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Apenas 5,5% dos municípios baianos têm complexos de cinemas e produtores relatam dificuldades: "Salas continuam vazias"

Por Laiane Apresentação

Apenas 5,5% dos municípios baianos têm complexos de cinemas e produtores relatam dificuldades: "Salas continuam vazias"
Foto: Reprodução / Voo Audiovisual

Que o Brasil é terra de grandes obras do cinema, não há mais dúvidas. Desde antes da conquista inédita no Oscar 2025 com o filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, o país já conhecia grandes títulos como “Cidade de Deus”, “Auto da Compadecida”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”. 

 

Segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine), as salas de cinema brasileiras receberão um público de cerca de 125,50 milhões, entre 4 de janeiro de 2024 e 1º de janeiro de 2025. Mas e a Bahia? O estado também contribuiu para a história cinematográfica do país, com a ajuda de nomes como Glauber Rocha, Antônio Pitanga e, mais recente, Lázaro Ramos. 

 

No entanto, não é toda a população baiana que consegue acompanhar o sucesso do cinema brasileiro ou do estado. Dados extraídos do Painel de Complexos e Salas de Exibição da Ancine apontam que apenas 5,5% dos municípios baianos possuem complexos cinematográficos, os cinemas. Ou seja, dos 417 do estado, apenas 23 possuem salas de cinema. 

 

São 39 complexos em funcionamento e 1 fechado temporariamente na Bahia, nos municípios de Luis Eduardo Magalhães, Barreiras, Guanambi, Irecê, Juazeiro, Paulo Afonso, Ibicaraí, Teixeira de Freitas, Itamaraju, Porto Seguro, Eunápolis, Itabuna, Vitória da Conquista, Jequié, Amargosa, Serrinha, Cachoeira, Feira de Santana, Alagoinhas, Santo Antonio de Jesus, Camaçari, Lauro de Freitas, Salvador. 

 

Em relação ao Brasil, a coisa diminui ainda mais. O estado possui apenas 142 salas de cinema, representando 4% em relação ao país. Dessas salas, 14 funcionam na capital baiana, Salvador. Apesar dessa ausência na maioria do território da Bahia, a produção audiovisual resiste e se organiza. 

 

Um exemplo é o grupo Articulação Audiovisual dos Interiores da Bahia (Aviba), que busca articular realizadores audiovisuais do interior do estado e “trocar figurinha” sobre política pública, produções audiovisuais e fortalecimento do setor. É o que explica o sócio-produtor da Cambuí Produções, Aléxis Góis. 

 

Trabalhador do setor há cerca de 20 anos, Aléxis cresceu em Santo Estevão, no Vale do Paraguaçu, e contou ao Bahia Notícias que só teve contato com a sala de cinema em Feira de Santana. Entre os fatores que acredita que podem ter influenciado a ausência de salas na Bahia estão a “mudança econômica e cultural” na dinâmica das cidades. 

 

“Com as questões como violência, as próprias cidades mudando, depois mais recentemente a internet, as pessoas acabavam indo cada vez mais para dentro de casa e aí esses espaços, eles sem apoio econômico para existir e sem esse consumo cultural que tinha antes, eles vão perdendo espaço. Além disso, a gente tem uma dominância muito grande de Hollywood, dos cinemas americanos”, explica.

 

Aléxis aponta que o cinema se tornou voltado para o comércio. “Não só dentro do cinema, como pipoca, refrigerante e tudo mais, mas é de outros subprodutos relacionados a própria temática do filme e é um cinema que tá distante da realidade da população, tanto nas suas temáticas, nas suas histórias, mas também nos seus valores”, completa.

 

Já para Edson Bastos, diretor da Voo Audiovisual, e profissional do setor desde 2008, a modernização também é um fator. “Depois da chegada do digital, do VHS… ficou muito mais difícil voltar as salas de cinema porque as pessoas ficaram no modo da comodidade de assistir seus filmes em casa”, contou. Essa comodidade teria diminuído apenas após a pandemia, quando as salas de cinema retornaram junto a novas políticas públicas, como a Lei Paulo Gustavo.  

 

Edson é natural de Ipiaú, a cerca de 355 km da capital baiana. Assim como Aléxis, o produtor só esteve em uma sala de cinema fora do município onde morava. “Já teve vários cinemas em Ipiaú, inclusive o Cine Éden, que leva o nome desse projeto que a gente [do Voo Audiovisual] faz também, Circuito Cine Éden, onde a fachada é tombada. Como eu nasci em 85, nessa época o cinema já estava fechado, então eu não vivenciei o cinema. Eu não tive acesso a cinema na infância, só na adolescência e a primeira vez [foi] quando eu vim para Salvador”, compartilha. 

 

 

Para além desses fatores, os produtores audiovisuais apontam problemas com as políticas públicas existentes do setor, tanto ao nível federal, quanto estadual. Por exemplo, ao nível federal, o Brasil possui o Fundo Setorial do Audiovisual, criado em 2006 e regulamentado em 2007, que destinado ao desenvolvimento articulado de toda a cadeia produtiva audiovisual.

 

“Hoje a gente tem políticas públicas sendo executadas na Bahia que são com recursos federais. Então essas políticas públicas elas deram um sopro de vida no setor do audiovisual, mas elas estão longe de ser suficientes. A gente precisa que o estado que os municípios também invistam no dentro da cadeia produtiva”, afirma Aléxis. 

 

Para o produtor da Cambuí Produções, as políticas públicas são voltadas para a produção, mas é “insuficiente”. “A gente precisa de mais, a gente precisa pensar como uma cadeia produtiva desde o início do desenvolvimento de ideias, desenvolvimento de roteiros, de núcleos criativos, passando pela produção, distribuição, passando pelo mercado, mas também passando pelos direitos do público. No final das contas, a gente faz filme para que o público veja”, declara. 

 

Edson explica que essas políticas dão conta, principalmente, da produção. “É um grande investimento em produção de filmes, de séries, mas há pouco investimento em distribuição. No próprio roteiro, há pouco investimento. E ainda assim, mesmo tendo a maior parte do recurso investido em produção, ainda existe uma grande quantidade de pessoas tentando acessar esses recursos que nunca conseguiram também”. 

 

Além de investimentos em toda a cadeia produtiva do setor, os produtores apresentam uma preocupação com a formação de um público consumidor de cinema. Aléxis afirma que não há “uma identificação cultural” da população do interior com o tipo de cinema que é realizado. 

 

Para esse público ser formado é necessário, segundo Edson Bastos, que sejam realizadas mostra de cinema, cineclube, festival de cinema, mesmo com a ausência de salas. “Porque sem o público interessado, as salas continuam vazias”, defendeu. 

 

“O filme enquanto obra artística e, enquanto esse elemento vivo, só existe quando o público está vendo. Então hoje, por exemplo, a gente poderia ter é o cumprimento da lei que exige um conteúdo nacional de cinema nacional [Lei nº 13.006/2014] de 2 horas [mensais] nas escolas públicas”, sugeriu Aléxis. 

 

“A gente não tem um projeto, uma política para poder colocar esses filmes que foram financiados pelo próprio Estado, que tratam da Bahia, enquanto tema, que tem a nossa cara, que tem a nossa cor, dentro dessas escolas públicas para estar formando um público lá na frente que vai consumir esse próprio cinema”, concluiu o membro do Aviba.