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Coluna

Fala, Albuca!: À luz de Lina Bo Bardi

Por Beatriz Albuca - @albuquerquebeatriz

Fala, Albuca!: À luz de Lina Bo Bardi
Foto: Reprodução / revista italiana Domus

Vindo direto de uma Itália destruída pela guerra, Lina Bo Bardi encontra no Brasil uma cultura recente e em plena formação, onde ideias novas são potencializadas. Dona Lina, como a chamaremos aqui na Bahia, é hoje uma referência quando o tema é a preservação e a valorização do patrimônio cultural brasileiro. 

 

Dona Lina e seu dialogo entre o Moderno e o Popular, pouca gente foi eficiente como ela para encontrar o equilíbrio entre uma vanguarda estética e a tradição popular. Grande modernista, soube reconhecer os elementos culturais essencialmente brasileiros e coloca-los como protagonistas do fazer artístico moderno. Aprendeu a ser livre do pensamento colonizador, ao contrario, Lina se fez ela mesmo brasileira. Modernizou sem “europeizar”, como teria feito a cafona parcela da sociedade brasileira que acha que o chic é o estrangeiro. Nada seria mais cafona do que querer transformar Salvador em Paris ou Roma.

 

Lina foi uma revolucionária na sua visão sobre a concepção de museus: o MASP, em São Paulo e a revitalização do Solar do Unhão para a sua institucionalização enquanto museu, em Salvador. Estruturas que são peça chave para o que hoje chamamos de arte moderna brasileira, ambos projetos de Dona Lina. 

 

Um vão livre, em circulação livre: é isso o MASP. O museu não esta mais na esfera sacra, não é ele que dita as regras: é o povo, é o visitante. O recado é simples: o povo brasileiro é autônomo tanto na construção quanto na leitura de sua historia. O Solar do Unhão não existe somente enquanto sede do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), ele é uma utilidade publica. Lina pensa um espaço inacabado, um espaço a ser preenchido pelo uso popular cotidiano. 

 

Apesar de seu primeiro contato com o Brasil ter sido entre Rio e São Paulo, foi em Salvador, como primeira diretora do MAM, que ela entendeu o caminho da cultura brasileira. Nas estradas do nordeste ela conheceu uma realidade brasileira de uma miséria potente: jogos de xícaras, bules e todo tipo de artefato doméstico feitos de restos de embalagens. Como artista e designer, foi naquele momento que Lina Bo Bardi compreendeu seu projeto de brasil, seu projeto de produção de uma cultura autêntica e autônoma. Um projeto que, como o jogo de xícaras, fosse útil e necessário: uma poética “das coisas humanas não gratuitas, não criadas pela mera fantasia”. Com Lina, a arte brasileira precisa ir além da academia, das belas artes, precisa ser assinada pelos brasileiros. "Não há teoria aqui: o pré-artesanato é fruto da experiência real da pobreza", definiu Bo Bardi.

 

Mesmo após 30 anos de sua morte, as ideias de Lina Bo Bardi, a italiana que escolheu ser brasileira não por fantasia mas por necessidade, ainda são uma luz para o nosso projeto de Brasil.