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Entrevista

Produtor de sucessos de Anitta, Léo Santana, Pedro Sampaio, Rafinha RSQ fala sobre mercado no verão: “Todo artista quer acontecer”

Por Bianca Andrade

Produtor de sucessos de Anitta, Léo Santana, Pedro Sampaio, Rafinha RSQ fala sobre mercado no verão: “Todo artista quer acontecer”
Foto: Instagram/ Montagem Bahia Notícias

Desde que o mundo é mundo e a música faz parte dele, existe um som para a temporada. Para quem vive no interior, por exemplo, o período junino tem som de fogo crepitando, nos mais agitados, alguma bomba de mil. Já na primavera, é comum ouvir os pássaros com mais frequência, quase como se fosse num desenho da Disney.

 

Mas desde que o mundo é mundo e o Carnaval de Salvador passou a existir, a trilha do verão na capital baiana não tem som de ambiente e sim a MÚSICA DO VERÃO. O conceito, que existe com força em todo o país, tem uma proporção ainda maior na cidade onde se é realizado o maior Carnaval de rua do mundo, afinal, a música do verão precisa estar, não só na ponta da língua, mas também, na ponta do pé, se o intuito é conquistar o público.

 

E nos últimos anos, o debate sobre a música do verão e a música do Carnaval se tornou ainda mais intenso com a “guerra” entre a popularidade nas ruas e a popularidade nos charts de streaming. Mais uma vez, o Bahia Notícias foi atrás de quem entende para entender o fazer musical na estação mais desejada e também mais disputada do ano.

 

 

Produtor musical e compositor, mente pensante por trás de canções como ‘Santinha’, de Léo Santana, ‘Loka’, de Simone e Simaria com Anitta, ‘Poc Poc’, de Pedro Sampaio e mais uma série de hits, sucessos no verão e em outras temporadas do ano, o carioca, e também cidadão soteropolitano, Rafinha RSQ, conversou com o site sobre o processo de produção musical, e deu a própria visão sobre o mercado.

 

Para o artista, o pagodão ainda tem a força popular durante o período do Carnaval, apesar das pontuações (válidas) da velha guarda, porém, a cada ano que passa, fica ainda mais difícil conseguir definir qual será a trilha dos 4km do Circuito Osmar (Campo Grande), ou 4.5km no Dodô (Barra-Ondina), sem contar os carnavais de bairro.

 

“O que eu tenho percebido é que o pagodão, ele vem passando ainda preconceitos e barreiras na rede social, na estrada e na rua também, por questões de linguagem, mas que vem furando muita bolha também porque tem muito jovem que gosta de ouvir, sim, a putaria. Muitas pessoas são contra, muitas pessoas são a favor, mas ouvem também. Então eu tô vendo que ultimamente tá mais aleatório em relação à música de verão, as coisas acabam acontecendo de uma forma natural.”

 

Confira a entrevista completa:

 

Existe uma pressão, você como produtor musical e compositor, para se ter um hit do verão? 

 

Cara, existe muita pressão pra ter o hit do verão, porque, na verdade, todo artista quer acontecer. Todo artista quer resultado, independente de só ‘Ah, eu quero sentir a vibe da música, deixar fluir’. Não, tem aquela pressão de querer que a música realmente reverbere na rua, que a música aconteça. Eu tento não trazer essa pressão para minha criação, porque eu acho que a pressão acaba que atrapalha a criatividade. Todo o processo criativo depende do estado de espírito da gente, alma boa, coração bom, energia boa, então acho que toda pressão causa agonia, causa ansiedade que é como os artistas já veem, a maioria já vem com essa ansiedade ‘Velho, cadê aquele ritmo do verão? Eu preciso produzir o hit do verão’. Tem que acontecer, eu quero também como produtor, mas eu tento mais ficar tranquilo para deixar fluir, mas tem muita pressão.

 

Desde quando você começou a produzir mais voltado mesmo para música baiana, já foram alguns hits do verão. Alguns ganharam o título de música do Carnaval, outros não, mas como você percebe que o público elege o hit do verão?

 

Eu acho que é a música que realmente se populariza. Você vê todo mundo cantando, você passa nos bairros, você vê os carros tocando a música também. Hoje em dia, na internet, a gente vê muita publicação de conteúdo. Então você vê a galera postando vídeo para caramba, TikTok, reels no Instagram. Então assim, eu acho que a música quando ela tá bem popular e acontecendo no povo, você sente a naturalidade de que é um hit mesmo, sabe? Refrão bom, que pegue, tem solo, tem letra boa. Eu acho que é unânime você perceber que essa música é do verão. Essa música tem um potencial para ser uma das músicas do verão, entendeu? É aquela parada do coletivo tá falando da música, ouvindo a música nas periferias e em qualquer lugar, entendeu? Eu acho que é isso. 

 

Recentemente, conversei com o Escandurras e ele falou uma coisa muito interessante, que a música do verão ela não tem uma fórmula fechada. Em alguns anos, os artistas trabalham com o estilo da pessoa, em outros anos, fala mais sobre o clima. Para 2026, o que você está sentindo do público?

 

Cara, na verdade, fora o momento do verão, ultimamente assim, eu acho que tem sido muito aleatório em relação a ter gêneros específicos que estourem no verão, né! Em vários verões já tiveram músicas do pop, funk, arrocha como teve J. Eskine, então assim, não tem mais aquela coisa de, ‘Ah, é o verão, é só a Bahia que estoura música para o Brasil’, antes eu acho que a Bahia tinha mais uma característica de ter músicas que aconteciam no verão, hoje eu acho que tá mais aleatório, de todo mundo acontecer com músicas de qualquer maneira, de qualquer gênero, em qualquer tipo de artista. Só que a minha análise, eu acho que especificamente muito artista que tem uma coisa voltada para o verão, realmente acende mais no verão. E a Bahia tem isso. O que eu tenho percebido é que o pagodão, ele vem passando ainda preconceitos e barreiras na rede social, na estrada e na rua também, por questões de linguagem, mas que vem furando muita bolha também porque tem muito jovem que gosta de ouvir, sim, a putaria. Muitas pessoas são contra, muitas pessoas são a favor, mas ouvem também. Então eu tô vendo que ultimamente tá mais aleatório em relação à música de verão, as coisas acabam acontecendo de uma forma natural.

 

Rafinha, você pontuou que agora a gente não tem mais um estilo definido para o verão, a música do verão ela pode ser de qualquer estilo e você é um produtor que já trabalhou com vários artistas de vários estilos. Eu quero saber uma curiosidade de você, qual foi o estilo mais aleatório que você nunca imaginou produzir e qual é o que, para você, é o “tô em casa, esse aqui para mim é super tranquilo de fazer”?

 

Não tem como não falar que o pagodão é o que eu mais me sinto em casa, porque eu cresci no pagodão. O pagodão foi minha base estrutural para minha concepção musical, mas assim, eu vejo que o pop foi um trabalho que eu fiz inclusive, com a música chamada ‘Modo Turbo’, que foi Luisa Sonza, Pablo Vittar e Anitta, foi uma produção bem assim diferente para mim, inclusive teve influência do Axé nessa produção, porque eu coloquei Afrobeat, tem pop, tem um pouco de K-pop, tem um pouco de trap e assim, essa mistura para mim foi a mais que eu nunca achei que talvez eu faria com os artistas que eu fiz. E outro trabalho que eu fiz foi com a Thalia, não foi música de verão no Brasil, foi música de verão para ela no México que foi um reggaeton uma música chamada ‘O Cancelado’ e eu falei, cara, eu nunca imaginei que eu ia estar produzindo um reggaeton eu sendo do Brasil, estruturando a música em espanhol e produzindo a música em espanhol. 

 

Eu queria saber um pouco também de como funciona essa mente criativa. Eu nunca vou esquecer de um vídeo que você fez que está no seu Instagram, que era você fazendo uma música de uma maquininha de pegar bichinho no shopping. Então, eu queria saber como é que funciona essa cabeça.

 

Cara, na verdade, é muito doido, velho, falar a verdade, assim, a gente que trabalha com música é uma parada que não tem, a gente não consegue ter uma explicação concreta, porém, assim, na minha visão particular, eu creio que a mente criativa é uma parada divina. Eu acho que Deus abençoa também certas cabeças assim e manda luz assim, mas eu acho que é uma luz assim que é surreal porque assim eu não tenho como viver de inspiração do dia. Eu chego aqui no estúdio e eu transpiro, eu respiro, eu me inspiro o tempo todo. Então, assim, eu chego aqui, quero fazer um beat agora aqui latino com pagode, com funk, com tra. Eu começo a fazer e a as pessoas ficam ‘Mas como que pode, como que chega do nada aqui e vai fazer isso agora’. Eu não consigo ter explicação. Eu acho que é muito coração. Ser muito apaixonado. E também assim, se eu fosse falar de técnica, eu acho que buscar referência, você entender cada coisinha assim, com as referências do que você está fazendo, ajuda muito. Ouvir muita coisa, estudar muitas coisas, estudar quem deu certo, quem não deu certo, para você também não dar no mesmo caminho.

 

Rafinha, quais pontos você deixaria de atenção para o seu público em 2026? Qual artista, qual estilo vale acompanhar?

 

Para eu não falar de artistas e acabar sendo injusto com alguns, eu vou falar de movimentos. Eu acho que tem se gerado movimentos muito legais, assim, na música brasileira, de música alternativa, daquela música que era mais ouvida, assim, por um nicho, assim, inclusive o pop baiano, o trap, o pagotrap também. O MPB baiano também, de muitos lugares, de artistas que já concorreram ao Grammy. Tem vários movimentos que não é só o que tá na internet, parem de buscar só o que tá no hype, vai ver o que tá realmente, o que a rua tá consumindo, o que as pessoas tão ouvindo, que às vezes não tão nas top 10 das playlists do Brasil, porque não são pagas, mas tão sendo pagas no coração de quem ama. Eu acho que o movimento alternativo, que não tem muita voz e que hoje tá tendo, na música pop brasileira no geral.

 

E para encerrar nosso papo, se você pudesse citar três músicas, sendo a mais injustiçada, a mais aleatória e o seu maior sucesso, quais seriam?

 

A música injustiçada que eu tive na minha carreira, que teve um bom resultado, foi com Sorriso Maroto ‘Eu Já Te Quis Um Dia’. A que me empurrou como compositor, não vou falar como produtor, foi ‘Loka’, porque louca foi a que mudou minha vida realmente assim, que me deu uma abertura de mercado para Brasil e mudou minha vida financeiramente, ajudou minha filha. E a mais aleatória foi ‘Poc Poc’, quando eu escrevi eu falei, ‘Cara, será?’. Eu juro que eu fui para casa assim, e de repente, em um mês, tava no top 1 em Brasil, top 1 em Portugal foi a que eu, tipo assim, não criei tanta expectativa, mas que aconteceu.