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Entrevista

Tatau inicia nova fase e reflete sobre o axé: 'Precisa suar a camisa para ressurgir'

Por Antônia Fernanda / Erem Carla

Tatau inicia nova fase e reflete sobre o axé: 'Precisa suar a camisa para ressurgir'
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

Com quase quatro décadas de carreira, o cantor e compositor Tatau aposta no samba para nacionalizar e marcar o início de uma nova fase profissional. Seu mais recente lançamento é a música "Brincante", um dueto com Péricles. Segundo o baiano, a canção se aproxima aos sucessos da nova geração, protagonizada por artistas como os cantores Dilsinho e Ferrugem.


Em entrevista ao Bahia Notícias, Tatau falou com entusiasmo sobre o novo projeto, relembrou a "treta" com Ivete Sangalo e refletiu sobre os quase 40 anos de carreira. De bônus, o artista ainda respondeu qual sua música preferida entre os seus mais variados trabalhos de sucesso. 


"O axé precisa suar a camisa para ressurgir, ter mais força, mais gás...Eu sei que minha geração está meio cinquentona, que as coisas mudam, a energia é outra. Mas a gente precisa puxar lá do fundão essa energia que eu sei que existe", diz Tatau. 

Você se juntou a Péricles para a canção “Brincante”, seu mais recente lançamento. Como surgiu essa parceria?
É uma música que eu precisava levar ela às pessoas de um jeito extremamente diferente. Eu preferi convidar pessoas que tivessem o perfil que se encaixassem no que eu pensava de exploração dessa canção. Ai eu pensei em um cara que é muito além do que voz, ele (Péricles) é espírito quando canta. Um cara levíssimo no mercado.

‘Brincante' é uma certa mutação de vários artistas. Ela tem um pouco de Dilsinho, Ferrugem, Pericão, Sorriso Maroto...O samba não é algo novo na minha vida. Só que do nível que eu estou trazendo agora, num contexto extremamente moderno, porque ela tem essa sonoridade, ela tem exatamente os caminhos que essa turma tem traçado. 


O que podemos esperar dessa nova fase de Tatau?
Hoje o passado me serve muito mais para eu dar um aperto de mão, do que um abraço. Eu prefiro muito mais dar um abraço no que andou, do que o que passou. Também tem o entendimento de que eu caminhei, né? Apesar desse mercado devorador, e dessa situação tecnológica que para a gente que é mais velho é muito difícil...Eu me pergunto como é que a gente conseguiu. É como se você realizasse o desejo de fazer com alguém que você muito admira.


Você tem quase 40 anos que está nesse mundo da música. E nessa trajetória você tem protagonizado momentos incríveis e deixado sua marca no axé music. Qual a sua maior realização durante essas quatro décadas? E qual sua canção preferida das que você compôs?
Não é fácil responder isso. É difícil porque eu não sei se vou conseguir ser correto na minha opinião. Quando a gente termina de escolher uma canção parece que termina escolhendo uma fase da vida. Aí você termina escolhendo uma e deixando outro momento de sua carreira de fora, que também foi muito importante, que te trouxe até aqui. 


Mas eu diria assim...por ela abraçar a cultura da Bahia, acredito que 'Protesto Olodum' seja a música mais importante da minha carreira. Ela é uma música premiadíssima, ganhou carnaval, ganhou o Festival do Olodum, fez parte da trilha sonora do 'Ó pai, Ó'. É uma música [que está] entre as 10 mais importantes da nossa terra. Ela é na verdade a primeira música que eu considero um documentário. Ela tem esse lugar especial no meu coração. Ela me mostrou a  Bahia como compositor.

Nova fase, novos projetos....E o Carnaval? Já pode adiantar algo para gente? 
Posso soltar que 60% do meu Carnaval está fechado fora do estado. E a gente está na fase de 'namoro' aqui com a nossa terra (Salvador), porque a gente acha importante fazer aqui também. A gente quer ter essa oportunidade de mostrar aos baianos um pouco do nosso projeto.

O axé music tinha, na ocasião em que você comandava o Ara Ketu, uma notoriedade imensa, todos os holofotes estavam voltados para vocês. Hoje, você sente falta dessa atenção ao gênero?
Eu diria que o Axé continua sendo o Axé. Mas nessa época ele estava sozinho. Hoje, olha quantos outros gêneros a gente termina dividindo a atenção. O pagode tem uma força absurda, o arrocha que é nosso também, tanta gente bacana que a gente vê. A gente também vem dividindo as atenções com outros estilos que não são de origem de criação da gente, mas que são consumidos, como o piseiro.

Eu acho que existe um cochilo no nosso seguimento. Acho até que o axé é uma música de entrega. Se não for assim, ele termina passando para as pessoas uma personalidade que não é nossa. O axé sempre foi música de energia. O axé precisa suar a camisa para ressurgir, ter mais força, mais gás...Eu sei que minha geração está meio cinquentona, que as coisas mudam, a energia é outra. Mas a gente precisa puxar lá do fundão essa energia que eu sei que existe.

Em 2010 você virou notícia em todo o país por se recusar a cantar a música "Lobo Mau", no Carnaval, alegando que a canção seria um incentivo a pedofilia…
Eu acho que faltou um entendimento à parte dessas pessoas nessa época. Inclusive, eu quero deixar bem claro que Ivete comigo foi espetacular. Na época, ela já tinha uma expertise de como funcionava a indústria de venda de jornais e revistas, e eu era meio verde nessas coisas. 

Naquele ano eu fazia uma campanha sobre 'abuso sexual contra criança e adolescente'. E, sinceramente, eu não me sentia à vontade para cantar essa canção, porque eu vestia a camisa dessa campanha e fui, literalmente, para a avenida vestido. A música virou um sucesso danado e as pessoas começaram a me pedir para trocar. Eu não tinha nem tirado [a música do meu repertório] porque sinceramente, ela não existiu. Eu não gosto de pegar o meu espaço, espaço de respeito e ficar improvisando. Para mim, eu faço bem feito ou nem faço. 

Eu lembro que estava em Brasília quando me falaram dessa história. E eu: 'Meus Deus, o que foi isso?'. Me pediram para explicar, eu expliquei, só que a explicação saiu no final do jornal. 

Ivete é uma grande minha amiga há 500 anos. Talvez, dessa área de cantores, eu fui um dos primeiros declaradamente a ser fã dela, antes mesmo dela fazer parte da Banda Eva...Ela continua minha amiga. 

São 7 anos fora do Ara Ketu e até hoje sua imagem é relacionada a banda. Isso te incomoda?
Nunca me incomodou. Até porque a minha história com o Araketu sempre foi uma história de me orgulhar, foram 24 anos à frente, e eu sei que não é fácil. Tanto que as pessoas em alguns lugares me chamam de ‘Tatau do Ara ketu’. É um sobrenome que eu carrego ainda.

Mas deixando bem claro que eu não tiro vantagem disso. Sei que o Ara Ketu hoje tem um grande cantor que é meu amigo, o Dan Miranda. Um cara que eu tenho carinho e respeito. Minha história com Araketu foi máxima, lá foi minha escola.

Podemos esperar uma parceria de Tatau com o Ara ketu?
Na música pode tudo. Eu sempre fui aberto. Na época de Larissa eu já queria fazer essa parceria, mas infelizmente não deu.

Você ainda ganha dinheiro com compondo músicas?
O mercado está muito mais competitivo, mas eu ainda continuo fazendo as minhas canções com o mesmo entusiasmo de antes. É algo que nasceu comigo. Eu sei que sou intérprete,  mas eu gosto de compor na mesma intensidade de cantar. Algumas músicas eu mandei recentemente para alguns artistas. 

Você já escreveu muita música para artistas do gênero sertanejo, arrocha. Já considerou em algum momento ir para esse segmento?
Minha vida é axé, no máximo eu vou até o samba, que é um segmento que eu gravei muito...Eu sou 99% axé e o 1% são as outras coisas.

Ouça 'Brincante':