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Entrevista

'Ó Paí Ó 2': Vinícius Nascimento comemora sequência do filme e relembra cena de morte

Por Antônia Fernanda / Erem Carla

'Ó Paí Ó 2': Vinícius Nascimento comemora sequência do filme e relembra cena de morte
Foto: Paulo Victor / Bahia Notícias

Soteropolitano da gema, nascido e criado no Pelourinho, o ator Vinícius Nascimento está novamente usando as ruas do centro histórico da cidade para mais um trabalho que, sem dúvidas, será um dos mais importantes de sua carreira. Aos 24 anos de idade, o jovem está entre os atores que participarão do filme ‘Ó Paí Ó 2’, dirigido pela cineasta e roteirista baiana Viviane Ferreira. 

Apesar da pouca idade, o baiano possui uma bagagem profissional vasta e participação em grandes obras nacionais, como o filme "Entre Irmãs (2017)", o curta-metragem "Doido Lelé (2009)", o filme "À Beira do Caminho (2012)" e "Ó Paí Ó (2007)". Neste último, Vinícius deu vida a "Cosme", seu primeiro trabalho como ator, aos 7 anos de idade. 

"Eu olho minha vida de antigamente, eu olho para hoje, e sou muito grato por tudo que aconteceu. Agradeço a Deus, aos Orixás pelo que fizeram na minha vida. Nesses 17 anos de carreira eu não fiz nada sozinho, lógico. Todas as pessoas que passaram na minha vida foram importantes de certa forma", diz, ao refletir sobre sua carreira.

Durante entrevista para o Bahia Notícias, o ator falou sobre os seus trabalhos profissionais, rotina durante as gravações, desafios e a importância do filme 'Ó Paí Ó' para o centro histórico da capital baiana. 

"Eu fui em um evento e uma mulher de Fortaleza me falou: 'Poxa, eu quis conhecer Salvador porque eu assisti Ó Paí Ó'. Então, sim, depois do filme o turismo foi um pouco mais movimentado. Tem gente que olha pra mim e fala: 'Poxa, eu assisti o filme, fui visitar o Pelourinho e pensei que o elenco ia estar por lá'. Mas isso é bom, porque a história foi contada do jeito certo. O filme retrata bem um pouco da história que aquele lugar trazia", comenta Vinícius.

 

O roteiro de 'Ó paí Ó 2' foi escrito por Elísio Lopes Jr, Daniel Arcade, Igor Verde e Viviane Ferreira com colaboração de Luciana Souza, Bando de Teatro Olodum e Rafael Primot, e pesquisa de Dodô Azevedo. 


Confira entrevista completa:

Você começou sua carreira de ator muito cedo, desde os 7 anos de idade, e aos 9 anos já ganhou um prêmio... Como foi ser premiado como "Melhor Ator'' no curta-metragem "Doido Lelé (2009)"?
Eu vim degustar do que é ser um ator premiado depois de muito tempo após o prêmio. Depois, quando eu tinha uns 16 ou 17 anos, porque quando eu estava na juventude, quando eu era criança, para mim estava tudo certo, não estava fazendo tanta diferença enquanto pessoa, enquanto ator, porque eu não tinha medido a dimensão daquilo ainda. Então, hoje, quando eu olho para tudo que passou... Eu tive a sorte de ser escolhido pelo universo para estar passando por certas coisas. Hoje eu sou feliz e grato pelas coisas que aconteceram na minha vida. Esse prêmio veio para que eu me valorizasse enquanto ator e as pessoas também entendessem que é possível pessoas pretas, de Salvador, de comunidade, passarem por coisas que eu passei.


Foto: Divulgação I Curta ‘Doido Lelé'


Você acredita que isso -  prêmios de 'Melhor Ator', no 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino e 'Melhor ator Coadjuvante', no Cine PE - refletiu positivamente em toda a sua carreira como ator? Abriu portas para você?

Abriu portas, sendo bem sincero. Eu sou muito grato a esse (‘Melhor Ator Coadjuvante’, pelo filme ‘À Beira do Caminho', de 2012) prêmio específico, porque isso é oriundo de um trabalho de equipe. Nós atores não trabalhamos só, não fazemos um filme sozinhos. Por trás das câmeras tem dezenas de profissionais para cada setor daquele set. Então, se resultou no processo final eu ter ganhado um prêmio como melhor ator coadjuvante, foi porque eu bati bola com o João Miguel, Dira Paes, com Ângelo... Com certeza eu tive uma boa direção com o próprio Breno Silveira, que pra mim foi uma pessoa essencial na minha carreira, me deu diversas oportunidades, me dirigia de uma forma muito sábia.

"Á Beira do Caminho" é minha vida. Foi um prêmio que quando eu soube que fui indicado e ganhei, eu já tinha maturidade. (...) Hoje, eu entendo que foi algo muito importante para mim e sou grato a Breno, porque foi um cara muito importante na minha vida. Hoje ele não está mais entre nós. Mas só em eu ter degustado com sabedoria todos os momentos que eu vivi próximo a ele e que resultou em uma premiação como essa, por exemplo, eu sou um cara muito feliz por isso. 


Filme ‘À Beira do Caminho’ | Foto: Divulgação



Como foi participar de um dos maiores filmes do país, "Ó Paí Ó", e ser um dos atores de destaque?

Quando eu fui descoberto para fazer parte do elenco do filme, eu estava brincando na rua mesmo, literalmente como uma criança qualquer do Centro Histórico. Eu fui nascido e criado no Pelourinho. Eu gosto muito de fortificar isso. Ali é uma comunidade, as pessoas são unidas e acontece de tudo como um bairro qualquer. (...) Eu estava brincando na rua quando a Monique Gardenberg (diretora da obra) passou e me viu descendo as escadarias (da Igreja do Santíssimo Sacramento do Passo). Isso virou até cena do filme. Eu descia com o meu irmão. Ela passou, viu aquela cena e me pediu para descer de novo. Foi falar com minha mãe, me convidou para fazer o filme e aí ela 'desembolou' com minha mãe. Eu lembro que um ou dois dias depois eu já estava com o elenco fazendo leitura de roteiro, pessoas que eu via na televisão eu estava vendo pessoalmente… Eu estava levando muita coisa na brincadeira. As pessoas conduziram do jeito certo. 

Como foi depois que você viu o resultado de 'Ó Paí Ó', a galera abraçando, o seu primeiro filme ser um dos maiores sucessos do cinema brasileiro? 

A minha mãe foi muito importante para mim neste processo. Em muitos momentos eu era conhecido na rua, eu fui famoso naquela época, meu rosto ficou marcado em muitos lugares, o filme bombou demais, estouro de bilheteria... O carro ia me buscar na escola para eu gravar, eu parava a escola. Quando eu voltei, voltei dando autógrafo no caderno da galera. Mas com medo de me corromper pela fama precoce. Eu tive muito puxão de orelha da minha mãe para que isso não subisse para minha cabeça.

Depois do sucesso do filme ‘Ó paí Ó’ você acredita que houve uma mudança na visão que a galera tinha de Salvador, e (o sucesso do filme) abriu portas para os artistas do Pelourinho?
Eu considero o Pelourinho o principal cartão postal de Salvador. Se você vier em Salvador e não for no Pelourinho, você veio em Salvador errado. 

Eu fui em um evento e uma mulher de Fortaleza me falou: 'Poxa, eu quis conhecer Salvador porque eu assisti 'Ó Paí Ó'. Então, sim, depois do filme o turismo foi um pouco mais movimentado. Tem gente que olha pra mim e fala: 'Poxa, eu assisti o filme, fui visitar o Pelourinho e pensei que o elenco ia estar por lá'. Mas isso é bom, porque a história foi contada do jeito certo. O filme retrata bem um pouco da história que aquele lugar trazia.

 

Do início da história até o fim eu posso bater na mesa e afirmar que muitas coisas que passaram no filme de fato acontecem no Pelourinho. Até a cena final, que é muito triste. 

 

Você reencontrou o elenco para gravar a sequência do filme... Como é o clima, os bastidores?

Eu tenho postado parte dos bastidores em meu Instagram e as pessoas têm pedido mais a toda hora. Eu não sou um cara de internet, eu sou muito off para essas coisas, mas eu estou me fazendo presente agora. Peço desculpas às pessoas, mas eu tento. 

As pessoas têm acompanhado, tem sido um processo muito gostoso como sempre. Aquele elenco é muito unido, tem um entrosamento, acho que a gente tem muita coisa para mostrar.
 


Foto: Reprodução/Instagram

 

Qual foi a sua reação quando surgiu o convite para fazer a sequência?

Esse namoro é antigo, da volta deste filme. O filme estava para voltar desde muito tempo, o namoro, as propostas, as possibilidades de volta são existentes desde 2019. 

Quando nós soubemos de fato que tinha algo sendo preparado, ficamos muito felizes. Eu fiquei em êxtase. Para mim, é algo muito rico tanto como artista, quanto pessoa, quanto morador do Pelourinho também. Estamos usando o Pelourinho como cenário principal para fazer as gravações e isso acaba mexendo com a imagem do lugar e, para mim, isso é bom. Mexe com as pessoas, mexe com o mercado, com o turismo. Cada um vai se beneficiando de certa forma. 


Me fale sobre o seu lado dublador. A preparação é a mesma, a dificuldade é maior?

Quando eu recebi o convite para dublar 'A Era do Gelo' foi algo muito... Deu aquela agonia por dentro, porque eu não sabia como funcionava o processo. Eu sempre tinha participado de processos audiovisuais com câmeras, estava envolvido em set, e eu não sabia como é que seria no processo de dublagem, ainda mais de um projeto tão grande. Eu fui com medo. A gente foi fazendo, achei bem tranquilo, inicialmente falando. Mas dublar é algo bem mais complicado que para atuar. É algo mais preciso, embora a gente esteja atuando de certa forma. 

Agradeço muito a experiência, faria de novo tranquilamente, eu acho (risos). Mas admiro muito os profissionais da área, porque dublar não é brincadeira, não. 

Como foram as gravações para a 2ª Temporada de Dom, série original Amazon em língua não-inglesa mais assistida ao redor do mundo?
Foi minha primeira experiência fora do país como ator. Eu contracenei com pessoas falando outras línguas. Pra mim, foi algo muito grandioso, muito rico enquanto artista. Quando eu recebi a notícia de aprovação, eu fiquei muito feliz. (...) Eu estudei muito o personagem. 

A gente que está ali no dia a dia do Pelourinho lida com muitos turistas. Vem gente de todos os lugares do mundo. Tem gente ali no Pelourinho que você não dá nada, mas fala não sei quantos idiomas, porque ele está ali no centro de Salvador.

Você já viveu algo nas gravações e depois teve que usar a experiência no dia a dia?
Na vida diária da nossa espiritualidade a gente acaba mexendo com alguns tipos de energias. Quando eu vivi o processo de 'Entre Irmãs', meu personagem era filho de um açougueiro que foi assassinado. Ele era o cangaceiro mais jovem, o mais novo do bando de Carcará, e manjava das facas, de cortar bichos, de caçar e usar o alimento para alimentar o seu bando. Então, isso na minha vida diária, junto a minha religião (Candomblé), foi importante por essa troca de energia com a natureza. Foi uma forma de associar um laboratório que eu fiz com a minha vida. 


Foto: Divulgação I Filme ‘Entre Irmãs’


 


Foto: Divulgação I 'Entre Irmãs'

 

Se você não fosse ator, o que você estaria fazendo agora? 
Para ser bem sincero, eu olho minha vida de antigamente, eu olho para hoje, e eu sou muito grato por tudo que aconteceu. Agradeço a Deus, aos Orixás, pelo que fez na minha vida. Nesses 17 anos de carreira eu não fiz nada sozinho, lógico. Todas as pessoas que passaram na minha vida foram importantes de certa forma.