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Uma das personalidades mais emblemáticas do Carnaval de Salvador, Vovô do Ilê, comentou, nesta sexta-feira (14), sobre um dos pontos que ainda permeiam os blocos afros da Bahia: patrocínios. Questionado pelo Bahia Notícias sobre uma possível melhora no recebimento dos apoios, o presidente do bloco Ilê Aiyê, oriundo da Liberdade e do Curuzu, analisou que houve um avanço nos auxílios de empresas.
No entanto, o porta-voz revelou que, apesar da evolução, a entidade ainda não se sente contemplada, e que as empresas patrocinadoras visualizaram o retorno possível com as bandas afros.
“Tem melhorado, não me sinto contemplado ainda, mas tem melhorado. Agora é uma busca constante. O pessoal que trabalha com a gente, Caderno 2, viagens. Então, nós estamos sempre em busca porque o pessoal sempre acha que é muito dinheiro quando é para bloco afro. Mas eles estão vendo o retorno para blocos como Olodum, Ilê, que viajam muito, que estão levando a marca deles”, disse Vovô durante o lançamento da Noite da Beleza Negra, na Senzala do Barro Preto.
O diretor apontou ainda que a agremiação ultrapassa o período carnavalesco, e que também necessita de um apoio constante dessas organizações.
“Então eles estão começando a ver, porque eu falo muito que eles [empresas patrocinadores], antes de serem capitalistas, eles são racistas, não querem juntar a marca deles com a negrada. E também, por outro lado, nós, negros, não temos aqui a cultura de boicotar [o mercado local]. Aqui tem esses mercados que todo mundo vai lá e compra, se não botar, se não der [patrocínio]", indicou.
Atualizada as 12h42
Prestes a completar 50 anos, o Ilê Aiyê faz parte da história de Salvador, da Bahia e do Brasil, mas também do mundo. Durante a saída do bloco, momento icônico do carnaval soteropolitano, o fundador e presidente Vovô do Ilê relembrou um caso curioso: quando sugeriram que o grupo seria uma "célula de Moscou" no estado.
"Aqui foi a questão do racismo, no jornal da época, que achou que estávamos muito pra frente, que a gente estava a serviço de Moscou. Nós fomos chamados de vermelhos, fomos chamados de 'bloco racista' porque fomos pra rua gritar 'eu sou negão'", contou, em entrevista ao Bahia Notícias.
O curioso é que, de fato, ele bebeu com comunistas durante uma visita a Angola, no continente africano. "Quando eu cheguei em Angola a primeira vez, em 1983, os caras estavam muito assim, falando 'camarada'. Estavam muita nessa coisa. E no hotel que eu estava tinha muito iugoslavo e russo. Tinha dia que eu não tinha o que fazer, tinha toque de recolher, e eu ficava tomando vodka com os russos. Mas os caras lá estavam com a cabeça virada mesmo com essa questão do comunismo", relembrou, rindo.
Trazendo como tema deste ano "Centenário de Agostinho Neto: O Herói da Independência de Angola", o bloco sempre se orgulhou de relembrar suas origens. Mas, para Vovô, ainda é preciso avançar em relação à aproximação com países da África.
"Desde o ínico do Ilê Aiyê, em 1976, que a gente vem trazendo essa aproximação com a África através dos temas. Já falamos de Senegal, Mandela, Costa do Marfim, tivemos alguns países africanos. Mas também temos dificuldade de interlocução com nossos irmãos africanos. Alguns países falam inclusive a língua portuguesa, mas a gente está precisando que o Brasil e a Bahia se aproximem também até na questão de fazer negócios, pra ver se a gente consegue essa proximidade mais forte", cobrou.
O Ilê Aiyê denunciou a ocorrência de ataques que estariam acontecendo contra a gestão da secretária de Cultura da Bahia, Arany Santana. A ocupante da pasta, segundo a instituição, estaria sendo alvo de críticas, intrigas, fake news e até mesmo sabotagem cujo objetivo seria o de provocar a demissão de "um dos poucos quadros negros que fazem parte do primeiro escalão desse governo".
A denúncia foi feita através de uma nota. No texto, o Ilê salienta o perfil da gestora, uma "mulher, negra, funcionária pública de carreira, pessoa oriunda da periferia de Salvador", à frente da secretaria. Tais aspectos seriam a motivação de grupos que pretendem fazer a manutenção de "privilégios".
"A Associação Cultural Bloco Carnavalesco Ilê Aiyê repudia todos os ataques feitos a secretária de Cultura do Estado da Bahia, ao tempo em que se solidariza com a mesma, entendendo que nos últimos anos a referida pasta conseguiu grandes avanços, principalmente para instituições de pequeno porte que enriquecem e descentralizam a cultura baiana. 'Se o poder é bom, nós também queremos'", defende a nota.
Ao Bahia Notícias, o presidente e fundador do Ilê, Vovô, confirmou a autoria da nota pela agremiação e reafirmou a defesa para com a secretária Arany.
Os tais ataques a ela estariam acontecendo por conta da polêmica envolvendo os blocos afro no Carnaval (reveja aqui, aqui e aqui). Arany chegou a ser acusada de "terceirizar" a sua atuação na Cultura, passando as demandas para sua chefe de gabinete.
Após fechar apoio com a prefeitura para a realização de mais uma edição da Noite da Beleza Negra (clique aqui), o Ilê Aiyê pode garantir também os três dias de desfile do bloco no carnaval de Salvador, este ano.
"Estamos conversando sobre a Beleza Negra e o terceiro dia de carnaval. As conversas estão muito avançadas, tomando um bom rumo”, disse o presidente do Ilê, Antônio Carlos dos Santos, Vovô. “Sim, vamos ter o apoio da prefeitura para a Beleza Negra e para o carnaval", declarou, explicando que desfilará oficialmente dois dias e negocia o terceiro para a banda do Ilê sair sem corda.
Até o fim do ano passado, o destino do carnaval do Ilê Aiyê em 2020 era uma incógnita, por falta de patrocínio (clique aqui e relembre). “Nós cortamos um dia, por causa do custo mesmo. Só vamos sair no sábado e na segunda”, disse Vovô, à época.
Pela segunda vez no Concha Negra, agora abrindo a edição 2019, o Ilê Aiyê sobe ao palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, neste sábado (7), a partir das 18h30, com o show “Charme da Liberdade”.
Na ocasião, a Band’ Aiyê repete a parceria com a cantora Daniela Mercury. Antes do show principal, no entanto, a noite contará com uma apresentação do Coletivo Afrobapho, formado por jovens negros e LGBTQI+.
Os convidados refletem a proposta do espetáculo, que tem como objetivo defender a diversidade e valorizar as histórias e estéticas negras. “Desde a fundação, o Ilê se preocupa com isso. Tanto que desde a fundação temos mulheres e homossexuais. A ideia sempre foi combater todos os tipos de discriminação, principalmente a questão racial”, explica Antônio Carlos dos Santos, Vovô, presidente do bloco afro. “As músicas do Ilê sempre são músicas de empoderamento, de defesa do povo, de resgate da autoestima. Então, o grande elemento transformador do Ilê é a música”, afirma.
Neste sentido, Vovô avalia que a verdadeira e mais eficiente revolução social se dá por meio da arte. “A gente consegue fazer essa transformação através da canção, com as letras, tanto as músicas tema quando as músicas poesia. A gente vai recontando a nossa história pela nossa ótica. E aí, em vez de marcar reuniões, discursos inflamados pra meia dúzia, um grupo pequeno, através da música você atinge um número bem maior, principalmente a juventude, as crianças, e isso vai formar pessoas melhores”, diz o presidente do Ilê.
Evento terá participação de Daniela Mercury | Divulgação
Além de servir de espaço para difundir a dança, música e história do bloco afro, o Concha Negra será também uma oportunidade para viabilizar financeiramente um melhor carnaval de 2020, já que, por falta de verba, o Ilê precisou diminuir sua participação na festa. “Nós cortamos um dia, por causa do custo mesmo. Só vamos sair no sábado e na segunda”, revela Vovô, destacando a falta de patrocínio via iniciativa privada. “Tem essa questão do empresário brasileiro antes de ser capitalista ser racista. Ele tem dificuldade de querer associar a marca dele, o produto dele ao povo negro”, critica, apontando como uma das poucas oportunidades recorrer ao financiamento público. “O pessoal tem algumas críticas ao Ouro Negro, mas ele é uma ferramenta que ainda funciona, que se não fosse o Ouro Negro, muitas organizações não iriam para a rua”, pondera o dirigente, em referência ao edital da Secretaria de Cultura da Bahia, que no último ano recebeu muitas críticas de proponentes desclassificados.
Apesar dos entraves, Vovô salientou que a agremiação segue na luta para reverter o quadro. “Estamos tentando vender o terceiro dia, pra sair sem corda. Se a gente conseguir através do governo, da prefeitura ou de alguma empresa aí, a gente bota o bloco só com o trio e a banda na rua pra sair tocando pro povo”, conta o dirigente do Ilê. “Estamos torcendo também e conclamando o público pra [comparecer] sábado agora com a Concha Negra, pra ver se a gente consegue lotar, que aí já é uma ajuda essa bilheteria”, destaca, revelando que o tema do carnaval já foi definido: “Vamos falar de Botsuana, um país emergente interessante”.
Vovô do Ilê comentou sobre a dificuldade de conseguir apoio para projetos voltados ao povo negro | Foto: Reprodução / Facebook
RACISMO NO BRASIL
Em entrevista ao Bahia Notícias, Vovô comentou ainda sobre o atual cenário do país, diante de políticas públicas controversas do governo federal e nomeações de quadros como Sérgio Camargo para presidir a Fundação Palmares. Ele, que é negro, teve a nomeação suspensa pela Justiça por afirmar que a escravidão foi benéfica para os negros e negar a existência do racismo no Brasil (clique aqui e saiba mais).
Para o presidente do Ilê é necessário persistir na luta para combater a discriminação racial em um país dividido, onde “uma minoria não negra que dá as coordenadas” e alguns negros corroboram com o discurso do preconceito. “Mesmo com todos esses avanços que teve, trabalhos de conscientização, ainda tem muitos negros que ainda são reféns disso, que não acreditam no próprio negro, acham que o negro ainda é culpado, aí aparecem elementos como esse aí, esse presidente da Palmares que colocaram. Com as declarações dele, que é negro, de ministros, a gente vê que ainda tem muita coisa a ser feita”, avalia.
SERVIÇO
O QUÊ: Concha Negra – Ilê Aiyê convida Daniela Mercury
QUANDO: Sábado, 7 de dezembro, às 18h30
ONDE: Concha Acústica do Teatro Castro Alves – Salvador (BA)
VALOR: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Capitão Alden
"Estamos preparados, estamos em guerra. Toda e qualquer eventual postura mais enérgica, estaremos prontos para estar revidando".
Disse o deputado federal Capitão Alden (PL) sobre possível retirada à força da obstrução dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional.