Desafio Ambiental: Importante papel das baleias para o equilíbrio do ecossistema marinho
A solução de problemas ambientais parece inconciliável se somada à necessidade de configurar estruturas para a inclusão de comunidades ao processo de desenvolvimento econômico, principalmente em zonas de conflito. Essa lógica pode ser verdadeira até a criação de novas trilhas por grupos dispostos a superar os obstáculos. É o que demonstra a experiência de monitoramento e proteção às baleias jubarte no Litoral brasileiro. Os resultados podem ser comemorados.
O último levantamento realizado pelo Instituto Baleia Jubarte (IBJ), em parceria com a Veracel Celulose, trouxe dados extraordinários. O monitoramento aéreo realizado pelo Instituto, desde a divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte até o litoral norte de São Paulo, numa extensão de 6.200 Km, identificou uma população de 25 mil desses animais na atual temporada, um crescimento histórico. Este número se aproxima daquele que consta em registros de 200 anos atrás, quando a estimativa girava entre 27 e 30 mil mamíferos da espécie transitoriamente em águas brasileiras.
Desde 2003, o monitoramento aéreo é realizado a cada três anos, com o objetivo de estimar a população de baleias que visitam o Litoral brasileiro. Esse trabalho é realizado com aeronaves adequadas para o avistamento de baleias. A análise é realizada desde a costa até o mar aberto, em águas com profundidade de 500 metros.
Ao longo de duas décadas, o monitoramento foi determinante para a adoção de medidas que ajudaram a preservação da espécie, em especial em época de reprodução. O mapeamento de densidade permitiu identificar os locais de concentração de baleias, importante para traçar a rota de navegação das barcaças de celulose em áreas com a menor presença desses mamíferos, reduzindo significativamente o risco de colisão.
Coordenadora do monitoramento aéreo, a bióloga Márcia Engel afirma tratar-se do mais amplo estudo de longo prazo já realizado com uma população de baleias no Brasil. Permitiu acompanhar a cada ano a recuperação do número de animais da espécie e a forma como ela foi reocupando as águas no Litoral brasileiro. Com base nos resultados deste monitoramento, o Ministério do Meio Ambiente retirou a baleia jubarte da Lista Nacional de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, em 2014.
Gigantes aquáticos
As baleias jubarte são animais migratórios que percorrem grandes distâncias para completar seu ciclo de vida. Elas se reproduzem ao longo da costa brasileira, entre junho e novembro, e migram para os mares antárticos, numa jornada de ida e volta de quase 9.000 Km.
Durante séculos, lanças e arpões foram utilizados para a captura das baleias em todos os oceanos. No caso das jubartes, a caça comercial foi a principal causa do declínio populacional. No Brasil, a caça foi proibida em 1966, mas em diferentes estados seguiu sendo praticada. Somente em 1987 a legislação brasileira proibiu a caça de forma definitiva.
O tráfego de navios e de barcaças sempre representou risco de colisões. Sem a precisão do monitoramento aéreo, as colisões desses gigantes aquáticos com embarcações continuariam ocorrendo tanto no Banco dos Abrolhos (berçário da espécie no Brasil), quanto no Litoral Norte da Bahia. Devidamente protegidos, agora esses animais têm destaque nos roteiros turísticos, assegurando ganhos econômicos para as comunidades locais.
Importante enfatizar que as baleias são fundamentais para o equilíbrio do ecossistema marinho: elas capturam dióxido de carbono e o CO2 fica acumulado em seus corpos. Na Costa brasileira, os cuidados com a temporada reprodutiva da espécie estão associados às diretrizes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, da ONU: preservar a biodiversidade ajuda a estabilizar o clima. De quebra, afasta a falsa ilusão de que existe escolha entre preservar ou não a natureza.