Artigos
A Política Brasileira: um Espelho Bíblico da Vaidade
Multimídia
Marcelle Moraes defende a criação de uma casa para protetores de animais como prioridade para Salvador
Entrevistas
Léo Prates define “desgaste” de Lula e do PT como trunfos e projeta chapa da campanha de oposição em 2026
dia mundial do teatro e do circo
A brincadeira, o riso e a criatividade são características amplamente atribuídas a infância e juventude; as mesmas palavras podem ajudar a definir duas artes cênicas: o teatro e o circo. Nesta quinta-feira (27), dia em que se comemora o Dia Mundial do Teatro e do Circo, o Bahia Notícias conta a história de um dos circos mais tradicionais da Bahia, que abriu as portas para a arte circense na vida de diversos jovens e crianças: o Circo Picolino.
O circo, que comemora 40 anos de história em 2025, está localizado no bairro de Pituaçu, na orla Atlântica da cidade. O espaço foi fundado em 1985 como a Escola Picolino de Artes do Circo, com o propósito de difundir as artes circenses e, por muitos anos, teve como um dos seus braços mais ativos as oficinais para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.
Quem conta essa história ao Bahia Notícias é a atriz circense e coordenadora da Escola Picolino de Artes do Circo, Nina Porto. “A Picolino surge quando um casal chama Anselmo Serrat e Verônica Tamaoki vem para Bahia com o grupo de circo deles chamado Tapete Mágico e eles instalam aqui uma escola de circo, primeiramente particular, para ampliar a linguagem e também conseguir se manter na Bahia”, relata.
“A escola abre em 1985 e a partir dos anos 90, Verônica volta para São Paulo, se dedica à pesquisa circense e funda o Centro de Memória do Círculo de São Paulo. E Anselmo toca a história aqui da Picolino na Bahia”, detalha. A Escola, que leva o nome do Palhaço Picolino, fundador da primeira escola de circo do Brasil, se torna então uma associação e é essa a mudança que inicia o processo de crescimento do Circo Picolino.
Foto: Acervo / Circo Picolino.
“Ele [Anselmo] começa a interagir com o projeto Axé, projeto Agata Esmeralda e amplia essa coisa do circo social, que é aonde o circo ganha mesmo uma robustez muito significativa, que traz muita gente de vulnerabilidade social. Muita criança é formada pelo circo, então misturam-se os públicos, tanto os alunos particulares, quanto as crianças vindas de projeto social. E ao passar dos anos cria-se a companhia Picolino dessa mistura de alunos e que ganha uma potência muito grandiosa”, afirma.
Como uma das artistas formadas pela Escola, Nina defende que a Picolino cultiva duas características especiais, que o diferenciam os circos convencionais: a estabilidade e brasilidade. “A Companhia Picolina apresenta espetáculos incríveis dirigidos por Anselmo. Um circo estritamente brasileiro, realizado por brasileiros, por pessoas brasileiras que sentem na pele, toda essa verdade social que a gente vive e isso é reverberado num picadeiro de circo”, conta.
Foto: Acervo / Circo Picolino | Criador da Escola Picolino, Anselmo Serrat.
A ARTE QUE TUDO SUPORTA
E a verdade é que o brasileiro não desiste nunca. O mesmo pode ser dito sobre o Picolino, que hoje se apresenta como Espaço Multicultural Circo Picolino. O circo que já passou por altos e baixos em termos de estrutura, engajamento público e a manutenção de seus projetos, se orgulha de ter se mantido ininterruptamente ativo, mesmo com o falecimento de seu fundador e a chegada da pandemia.
Anselmo Serrat faleceu aos 71 anos, no dia 17 de março de 2020, um dia antes de Salvador entrar em estado de emergência e decretar um “lockdown” devido à pandemia de Covid-19. “É quando a gente se vê assim num desafio imenso de aprender, como a gente vai continuar a nossa jornada formativa, circense dentro das nossas casas. A gente consegue vislumbrar esse novo mundo do audiovisual e em uma casa, onde um grupo de artistas acabou ficando na pandemia, a gente perde a nossa lona e o circo Picolino vira essa casa onde a gente consegue reverberar através do audiovisual, uma série de programações que estão disponíveis até hoje no YouTube”, conta.
Ao falar sobre esses momentos, Nina define que “o circo e a Escola Picolino, em si, é uma maquinaria que vai para além do fundador, vai para além das pessoas que estão envolvidas hoje, que podem não estar envolvidas amanhã." "Ela tem uma potência formativa e transformadora, que todo mundo que passa por ela, sendo a pessoa-artista, sendo a pessoa-público, mexe muito com cada pessoa e acho que isso que faz a Escola Picolino ter essa reverberação, essa importância e esse reconhecimento”, ressalta.
Atualmente, a Escola segue oferecendo aulas particulares de arte circense enquanto busca financiamento da Funarte (Fundação Nacional de Artes), ligada ao Ministério da Cultura, para promover as oficinas infantojuvenis em escolas públicas de Salvador. “Elas fazem parte desse programa, então são duas etapas, uma etapa é o circo indo até a escola e a outra etapa são as escolas que conseguem se organizar para ir levarem as crianças ao circo, que é uma vivência diferente”, detalha.
Foto: Acervo / Circo Picolino. Anselmo Serrat dirigindo uma apresentação da Companhia Picolino.
No entanto, mesmo que esse trabalho social já seja relevante, a coordenadora da Picolino defende que o grupo vem trabalhando incansavelmente para trazer de volta o atendimento social, que garante a formação circense continuada para alunos em vulnerabilidade social. “A gente está batalhando para voltar o atendimento social mesmo efetivo, que é o carro chefe da escola, é o que mais interessa em termo e potência de transformação mesmo social”, diz.
Assim como em diversas outras organizações artísticas, as finanças são a maior dificuldade da Picolino. “Estruturalmente a gente vem melhorando, a gente vem junto à prefeitura também desenvolvendo projetos para melhoria estrutural, mas a gente precisa de financiamento para poder fazer os projetos funcionarem”, relata a atriz circense.
E em meio essa reestruturação pós-pandêmica, o Espaço Multicultural Circo Picolino também teve que resistir a uma nova mudança: as obras de revitalização da orla marítima de Salvador, entre Piatã e Pituaçu. “É uma obra de grande porte que ainda vem acontecendo, então tem mais de dois anos que a gente vive o meio. Eles se instalaram ao lado da gente, a sede principal da obra, que estão agora retirando. Então, houve uma série de impactos muito violentos na nossa estrutura. Sem dúvida nenhuma, a gente passou dois anos assim precisando resistir a tudo”, reflete.
Foto: Nti Uirá / Divulgação. Reabertura do Picolino em setembro de 2024.
O FUTURO E REALIDADE DA ARTE
Em meio a tantas mudanças, o futuro já está batendo na porta do Picolino. A estrutura do Circo, que foi tão impactada pela obra ao seu redor, está se preparando para um futuro mais brilhante.
Ao Bahia Notícias, Nina Porto garante que “o Circo Picolino não vai sair do território dele, isso é um fato, embora a gente tenha pedido a lona da gente para chuva." "Então, no meio da obra a gente ficou em um estado estruturalmente muito precário, o Circo Picolino não vai sair do seu território. Pode haver mudanças de local, mas dentro do mesmo território e é um projeto que a gente vem estabelecendo junto à prefeitura desenvolvendo para realizar nos próximos anos”, revela.
Ao falar sobre a importância da iniciação infantojuvenil às artes, Nina conta um pouco da sua própria história. “É muito interessante para mim que eu fui uma dessas crianças. Hoje eu sou uma adulta, sou mãe, mas eu já fui filha e fui uma das crianças que teve a oportunidade de desfrutar [da arte]. Então, quando você é criança, você tá muito despretensioso ainda do que você quer da sua vida”, afirma.
“Quando você tem a oportunidade de estar num centro, como é a Escola Picolino, uma escola fixa, onde existe espetáculo, sim, mas existe um processo de formação e de transformação, tem todo um processo mesmo de descoberta e de desbravar sonho”, conta.
Foto: Divulgação / Circo Picolino
“O circo traz essa linguagem lúdica e exercita coisas tão minuciosas e tão importantes para vida de qualquer ser humano, que vai precisar e não importa se ele vai ser artista, se ele vai ser médico, se ele vai ser outra coisa. Você precisa ter muito conhecimento do seu corpo e deslumbrar as possibilidades, os desafios. O circo te traz isso, então eu acho que toda criança deveria por direito, né, viver uma experiência, ainda que isso não faça dela sua vida”, conclui.
É com essa noção, que o Circo Picolino vai iniciar a comemoração aos seus 40 anos de história com o espetáculo de variedades circenses “Gran Circus” apresentado para crianças de escolas públicas de Salvador, entre 09h e 14h desta quinta-feira (27). A apresentação, que também é aberta ao grande público, é inspirado na história e na alma do circo brasileiro, mescla o circo tradicional com o contemporâneo, com números de malabarismo, palhaço, monociclismo, equilibrismo e aéreos.
Por fim, a produtora garante: “Ir ao circo é uma oportunidade de simplesmente conhecer e ter essa vivência, de sair de uma verdade muito rude e estar em um espaço onde todo mundo cabe, onde todo mundo é possível, onde a gente pode se misturar e aprender novas coisas”, conclui.
A brincadeira, o riso e a criatividade são características amplamente atribuídas a infância e juventude; as mesmas palavras podem ajudar a definir duas artes cênicas: o teatro e o circo. Estudos relacionadas a pedagogia e artes indicam que o contato com as artes nos primeiros anos da vida proporcionam um ganho significativo na imaginação, criatividade e desenvolvimento social e sensorial das crianças. Mas o que parece ser um dado científico se torna palpável no dia a dia.
Nesta quinta-feira (27), dia em que se comemora o Dia Mundial do Teatro e do Circo, o Bahia Notícias conta a história de projetos que mudaram a história de diversos jovens e crianças por meio destas artes milenares. No âmbito teatral, a Companhia de Teatro da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato e a Companhia Avatar se dedicam a atrair crianças e jovens, especialmente aqueles em vulnerabilidade social na região.
No bairro de Nazaré, a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato (BIML), vinculada a Fundação Pedro Calmon, oferece aulas gratuitas de teatro para crianças de 08 a 17 anos. A iniciativa foi promovida há 15 anos pelo ator e educador artístico, Sérgio Mício.
Foto: Mateus Pereira / GOV-BA. Biblioteca Infantil Monteiro Lobato
Sérgio, que hoje possui a própria companhia de teatro no mesmo bairro, conta como foram os primeiros 10 anos do projeto. Ele relata que ao passar no concurso da Fundação, como REDA [seleção simplificada], ele se surpreendeu com as possibilidades. “Quando cheguei lá, a diretora ficou radiante. Ela me levou no auditório e quando eu entrei disse: ‘Gente, não acredito, isso é um presente para mim. Eu achando que ia ficar emprestando o livro aqui. E vou fazer o que eu gosto’”, relata.
“Eu tenho um propósito que é trabalhar com o público infantil e juvenil, principalmente, o público negro. A questão da autoestima, o combate ao racismo, a questão do empoderamento negro infantil, essa é minha linha de trabalho”, delimita. Mício conta que foi nesse projeto que esse modo de trabalho ficou definido.
“E assim, tem toda a questão de Monteiro Lobato ter sido notoriamente um homem racista. E eu falei assim, ‘Eu sou um homem negro, eu tô aqui nesse espaço, mas eu vou fazer tudo ao contrário’. As crianças negras vão ser protagonistas de todos os espetáculos. E vão ser a prioridade aqui”, relata o professor, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Mesmo após a saída do professor, a diretora da unidade, Patrícia Porto, conta ao BN que a Companhia de Teatro da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato ajudou a impulsionar a biblioteca. “A importância da companhia é enorme, ela é o nosso carro-chefe. Através dessa companhia, o nosso elenco se aproxima do livro da leitura, os pais das crianças também, começam a participar dos projetos da biblioteca, começa o hábito da leitura através do projeto”, define.
Foto: Lucas Rosário/ Divulgação FPC. Peça teatral da Cia de Teatro da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato.
As inscrições são estabelecidas no final de todos os anos, no mês de dezembro, e as crianças são selecionadas para participar do ciclo de produção de um espetáculo anual. Os elencos são divididos em infantil, para crianças de 08 a 11 anos, e juvenil, de 12 a 17. Atualmente, a direção artística da companhia é gerida pelo ator e produtor artístico, Maycke Barreto.
“Essas crianças fazem a inscrição, e em janeiro passam por uma audição. As crianças e adolescentes aprovadas nas audições ficam com a gente durante um ano, [período em] que é lançado o espetáculo e fica em cartaz não só na biblioteca. Assim como participam das festas literárias, dos eventos das outras unidades onde são também convidados”, conta.
Em entrevista, Sérgio Mício relata que a criação de sua companhia de teatro iniciou antes mesmo de sua saída da BIML. “Em 2013, eu fui à prefeitura e abri o meu MEI [micro-empreendedor individual] na área de teatro e produção teatral. Nesse primeiro momento, eu foquei em produzir espetáculos para vender para escolas e empresas, eventos de uma forma geral. Então eu peguei aqueles alunos que mais se destacaram na companhia da Biblioteca, que já estavam passando transitando da adolescência para fase adulta, entre os 16, 17, 18 anos”, conta.
Foto: Valnei Souza / Acervo Avatar. Ator e diretor teatral Sérgio Mício.
Pouco tempo depois, com a desvinculação da Biblioteca Monteiro Lobato, ele cria a Avatar, por onde oferece aulas particulares de teatro, incluindo taxas especiais a preço social para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. “A gente [Companhia Avatar] tá entrando agora no nosso sétimo ano e eu acredito que já ensinei mais de 200 alunos, acredito. Eu não sei estipular. Agora assim, se for juntar, se for juntar os do Avatar, com os da Biblioteca Monteiro Lobato, que eu fiquei 10 anos, aí vai para mais de 1.000 alunos”, defende.
As aulas na Companhia de Teatro da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato ocorrem às terças e quintas-feiras, com ensaios para a peça teatral anual. Já na Companhia Avatar, Sérgio Mício organiza turmas nas sextas-feiras a tarde, e aos sábados pela manhã.
Ao falar sobre a importância da iniciação infantojuvenil no teatro, Patrícia Porto explica: “A importância de introduzir a criança na arte é o desenvolvimento em todos os aspectos. Não só na arte, mas o desenvolvimento para a sociedade, ter visão de mundo, ampliar os seus horizontes. E um projeto dentro da biblioteca é de suma importância pela proximidade do livro e da leitura, por democratizar o acesso à informação. Então isso abrange vários aspectos de introduzir a criança na arte”, ressalta.
Sérgio Mício, por sua vez, reflete sobre si enquanto um apaixonado pela arte e garante: “Eu vou ficar muito feliz se futuramente eu vê-los atuando na TV, no cinema, no teatro profissionalmente, mas antes de qualquer coisa, eu sempre digo que eu ficaria mais feliz ainda se eles se tornassem cidadãos melhores do que são hoje, se eles puderem representar a si mesmos da melhor forma possível. Eu acho que a arte, o teatro de uma forma geral proporciona isso, não só para criança, adolescente, mas para o público geral”, explica.
Foto: Arquivo pessoal / Avatar Companhia de Teatro
“Todo mundo que passa pelo teatro sai diferente. Eu acho que sai melhor, sai convivendo melhor com as pessoas, socializando melhor, comunicando melhor, se expressando melhor, então o teatro tem esse dom”, conta.
Curtas do Poder
Pérolas do Dia
Capitão Alden
"Estamos preparados, estamos em guerra. Toda e qualquer eventual postura mais enérgica, estaremos prontos para estar revidando".
Disse o deputado federal Capitão Alden (PL) sobre possível retirada à força da obstrução dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional.