Flipelô 2025: Autor Deco Lipe comenta sobre importância de festas literárias na Bahia
Por Laiane Apresentação
Dentre as mais de 80 festas literárias previstas para serem realizadas neste ano na Bahia, a Festa Literária Internacional do Pelourinho, é uma das mais antigas e conhecidas. Conhecida pelos amantes de literatura apenas como Flipelô, o evento ocupa pela nona vez o coração da cidade: o Centro Histórico.
Assim como em outras edições, os largos e praças do Pelourinho receberão espaços para debates, rodas de bate-papo, lançamentos e saraus, todos com o propósito de espalhar o amor por livros. No Largo Tereza Batista, por exemplo, cria-se todo ano uma vila, com direito a palco para conversas e apresentações e uma varanda para divulgação de obras.
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Pelo terceiro ano consecutivo, a Vila Literária fica sob responsabilidade do autor e influenciador literário Deco Lipe, também conhecido como Primeira Orelha, nas redes sociais. O curador ficou responsável pela organização e programação da festa neste espaço que receberá em 2025 nomes como Thalita Rebouças, Lázaro Ramos e Raphael Montes.
Ao Bahia Notícias, Deco descreveu a Vila como “esse lugar de colocar, ter, grandes nomes dialogando com nomes da nossa literatura baiana que está começando”. Além dos debates relacionados ao tema deste ano, que homenageia o dramaturgo Dias Gomes, o espaço receberá batalhas de desenho e bate-papos especiais voltados para a literatura presente no KDP, Kindle Direct Publishing, ferramenta da Amazon que permite que autores se publiquem de maneira independente por meio de e-books.
Com a possibilidade de reunir nomes consolidados com outros, recém-chegados no meio, e até aqueles que já possuem uma grande comunidade digital, o autor explica que pensou em uma programação capaz de dialogar com um público diverso. “Quando eu penso uma programação, eu penso em como que essa programação e esses nomes, que tem uma força midiática maior, como que eles podem agregar a essas pessoas [independente] que estão expondo”, explica.
De maneira fixa, autores independentes da Bahia poderão expor suas obras e lançamentos na varanda presente na Vila, transformando o espaço em um ambiente inclusivo e de oportunidades. “A ideia da Vila ter esse espaço de autor independente é poder justamente dialogar com esse público que, possivelmente, não se conheçam, com o público que já vem ver outros autores”, conta Deco.
A proposta de um espaço na programação para o KDP partiu diretamente da Amazon. A primeira vez que a ideia foi proposta e colocada em prática foi em 2024, quando escritores e escritoras que utilizam da ferramenta de autopublicação ganharam um espaço para dialogar com o público. Neste ano, os diálogos seguiram o tema da edição, trazendo debates relacionados a televisão e dramaturgia.
Ao site, Deco revelou ainda que a construção da programação possui influência em sua própria referência enquanto autor. “Quando eu estou nesse lugar em que escrevo, que publico minhas histórias, eu penso em como também essas histórias podem chegar de outras formas. Quais outras formas a gente pode tirar falar sobre isso”, aponta.
“Esse meu lugar de autor e de entender essas ausências é também um olhar de que a gente pode ocupar alguns espaços e que esse lugar de não se ver, é também um lugar da gente tornar as oportunidades, fazendo que as oportunidades aconteçam, de fato”, completa.
Além de curador da Vila Literária, Deco também ficou responsável por outro espaço na festa: o espaço Infantil Mabel Veloso, reservado ao público infantil. Essa será a primeira vez com a tarefa que se tornou um desafio para o autor. Para Deco, a maior dificuldade foi encontrar uma maneira de pensar no protagonismo da criança na literatura.
Neste ano, a programação do Mabel contará com nomes importantes para produção infantil como Flávia Lins e Silva, autora da série “Detetives do Prédio Azul”, e representantes do cenário baiano como Emília Nuñez, Ana Fátima e Marcos Cajé. Entre as atividades esperadas estão contações de histórias, lançamentos e brincadeiras.
O contato com autores durante a festa é um dos pontos de maior importância para o autor, para além de conhecer apenas seus nomes. “É uma forma de incentivo, você vê a pessoa que escreveu aquele livro que você gosta e tem um contato com ela, sabe? Então, tanto na cena baiana, quanto na cena brasileira e como um todo, eu acredito que esse contato com autores é algo fundamental”, defende.
FLICA E OUTRAS FESTAS BAIANAS
Neste ano, Deco também foi convidado pela segunda vez para a curadoria do espaço Geração Flica, na 13ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira, no Recôncavo baiano. O espaço procura alcançar o público jovem e dialoga, em cada ano, com o tema escolhido para a edição.
“Esse ano, a gente coloca a literatura como esse lugar de massa, como esse lugar de pop, a literatura popular. Então, para pensar em como atrair essas pessoas da região, em como fazer com que as pessoas se interessem, perceber como que está o cenário dentro da literatura e fora da literatura. Como que a gente pode colocar e pensar pessoas, talvez fora da literatura para atrair pessoas que não são da literatura”, compartilha Deco.
Além da Flipelô e da Flica, a Bahia abriga outra festa bastante popular: a Festa Literária Internacional de Praia do Forte (FliPF). Neste ano, devido ao edital Bahia Literária, lançado pelo Governo do Estado, mais de 80 festas foram aprovadas para serem realizadas durante os meses. Só no primeiro semestre, 40 feiras ocorreram em municípios variados da Bahia, como Itapetinga, São Francisco do Conde, Irecê, Alagoinhas, Ilhéus, Mutuípe, Serrolândia e Santa Cruz Cabrália.
Participante assíduo das festas e feiras literárias do estado, Deco celebrou o aumento de eventos. “Eu acho que esse boom que a gente está tendo de festas literárias nos interiores é algo que nunca aconteceu, eu nunca tinha visto e eu tenho conhecido cidades através dessas festas literárias. Eu não sabia de várias cidades que existiam aqui no estado e descubro através dessas festas e eu amo ser convidado para essas festas”, confessa.
O autor admite que ainda falta nessas festas uma dificuldade em atrair o público e apresentar a literatura baiana aos estudantes de escolas públicas fora desses eventos, mas que existe esperança. “Seria um sonho quando a gente chegasse nessas festas, nessas feiras literárias, a galera que tivesse indo já soubesse quem é que tava ali, sabe? Eu acho que o trabalho da literatura é dentro das escolas, eu acho que poderia tentar trabalhar”, propõe.