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Lucas e Orelha falam sobre preconceito na carreira: 'Sentimos todos os dias'

Por Júnior Moreira Bordalo

Lucas e Orelha falam sobre preconceito na carreira: 'Sentimos todos os dias'
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Após um longo tempo sem comandar um show próprio aqui em Salvador – a última vez foi uma participação no DVD de Anna Catarina no início de agosto deste ano -, a dupla Lucas e Orelha irá se apresentar no dia seis de outubro, às 19h, no Monte Serrat, Cidade Baixa, Salvador. O projeto servirá de palco para lançamento do clipe “Que Seja Eu” em parceria com a estreante no cenário musical Alicia Castro, que também fará um pocket show no espaço.

 

A parceria dos três surgiu há três meses através de intermédio da irmã de Lucas, que mora aqui na capital baiana e conhecia a mãe da cantora. “Ela falou que estava precisando de uma música, mostrei e ela gostou de primeira. ‘Vamos gravar’. Fomos para o Rio, levei para produzir nos estúdios do Umberto Tavares, produtor da Anitta e Nego do Borel, e chamamos também o nosso produtor. E tá lindo. O clipe está maior do que a gente esperava”, comemora Lucas. “Eles viraram meus padrinhos”, completa Alicia.

 

Parte desse distanciamento da dupla com sua terra se deve ao fato de terem se mudado para o Rio de Janeiro em 2016 com o intuito de buscar um mercado que aqui eles não encontravam. “Acho que o mercado evoluiu muito. As oportunidades aumentaram. Muitos artistas novos surgiram, tanto no ‘pagodão’ quanto no sertanejo. Isso é muito importante e era algo que a gente sentiu falta na época do ‘Superstar’. O Poeta, A Dama do Pagode, Anna Catarina são patrimônios nossos e que estão dando super certo”, opina Orelha.

 

Quanto à mudança de estado, eles atestam que valeu a pena. “Ainda mais para o desenvolvimento da raiz do que a gente queria. Ficamos mais entrelaçados com o estilo que queremos migrar, entendemos direito o que queremos. Acho que se não tivéssemos ido para lá e encontrado essas pessoas não seria tão enriquecedor”, argumenta Lucas. “O nível de reconhecimento também. Estar com pessoas que admiramos e que admiram nosso trabalho, isso fez muito bem para nosso amadurecimento enquanto artistas, para o nosso som”, complementa o parceiro.

 

Se por lá está dando certo, aqui suas ações não surtem mais tanto efeito como acontecia na época que venceram o “Superstar”, em 2015. Por exemplo, nos últimos tempos lançaram o projeto Marcas, em que recriaram covers da MPB e depois do Pagode/Samba, sendo reconhecidos por nomes como Thiaguinho, Belo e Maurício Manieri. Porém, pouco foi repercutido na Terra do Axé. “Acho que não deixamos tanto o público daqui. Contudo, encontramos nosso caminho. É como qualquer artista que é regional. Faz sucesso aqui, mas não consomem lá, pois lá não é o foco. Isso é natural de acontecer”, frisa Lucas.

 

PEDRAS NO CAMINHO

Negros, nordestinos, periféricos. Características que os orgulham, mas que, ao mesmo tempo, os colocam na linha do preconceito racial, regional e social que assola o Brasil desde o tempo da colônia. “Existe um sistema em que nós somos minoria. Se não mostrarmos que somos bons duas, três, quatro, cinco vezes a gente não se destaca. Então, nós negros temos poucas oportunidades e quando surgem querem que sejamos perfeitos. Acho muito foda”, lamenta Lucas. Orelha emenda: “Sentimos o preconceito todos os dias. Não vou citar exemplos, mas a gente percebe isso o tempo inteiro na nossa cara”. 

Se no Rio as dificuldades voltam para o fato de “não poderem errar”, em Salvador ainda colhem os reflexos do rompimento com o antigo empresário, o Guga Fernandes, irmão de Tuca Fernandes. Eles desfizeram a parceria pouco tempo após o programa da Globo e, na época, portas foram fechadas para os cantores, incluindo grandes shows que estavam agendados, como a participação no Festival Virada Salvador – que nunca aconteceu.

 

“Aqui ainda há um bloqueio para a gente de fato. No nosso caso por outras situações que não convém falar. Só que toda vez que a gente vem é envolvido em algo grande, coisas legais, como foi com Kannário – que o colocou em outro lugar no mercado -, Anna Catarina – que hoje é gigante – e agora com Alicia, essa promessa”, avalia Lucas. “Acredito que se tivéssemos as mesmas oportunidades que alguns têm, principalmente em Salvador, que é nossa terra, seria outra coisa”, constata. Apesar da análise, eles garantem que atualmente está tudo resolvido com Guga.

 

Para burlar essas barreiras, a resposta é rápida: trabalho. “Já é conversado de focar mais em Salvador. A promessa é que estaremos mais presentes aqui. Por isso estas últimas parcerias”, contextualiza Orelha. Para os próximos passos, eles prometem lançar uma música mais adulta e dançante até o final do ano. Em seguida, divulgarão a música “Pouco a Pouco” em parceria com Belo.

 

BUSCAR SEU ESPAÇO

Como dito no início, a vinda da dupla para a Bahia desta vez se deu para o lançamento com Alicia Castro. Estudante de arquitetura, a baiana de 23 anos decidiu se jogar na carreira musical há um ano e meio. “Sempre amei as aulas de artes. Fui desenvolvendo, inicialmente me envolvi mais com teatro e tudo mais, e fui deixando o canto mais distante. Gravei uma música em um momento difícil para meu avô e minha mãe ficou ‘nossa, que voz bonita’. Achei que era coisa de mãe. Com o passar do tempo, fiz uma participação com um amigo e do nada surgiu uma carreira. O cara da casa gostou, fui investindo e pronto. ‘É isso’”, sintetizou a cantora.

 

Com apoio e investimento dos pais, ela pretende trazer o que chama de “popnejo” para a cena baiana. “Misturar o sertanejo com o pop. Pegar músicas comerciais, como Marília Mendonça e Henrique e Juliano, e colocar nessa roupagem”. Indagada se acha que aqui existe esse mercado, foi positiva: “Se não tem a gente transforma (risos). A gente cria”. Para os próximos passos, ela pretende trabalhar o single “Que Seja Eu” por dois meses. Além disso, a ideia é seguir lançando covers no seu canal do YouTube.