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'Quero viver sem medo': Aila Menezes defende liberdade do corpo após engordar 35 kg

Por Júnior Moreira Bordalo

'Quero viver sem medo': Aila Menezes defende liberdade do corpo após engordar 35 kg
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

Após ter surgido para o grande público ao participar da segunda edição do “The Voice Brasil”, da Rede Globo, em 2013, pelo time de Carlinhos Brown, a baiana Aila Menezes tem virado uma figura pública que luta por representatividade. Nas suas redes sociais, diariamente os seguidores se deparam com discursos a favor do corpo positivo, do se amar do jeito que quer. Mas o direcionamento a essas ideias surgiu após mudanças no seu próprio físico. Ao desmamar dos antidepressivos, que tomou por 11 anos, ela engordou 35 kg (relembre aqui).  

 

“Minha vida inteira fui magra, sempre tive o corpo 'tido como padrão' e só depois entendi como é difícil se perceber, se aceitar nessa imagem gorda e viver em uma sociedade que diz que isso é feio, que não é legal, que é falta de saúde, ‘que ninguém vai ter querer desse jeito’. Então, entendi que, de acordo com minhas experiências, outras pessoas também viviam aquilo e precisava dizer que elas não estavam sozinhas e que eu também não estava só. Comecei pelo viés de compartilhar e receber força”, iniciou em entrevista ao Bahia Notícias.

Aila no "The Voice Brasil" em 2013 | Foto: Reprodução / Globo

No papo, revelou que, apesar de uma vida com oportunidades, teve cinco depressões, sendo a primeira aos 11 anos. Quando tinha 17, pensou em se matar durante uma festa na Barra. “Encostei no parapeito, coloquei uma perna para o lado de fora... só que fui com minha irmã para essa festa. Na hora, ela tinha descido para comprar água. Fiquei sentada pensando: 'Meu Deus. Vou me despedir. Não aguento mais viver'. Só que ela voltou e quando olhei entendi que não poderia fazer aquilo com a vida dela. 'Tudo bem que a minha não está prestando, mas se me jogar daqui vou destruir a vida de minha irmã com a pior imagem que ela verá', sabe?”. Após o episódio passou a tomar remédios e entre os efeitos colaterais teve distorção de imagem. “Vestia 36 e achava que estava gorda. Tive um empresário de banda que gritava sempre comigo: 'Você tem que emagrecer. Tá péssima. Tem que ter cara de ‘aidética’, anêmica, de doente. Quando as pessoas olharem para você e te verem assim finalmente estará boa'. Ouvi esses absurdos por muito tempo”, lembrou. 

Neta do palhaço Pinduca, conhecido por ser um dos mais antigos do mundo, ela admitiu que se posicionar na internet atualmente significa o preço de sua liberdade justamente como forma de se afirmar e lutar contra essas memórias. “Quando você se esconde, você não é livre, tem medo do que as pessoas pensam, você não constrói sua felicidade porque fica pautada no que vão dizer. É o momento de ser protagonista de minha história, sabe? Não me negaria isso. É muito fácil estar se divertido falando da vida dos outros, apontando que está acima do peso, abaixo do peso, malhado... É a minha vida, vou assumir, pois é uma realidade. Meu corpo está gordo, eu sou gorda. Quero ser livre, sem medo”, declarou. “Costumo dizer que o preço que paguei pela minha vida foi desfilar com esse corpo maravilhoso. É meu troféu por estar viva. É a minha maior conquista”. 

 

FOTOS LIVRES

Após internalizar essas mudanças, seus registros nas internet passaram a provocar e levantar discussões. Diariamente, posta fotos mais sensuais, com biquíni cavados. O motivo? Mostrar que as mulheres gordas também são lindas. “Que no meu corpo eu digo até onde podem ir. Não tem relação com hipersexualização do corpo gordo, de forma nenhuma. É dizendo que existe beleza na gente também. Muitas vezes, você não vê gordas de biquínis nas praias. As pessoas não têm coragem porque dizem que é ‘feio’, ‘horrível’. Tento naturalizar. É uma mulher normal como qualquer outra”, posicionou-se.  

 

Aila defendeu que não trata de “aceitação”. É a capacidade de entender seu corpo como registro de sua história, com lágrimas e conquistas. “É se orgulhar e saber que é além de carne e osso. Olho para meu corpo com todo carinho e amor e digo para mim mesma: 'Como você é linda', me abraço. A sociedade é tão cruel, precisamos nos curtir”, lembrou. Porém, para a artista, militar é um trabalho conjunto. Sendo assim, seu entorno precisa entender e entrar na “batalha”. “A invisibilidade do povo gordo é estranha. Dói muito. E não adianta seu amigo te aplaudir e não batalhar contigo. É um processo de todos. Gordo não é xingamento, é uma característica. Precisamos desmistificar”. 

 

Apesar desse posicionamento, Aila diz que não se sente presa a ser “gorda” para sempre. “Prego que você seja feliz. Se por algum motivo decidir emagrecer e aquilo me trará felicidade, tudo bem também. Sou livre e meu corpo é meu. Não me vejo escrava do 'Aila gorda'. Vai ter um dia que possa precisar emagrecer e paciência. É para a gente se amar pelo que a gente quer ser. Na minha cabeça é ser muito livre. Descontruam os preconceitos e libertem-se”.

 

No fim da conversa, Aila ainda pediu para fazer um alerta contra o feminicídio -  crime de ódio baseado no gênero e que mais mata mulheres no Brasil. “Por problemas de autoestima, a gente acaba se submetendo a relacionamentos abusivos. A gente precisa ter a consciência que é melhor estar só do que ficar com 'embuste'”. Ela contou que foi casada por oito anos e se viu presa em um relacionamento abusivo. “A agressão psicológica, às vezes, te destrói muito mais. Ouvia coisas do tipo: 'Não vou querer ter um filho com você, pois ele não vai poder escolher não ser hipertenso ou diabético porque você é gorda'. Sendo que não tenho nenhuma dessas doenças. Ele me dizia coisas graves, que me destroçaram por dentro. Quando me libertei, senti vontade dizer para o mundo que estava viva”.