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Não é segredo para baianos ou soteropolitanos que a dominação territorial do tráfico de drogas vem se intensificando nos últimos anos, com números de segurança pública que reforçam a tese. As dimensões desta dominação, no entanto, podem ser tão sutis quanto evidentes à luz do dia nos muros, postes e superfícies urbanas da cidade. Com o tempo, as pichações da capital, que antes exibiam símbolos e textos de sentido político ou artístico, passaram a mapear as áreas de dominadas por organizações criminosas nas periferias.
Os escritos aparentes em quase todos os bairros da capital deixaram de ser coadjuvantes na paisagem urbana para atuar como sinalizações gritantes aos desavisados. O Bahia Notícias conversou com o pesquisador Anderson Eslie, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor pela Universidade Estadual de Campinas, autor da dissertação “Pichação: arte pública e resistência: Como criação artística permite a formação de uma identidade e resistência de grupos de jovens de bairros periféricos em Salvador”, para compreender a disseminação e as características da pichação na Bahia, em especial na capital baiana.
O autor destaca, inicialmente, que o grafite e a pichação são manifestações advindas das mesmas práticas. As tintas em spray e a relação com a cidade são similaridades que mantém ambas as artes próximas, porém cada uma evolui e se dissemina de maneiras específicas.
“O grafite aqui em Salvador, em específico, tem um processo de reconhecimento, ainda que com algumas questões importantes, em relação a questões legais e de entendimento da população, de uma perspectiva artística e estética mais voltada para uma arte contemporânea. Mas hoje eu acho que tá muito mais estabelecida a questão do grafite. Você tem pessoas importantes que levam a alcunha de grafiteiros e levam essas expressões, inclusive para dentro de espaços como museus”, afirma.

Foto: Reprodução / Blog Letrado nas Ruas / Tumblr
Então os materiais e as “telas” urbanas aproximam, as percepções sociais e as questões ideológicas distanciam ambas as práticas. “A partir daí você tem questões ideológicas nessa concepção, porque o grafite e a pichação, são eminentemente expressões para a rua, esteticamente voltadas para a cidade, para dialogar com a cidade, inclusive dando voz a grupos sociais invisibilizados na dinâmica da cidade”, explica.
“Mas a pichação ela é um traço mais simples, esteticamente elaborado pelos seus indivíduos dentro dos grupos e ela tem a pretensão de ser um registro na cidade e que tem como um princípio estético a catarse pela agressão. Sem isso deixa de ser pichação”, explica o Mestre pela Universidade Federal da Bahia.
Anderson detalha que “a ideia da pichação é que você tenha de fato causar um olhar de choque”. “[Esse olhar] Pode ser tanto esteticamente, que te leve esteticamente a pensar a pichação como um algo bonito, esteticamente bem elaborado ou como sujeira, como expressão de vandalismo, qualquer coisa do tipo. A ideia é exatamente criar essa sensação dúbia”, delimita.
O pesquisador explica que a manifestação do grafite e do picho teve início, no Brasil, a partir dos anos 60, em paralelo às repercussões da ditadura militar no país e a Primavera Estudantil na França. Porém, na Bahia, o movimento tem início no movimento punk dos anos 70, com um grupo chamado de Vermes do Sistema. No entanto, o crescimento desses grupos se deu, especialmente, no início dos anos 2000.
“Eu acho que, entre nós 97 e 2002, a gente tem um boom assim de grupos e com todo um perfil de classe, de raça, de gênero bem específico. Você tem grupos de homens em sua maioria, pessoas negras, vindos de bairro de periferia, que se concentravam muito aqui no Centro, e faziam todo aquele processo de convivência, de trocar tags, que são as assinaturas e se organizar.”
“Se você for perguntar para um pichador porque picha, você vai ter várias respostas, mas que elas vão dialogar em lugares muito comuns, que é essa coisa da crítica ao sistema, do lutar contra o sistema”, relata. “Ainda que esse, ainda que o termo ‘sistema’ seja aquela coisa meio nebulosa, você entende que, na verdade, é ou a falta do direito do cidadão e do dever do Estado ou o excesso do Estado, quando a gente pensa no nos aparatos de repressão com a polícia e segurança pública.”

Foto: Reprodução / Rildo de Jesus / TV Bahia
E, enquanto artistas pichadores protestam contra a lógica punitivista do sistema de segurança pública, a prática do picho é apropriada por outros grupos sociais, que utilizam a prática nos seus próprios termos, como é o caso das facções criminosas.
A ideia de deixar um registro na cidade e se fazer parte dela é usurpada por grupos criminosos ligados ao tráfico de drogas que se utilizam de pichações para estabelecer domínio sobre os territórios e “mapear” sua presença nas periferias soteropolitanas. Assim como a estética e o “letrado baiano”, variação estilística do picho criada na Bahia, é substituída pelo desleixo e padronização dos registros.
Por fim, a carga simbólica e temática da “luta contra um sistema sociopolítico opressor” é esvaziada por uso de siglas e símbolos que remetem unicamente aos grupos criminosos em disputa. Para falar sobre os aspectos da disseminação territorial das facções na Bahia, entrevistamos o doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, Antônio dos Santos Lima.
Com estudos na área de sociologia do conflito, organizações criminais, conflitos armados e controle territorial, o especialista contextualiza que a noção de territórios, para as facções, “se baseiam em exclusividade com interesse de realizar expansão econômico e territorial” da organização.
Assim, a dominação dos territórios se dá por meio da “regulação dos espaços” em diferentes moldes. “A partir disso, eles se implantam num lugar, se estabelecem num lugar, regulam [os espaços] a partir de regras extrajudiciais e eles começaram a desenvolver símbolos. Então, esses símbolos passaram a ser parte da pichação, porque era preciso identificar cada lugar”, aponta Lima.
Desde números e os nomes de cada grupo até os “mascotes do tráfico”, a simbologia das organizações criminosas vai sendo impressa das comunidades por meio da pichação. “Inicialmente com [o número] três, com o dois, cinco, sete, eles colocavam esses símbolos e depois eles começaram a se identificar com outros, por exemplo, o escorpião, a carpa, a estrela de Davi. Então, eles começaram, além de demarcar os territórios em termos regulatórios, eles começaram a demarcar também do ponto de vista simbólico”, detalha Antônio.
Compreendendo que as facções criminosas já atuam na Bahia há algumas décadas, o pesquisador explica o que tornou a dominação territorial tão palpável e explícita nos últimos anos. Antonio conta que enquanto aos grupos criminosos baianos se “autorregulavam”, eles eram menos organizados ao nível de “instituição” e suas as disputas territoriais eram menos violentas.
“Enquanto as organizações criminais da Bahia se autodenominavam, porque tem organização criminal na Bahia que não tem denominação, que não tem nome, essas organizações tinham contato, fornecimento de insumos, fornecimento de arma de fogo, fornecimento de matéria-prima de outras organizações. E eles estavam, sim, ligados, afiliados ao Comando Vermelho (CV) ou ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Na verdade, o que aconteceu foi uma mudança na estratégia”, define.
Ele explica que essas organizações mais estruturadas, especialmente vindas do sudeste, resolveram se estabelecer onde seus afiliados atuavam, estabelecendo novas regras e critérios de atuação. “Comando Vermelho resolveu chegar aqui na Bahia e fazer esse acordo com eles e mudar o nome, mas a maioria dos traficantes que estão atuando na Bahia são baianos, só que eles mudaram a denominação. Eles estão mudando de nome e assumindo o nome de origem dos seus aliados antigos que são o Comando Vermelho, PCC e a Família do Norte”, destaca.

Foto: Arquivo / Agência Brasil
Antônio conclui ressaltando que ainda que alguns modos de organização tenham sido “importados” do sudeste, a Bahia ainda possui uma dominação territorial menos restritiva que em outros estados, como o Rio de Janeiro, por exemplo. “Dentro das favelas dominadas pelas organizações criminais, considerando que as baianas são muito parecidas com as do Rio de Janeiro, há uma certa semelhança, mas não é tão semelhança assim”, inicia.
“Lá, por exemplo, a internet é fornecida pelo tráfico ou pela milícia. Eles cobram a venda do gás. Eles pedem, por exemplo, uma quantia dos comerciantes. Aqui ninguém pede nada dos comerciantes”, completa.
De volta à temática da pichação, o pesquisador Anderson Eslie destaca que, apesar da nova conotação atribuída a pichação por conta do tráfico, a reputação da prática segue a mesma. “Na verdade, eu diria que não [houve impacto negativo]. Eu diria que a prática do picho, de uma maneira geral, já é bastante criminalizada, estigmatizada, independente da sua atuação”, afirma.
Ele reforça ainda que o tráfico também não é o único grupo a se utilizar da prática anteriormente: “A prática da pichação diz respeito a vários grupos sociais específicos, então, ela tá aberta. Inclusive grupos de torcidas organizadas, que aqui em Salvador tem muito a questão dos distritos, vão pichar e fazer distinções territoriais dos distritos das torcidas rivais, de Bahia e Vitória”, relata.
“Nesse sentido, a pichação é um fenômeno que engloba todas essas manifestações”, diz Eslie. Porém, para ele, a relação com o tráfico “é uma tônica de muita confusão entre pichadores e traficantes, ou traficantes e pichadores, enfim, por conta exatamente do ‘risco na parede’ ser associado, mais ou menos, à questão do território de tráfico, o que não necessariamente é verdade, mas como um fenômeno na totalidade, acho que não é mais ou menos criminalizado, não”, conclui.
Quatro pessoas foram conduzidas neste domingo (9) para a 14ª Delegacia da Barra após serem flagradas pichando o calçamento da Avenida Oceânica, na orla de Salvador. A ação foi realizada por equipes da Polícia Militar e da Guarda Municipal.
Segundo a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), a pichação seria uma tentativa de reservar espaço para a venda de bebidas e alimentos durante o Carnaval.
O flagrante ocorreu nas proximidades do Clube Espanhol, no bairro de Ondina. Ainda de acordo com a Semop, duas das quatro pessoas detidas assumiram a autoria da pichação.
Casos semelhantes já haviam sido registrados na região. Na sexta-feira (7), durante uma operação da Semop, outras duas pessoas foram detidas pelo mesmo motivo na Barra. Já na quarta-feira (5), a Polícia Civil lavrou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) contra duas mulheres, de 21 e 41 anos, também por pichação na Avenida Oceânica.
Segundo o secretário de Ordem Pública, Alexandre Tinoco, os ambulantes flagrados cometendo este tipo de infração vão perder o direito de trabalhar no carnaval de Salvador em 2025.
Uma estátua do cantor e compositor Reginaldo Rossi inaugurada há menos de 20 dias no centro do Recife, em Pernambuco, foi vandalizada no fim de semana.
De acordo com informações do G1, no domingo (21), a escultura de concreto que mostra o artista pernambucano em uma mesa de bar foi encontrada com uma garrafa pichada com tinta vermelha. Segundo a publicação, outros ítens da obra seguiram intactos, a exemplo da representação do próprio músico, a mesa, o banco, o microfone e uma rosa.
Em nota, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informou que nesta segunda-feira (22) enviaria uma equipe para realizar a vistoria e verificar o que seria necessário para reparar a obra. O órgão afirmou ainda que anualmente a prefeitura investe R$ 2 milhões para consertos relacionados a depredações e pichações na capital pernambucana.
A estátua de Reginaldo Rossi integra o Circuito da Poesia do Recife, criada para homenagear personalidades importantes para a arte no estado. Esta não é a primeira vez que uma obra do projeto foi danificada. Em setembro de 2020 a escultura de o escritor Ariano Suassuna também foi vandalizada (relembre).
Integrantes do terreiro Casa de Oxumaré e grafiteiros baianos se reuniram nesta terça-feira (6), para uma ação contra as pichações que foram feitas no muro do terreiro na sexta-feira (29), localizado na Avenida Vasco da Gama, em Salvador (veja aqui).
De acordo com informações do site G1, para os integrantes do candomblé e também para os grafiteiros a frase pichada "Jesus é o caminho", representou um ato desrespeito às tradições afro-brasileiras e uma tentativa de impor um pensamento religioso.
Durante o ato artístico, foram feitas pinturas de elementos que representam o candomblé e um Oriki (história) que aborda o tempo religioso.
"Vamos falar de maneira lúdica e com amor o conceito de respeito. Queremos trocar alegria, amizade, queremos que essas pessoas se sensibilizem a ponto de não sentir tanto ódio e não queira destruir um patrimônio como esse", disse a Yákekerê (mãe pequena) do terreiro, Sandra Maria Bispo.
Júlio Costa foi o artista responsável por convocar os outros participantes. Ele revelou que a ideia da ação surgiu após conversas com lideranças do terreiro. Os grafiteiros que se dispuseram a participar da atividade levaram o próprio material.
"O grafite é um movimento organizado, então ele tem fácil difusão entre os praticantes. Foi legal porque muita gente disse que viria. Cada um dos artistas trouxe seu material. É como se fosse o mutirão para 'bater'. A gente está nessa ideia de construção", contou Costa.
Sobre a pichação no muro do terreiro, o caso foi registrado na 7ª Delegacia, que fica no bairro do Rio Vermelho. Segundo o site, até agora nenhum suspeito foi identificado.
Com as próprias mãos, a filha de Michael Jackson, Paris Jackson, decidiu limpar a estrela de um um radialista homônimo do pai que havia sido vandalizada na Calçada da Fama, em Hollywood. “Algumas pessoas não têm qualquer respeito. Eu sei que há uma diferença entre o emblema da rádio e da gravação, mas nome é nome”, escreveu ela em sua conta no Instagram, junto com uma foto na qual ela aparece removendo o grafite vermelho que havia danificado a estrela. No Twitter ela explicou que soube da pichação quando estava na casa de um amigo, e que apesar de não ser a do pai, ainda assim é um Michael Jackson. "Provavelmente uns garotos estavam zoando. Mas, para mim, um nome é um nome, e não consegui ficar parada. Precisei ver com meus próprios olhos", afirmou.
Sobre o acontecimento, o humorista chegou a comparar aos tempos da ditadura, lembrando de um episódio, quando retornou à casa e encontrou as paredes sujas de ‘sangue’. “Olha, isso me lembra um pouco dos tempos da ditadura. Uma vez eu morava em uma vila e, quando cheguei em casa, as luzes estavam cortadas, apagadas, e ai as paredes da casa banhadas de sangue. Quer dizer, era de tinta vermelha, mas como se fosse sangue. E tinha uma bonequinha, que era do meu sogro, uma estátua de mármore, uma menina com umas flores, banhada também de sangue, e escrito na parede CCC, que era a sigla do Comando de Caça aos Comunistas. As luzes cortadas e eu juro que fiquei com medo de entrar em casa”, contou o apresentador, que considera o comportamento “um fascismo total”.

Pichação aconteceu após entrevista com a presidente Dilma | Foto: Reprodução
Confira a entrevista realizada na última semana:
A ópera de Stravinsky, que estreou em 1951 na Itália, trata-se de um drama em torno do casal de namorados Tom Rakewell e Anne Trulove. Após receber uma herança de um tio desconhecido, Tom parte para Londres onde se entrega a uma vida de prazeres sem limites e deixa para trás sua vida e amor por Anne. Após se casar com uma outra mulher, ele vai à falência e descobre que deve entregar a própria alma. Embora sobreviva ao embate, Tom perde a sanidade mental e acaba preso num manicômio. Anne visita Tom, mas reconhece que seria impossível continuar o relacionamento e despede-se do amado. No epílogo, os personagens cantam a moral da história: “Para as mãos ociosas e os corações e mentes, o Diabo sabe encontrar o que fazer”.
Confira a entrevista completa com Miguel Cordeiro:
Recentemente o personagem Faustino, que você criou em 1979, voltou a ser comentado nas redes sociais. Gostaria que você me contasse um pouco sobre ele, o motivo das pichações terem sido interrompidas em 1985 e o que te motivou a retornar?
Eu sempre pensava voltar, mas de repente uma vontade foi despertada também por conta da memória cultural. O grafite é muito comentado hoje, mas as conversas ainda giram muito em torno de uma grafite feito por organizações não governamentais. Mas o grafite é muito mais abrangente do que isso. No Brasil, também existe um problema sério de falta de memória cultural, então eu também fiz por isso.
Nessa época, sua intenção era protestar contra o regime militar?
De onde surgiu o nome Faustino?
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Jaques Wagner
"Te afianço que vamos corrigir, tanto em cima como embaixo".
Disse o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), durante a discussão na Comissão de Assuntos Econômicos sobre o projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, indicando que a faixa de cobrança dos chamados “super-ricos”, que ganham acima de R$ 600 mil, precisaria ser retificada a cada ano.