Com foco no combate ao assédio, Flor de Cacto cria ambientes mais seguros para mulheres e promove conscientização em Salvador
Apesar de ser delicada, a flor de cacto possui espinhos que preservam a sua integridade, se defendendo de predadores. Inspirada nessa analogia, a empresária Clarissa Hirs criou a Flor de Cacto, uma companhia feminina voltada para a prevenção de assédio em estabelecimentos e eventos. Atualmente, a organização conta com a advogada Carolina Conrado como sócia, ampliando sua atuação e compromisso com a segurança e o bem-estar do público.
A atuação da Flor de Cacto, que é uma empresa privada, abrange treinamento de equipes e fiscalização de comportamentos em eventos e estabelecimentos. As sócias explicam que, além de treinar a equipe, é necessário realizar um acompanhamento para ter um trabalho efetivo. A companhia conta hoje com 10 mulheres, tendo entre elas advogadas, psicólogas e técnicas de segurança do trabalho.
Em entrevista ao BN Hall, Clarissa relatou que a motivação para o projeto surgiu após uma experiência pessoal em um bar de Salvador, onde ela enfrentou uma situação de assédio. “Quando eu mostrei para a segurança o que tinha acontecido, ouvi: ‘Ah, mas aqui é assim mesmo, lugar de paquera’. Percebi que muitos consideravam paquera gestos que são absolutamente violentos e invasivos”, relatou.
Ainda na conversa, Clarissa contou que notou que, apesar da legislação existir, muitos não conhecem as leis e há uma naturalização do assédio na cultura local. Com base nessa constatação, a empresária decidiu fiscalizar esses comportamentos por conta própria. Segundo ela, o dono do bar, que possuía um engajamento político, apoiou sua iniciativa. Assim, ela passou a frequentar o local sozinha todos os finais de semana e, a partir daí, formalizou a Flor de Cacto como uma empresa focada no antiassédio.
Atualmente, a atuação do projeto se estende a bares, boates, shows, festas e eventos, assim como em quaisquer estabelecimentos, em que haja ou não a venda e consumo de bebida alcoólica. O objetivo principal é prevenir e agir a favor da segurança, livre circulação e bem-estar das mulheres presentes.
Apesar de ser uma companhia privada, a empresa realiza ações gratuitas nas escolas públicas, com intuito de conversar com os alunos e promover um trabalho de conscientização. Entretanto, se um restaurante ou casa de eventos, por exemplo, tiver interesse nos serviços de fiscalização e treinamento, é necessário realizar um investimento.
De acordo com as empresárias, o caso de Daniel Alves, condenado a quatro anos e seis meses de prisão pelo estrupo de uma mulher, ampliou a demanda por ações de prevenção. “As pessoas começaram a me procurar para levar o serviço a outros lugares. Logo depois, a Carol se juntou a mim, e hoje somos 10 Agentes Fiscais Antiassédio (AFAs)”, completou Clarissa.
Carolina também reforçou a necessidade de um serviço preventivo. Para ela, essa é uma lacuna a ser preenchida. “Encontramos muitos serviços de acolhimento após a violência ter acontecido, mas o nosso trabalho é pioneiro na prevenção. Queremos evitar que mulheres passem por situações que podem traumatizá-las”, destacou.
As ações desenvolvidas incluem a criação de cartazes educativos que diferenciam o que é considerado paquera e o que não é. Nas ações da Flor de Cacto é utilizada uma linguagem direta para esclarecer, não só sobre a lei, mas sobre situações cotidianas.
Siga o @bnhall_ no Instagram e fique de olho nas principais notícias.