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'Intermediário' procurou BioGeoenergy como representante do governo da Bahia

Por Breno Cunha / Matheus Caldas / Jade Coelho / Mauricio Leiro / Lucas Arraz

'Intermediário' procurou BioGeoenergy como representante do governo da Bahia
Fotos: Reprodução / Twitter

Um dos intermediários entre o governo da Bahia com as empresas Hempcare e BioGeoenergy, no caso dos respiradores nunca entregues ao Consórcio Nordeste, Cleber Isaac teria entrado no negócio através do vice-governador João Leão (PP), do ex-secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, e do secretário-executivo do Consórcio, Carlos Gabas. A informação consta no depoimento do empresário Paulo de Tarso, CEO da BioGeoenergy, obtido com exclusividade pelo Bahia Notícias.

 

Segundo o empresário, foi desta maneira que Isaac que se apresentou: como tutelado “através de alguns agentes políticos, sendo eles” Leão, Dauster e Gabas. Ele teria se apresentado numa visita técnica à sede da empresa comandada por Paulo de Tarso, na fábrica da BioGeoenergy, em Araraquara-SP.

 

O depoimento de Cristiana Prestes Taddeo, sócia da Hempcare, já apontava Isaac como um dos intermediários do negócio (leia mais aqui). Segundo a empresária, ele teria recebido uma comissão de R$ 3 milhões por ter facilitado a negociação com o Consórcio Nordeste. A relação entre ambos teria acontecido após uma ponte feita por Fernando Galante. Para isto, Cristiana teria pago o montante de R$ 9 milhões pela facilitação no contato.  O trio possuía um grupo no WhatsApp.

 

De acordo com Cristiana, Isaac possuía a influência política. Paulo de Tarso vai além. Segundo ele, em seu depoimento, o intermediário se apresentou como “uma pessoa de interesse do governo do estado da Bahia”. “(...) E disse que precisava inspecionar a fábrica e verificar a capacidade de produção dos equipamentos para concluir se o contrato efetuado pelo Consórcio Nordeste com a Hempcare poderia ser executado pela BioGeooenergy”, diz De Tarso, em um trecho do depoimento concedido à Polícia Civil da Bahia, no âmbito da Operação Ragnarok, no dia 3 de junho.

 

No encontro inicial, realizado no interior paulista, Isaac teria tirado fotos da fábrica da BioGeoenergy e distribuído à imprensa como se fosse uma filial do empreendimento sendo montada em Camaçari, na região metropolitana de Salvador – plano que, posteriormente, seria apresentado ao sócio da empresa que fabricaria os ventiladores pulmonares.

 

Neste dia, Isaac teria repassado a De Tarso a informação de que a Hempcare já havia recebido a contrapartida do Consórcio Nordeste para a fabricação dos respiradores. “Que somente alguns dias após a reunião com Cléber Isaac foi informado diretamente pelos sócios da Hempcare de que parte dos 380 respiradores negociados com a empresa serviria ao cumprimento das obrigações relativas ao contrato firmado entre a Hempcare e o Consórcio Nordeste”, assegura. 

 

Em outro trecho do depoimento, o empresário da BioGeoenergy afirma que Isaac o comunicou que o respirador teria que ser levado à Bahia para demonstração a João Leão. “Cléber [Isaac] costumava dizer para todos que seria o detentor do “poder da contratação na Bahia””, narra, em outra parte do documento.

 

Após três dias do primeiro contato, Paulo de Tarso viajou à Bahia para demonstrar o respirador a João Leão, junto a um suposto chefe de gabinete do vice-governador, cujo nome não foi citado, a uma servidora de gabinete, ao superintendente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), Deraldo Alves, de Isaac e de uma pessoa citada como sr. Fasano. Citado como um dos pivôs da polêmica, Dauster não participou da reunião.

 

Nesta ocasião, Leão teria supostamente proposto uma parceria entre BioGeoenergy, governo do estado e Senai-Cimatec para a instalação de uma fábrica em Camaçari – no dia 26 de maio, a empresa enviou uma nota ao Bahia Notícias (relembre aqui) na qual mencionou um protocolo de intenções firmado com a gestão estadual para a instalação da fábrica no município da RMS. Ainda neste dia, ele teria ido ao Cimatec, após pedido de Dauster, que teria utilizado Isaac como intermediário. No depoimento, Paulo de Tarso sugere mais de uma vez que Isaac era uma espécie de porta-voz de Dauster.

 

Na visita, ele conversou com um homem de prenome Daniel, que ele acreditou ser o diretor do órgão, além de engenheiros e técnicos do local. “Os quais chegaram a tratar da montagem de uma unidade da BioGeoenergy no Park Cimatec”, diz.

 

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) refuta as acusações do empresário Paulo de Tarso, que foi preso na Operação Ragnarok e está sendo investigado pela fraude na compra dos respitadores (lembre aqui).

 

ENTENDA O CASO

A compra dos ventiladores que agora é alvo de investigação por deputados, Polícia Civil e o Ministério Público Federal foi concretizada pelo governo da Bahia, que pagou adiantado pelos produtos que nunca foram entregues (lembre aqui).

 

Foi a gestão do governador baiano que, inicialmente, denunciou e deflagrou a Operação Ragnarok para apurar irregularidades na empresa que recebeu pelos equipamentos, a Hempcare Pharma. 

 

No entanto, a investigação tomou outros rumos. Dias após a deflagração da Ragnarock pela Polícia Civil da Bahia, a dona da empresa Hempcare, Cristiana Prestes, um dos alvos da operação, citou o ex-chefe da Casa Civil do estado, Bruno Dauster, como o principal responsável pelas negociações envolvendo os respiradores. Segundo ela, que chegou a ser presa temporariamente, Dauster foi quem a procurou e ele conduziu “99,9%” das tratativas. O chefe da Casa Civil da Bahia foi exonerado após a declaração (saiba mais aqui).

 

Após ter seu nome associado à compra mal sucedida de respiradores, o ex-secretário afirmou que sempre agiu “com absoluta transparência e rigor ético” e que deixou a pasta para evitar a politização do tema (lembre aqui). 

 

RESPOSTA
Ao Bahia Notícias, o advogado de defesa Cleber Isaac, Marinho Soares, afirmou: “rechaçamos veementemente a afirmação apresentada até porque Cleber Isaac trabalhou como consultor da Hempcare com contrato assinado em valor muito inferior à metade do que foi citado”. 

 

Ainda de acordo com a defesa do citado, “o trabalho de Cleber se restringiu a consultoria e há todos os contatos referentes ao serviço realizado”. Ainda de acordo com o magistrado, Cristiana Prestes e Paulo de Tarso terão que provar judicialmente as afirmaçõs dadas em seus depoimentos. (Atualizada às 19h00)