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Artigos

Luciano Lopes
Nova Portaria do Ministério do Turismo define regras de check-in, check-out e limpeza nos hotéis
Foto: Acervo pessoal

Nova Portaria do Ministério do Turismo define regras de check-in, check-out e limpeza nos hotéis

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jogadores anonimos

Autodestruição, traição e Endemia Silenciosa: Conheça as principais histórias dos Jogadores Anônimos de Salvador
Foto: Bruno Peres / Agência Brasil

“Tem os que se desesperam e tentam tirar a própria vida...”. É com essa frase, um tanto forte e chocante, que um dos membros dos Jogadores Anônimos Salvador começou a contar os depoimentos e histórias mais marcantes acerca de integrantes do programa, que enfrentam transtornos relacionados ao vício de jogos e apostas.

 

 

Um livro não seria suficiente para resumir todos esses atos. Traições, impactos financeiros, tentativas de suicídio e falsos roubos são algumas das narrativas que dão o tom das histórias dignas de produções cinematográficas. E os protagonistas são as pessoas que enfrentam uma compulsividade por apostas e jogos.

 

Ainda fazem parte do drama, que acontece no cotidiano de muitos brasileiros, outros personagens que são acometidos de forma indireta, ou até direta, por sofrerem pelos danos causados por jogadores compulsivos. 

 

Dados do Ministério da Saúde apontaram que desde 2023 a rede pública de saúde obteve um crescimento na quantidade de pacientes que buscam este tipo de ajuda. Os registros de atendimentos de pessoas com sintomas de jogo patológico foi de 841 em 2022 para 1.290 em 2023, um aumento de 53%. Já até julho deste ano foram notificados 2.406 casos.

 

O BN fez contato com as Secretarias de Saúdes baiana e da capital baiana para trazer o recorte local de números de registros e atendimentos da questão, mas as pastas informaram que não têm a contabilização. Neste cenário, a reportagem do Bahia Notícias foi ouvir e conhecer algumas dessas histórias que marcam a trajetória de pessoas com esta patologia.

 

A apuração está inserida na série de matérias "Endemia Social: O impacto do vício em apostas na vida dos Jogadores Anônimos de Salvador", que tem o intuito de alertar sobre a compulsividade em relação a jogos de azar, cassinos onlines, entre outros do tipo; mostrar como é possível encontrar auxílio; e entender como o ato influência no cotidiano dos adeptos. 

 

O conteúdo a seguir pode despertar gatilhos em pessoas que passam por este tipo de problema. Em caso de gatilho é necessário procurar uma ajuda de um profissional de saúde mental. 

 

Uma primeira história é contada pelo o jogador anônimo Walter (nome fictício). O relato aconteceu com ele antes de sua fase de abstinência dos jogos - e antes dele procurar o JA para buscar auxílio. Era no período de final de ano, quando ele enfrentava o transtorno e recebeu seu salário de trabalho junto com o pagamento do benefício do 13º.  

 

O que era para ser destinado a pagamentos e investimentos virou verba para suas apostas e jogos. Após perder seu salário, ele efetuou um empréstimo, mas em sequência também gastou. Frustrado em decorrência dos sentimentos causados pela dependência, Walter tentou tirar a própria vida. 

 

“O meu relato pessoal talvez seja um dos mais impactantes. Porque se não fosse o meu [depoimento], talvez eu não estivesse aqui. Em um dia eu tinha recebido meu salário todo. E às duas horas da tarde, eu tinha perdido tudo. Fui no banco, peguei mais dinheiro financiado, fiz empréstimo e gastei tudo. Quando chegou às 20 horas eu estava de frente para a janela desesperado. Só que eu tinha medo de altura e aí eu tive a oportunidade de pensar um pouquinho e reformar minha vida. Três dias depois eu entrei na sala dos Jogadores Anônimos“, contou. 

 

Uma situação vivida por um outro integrante do programa, que foi compartilhada durante a entrevista ao BN, trata de uma traição de um marido com sua esposa. Traição não física, mas sim de uma quebra de confiança. O homem, que não teve a identidade revelada, gastou toda poupança que juntou com sua esposa durante alguns anos de casamento e de muito trabalho, e só revelou a despesa com os jogos durante a reunião do JA. 

 

“Uma senhora trouxe o marido para a reunião e começou a perguntar: ‘Aquela poupança que nós juntamos durante tantos anos? E o marido respondeu: ‘ Você pensa que tem? Eu torrei tudo’. O casamento acabou ali, não importa o valor que ela estava se referindo, mas sim a traição. Não era uma traição sexual, ele fez isso sem ela saber. E isso é a coisa mais comum que acontece, é sobre roubar”, alertou. 

 

ETAPAS COMUNS NOS DEPOIMENTOS

Três etapas marcam as trajetórias daqueles que enfrentam a compulsão por jogos: Insanidade, prisão e morte. Os 3 momentos podem não ser nessa respectiva ordem, mas o que se sabe é que são encontrados constantemente relatos de jogadores que perderam o controle de si, se envolveram em algum caso de criminalidade para conseguir dinheiro para apostar e morreram em decorrência da tentativa de praticar suicidio ou por dever dinheiro. 

 

“A pessoa pode ser interditada pelos atos, ou seja, insanidade. Você está insano e está fazendo aquilo constantemente sem perceber, ali sem pensar. A prisão é quando seu dinheiro é insuficiente e você começa a roubar, a tomar emprestado e não pagar, ou por cometer outro ato ilícito. A morte pode acontecer através de autodestruição ou alguém cometer este ato por ele, em decorrência de dever dinheiro às vezes a agiota. Então tudo isso acontece”, disse o JA. 

 

De acordo com ele, cerca de 90% dos membros do projeto já pensou em cometer suicidio. 

 

“Em nossa literatura de acolhimento, ao recém-chegado a ultima pergunta que a gente faz é: ‘Você já pensou em cometer um ato de suicídio, de auto-destruição?’ E 90% diz que sim, quase todos pensaram, é o desespero”, indicou. 

 

O servo do programa listou ainda alguns dos depoimentos mais fortes que já foram citados durante as reuniões. 

 

“Tem gente que diz: ‘Eu não tenho mais solução em minha vida, vou dar um tiro em minha cabeça’. São situações super delicadas, o que você vai dizer para o cara? São casos que a gente enfrenta às vezes. Mas temos que atender essas pessoas e encaminhá-las para profissionais de saúde, a exemplo de psiquiatras e psicólogos”, observou. 

 

DESTRUIÇÃO PESSOAL E FAMILIAR 

O impacto financeiro é também um outro drama real nas narrativas desses personagens. Além disso, a destrução familiar também causa um choque durante a explanação desses depoimentos. 

 

“Na realidade, o primeiro impacto é financeiro. As pessoas chegam porque estão endividadas. Então esses são os primeiros relatos, só que quando a pessoa observa, ela destruiu outras coisas também, ou seja, a família. Às vezes ele perdeu o emprego por causa do jogo”, constatou. 

 

Tem ainda viciados que mentem ao dizer que perderam o dinheiro após serem roubados, mas na verdade gastaram suas verbas. 

 

“Tem gente que recebia salário no dia e chegava em casa sem nada. Ao ser questionado a pessoa dizia que foi assaltada e roubada, mas na verdade era mentira. Os relatos são muito complexos, alguns menores e outros maiores. Porém, todos envolvem drama pela obsessão pela aposta. O vício da aposta do dinheiro tem reflexo em toda a estrutura familiar, de trabalho, de tudo. Destrói tudo”, revelou. 

 

Apesar de toda trama em alguns desses enredos, o final feliz de muitos filmes também acontece na vida real. Há relatos daqueles que superaram o vício de apostas. 

 

“É muito difícil você ter um tratamento, mas não é impossível. Tanto é possível que eu estou há 18 anos sem fazer nenhuma aposta, porque nós conseguimos entender a mensagem e conseguimos aceitar minha condição de doente. A primeira vez que me disseram que era um doente, eu rejeitei. Não me achava doente. Então é preciso aceitar essa condição. [...]  Entendi também que isso [o vício] não serve para nós, para minha vida. Eu já estava separado da minha mulher por conta do jogo”, completou o membro do grupo.

Orientação para endividados, divisão de cargos e literatura: Conheça a estrutura dos Jogadores Anônimos de Salvador
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Encontros semanais, literatura e 12 passos para a recuperação. Essa é uma parte que descreve como funciona a estrutura dos Jogadores Anônimos de Salvador (JA). Os momentos acontecem durante reuniões das células da Irmandade na capital baiana, denominada de “Sala Salvador”. As reuniões acontecem sempre às terças, por volta das 19h.  

 

Compõem o programa aqueles (as) que enfrentam algum transtorno compulsivo relacionado a jogos e apostas (sejam eles digitais ou não); membros que ocupam funções e “cargos” na irmandade, que estão em abstinência do jogo; além de um familiar ou amigo das pessoas em compulsão, que se reúnem em uma sala ao lado dos jogadores.

 

Os integrantes do grupo em abstinência são aqueles que conduzem e ficam à frente da irmandade, tanto nas reuniões, quanto na acolhida a novos membros, além de realizarem atendimentos, leitura de conteúdos, entre outras atividades que serão apresentadas ao decorrer desta matéria. É importante destacar que as reuniões não são abertas ao público geral, sendo destinadas somente àqueles que enfrentam a problemática. 

 

O objetivo do grupo é mostrar que a dependência em praticar apostas pode ser acompanhada e tratada com apoio, já que não existem remédios ou procedimentos médicos comprovados cientificamente como solução.

 

A reportagem do Bahia Notícias acompanhou momentos antecedentes de uma reunião dos JA em Salvador. Foi acompanhado somente o momento anterior ao encontro, já que a iniciativa é restrita somente aos participantes.

 

Este conteúdo faz parte da série de reportagens "Endemia Social: O impacto do vício em apostas na vida dos Jogadores Anônimos de Salvador", que tem o intuito de alertar sobre a compulsividade em relação a jogos de azar, cassinos onlines, entre outros do tipo; mostrar como é possível encontrar auxílio; e entender como o ato influência no cotidiano dos adeptos. 

 

Essa segunda produção vai mostrar detalhes acerca da estrutura dos Jogadores Anônimos (JA) da capital baiana. Antes do encontro, a reportagem avistou algumas pessoas que iam chegando, se cumprimentando e se dividindo por volta das 18h20. 

 

Homens de diferentes idades, mulheres e pessoas de diferentes etnias foram alguns daqueles que foram se aglomerando para compartilhar vivências, sentimentos, troca de saberes, experiências e esperanças para se recuperarem do vício na prática de apostar. 

 

Eram cerca de 10 pessoas, além de outros que ainda estavam A chegar antes do começo da reunião. No grupo, há um servidor que atua como secretário, tesoureiro, entre outros cargos, conforme explicou ao BN um dos membros, indentificado como Márcio [nome fictício]. Ele afirmou ainda que os JAs de todo o mundo contam com reuniões virtuais, das quais todos os membros podem participar. 

 

“A irmandade não tem cargos eleitos. Trabalhamos como nós chamamos de ‘consciência coletiva’. A cada dois anos a gente faz a renovação de funções. Então quem é tesoureiro passa o cargo para outro, quem é representante de grupo passar para outro. Hoje já tem o atendimento para reuniões virtuais. Existem dois tipos de reunião presencial e várias virtuais no Brasil inteiro, todos os dias em vários horários, onde qualquer membro pode participar”, disse. 

 

O projeto acontece de forma gratuita, e os mais antigos (em termos de estar em abstinência) prestam apoio a  outros integrantes do grupo. Segundo Márcio, ele e o outro representante ficam à frente para ajudar os recém-chegados por gratidão após conseguirem se recuperar. 

 

“É um programa de autoajuda, em que a gente ensina e procura orientar as pessoas o que deve fazer na sua vida. Não se paga nada, não tem uma taxa de ingresso, não tem nada. Nenhum de nós ganha de nada, eu faço pela gratidão pelo que eu já recebi. Então se eu pude me recuperar, eu reconheço que é meu dever por gratidão estar aberto a outras pessoas pelo resto da minha vida. Como eu disse, não tem cura. A gente aprende uma regra de novo. É só por hoje, só vale o dia de hoje. Amanhã eu posso voltar a jogar, ele pode voltar a jogar. Quem me garante? Ninguém. Agora quando você está dentro de uma filosofia, de uma seita determinada, você vai incorporando e vida que segue”, pontuou. 

 

O QUE SÃO 12 PASSOS? 

São 12 métodos, denominados de “doze passos”, que norteiam e servem de base e referência para os jogadores anônimos. A lista foi fundada em 1935 por Bill W. e Dr Bob S., os fundadores do programa Alcoólicos Anônimos. A ferramenta foi determinada inicialmente para ajudar pessoas a vencerem o alcoolismo e depois foi expandida para quase todos os tipos de compulsões e dependências químicas e compulsões.

 

CONFIRA OS 12 PONTOS QUE SÃO UTILIZADOS NO BRASIL 

1 . Admitimos que éramos impotentes perante o jogo – que nossas vidas haviam se tornado ingovernáveis.

2. Passamos a acreditar que um poder superior a nós mesmos poderia trazer-nos de volta a um modo normal de pensar e de viver.

3. Tomamos a decisão de entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados deste poder de nosso entendimento.

4. Fizemos um minucioso e um destemido inventário moral e financeiro de nós mesmos.

5. Admitimos a nós mesmos e a outro ser humano a natureza exata de nossas falhas.

6. Ficamos inteiramente dispostos a ter estes defeitos de caráter removidos.

7. Humildemente pedimos a Deus (de nosso entendimento) que removesse as nossas imperfeições.

8. Fizemos uma lista de todas as pessoas a quem prejudicamos e nos tornamos dispostos a fazer a reparação a todos pelo mal causado.

9. Reparamos os danos causados diretamente a essas pessoas sempre que possível, exceto quando a reparação implicasse em prejudicá-las ou a outras.

10. Continuamos a fazer um inventário pessoal e quando estávamos errados, prontamente admitimos.

11. Procuramos, através da oração e meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus como O entendíamos, pedindo somente pelo conhecimento de Sua vontade perante a nós e a capacidade de realizá-la.

12. Tendo feito um esforço para praticar estes princípios em todas as nossas questões, procuramos levar esta mensagem a outros jogadores compulsivos.

 

FORMATO DAS REUNIÕES

Um primeiro ato que acontece é quando os novos membros chegam e são acolhidos. Na ocasião, é lido o primeiro passo de recuperação e que deve ser feito pelo jogador. O conceito inicial trata da internalização. Depois, as outras reuniões do programa são divididas na leitura dos 12 passos, que são reforçadas em todos os encontros. 

 

“Na verdade, quando tem ingressante, nós lemos exatamente o primeiro passo de recuperação, para ele internalizar que ele é uma pessoa impotente perante o jogo. E aí é um programa de 12 passos, em que todos da irmandades de adictos têm esses 12 passos de recuperação, e a cada reunião nós lemos esse passo de recuperação, a interpretação desse passo para você conseguir compreender... Muitas vezes, as pessoas chegam aqui atordoadas e abrem o espaço para todo mundo debater e discutir sobre esse passo. Esse é o primeiro ponto da reunião”, detalhou Márcio.

 

Já a segunda parte do encontro é quando acontecem os momentos de depoimentos e testemunhos e as experiências de cada um com os jogos. 

 

“O segundo momento da reunião são as partilhas, onde cada um vai contar sua história de jogo. Três minutos para cada um, pois temos muitos membros. Então aquele que tem a real necessidade de falar, a gente estende um pouco mais. Muitas vezes acontece alguns momentos em que algum irmão que já está na irmandade tem recaída”, afirmou. 

 

FOTO: ARQUIVO JA

 

É este ato de “queda”, de recair, que faz com que o processo de reabilitação desses jogadores seja remodelado no grupo. Após passar este “passo para trás”, o jogador tem um tempo maior na reunião para desabafar e falar de seu tropeço. 

 

“Quando ele [jogador] recai, precisa de uma atenção melhor, então ele tem um espaço maior para falar um pouco mais. O que é que ele está sentindo, como é que está o emocional dele, um acolhimento. No primeiro momento, literatura, discussão e interpretação da literatura e no segundo momento as partilhas, onde você vai ouvir histórias reais de cada um”, revelou. 

 

O sigilo e o anonimato também são um dos aspectos pregados pelo o grupo. 

 

“Sempre respeitando o anonimato. A gente tem uma máxima: ‘O que você vê e ouve aqui, deixe aqui”. 

 

ORIENTAÇÃO A JOGADORES ENDIVIDADOS 

São casos comuns os de jogadores compulsivos estarem com algum problema relacionado ao endividamento. Quando a dívida não é com bancos, financeiras ou empresas de créditos, o jogador arrisca a própria vida e fica endividado com agiotas, entre outros cobradores. 

 

“Quando alguém precisa, pede para participar de um grupo de alívio de pressão. Este grupo é para a pessoa que está toda endividada, agiota cobrando e ele está desesperado sem saber o que fazer". 

 

É preciso informar que o grupo de alívio não é voltado para emprestar dinheiro ou inventar ideias mirabolantes, mas sim orientar sobre como o jogador endividado pode negociar o que deve, seja com entidades financeiras ou a outras pessoas. 

 

“A gente orienta. A orientação consiste em recomendar para este viciado dialogar com o seu cobrador e tentar uma negociação e dizer: ‘Eu não posso pagar vamos dizer que R$ 100 toda semana, eu só posso pagar R$ 20, mas vou pagar tudo'. É para negociar, para que ele entenda que tem saída. O cara de lá do outro lado faz a pressão, ele quer receber dinheiro, claro. Mas se ele matar a pessoa, não vai receber nada, vai ficar sem o dinheiro. Isso é um dos aspectos, fazemos essa orientação em para negociar com o banco, financeira, fazer um orçamento...”, constatou. 

 

Caso a pessoa precise deste tipo de atendimento, uma outra reunião momentos antes do encontro da cúpula é realizada, ou os integrantes marcam uma outra data. 

 

“O irmão é que tem que pedir. A gente se reúne no dia de nosso encontro ou algum outro dia determinado para o suporte. É algo mais educativo. Mas é uma demanda de cada irmão para o grupo, não é uma coisa de todas as reuniões. Pode acontecer ou não fora da reunião”, contou. 

 

Outro ponto tratado no projeto é acerca da religiosidade. Segundo o integrante Wilson, a fé, independente do credo de cada jogador, também é levada em consideração no processo de tratamento desses JAs, além da parte mental. 

 

“Se eu sei que eu tenho uma doença, se eu aceito que tem uma doença, é o primeiro passo. O aceitar minha condição de doença de caráter emocional, que eu não sei como eu vou tratar isso. Você pode tratar com psiquiatra, com todas as doenças emocionais junto com a sua, qualquer fé que você tenha - a gente chama de poder superior".

 

Um dos principais passos reverberados e destacados pelos representantes é a virtude da humildade. De acordo com eles, é necessário que o jogador que enfrenta o transtorno reconheça e seja humilde para superar o vício, além de frequência e adesão. 

 

“A frequência ao programa onde a gente passa informações de onde você vai discutir, elaborar pensamentos. No 4º passo da recuperação falamos sobre o desvio de caráter. Tem uma lista desse desvio, a exemplo da falta de humildade, explicar a pessoa ser mais humilde...”, completou. 

 

Alerta: Pessoas com problemas de vício ou dependência em jogos podem procurar os Jogadores Anônimos (JA) de Salvador e participar da reunião, que acontece às 19h. Para mais contatos com o grupo, basta acionar o (71) 8624-0512. 

 

Esses jogadores podem também recorrer a atendimento terapêutico com psicólogos e psiquiatras.

 

 

 

Programa Jogadores Anônimos de Salvador tem aumento no número de integrantes após "boom" das apostas digitais e bets
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

“As bets se tornaram uma endemia que atingiu o Brasil inteiro”. É com esse relato que um jogador anônimo de Salvador indicou o cenário preocupante, após o “boom” das apostas digitais em todo Brasil se transformar não só em um hábito, mas também um vício de muitos baianos. 

 

Conforme levantamento realizado pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), cerca de dois milhões de brasileiros estão viciados em jogos de azar. O transtorno, definido pela dificuldade de impor limites nas práticas em apostar, influenciou no aumento duas vezes maior, ou até três, no número de pessoas que procuram o grupo de Jogadores Anônimos (JA), formato similar a conceitos como o dos Alcoólicos Anônimos (AA), para buscar ajuda.  

 

Diante do contexto, o Bahia Notícias preparou a série de reportagens "Endemia Social: O impacto do vício em apostas na vida dos Jogadores Anônimos de Salvador", com o intuito de alertar acerca da compulsividade em relação a jogos de azar, cassinos onlines, entre outros do tipo; mostrar como é possível encontrar auxílio; e entender como o ato influencia no cotidiano dos adeptos. Este primeiro conteúdo vai tratar da questão do aumento de pessoas em JA por conta das apostas digitas e esportivas.  

 

O crescimento chega em meio à aprovação do Projeto de Lei 3626/2023, que regulamenta as apostas esportivas on-line no Brasil (veja aqui)

 

APOIO CONTRA VÍCIO

É em uma sala de um centro comunitário no bairro da Pituba, em Salvador, em uma terça-feira, que pessoas que enfrentam a obsessão por diferentes apostas se reuniram, para mais uma reunião dos Jogadores Anônimos. O grupo é ligado a uma irmandade fundada há mais de 60 anos na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, quando 13 pessoas se reuniram para compartilhar seus depoimentos. Com o passar do tempo, a “cúpula” foi se espalhando até chegar ao Brasil, onde a primeira reunião aconteceu em 1993, no Rio de Janeiro. 

 

Após a sede na cidade, outras células (filiais) foram criadas no país. A capital baiana pertence à região 23, com sede no RJ, que atende todo o Nordeste, fornecendo materiais, folhetos, entre outros itens utilizados. 

 

Aqui na Bahia, o projeto, denominado de “Sala Salvador”, tem cerca de 18 anos de fundação. As reuniões foram iniciadas em um espaço de uma igreja no bairro da Barra até chegar a um novo local. 

 

Em entrevista à reportagem do Bahia Notícias em anonimato, dois integrantes do grupo de Salvador aceitaram falar sobre a temática. Para Márcio, nome fictício do primeiro membro, pessoas de classe menos favorecidas estão sendo as mais atingidas pelo que eles consideram um “endemia” das bets e jogos digitais. 

 

“O assunto é muito mais sério do que muitas pessoas estão pensando. A gente estava conversando agora pois [as apostas] viraram uma endemia, que atingiu o Brasil inteiro, principalmente as classes menos favorecidas. Porque a pessoa que ganha pouco pensa que tem uma oportunidade de pegar R$ 10 para ver se ganha R$ 100. Mas se ele ganhar R$ 100, ele vai continuar jogando e aí começa o buraco [...] É exatamente pela necessidade que a pessoa tem de aumentar a renda”, revelou. 

 

No depoimento do segundo personagem, que vamos chamar de Walter, ele relata que quase 10 pessoas procuram ajuda do programa semanalmente. 

“Ultimamente temos recebido por volta de 10 ligações semanalmente de pessoas para integrar o grupo. Convidamos a pessoa para vir para cá, para fazer o que a gente chama de acolhimento, que consiste em entender o problema daquela pessoa, que às vezes vem acompanhada de um parente. Posso dizer que, em média, 7 a 8 pessoas novas por semana nos procuram aqui", indicou. 

 

Do total atualmente, o integrante informou que cerca de 30 pessoas participam dos encontros semanais. O número é 3 vezes maior do que o registrado antes do crescimento das plataformas digitais.   

 

“Nossa reunião hoje está em volta de 30 pessoas. Não é oficial, porque não há obrigatoriedade. Então não tem um número fixo. Já tivemos reuniões com poucas pessoas, mas hoje também nós estamos com muita gente. 30 pessoas é um número muito grande para você poder ouvir depoimento de todo mundo. Às vezes não temos tempo. Se fizermos as contas de quantas pessoas já nos procuraram e deixaram de participar, passa de 1.000, com grande acréscimo nos últimos tempos por conta das apostas eletrônicas”, explicou. 

 

ACESSIBILIDADE 

Denominador comum entre os dois representantes da organização, a facilidade com que as apostas onlines esportivas e os jogos do tipo "tigrinho" são encontrados atualmente em todo o Brasil é um dos principais fatores para o problema. 

 

“Essa demanda vem por conta da massificação da informação. Se você abrir uma tela no seu celular, a primeira coisa que vem é uma aposta.  Você passa na rua e tem um outdoor, você vai no estádio de futebol e tem propaganda sobre. Então essa massificação vai sendo internalizada, a pessoa vai internalizando. Fora que você tem a publicidade: ‘Aposta em uma plataforma ganha tanto, apostar em outra ganha outro valor’. É uma questão social. Com isso, o endividamento vai acontecendo, então esse é o grande problema”, pontuou. 

 

Diferente de outros tipos de vícios, que são externalizados e vistos a “olhos nus”, a acessibilidade dos instrumentos digitais, através de smartphones e computadores, torna os incentivos às práticas cada vez mais palpáveis. 

 

“Brasileiro gosta muito de futebol, e essas ferramentas têm apostas diariamente, o ano inteiro, no mundo todo. A pessoa não para hora nenhuma, e é fácil, e pode ser escondido, pois você se tranca no banheiro e ninguém olha o que você está fazendo”, completou. 

 

IMPACTOS E CONSEQUÊNCIAS

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostrou que o consumo constante de bets vem ocasionando desdobramentos no comportamento e movimento de compras em outros setores, principalmente de vestuário, supermercados e viagens. A pesquisa apresentou que cerca de 58% dos homens participam de jogos eletrônicos, contra 42% de participação feminina. O Sudeste lidera o ranking com 50%, seguido pelo Nordeste. 

 

Outro estudo da AGP Pesquisas via SBVC em 2024, com 1.337 consumidores em todo o país, notou que 38% da população aposta na internet. O público listado predominantemente é da classe C (54%), jovem (44% têm entre 18 e 34 anos) e morador da região Sudeste (50%).

 

A maioria (51%) joga pelo menos uma vez por semana e 49% estão jogando mais hoje do que no ano passado. Quase dois terços dos entrevistados (64%) usa a renda principal para apostas. Destes, cerca de 63% afirmaram que já se sentiram prejudicados por serem usuários de bets.

 

Entre os jogadores, 23% deixaram de comprar roupas, 19% não adquiriram itens de supermercado, 19% não consumiram viagens, 15% deixaram de fazer refeições fora do lar, 14% não compraram itens de higiene e beleza, 11% não adquiriram medicamentos ou outros cuidados com a saúde e 11% não pagaram contas básicas como água, luz e gás – tudo em favor das apostas online. 

 

“Tem pessoas que ao invés de comprar 2 kg de feijão estavam comprando 1 kg. Pessoas estavam desviando parte do dinheiro que era para comida para apostar em celular”, iniciou o debate o integrante de nome Márcio. 

 

Outro tema tratado na entrevista foi sobre o comportamento desses jogadores. Baseado nas falas de JA durante algumas reuniões, o próprio auxiliar do grupo classificou que as apostas digitais têm reverberações em diferentes aspectos da vida da pessoa afligida e de outros ao seu redor.  

 

“[As bets] estão tomando uma proporção tão grande que já está em debate no Congresso o que fazer, como e quando fazer. Quando o viciado ganha algo, isso vai contaminando, pois ele fala no trabalho tudo o que ganhou. Quando perde ele fica quieto. Seja no trabalho, seja em qualquer ambiente, nessa expectativa do dinheiro fácil, de ganhar um dinheiro que não estava sendo esperado. O pensamento vai ficando condicionado, você deixa de se alimentar corretamente, de sair de passear. Se você é casado, deixa de dar atenção aos filhos, têm várias consequências a partir de uma aposta, e que a pessoa se vicia e tem hábito de continuar fazendo a mesma coisa. O que é pior, é que vai repetindo, se afundando... A gente costuma dizer que o poço não tem fundo, quanto mais se escava mais você tem”, observou. 

 

Uma outra etapa que algumas das pessoas em transtorno enfrentam é a questão do roubo. O integrante do programa contou que o engajamento de jovens neste quesito tem ocasionado casos de roubos para o consumo de jogos.

 

“Agora com os mais jovens nessa questão das apostas esportivas, tem gente que está até roubando em casa para fazer dinheiro, para poder continuar apostando. O jovem ainda não tem emprego, não tem trabalho, e os pais ficam sem saber o que fazer”, exemplificou. 

 

Ele concluiu que a disseminação, iniciada através de indicações de consumo desses aplicativos, muitas vezes começa com falas de pessoas que ganham um determinado valor, servindo como uma certa influência para convencer alguém de seu convívio. 

 

“Começa com uma brincadeira, todos começam com uma brincadeira, ao pouquinho. Às vezes depois de alguém falar que ganhou algo e essa coisa vai crescendo, vai crescendo, até ficar sem limite”, finalizou. 

Curtas do Poder

Ilustração de uma cobra verde vestindo um elegante terno azul, gravata escura e língua para fora
Se pega essa moda de resolver briga política com MMA, teríamos finalmente o fim de clássicos confrontos aqui no estado. Se bobear, é a forma mais fácil de resolver a briga pela chapa do Cacique ano que vem... Enquanto isso, tem gente gastando com canetinhas pra colocar tudo a perder no fim de semana. Mas ainda é melhor do que ver e ouvir certas coisas. Vale tudo pelo voto? Saiba mais!

Pérolas do Dia

Luiz Inácio Lula da Silva

Luiz Inácio Lula da Silva
Foto: Reprodução/TV Liberal

"Tivemos que descer, com medo que pegasse fogo". 

 

Disse o presidente Lula ao relatar que o avião da Força Aérea Brasileira (FAB), em que ele estava, apresentou um problema durante viagem ao Pará. Durante entrevista a TV Liberal nesta sexta-feira (3), o presidente revelou que passou pelo problema e pelo imprevisto antes da viagem para o Pará. Ele está no estado desde quinta para entregar obras relacionadas à COP 30. 

Podcast

Ex-presidente da AL-BA, deputado Adolfo Menezes é o entrevistado do Projeto Prisma nesta segunda-feira

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O Projeto Prisma recebe o deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Adolfo Menezes (PSD), na próxima segunda-feira (22).

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