidades locais e protegendo o bioma do cerrado, um dos mais ameaçados do país.
Se o desenvolvimento chegar de forma respeitosa, o Jalapão pode se tornar um modelo nacional de ecoturismo.
VISITE ANTES QUE VIRE MODA, MAS VÁ COM RESPEITO
O Jalapão não é um lugar para ser consumido, e sim compreendido.
Cada poço, cada trilha, cada conversa com um morador local revela o quanto ainda temos a aprender com a terra.
Quem vai ao Jalapão volta diferente — mais leve, mais calado, mais inteiro.
É o tipo de viagem que não termina quando o carro retorna ao asfalto. Ela continua dentro da gente, soprando como o vento que atravessa o cerrado.
SERVIÇO ESSENCIAL (PARA O VISITANTE PRÁTICO)
Localização: Leste do Tocantins, a cerca de 300 km de Palmas.
Acesso: Somente por veículos 4x4, preferencialmente com guias locais.
Hospedagem: Pousadas simples nas vilas de Mateiros e São Félix do Tocantins.
Melhor época: Maio a setembro (período seco).
Dica de ouro: Leve tempo — o Jalapão não combina com pressa.
Boa viagem!