Desde 2008, 'A Panacéia' conta história de mulheres reais para mulheres reais

Com 14 anos de trajetória, o grupo de teatro ‘A Panacéia’ promove em Salvador oficinas de teatro para meninas e mulheres visando a valorização da história de mulheres reais. Em conversa com o Bahia Notícias, A Panacéia conta que se apresenta como uma grupA, já que todas as integrantes são mulheres e feministas.
“Estamos tematicamente alinhadas com questões que dizem respeito às mulheres, com o enfrentamento à misoginia, às violências de gênero e todos os tipos de preconceito”, afirmam.
Elas ainda explicam que não podem afirmar ser o primeiro grupo de teatro de Salvador formado só por mulheres, mas garantem que em 2008 não conheciam outro grupo com essa configuração.
“Podem ter existido outros, naquele período ou antes. Salvador é uma cidade com uma rica e longa trajetória no campo do teatro, das artes e há muito da nossa história ainda por ser escrito. Da fundação do grupo para cá, felizmente, experiências de criação entre mulheres se multiplicaram, levantando pautas que são múltiplas, diversas e de extrema importância”, explicam.
A grupA surgiu em 2008, a partir de uma experiência de pesquisa na Escola de Teatro da UFBA. “Em 2010 deixamos os muros da Universidade e partimos para a vivência de um grupo autônomo. A primeira formação era composta por Camila Guilera, que segue até hoje, Jane Santa Cruz, Lara Couto, Lílith Marques e Milena Flick. De lá para cá a formação foi alterada algumas vezes”, contam.
Atualmente 'A Panacéia' é formada por Ana Luisa Fidalgo, Camila Guilera e Letícia Bianchi.
Ao longo destes quatorze anos de existência, elas capitanearam alguns projetos que foram marcos de novos rumos, como por exemplo co-fundar uma rede de artistas da América Latina.
“Nosso primeiro espetáculo foi a montagem de 'Dorotéia', de Nelson Rodrigues, com direção de Hebe Alves. Em algum momento entre 2011 e 2012 começamos a investigar e escrever nossos próprios espetáculos - o ciclo 'A Face Oculta da Lua' foi o nosso projeto guia deste período, que deu origem às peças 'Lua Crescente', 'Lua Cheia' e à intervenção de rua 'Lua Caída'. Mais adiante nosso foco se voltou para a pesquisa de histórias de mulheres da História e, nos últimos anos, nos voltamos para trabalhar com direcionamento para a infância e juventude. Nos consideramos artistas criadoras e pesquisadoras por estarmos sempre neste processo de estudo, pesquisa, diálogo e criação”, dizem.
Com foco de pesquisa e criação voltado a mulheres da História, Patrícia Galvão foi a primeira mulher representada pela Panacéia.
“O projeto 'Eu Pagu' realizou leituras musicadas em 2018, na Casa Preta e na Feira Coreto Hype e estreou como espetáculo no Teatro Martim Gonçalves em 2019. De lá para cá estamos focadas no projeto 'Meninas Podem!', que busca investigar e compartilhar essas histórias de mulheres com as novas gerações.”
De acordo com elas, desde o ano passado são realizadas oficinas para meninas entre 5 e 17 anos de idade, e em março deste ano foram iniciadas ações formativas também para mulheres adultas.
Foto: Turma de 7 a 10 anos das oficinas ‘Meninas Podem’
“Nestas oficinas buscamos, por um lado, que as participantes tragam histórias de mulheres próximas a si: mães, avós, familiares, professoras, amigas, mulheres que compõem suas histórias pessoais e de suas comunidades. Por outro lado, buscamos trazer para os encontros mulheres que fizeram a História com 'H' maiúsculo, nos mais diferentes campos de atuação: ciências, artes, literatura e política”, contam.
Foto: Turma de 7 a 10 anos das oficinas ‘Meninas Podem’
A grupA explica que a ideia é levar para as participantes, e ouvir delas também, histórias de mulheres que tenham trajetórias de vida diversas em termos de origem geográfica, idade, área de atuação, raça e classe social.
“O objetivo é que a gente possa conhecer mais e mais histórias e reconhecer que existiram muitas mulheres que realizaram feitos incríveis e que, no entanto, tiveram suas trajetórias invisibilizadas. Entre as que já trabalhamos, podemos citar: Carolina Maria de Jesus, Marta, Malala, Simone de Beauvoir, Angela Davis, Lélia Gonzalez, Marjane Satrapi, Valentina Tereshkova, Chimamanda Adiche, Nise da Silveira, Leymah Gbowee, Cleópatra, Jaqueline de Jesus, Mary Wollstonecraft.”
Durante esse período de pandemia, as oficinas continuaram a acontecer, adaptando-se à modalidade virtual.
“Ter câmeras e microfones ligados foi outro acordo feito entre a grupA e as participantes: para fazer teatro é preciso estabelecer conexões e o olho no olho, mesmo mediado pelas telas, é essencial. Conseguimos ter essa presença online em todas as edições que realizamos”, lembram.
Mas com a flexibilização das medidas restritivas, elas acreditam que houve um aumento de pessoas indo ao teatro.
“Há uma grande vontade do público de compartilhar espaços e, no caso do teatro, de frequentar, de ir às peças. No entanto, estamos vivendo um momento muito difícil em termos de investimento no setor da cultura e os artistas, grupos, coletivos... Estão enfrentando dificuldades para conseguir colocar seus trabalhos em cartaz, afinal, como financiar uma temporada? É preciso que existam políticas públicas de apoio para este momento, depois de dois anos tão difíceis para a classe artística.”
No dia 28 de maio, 'A Panacéia' realizará experiências de curta duração, para que meninas e mulheres possam conhecer o projeto. As atividades serão presenciais, no Healing - Centro de Saúde Integrativa, na Barra, em Salvador e as inscrições já estão abertas através do Sympla.
No dia 4 de junho é a vez da oficina “NÓS!” voltado a mulheres adultas, fruto de uma parceria com “O Feminismo-Coletivo Literário”, que vai acontecer na Casa Gameleira, no bairro do Garcia.
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