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Na TV em ‘Carcereiros’, Jean lembra vida difícil em SSA: ‘Pensei que não passaria dos 17’

Por Júnior Moreira

Na TV em ‘Carcereiros’, Jean lembra vida difícil em SSA: ‘Pensei que não passaria dos 17’
Foto: Reprodução / Globo

Após disponibilizar na internet, a Globo estreou na TV nesta quinta-feira (27) a série semanal “Carcereiros”, homônima do livro do médico Drauzio Varella. O conteúdo, premiado em Cannes no Grande Prêmio do Júri do Mip Drama, apresenta a visão de quem trabalha nas penitenciarias do Brasil. Apesar de ser estrelado por Rodrigo Lombardi, o produto conta com um tempero baiano. O ator Jean Amorim, criado na comunidade de Pela Porco, no Barbalho, em Salvador, vive o Vinícius. “Ele é um agente penitenciário mais novo, que está aprendendo com os colegas. Jovem e inexperiente. Vinícius veio da periferia, resolveu entrar nessa por indicação e acabou se envolvendo. Dentro desse caminho, vai pegando gosto e começando a entender como é e os riscos que têm. Ele não sabe como lidar ainda com a palavra, que é a arma do trabalho dos agentes, né? Afinal é uma pessoa para comandar 200 presos”, inicia em entrevista ao Bahia Notícias. “Sou um ator mais novo que está no meio daquela galera ali, assim como o Vinícius era o iniciante juntos aos seus colegas”. Para o artista, participar da série proporcionou um grande crescimento profissional e pessoal. “Tenho quatro trabalhos de câmeras e, em cada um que fiz, procurei uma abordagem diferente. Fiz laboratórios, fui entender como é esse ponto de vista, pois para mim, que nasci em comunidade, conheço o olhar da polícia e de quem foi preso, mas não imaginava como era a vida do agente penitenciário. Acho que consegui desenvolver um trabalho bacana”, comemora orgulhoso.

O baiano aponta que a maior mensagem da série é chamar atenção para o lado humano desses profissionais. “Um dos agentes até fala na série que ‘a palavra tem que ser mais forte que a bala de um fuzil’. Muitas pessoas desconhecem esse tipo de trabalho. O cara tem que conquistar a confiança, e mesmo assim, ainda é um alvo fácil, pois acaba sendo a moeda de troca para os presos conseguirem negociar algo”. Como dito, conviver com a violência não é inédito para o global, afinal cresceu em comunidade. Aos quatro anos, Jean viu a primeira pessoa ser morta com uma facada no peito. “É a realidade de todo favelado brasileiro, né? A cada 21 minutos, um preto morre na periferia do Brasil. A gente sofre opressão de todos os lados. Estudei a vida toda em escola pública, e quando discordava de algum assunto era posto para fora da sala. Não existe o diálogo. Então, quase morri simplesmente porque morava naquela periferia e minha vida não tinha valor nenhum. Sair da comunidade e virar referência é difícil”, avaliou. Com esse passado, preconceito é algo que sempre se fez presente na vida dele. “Hoje, sofro um pouco menos. Talvez por ser ator e ter alguns trabalhos. Foi difícil no início porque nasci branco em uma periferia de Salvador. Quando saí da quebrada que percebi isso. Preto me vê como branco e o branco me vê como favelado”, aponta.

Para sobreviver na realidade em que vivia, Jean decidiu trabalhar cedo. “Fiz carreto, segurei bandeira para político, bati laje, fui ajudante de pedreiro... tudo isso para não me envolver com a criminalidade, mas mesmo assim comprava a roupa da Cyclone, porque queria ser visto”, lembra. Por conta das vestimentas, pontuou que foi abordado diversas vezes pela polícia. “A mesma patrulha me parou 3 vezes em 15 minutos no Pelourinho. Se você é pobre, já tá na merda. Se for preto e pobre, tá muito pior”, admite. Apesar dos poucos trabalhos na TV, Jean já é reconhecido como uma referência pelos seus amigos de infância e por pessoas que nasceram na mesma situação que a sua. Para eles, dedica um conselho: “Não desistir e nem acreditar em tudo que as pessoas falam. Os periféricos sempre ouvem que serão para sempre favelados e que vão morrer de tal jeito. Chega uma hora que de tanto ouvir, acreditamos nessa mentira, mas é preciso ter esperança e buscar uma nova perspectiva de vida. Ouvi várias pessoas dizerem que eu não passaria dos 17 [anos]. Ouvi da minha mãe que não passaria dos 17. Ela não é um monstro e entendo os motivos para dizer isso, sabe? Era a realidade que ela via”, finalizou. Além de Rodrigo e Jean, a série conta com nomes como Othon Bastos, Aílton Graça e Tony Tornado. Chico Diaz, Matheus Nachtergaele, Projota, Letícia Sabatella, Carol Castro, Caco Ciocler, Gabriel Leone e Samantha Schmutz também fazem participações especiais. Inclusive, apesar da estreia só ter acorrido agora na TV, a segunda temporada já foi confirmada e as gravações iniciadas. Confira o trailer de "Carcereiros":