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Travelling

Davidson pelo Mundo: Turismo Literário - Quando as palavras viram destino

Por Davidson Botelho

Davidson pelo Mundo: Turismo Literário - Quando as palavras viram destino
Fotos: Acervo Pessoal

Há viagens que nascem de passagens aéreas, e há outras que nascem de passagens de livros. Enquanto uns seguem mapas, outros seguem metáforas. O turista comum busca horizontes, o leitor-viajante procura significados.

 

O turismo literário é essa travessia entre o real e o imaginário, o instante em que o viajante reconhece num beco a mesma esquina descrita por um autor e sente que a ficção tem cheiro, tem cor, tem chão. É visitar um lugar não apenas para vê-lo, mas para lê-lo com os olhos do escritor que o eternizou.

 

Em Itabira, por exemplo, não se visita apenas uma cidade mineira, mas o berço de Carlos Drummond de Andrade, onde o tempo se dobra em versos e cada pedra parece guardar uma poesia não dita. Já em Salvador, é impossível caminhar pelo Pelourinho sem ouvir a voz narrativa de Jorge Amado, que transformou becos e santos em personagens. A Bahia de Amado continua viva, entre o cheiro de dendê e as janelas azuis de casas coloniais, onde ainda se acredita que o amor pode ser feitiço e redenção.

 

O turismo literário é também uma forma de preservação da memória. Ao seguir os rastros de um autor, o visitante se torna guardião da cultura, reanimando livrarias antigas, cafés esquecidos, praças onde a literatura se escreveu sem saber que era história. É um turismo que não destrói, mas reencanta.

No mundo, há cidades que se tornaram santuários da palavra. Lisboa, com seus elétricos amarelos e a melancolia de Fernando Pessoa, é hoje destino de leitores que buscam mais do que miradouros — buscam um espelho da alma. Paris continua sendo o refúgio dos intelectuais que ainda acreditam que os cafés têm poder de mudar o mundo, e Buenos Aires, com seus sebos infinitos e o fantasma de Borges, faz do livro um monumento nacional.

 

Mas o verdadeiro turismo literário não depende de roteiros oficiais. Ele nasce quando o viajante leva um livro na bagagem e o abre diante da paisagem. Quando o texto e o território se reconhecem, quando a leitura deixa de ser uma fuga e vira um retorno à essência, à imaginação, ao humano.

 

Porque, no fim, quem viaja pelas palavras nunca volta o mesmo. E talvez seja esse o maior destino de todos: descobrir-se dentro da história que se escolhe ler.

 

Boa viagem!