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Chás, divas e carnaval: o mercado LGBT baiano ganhou forma, força e respeito

Por Aymée Francine

Chás, divas e carnaval: o mercado LGBT baiano ganhou forma, força e respeito
Foto: Divulgação
Com um público que atinge mais de 18 milhões, o segmento LGBT tem potencial financeiro estimado em U$$ 133 bilhões, o que equivale, hoje, a aproximadamente R$492 bilhões – 10% do PIB nacional. Os dados são da Out Leadership, uma associação internacional de empresas que desenvolvem iniciativas para o público gay.
 
Além disso, em 2010, o IBGE descobriu que existem no Brasil ao menos 67,4 mil casais formados por pessoas do mesmo sexo, ao incluir no Censo a pergunta: qual o grau de parentesco com o chefe da família? Essa foi a última pesquisa que tem dados relacionados e todos eles já estão, provavelmente, ultrapassados. Um dos sócios da San Sebastian, boate gay mais antiga em Salvador, André Magal conversou com o Bahia Notícias e falou sobre a história do mercado na Bahia.
 
“Trabalhamos com esse público há 6 anos. Sempre trabalhamos com eventos, mas sentíamos que existia essa lacuna na cidade. O público LGBT era pouco representado e, na maioria das vezes, em lugares escondidos, meio que como para conservá-lo em gueto. Percebi que ia dar certo quando me aceitei como gay e vi que faltavam esses locais de qualidade, para que eu e meu amigos frequentássemos. Como eu já tinha um know how em produção de festas “hetero”, aproveitei essa experiência e direcionei para o mercado LGBT”, disse o empresário.
 
Segundo a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes, apenas os turistas LGBT movimentam R$ 150 bilhões no Brasil, por ano, sendo a Bahia um dos três destinos mais procurados do país por esse público. “Antes de abrirmos a San Sebastian, fomos conhecer mais os espaços e nos espelhamos muito nas baladas de São Paulo, que estão entre as melhores! E é aquela coisa, o gay entende melhor do que um hetero as necessidades do público ao qual pertence! (risos) E acho que o sucesso da San Sebastian e seus outros produtos vêm daí: nós vemos como público, temos amigos entre nossos clientes, que nos deixam sempre cientes do que eles, como consumidores dos nossos serviços, esperam”, destacou Magal.
 
Sempre se destacando para o público LGBT, as representantes femininas da música baiana são as que mais aproveitam o mercado. Com o passar dos anos e a quantidade de fãs, acabaram se tornando ‘divas’ da música nacional – assim como Madonna ou Britney ganharam seu status para os gays internacionais. Baiana, e há anos na grade artística da San Sebastian, Ju Moraes contou ao BN que ama o seu público e que, por muito tempo, foi quem a levantou e a mostrou para o mercado.
 
“É uma realidade e é um mercado incrível, né? Eu sempre apostei, sempre acreditei e as pessoas hoje estão correndo atrás de fazer isso. Todo mundo querendo entrar pra ser cantora do babado da hora. Porque, o que acontece, o público gay consome muito a música, e música de qualidade. E eles gostam de ver a cantora linda e maravilhosa no palco. Eles gostam de se identificar com a diva, com a mulher que se veste bem”, disse ela, destacando a expectativa de consumo de seus fãs. “Eles são de um carinho, de um carinho absurdo. É quem me carregou durante muito tempo no Samba D’Ju e até hoje a gente tem muito orgulho disso. É um público incrível... A gente fala pra ouvir a música, eles compram no iTunes. Você sabe como isso é importante? O público gay é muito bacana, eles têm um poder aquisitivo grande, é um mercado enorme”, comentou Ju.
 
Um dos maiores empreendedores do ramo, André Magal explicou que Salvador não foge à regra nacional e que Claudinha e Veveta são os dois grandes nomes para o público LGBT local. “Todas elas têm um público cativo e acho que, na verdade, depende do tamanho do evento que propomos. Óbvio que cantoras como Ivete Sangalo e Claudia Leitte, que estão em momentos excelentes de suas carreiras, atraem públicos bastante interessantes, mas todas são muito talentosas e têm seus espaços no coração do público. Alinne Rosa é outro exemplo, que sempre teve um público LGBT muito forte e pôde, agora em carreira solo, fazer um trabalho mais voltado a estas pessoas, que sempre deram todo o apoio pra ela”, explicou ele.
 
Sobre isso, Alinne se disse muito orgulhosa de seus fãs, e acredita que suas músicas e estilo de cantar combinam muito com as festas. “Eu fico muito feliz de ser tão bem recebida por esse público, de ver de lá de cima tanta gente gay, lésbica, simpatizante. Eu me considero uma diva pra eles. Tem que ser, né? É um público tão carinhoso, que tá ali em função de amar, ser feliz, e eu me sinto uma representante deles com muito orgulho. É uma festa divertida, tem tudo a ver com meu show, que é dinâmico, a ver com o que eu canto”, enfatizou ela, que é um dos principais rostos de uma das maiores festas LGBT do Brasil. A itabunense roda o país em apresentações do ‘Chá Rosa’ e levara o evento para o carnaval de Salvador.

 
Cerca de 26% dos turistas que chegam ao país são do segmento LGBT, e na folia de momo esse número só aumenta. Apontadas por André como as maiores ‘divas’ gay do país, Ivete e Claudia Leitte comentaram o título por parte de seus fãs. A primeira se mostrou surpresa com o título, mas disse adorar. “Eu acho o máximo, eu quero é mais. Eu quero ser, aceito, com toda certeza”, disse. Já a loira se mostrou empolgada com a adoração e contou que não é de hoje que sente esse carinho. “Eu sou praticamente um travesti. Acho que todo mundo sabe disso, né? Eu gosto mesmo da onda. Desde que eu comecei a minha carreira o meu público gay é gigantesco, a gente sempre teve uma troca muito grande. A gente sempre uma troca muito grande, acho que a gente se identifica. É uma conexão de espírito: eu sou muito livre, eles também são livres. Quem não é livre, sente essa liberdade ao se aproximar, porque a gente é conectado pela vibração que existe pelo que há em comum. Eu tenho muito em comum com esse público, desde o início, todo mundo sabe disso. Eu acho o máximo”, confessou a mãe de Davi e Rafael.
 
Em 2016, Magal e seus sócios fizeram uma parceria com a festa ‘Chá da Alice’ para festas de ensaio e um bloco, na folia de momo, puxado por Alinne Rosa. Perguntado se o único mercado que tem certeza de sucesso no evento é o LGBT, Magal diz que não tem como confirmar a informação, mas que – com alguns lotes de sua atração esgotada – ele torce para o sucesso de todos. “Eu não tenho como falar de forma tão macro. Eu espero que o Bloco do Chá, com Alinne Rosa, que é nossa aposta ao lado dos meninos do Chá da Alice, seja um sucesso, mas torço por um Carnaval de bons resultados para todos. O Carnaval está passando por uma reestruturação, mas ano passado, foi melhor do que muitos esperavam até o último minuto. Esse ano, com a crise, acredito que o turismo interno cresça e possa nos favorecer”, contando ele, destacando a alegria de ver o mercado crescer e o preconceito diminuir. “Tem quem diga que o Carnaval de Salvador só tem gays, o que não é verdade. A questão é que o preconceito, de maneira geral, diminuiu. Esse público descobriu que pode vir pra cá e se divertir assim como o hetero, sem precisar fingir, se esconder. Em outras micaretas fora daqui, aconteceu a mesma coisa”, finalizou.