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Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Adelmario Coelho fala sobre vaidade, princípios profissionais e tradições juninas

Por Erem Carla

Adelmario Coelho fala sobre vaidade, princípios profissionais e tradições juninas
Foto: Divulgação

A chegada do mês de junho no nordeste traz consigo não somente a sensação térmica de frio, como a ansiedade de acender uma fogueira e se esquentar ao som do forró. 

 

A festa tradicional da região não deixa a desejar em nenhum quesito e o Bahia Notícias conversou com um dos maiores nomes no que diz respeito ao quesito musical do evento: Adelmario Coelho. 

 

No bate-papo descontraído, Adelmario falou sobre suas expectativas com a chegada da festa após dois anos de pandemia e até revelou alguns princípios que tem com sua equipe. “Ninguém bebe nem fuma”.

 

O artista também conversou sobre vaidade e o período no qual trabalhou no Polo Petroquímico de Camaçari, que antecedeu sua carreira musical. “A gente tinha um emprego com um salário muito bom, poderia nem pensar em outra coisa.”

 

Adelmario ainda opinou sobre as atrações musicais das festas de São João. “Existem cidades que cometem esse abuso, eu diria que é um abuso.” Confira a entrevista completa: 


Confirmado em mais de 30 festas de São João nos municípios baianos, ainda dá para sentir um frio na barriga?

São 28 anos de carreira, e a cada ano a gente vai aprendendo, vai se profissionalizando também né? Eu considero que a vida é um aprendizado. Esse ano agora de 2022, justamente depois de dois anos sem nossas atividades, gera uma expectativa muito grande.  

 

E quais são essas expectativas depois de dois anos sem festa por causa da pandemia?

Para esse reencontro, claro que já depois que houve a segurança da cobertura vacinal, segurança sanitária para que todos pudessem tocar de uma certa forma a sua vida e nós já estamos aí no que eu chamaria de um pré-aquecimento pro São João e isso vem nos dando ritmo também porque você ficar parado dois anos não é uma coisa simples. 

 

Inclusive, durante as lives no São João passado, você precisou adiar uma apresentação porque acabou positivando para Covid-19 e fez questão de explicar a situação (veja aqui). Como é a sua relação hoje com os seus fãs?

Ah, de muita sinceridade, muita honestidade. E nós temos uma equipe de quase 40 pessoas e eu fiz questão que todos fossem testados para ter realmente uma margem de segurança e o único que positivou fui eu. Mas é isso mesmo, qualquer um que tivesse positivado iria se afastar. 

 

E como foi esse período para você? 
Eu não estava sentindo nada que me comprometesse fisicamente, fiz até um cooper de 20 km um dia antes. Tava sentindo um incômodo na cabeça, um resfriadinho… Achei que estava com princípio de crise de sinusite. Testei em dois laboratórios e os testes deram positivo. Abortamos tudo e deixamos para quando Deus quisesse. 

 

Foto: Divulgação

 

E como funciona essa relação com seus fãs nas redes sociais?

Essa comunicação que nós temos pelas redes sociais é muito valiosa. E realmente empatia de ambos os lados, eu tenho meus fãs como guia da minha trajetória, do meu caminho artístico.

 

Pelas suas redes percebe-se que você faz questão de compartilhar com os seguidores essa rotina de saúde. Você acha que hoje, mais do que antes, existe uma cobrança para que o artista se mostre visualmente mais saudável?

Eu acho que buscar qualidade de vida, estar com a saúde mental bacana… Porque você tem um compromisso e uma responsabilidade muito grande como pessoa, sendo uma pessoa pública, de levar um bom exemplo. Então tudo que eu acho positivo na minha vida eu transfiro e compartilho com as pessoas que me seguem.

 

E como é essa relação de saúde com sua equipe? Todos seguem essa linha saudável?

Eu tenho algumas regras aqui muito claras. Eu não quero condenar absolutamente ninguém. Mas nós temos padrões aqui de qualidade de vida, ninguém bebe na minha equipe, ninguém fuma, ninguém. 


Existe uma preparação física especial para o período junino?

Eu não faço uma preparação, digamos, pontual, de ano em ano. É o ano todo, há muitos e muitos anos eu procuro realmente me preparar. É imprescindível que você tenha um bom condicionamento físico, conclua pelo menos essa etapa de desgaste, muitas calorias são perdidas ali. E fora as variáveis que acontecem no planejamento pra você fazer mais de trinta cidades só no mês de junho. É preciso que você tenha muito cuidado com horários, temperatura, trânsito e imprevistos. É uma dinâmica considerável e grandiosa para se chegar até ao produto final que é realmente ao show. 

 

Existem algumas curiosidades sobre você que as pessoas não conhecem. Como por exemplo que você foi do exército e trabalhou no Polo Petroquímico. 

Trabalhei 20 anos no Polo Petroquímico. Meu sonho mesmo era ser do exército. Eu tenho uma adoração pela força nacional. Quando eu saí do Barro Vermelho (distrito de Curaçá, norte da Bahia), eu falei para meus pais aos 17 anos: vou para Salvador servir o exército porque tenho esse desejo, tenho vontade de ser militar. Cheguei a ser cabo no Exército. 

 

Depois você foi para o Polo Petroquímico em Camaçari?

Isso. Não tinha nada a ver com música ainda. Eu não tinha essa intuição, nem tinha planejamento pra isso. Eu sempre admirei a cultura forrozeira, principalmente o forró como um dos meus gêneros preferenciais. Mas nunca idealizei me tornar um representante dessa cultura. 

 

E como surgiu essa vontade de cantar forró?

Quando eu estava no Polo sentia aquela saudade doída de encontrar um forró e encontrei em Itapuã um restaurante que tinha um trio de forró: sanfona, zabumba e triângulo. E quando eu descobri me mandava para lá nos finais de semana e inventei de querer dar umas canjas lá enquanto tomava uma cervejinha com minha esposa. Em 1994 eu já estava no polo e fui passar o São João em Caruaru e inventei de gravar uma música que eu tinha feito em homenagem ao meu Barro Vermelho. 

 

E sua esposa reagiu bem a novidade?

Ela ficou sem entender porque no Polo a gente tinha um emprego com um salário muito bom, poderia nem pensar em outra coisa. Mas eu disse para ela: aqui é só para levar pros amigos, mostrar a minha rapaziada e aí começou. Quando eu entrei no estúdio o cara me propôs a gravar um vinil e eu gravei 10 músicas, trouxe pra cá, mostrei e a galera recebeu com muito carinho. Mas eu segurei meu emprego do Polo (risos). Somente depois de seis anos a música me puxou mesmo e eu tive que escolher entre a música e o Polo. E sou grato a todos esses cominhos que eu passei desde o exército, rodar táxi em Salvador, trabalhar 20 anos no Polo Petroquímico de Camaçari até estar na música hoje há 28 anos. 

 

Foto: Divulgação

 

Um assunto que vem sendo discutido é o aumento de bandas com gêneros musicais diversos no São João. O que você acha sobre isso?

Eu só acho que deve ter uma dosimetria muito identificada com a cultura popular nordestina. Nós estamos falando de festas juninas. Então o que é que tradicionalmente na gastronomia você espera encontrar numa festa junina? Licor, amendoim, canjica… Você não admite ir em uma festa junina e ter por exemplo uma buchada! Existe uma gastronomia que identifica a cultura, então musicalmente o que identifica a cultura no São João é o forró. O que existe hoje em alguns municípios é que essa dosimetria é completamente errada. Ao invés de você ter, por exemplo, 90% de forrozeiro, você tem o inverso, 90% de outro gênero musical e bota ali, para enganar algumas pessoas, uns forrozeiros. Cidades que cometem inclusive esse abuso, eu diria que é um abuso. [As pessoas] Gostariam de ter ali naquele momento, porque depois você tem 11 meses para ter essas oportunidades [ouvir outros gêneros]. Eu não sou radicalmente contra.  Que você possa até atender o público com uma, duas, três atrações, mas que prevaleça a força do movimento. Eu acho que há uma inversão muito muito séria da cultura com responsabilidade, eu acho que os gestores é que tem maior responsabilidade. Até com a história do país, com a história da cultura. São os gestores que têm. 

 

E o que a gente pode esperar de Adelmario nesse São João? 

Me preparando muito mais porque a demanda é muito grande. Como eu te falei, considero que esse ano seja um dos melhores São João de todos os tempos. Eu percebi que cidades que não faziam absolutamente nada estão buscando esse momento para festejar. Claro, tem as cidades tradicionais. A Bahia é o melhor e maior mercado de São João do Brasil porque é um estado grandioso, são 417 municípios. O Nordeste realmente vai se transformar num grande arraial pode ter certeza disso e isso nos deixa muito feliz e com uma expectativa muito grande!
 

 

O artista ainda separou sua música favorita de São João para indicar aos leitores do Bahia Notícias. 

“Olha Pro Céu”, de Luiz Gonzaga, e se for minha “Não Fale Mal do meu País” (risos).