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Luana Xavier revela racismo em bastidor de novela e diz o que aprendeu após críticar Xanddy

Por Júnior Moreira Bordalo

Luana Xavier revela racismo em bastidor de novela e diz o que aprendeu após críticar Xanddy
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Quem acompanha a atriz e produtora Luana Xavier nas redes sociais já sabe que ela utiliza do humor para falar de assuntos, muitas vezes, duros. Racismo e intolerância religiosa são temas que surgem em meio às postagens sobre seus trabalhos e vida pessoal. Sucesso na internet e prestes a estrear um programa de viagens no GNT ao lado da amiga Fernanda Paes Leme, ela ainda encontrou tempo para protagonizar o espetáculo “Luana no País das Maravilhas”, que terá estreia nacional aqui em Salvador neste sábado (21) durante o Festival Humor Negro, no teatro Jorge Amado. O evento foi criado para enaltecer o trabalho de artistas negros.

 

Inicialmente convidada para apresentar o Festival, ela entendeu que seria o espaço ideal para criar algo seu. “Liguei para a Val [Benvindo, criadora do projeto] e disse: ‘Vou fazer uma peça e estrear com vocês’”, revelou em entrevista ao Bahia Notícias. Os ensaios aconteceram em meio às viagens por conta da atração do canal da Globosat. “‘Como vou ensaiar uma peça fora do Brasil?’. Liguei para um amigo meu e disse que precisava de um texto e fui dizendo o que queria. Ensaiei por duas semanas, dialogando com outros trabalhos”, explicou.

 

Para ela, a peça é uma sátira ao mercado audiovisual, que tende a colocar apenas pessoas brancas em destaque. “É um mundo criado para acreditar que nós artistas pretos podemos estar sim em primeiro lugar. Então, a personagem Luana já fez várias Helenas de Manoel Carlos, é sempre convidada para fazer mocinhas, vilã de novela e o sonho da vida é fazer uma empregada doméstica ou escrava, já que nunca dão esse tipo de personagem”, pontuou.

Luana acredita que as pessoas ficarão na dúvida se poderão rir ou não com algumas situações. A ideia é refletir. “É um mundo ao contrário, mas que seria possível se tivéssemos oportunidades, pois talento, trabalho e capacidade temos”. Para a atriz, algumas palavras do texto – criado por Herton Gustavo Gratto – são difíceis de serem verbalizadas. “Tem uma que digo, ‘Não esqueça que gente da sua cor nasceu para servir e não para ser servido’. Primeira vez que li, sabia que tinha sido escrita baseada na realidade histórica. Então, proferir aquela frase era muito difícil, sabe? Fico me perguntando como pessoas conseguem dizer frases assim e colocar a cabeça no travesseiro e dormir”, emocionou-se.

 

PRECONCEITO SENTIDO NA PELE

Aos 10 anos de idade Luana já sabia que queria ser atriz, mas o receio com as dificuldades na carreira a fizeram entrar na graduação de Serviço Social – curso que não completou. Neta da veterana baiana Chica Xavier, uma das maiores artistas do País e referência para a população negra, confessa que leva duas lições aprendidas com a avó. “Ela sempre fez os maiores laços em todos os lugares. A primeira coisa que me ensinou foi que tinha que tratar bem todo mundo, com respeito. Outro ponto é que ela me disse como seria complicado [encarar a profissão] por ser uma mulher preta, mas que não tinha nenhum espaço que [eu] não merecesse estar”, lembrou.

 

“Então, hoje, além de fazer esse programa, acabei de fazer uma campanha publicitária de uma grande marca de sapatos femininos e veio à minha cabeça o que minha avó dizia: ‘Acho que minha cara não vende nem material de limpeza, pois já tenho uma carreira longa de TV e nunca me chamaram para fazer uma campanha publicitária”. E esse ano eu fiz e disse que era por mim e por ela. A gente tá conseguindo dar passos maiores”, vibrou.

 

Apesar dessa força, Luana revelou que volta e meia é obrigada a encarar o preconceito. “De fato, por muito tempo, tive que me esconder atrás das câmeras, já que as oportunidades não estavam acontecendo. Tenho total noção de todos os nãos que recebi na vida por conta da minha pele e, hoje em dia, por ser uma mulher preta e gorda é ‘pior’ ainda. Uma coisa que sempre falo é que se o autor de novela não escrever lá que a personagem é para ser feita por uma atriz negra, nunca irão pensar nisso. Só vão me procurar se tiver especificado. Realmente as oportunidades são menores, aquela máxima que a gente 'não pode ser apenas bom, tem que ser três vezes melhores’ é muito real”, ressaltou.

 

Um dos casos mais latentes aconteceu durante sua participação na novela “Orgulho e Paixão” de 2018, da Rede Globo. Na trama das seis, ela interpretou a empregada doméstica Mercedes e foi vítima de racismo nos bastidores. “Passei várias situações complicadas, meu figurino, por exemplo, foi colocado em lugares específicos, distante de todas as outras atrizes brancas. Acho que pensaram que poderia passar alguma doença. E como precisava sobreviver, estava dentro de um trabalho que estava feliz por ter conseguido, comecei a inventar uma brincadeira sobre. Dizia que tinha um ‘camarim exclusivo’, mas não era nada disso. A camareira só virou para mim e disse: ‘Ah, você gosta de ficar mais reservada’. Nunca disse isso”, confessou.

 

Questionada se debater sobre esses assuntos não a colocava em uma situação delicada dentro da própria Globo, detalhou: “Acho que muitas coisas não são diretrizes da empresa. Tenho certeza disso. Os fatos acontecem por posicionamentos dos funcionários, de pessoas que não estão preparadas para conviver com a diversidade. O diretor, por exemplo, me adorava”. Para ajudá-la a enfrentar situações racistas, ela busca terapia e estar em uma rede de apoio.

‘BRIGA’ SEM HAMORNIA

Em agosto deste ano, após a festa Oxente, realizada pelo Harmonia do Samba, no Rio de Janeiro, Luana Xavier decidiu compartilhar um momento de insatisfação. Ela, que é da Umbanda, acusou o cantor Xanddy de cometer intolerância religiosa ao ocultar a palavra “candomblé” todas as vezes em que cantava um determinado trecho da música “Raiz De Todo Bem”, de Saulo Fernandes (relembre aqui).

 

O caso ganhou repercussão nacional e a atriz passou a ser atacadas por fãs do grupo baiano. Na época, o músico se pronunciou, mas não conversou com ela. “Se um cara que tem uma projeção não pronuncia as palavras por questão religiosa – que configura uma intolerância – as pessoas que o acompanham vão se sentir autorizadas a fazer o mesmo. O que quis dizer é que um ato como esse em maior espaço de tempo vai se tornando uma coisa muito complicada de combater”, lamentou.

 

“Os haters disseram para não vir a Salvador senão iria apanhar. O que penso é o seguinte: se você não pode cantar aquelas palavras, então não cante aquela música. Para mim é muito simples. Mas se insiste em cantar, que tenha respeito por quem vive aquela religião. O que tirei de toda a situação é respirar duas, três vezes antes de fazer qualquer postagem”, analisou. Para ela, há dificuldade de tirar o saldo de toda a situação. “Fico com receio de falar certas coisas, pois fecham portas de trabalho. Porém, a militância é um caminho sem volta. Entendi que algumas coisas devem ser resolvidas no plano privado”, avaliou. Fã declarada do Harmonia do Samba, Luan diz que segue admirando a história do grupo. “Continua na minha playlist. Gosto da música, tenho uma chateação com o posicionamento do próprio cantor”, ressaltou.

 

Como dito no início do texto, a global estreia no dia 14 de janeiro o programa “Viagem A qualquer Custo”, com Fernanda Paes Leme. Ao total serão sete episódios nesta temporada, gravados durante 30 dias. “São duas amigas viajando por sete destinos. A cada destino um tinha o orçamento top e a outra pop e isso ia se revesando. A gente só sabia qual seria o nosso orçamento ao chegar na cidade. O que a gente quer mostrar é que mesmo com menos grana você consegue viajar. Claro que ainda assim estou falando de um grupo específico, pois sei que tem gente que não consegue ir nem para a cidade do lado”, ponderou.

 

Assista ao vídeo promocional: