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Aflição de Caio no BBB, 'cultura' do pênis grande envolve tabus e riscos

Por Júnior Moreira Bordalo

Aflição de Caio no BBB, 'cultura' do pênis grande envolve tabus e riscos
Foto: Reprodução / Globo

Servindo como vitrine de questões recorrentes na sociedade, o Big Brother Brasil 21 foi palco nesta semana de uma das preocupações mais latentes entre os homens: o tamanho do pênis. Durante uma conversa com o cantor Rodolffo, o fazendeiro Caio fez o seguinte questionamento: "Queria entender por que meu pinto fica tão pequeno mole e tão grande duro. Se alguém olhar pequeno, não dá nada nele", comentou aos risos. Ao Bahia Notícias, o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia- Seccional Bahia e chefe do serviço de Urologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lucas Batista, adiantou que 90% dos que questionam seus órgãos genitais nos consultórios urológicos apresentam, após exames físicos, “características masculinas normais e pênis com o tamanho mediano”.

Quanto à diferença do crescimento do estado em “descanso” para ereto, detalhou: “O pênis quando está flácido ou em detumescência - como a gente chama - não tem a entrada do sangue, das fibras musculares das células do sangue e de uma pequena célula de um músculo que existe dentro do seu corpo cavernoso. Então, com a excitação, este corpo cavernoso consegue estender mais com a entrada do sangue. Existe um crescimento tanto no diâmetro quanto no tamanho por causa desse fluxo sanguíneo. Isso vai variar de  pessoa para pessoa”, lembrou.

 

Para ele, parte dessa preocupação parte das propagandas "milagrosas" veiculadas pelas diversas plataformas, como programas de TV, redes sociais e revistas. O profissional de saúde reforçou que a diferença de um homem para outro pode ser causada por questões genéticas, físicas e étnicas. “Por exemplo, quando a pessoa tem um pouco mais de massa gordurosa, aquela região do púbis acima do pênis fica um pouco maior e dá a sensação de um órgão menor; às vezes, a pessoa tem uma constituição genética de uma cintura mais gorda, o pênis fica mais embutido na gordura e, na ereção, a pessoa ou a parceira (o) olhando não consegue identificar que existe uma porção dentro do corpo cavernoso. Chamamos de pênis embutido. É como se fosse um efeito estético, visual”, explicou.

 

Batista atentou ainda que não há procedimentos específicos – estético nem cirúrgico - para quem deseja o aumento do pênis, seja em forma flácida ou ereta, e contraindicou veementemente os atalhos vendidos na internet como solução “mágica”. “O que falo, respaldado pela Sociedade Brasileira de Urologia, é que nenhum tratamento clínico e medicamentoso irá aumentar o tamanho para além do que já é da pessoa. O que existe são algumas técnicas, como a lipoaspiração nessa gordura da região pubiana em que o pênis ficava embutido. Após o procedimento, tem-se a impressão do aumento, mas na verdade só tirou a barreira que ficava ali na frente. Além disso, existe outro método que é uma inserção do escroto, no saco, mais baixa, mais na base. Então, não fica com recesso escrotal e dá a impressão de que aumentou uns 2 cm. O que novamente não é verdade”, detalhou.

 

MASCULINIDADE E PÊNIS NÃO SÃO SINÔNIMOS 

O fato é que, apesar das explicações médicas, a “indústria” do sexo alimenta a ideia de que “quanto maior, melhor”. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, um estudo - reproduzido pelo UOL - mostrou que o medo de ter pênis pequeno é uma das fontes mais frequentes da ansiedade sexual masculina. Ainda de acordo com a publicação, em Los Angeles, por exemplo, existe um clube chamado 'The Hung Jury', em que para ser sócio é obrigatório ter pênis de mais de 20 cm quando ereto. E para comprovação, uma mulher fica encarregada da medição na porta.

 

Voltando ao BBB, o próprio Caio tinha falado do órgão genital em outro momento, mas “destacando suas vantagens”. Ao questionar se Gil - declaradamente homossexual - já havia separado seus dois pedaços de carne durante o almoço, o fazendeiro disparou: “Você dá pra mim? (o pedaço de carne)”. Juliette, que sentiu a intenção sexual da brincadeira, entrou com ironia. “Você quer dar para ele, Gil?”, questionou, deixando o PhD em Economia sem jeito.

 

Caio, então, seguiu. “Vou pôr você pra andar dois dias de cadeira de roda pra você ver”, disparou Caio, brincando. A advogada pernambucana logo sugeriu que fosse propaganda enganosa, sendo surpreendida pela revelação dele. “Tem 21,8 (cm), marcado e medido. Pego com as duas mãos e sobram três dedos”, afirmou vangloriando-se. Veja:

 

Esta lógica da “cultura do falo” é completamente inversa ao que pensavam algumas civilizações anteriores. Na Grécia Antiga, por exemplo, era abominado órgãos genitais grandes. Para eles, os pequenos carregavam um sinal de "inteligência, modéstia, racionalidade e autocontrole". “Pênis perfeito ou bonito é delicado. Um homem com a genitália muito grande era considerado grotesco, risível”, disse John Clarke, da Universidade do Texas, em matéria republicada também pelo UOL. A comprovação dessa visão é evidenciada nas estátuas e obras de arte gregas, em que a figura masculina era frequentemente representada nua e com um membro pouco expressivo.

 

Trazendo o médico e criador da psicanálise, Sigmund Freud, para o contexto atual, o psicólogo Danilo Caramelo relembrou ao BN que há textos do pesquisador em que se faz associação direta da  masculinidade com virilidade e potência, e devido ao pênis ser um órgão que distingue o que seria do sexo masculino do sexo feminino, a sua importância se dá concomitantemente a uma sociedade patriarcal e, portanto, falocêntrica. “Saindo um pouco da academia e entrando no imaginário popular, o tamanho do pênis é diretamente associado ao prazer sexual que ele pode proporcionar, pelo menos assim dita o senso comum, e a ‘honra masculina’ é passada de geração a geração em cima destes pilares”, frisou.

 

“A coragem (homem não tem medo nem foge de brigas), a resistência (homem não chora e não mostra fraquezas) e a capacidade de procriar (o homem conquista diversas parceiras). Ter um grande falo supostamente favoreceria este último. Daí a conotação de potência (e também a palavra impotência ligada à incapacidade de um homem conseguir uma ereção). Hoje em dia é muito mais comum falarmos da discussão dos papéis de gênero olhando para o feminino - e com razão, haja vista que este gênero sofreu muito e ainda sofre com os padrões da nossa sociedade - mas há também muito a ser questionado sobre o que é dito como papel do masculino”, atentou.

 

O urologista Lucas Batista seguiu a mesma linha de pensamento de Caramelo ao reforçar que há essa preocupação em querer corresponder “o tamanho do falo com o fato de ser mais homem, mais chefe de família”. “A sociedade ainda acha que o pênis representa o estado masculino da pessoa. O tamanho do pênis é muito variável, muda de acordo com etnias, genéticas, regiões das pessoas. Mas, no ato sexual, o fato do pênis ser maior ou menor não corresponde ao orgasmo, ao prazer da pessoa. É muito mais um conceito interno. Acho que o homem em si deve combater esse pensamento de achar que sua masculinidade vai estar relacionada ao tamanho do pênis”, reforçou.

 

Por fim, ainda destacou que, de acordo com estudos já publicados, a média peniana do brasileiro varia entre 13 e 16 cm em ereção, mas que os centímetros e diâmetro do órgão não devem estar associado à autoestima. “Vejo pessoas que ficam depressivas porque acham que não vão namorar, casar, ter um relacionamento, pois pensam que o pênis é pequeno”. Para além disso, a prova cabal da não correlação do "órgão genital" com a "masculidade" é que um homem trans não é "menos homem" por não nascer com genitália masculina.