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Entrevista

Diretor da TV Bahia não vê Bocão como opção: 'Tem habilidade, não quer dizer que tem perfil'

Por Júnior Moreira Bordalo

Diretor da TV Bahia não vê Bocão como opção: 'Tem habilidade, não quer dizer que tem perfil'
Foto: Claudia Cardozo / Bahia Notícias

Formado em Administração de empresas e diretor executivo da TV Bahia desde 2012, João Gomes começou a carreira na área de telecomunicação, na antiga Telebahia. De lá foi convidado para integrar o time da afiliada da Rede Globo para montar a estrutura do escritório em São Paulo, onde ficou por dois anos. Em seguida, assumiu o marketing da TV e todas as empresas do grupo, que incluem jornal, rádios e o portal iBahia. Após nove meses de passagem pela Braskem, voltou para a TV Bahia e assumiu o atual cargo. De lá para cá, entendeu que o seu maior desafio, enquanto gestor, é não perder relevância diante da população, mesmo com um quadro em que a audiência derrapa e fica em segundo lugar, especialmente no horário do almoço.

 

 “Se eu retrato um caso de violência, não faço isso extenuando a situação daquela pessoa. Faço isso acompanhando os desdobramentos daquele caso. Não vamos trazer para o palco a violência, mas a violência é uma realidade social, tem que estar presente, pois faz parte. Porém, entrevistar o bandido não traz relevância para o telespectador, para a sociedade e nem para a solução do problema. Entrevistar muitas vezes o delegado que faz parte da operação e ficar muito tempo ali não é o ideal. A ideia é saber qual a história por trás, o que pode ser feito para mudar aquela situação. É como falar sobre o tema”.

 

No papo, Gomes confessou não ter problema em admitir as derrotas no Ibope, mas reafirmou sua predominância no primeiro lugar, com 66% dos minutos em 2018. Disse estar satisfeito com o trabalho de Jéssica Senra e pontuou que consumir televisão é uma questão de hábito. Logo, trazer Zé Eduardo, que comanda o “Balanço Geral”, seu principal concorrente, nunca foi uma opção. “Em nenhum momento, porque não é por números de audiência que escolhemos alguém para trabalhar com a gente. É pela proposta. O conteúdo tem que estar ligado com aquilo que nos comprometemos a entregar. Agora nós temos muito mais perdas no horário do almoço do que vitórias. Mas como já disse outras vezes: celebro mesmo perdendo nos números se sairmos com a consciência de um bom trabalho de entrega para o telespectador”, reafirmou. Leia a entrevista completa:

 

As pessoas têm demonstrado um grande interesse em consumir conteúdo dos bastidores da TV e, ao mesmo tempo, vocês estão mais abertos para se comunicar com elas. Quando perceberam essa necessidade de intensificar o diálogo com o público?

Foi uma construção. Algumas questões precisavam ser amadurecidas. Temos muito cuidado, do ponto de vista profissional, com todos que trabalham na Rede Bahia, principalmente os repórteres e apresentadores, pois estão à frente do vídeo e são mais públicas. Naturalmente, as pessoas se colocam na internet na sua individualidade, mas é muito tênue a individualidade da personalidade. Isso causa, muitas vezes, angústias, problemas e exposições negativas. Então, sentimos uma necessidade muito grande de ter uma equação com os colaboradores sobre esse entendimento, pois qualquer colocação que uma pessoa conhecida faça pode não necessariamente refletir a linha editorial da empresa. Tivemos vários incidentes sobre isso no meio do caminho, com pessoas se colocando em determinado tema e aquilo ganhar uma repercussão enorme dentro da empresa. Tentamos entender a individualidade, mas alinhada à governança da empresa. Nesse processo, a assessoria foi fundamental no sentindo de dizer: "Você estar 100% ausente é tão ruim quanto você estar desorganizadamente presente". Então, esse processo é de educação para todos. Elaboramos um código de conduta e ética para limitar até onde podem ir. Não trabalhamos de uma forma impositiva, não cobramos que eles impulsionem comportamento na internet. Só está na internet quem se sente à vontade.

Essa abertura tem relação com o acirramento da disputa pela audiência?

É uma demanda do nosso ecossistema. Estar na internet é uma realidade. Nossa questão é como fazer isso para que fique natural, evitando que afaste do posicionamento da empresa e que as pessoas percam suas individualidades. Não é fácil, mas acho que estamos conseguindo encontrar um tom de voz.

 

Ao mesmo tempo, tudo que vocês fazem hoje reverbera com as redes sociais. Como estão orientando as equipes para minimizar eventuais polêmicas nas redes sociais e como usam isso a favor para gerar os famosos ‘memes’?

Procuramos nem punir, nem premiar. Não temos um prêmio para quem repercutiu mais positivamente ou para quem fez mais. Quando existe algo que é negativo para empresa, temos que proporcionalizar. O que quer dizer que se aquilo foi feito propositalmente para macular a imagem da empresa, claro que teria um desvio de conduta. Nunca tivemos algum episódio nesse sentido. Até hoje, episódios que criaram algum mal-estar foram desencadeados de excessos pontuais, de um comentário que não seria adequado. Nesse caso, conversamos. Não temos demissão por alguém que falou algo de forma inadequada. Particularmente como gestor, preocupo-me mais quando algo dá errado, quando vejo nossos profissionais sendo atacados nas suas individualidades por quaisquer que sejam suas questões. Nesse sentido, tento trazer um conforto para essas pessoas. Não deixo aos leões com uma exposição desnecessária. Então, tento cuidar muito disso.  

 

Tenho visto várias entrevistas suas em que afirma “que mais do que perder em audiência, você está preocupado em não perder relevância”. Como a TV Bahia está atuando nesse sentido?

Esse é o grande desafio. A audiência retrata, muitas vezes, a circunstância. E a circunstância se impõe por uma pauta que pode ser um grande engarrafamento na cidade, ou uma grande situação de violência, sabe? É importante saber, pois é uma prestação de serviço. Porém, quando falo de não perder a relevância é aquilo que de fato pode transformar a realidade, gerar algum tipo de legado a partir do que noticiou. Nós noticiamos e informamos. A relevância é o que vai ficar depois, é o comentário que as pessoas vão fazer, é o retorno, é o poder público se mobilizando para resolver. Se eu retrato um caso de violência, não faço isso extenuando a situação daquela pessoa. Faço isso acompanhando os desdobramentos daquele caso. Não vamos trazer para o palco a violência, mas a violência é uma realidade social, tem que estar presente, pois faz parte. Porém, entrevistar o bandido não traz relevância para o telespectador, para a sociedade e nem para a solução do problema. Entrevistar muitas vezes o delegado que faz parte da operação e ficar muito tempo ali não é o ideal. Vamos ouvir o delegado, contudo não é uma audição, pois o propósito não está ali. A ideia é saber qual a história por trás, o que pode ser feito para mudar aquela situação. É como falar sobre o tema.

 

Apesar dessa política de respeitar o trabalho dos vizinhos, Zé Eduardo, por exemplo, já atacou vocês. Disse, inclusive, que você "estava falando balela. Que jornalismo tem que ser dinâmico, colocar as equipe em cima do fato". Disse ainda que “vocês estariam dando fatos 48h depois do ocorrido". Como você lida com esses ataques?

Eu vejo... tenho os monitoramentos das coisas, assisto, aumento o volume em determinado conteúdo, mas, sinceramente, não me deixo "atingir" pessoalmente com esse tipo de comentário. Na verdade, ele não contribui. O público não está interessado nesse tipo de colocação. O público tem direito de escolha. Vejo tudo como se fôssemos atletas olímpicos que precisam superar suas marcas. Se você olha muito para o concorrente, você esquece o melhor de você, que é superar a si mesmo. Então, trazer para o âmbito pessoal, sinceramente, não é o caso. O mercado é amplo. Não tenho nenhuma mágoa com ninguém que saiu da TV Bahia e foi para a concorrência. Citaria aqui que a vinda de Jéssica Senra foi com muita alegria e a saída de Jéssica Smetak foi muito fantástica, pois a forma como ela saiu, se despediu, sabe? Era uma oportunidade profissional. O próprio Darino (Sena), Patrícia (Abreu), Casemiro (Neto). Ninguém saiu com uma situação de difícil trato e relacionamento. Somos todos colegas de trabalho. Naturalmente, tenho que dar resultado, tenho que superar a audiência, receita publicitária, mas sermos concorrentes não quer dizer que somos inimigos. Olho para os apresentadores da concorrência como talentos. Não posso dizer que não admiro a capacidade de alguém estar três horas no ar e ter o número de liderança. Não quero dizer com isso que é uma pessoa que tem o perfil para trabalhar na TV Bahia, mas que existe uma habilidade e capacidade é obvio, pois o telespectador sabe o que quer consumir. Então, ele tem uma virtude em cima disso. Porém, às vezes, não tem relação com a nossa abordagem de conteúdo e posicionamento editorial. Procuramos entregar outro tipo de compromisso com o telespectador. O público, com certeza, não está interessado nesse tipo de agressão personalizada.

 

Zé Eduardo é um dos nomes mais populares da comunicação. Não tem interesse em trazê-lo para a TV?

Ele trabalhou na TV Bahia no jornalismo esportivo, não estava lá na época. Pelo que entendi, fez a opção de ser comunicador e não fazer restrito ao esporte. Com isso, entendi que ele colocou as fichas e apostou na carreira como comunicador. Posso falar sobre o tempo que estou na gestão da empresa: Não, em nenhum momento, porque não é por números de audiência que escolhemos alguém para trabalhar com a gente. É pela proposta. O conteúdo tem que estar ligado com aquilo que nos comprometemos a entregar. Então, a briga por audiência, principalmente nesse horário do almoço, sempre aconteceu. É disputado. Quando entrei, a TV Bahia perdia na hora do almoço. Só depois de um ano e meio que alcançamos a liderança. Agora, nós temos muito mais perdas no horário do almoço do que vitórias. Mas como já disse outras vezes: celebro mesmo perdendo nos números se sairmos com a consciência de um bom trabalho de entrega para o telespectador.

 

Foi por isso que a peça de divulgação da liderança em 66% dos minutos durante 2018 foi mais incisiva? Destacando o primeiro lugar na audiência geral?

Nós costumamos ser muito silentes em relação à audiência. Imagine seu eu, que lidero 66% dos minutos do ano, ficasse apontando todas as vezes que fui líder? Isso não existe. Então, esse momento é de reposição da verdade. Vamos dizer claramente quem lidera, o que lidera e como faz. Por exemplo, o programa do Casemiro, o “Que Venha o Povo”, da Aratu, naquela faixa de horário é o líder. Não tem uma polarização de uma emissora com a outra. A TV aberta está mais viva do que nunca. Tem muito mais público assistindo e as pessoas dizendo suas preferências.

Contudo, vocês divulgam que foram líderes durante todo o ano de 2018, porém a concorrência diz que não é assim. Há uma incongruência na informação?

Engraçado, vi essa clipagem em um dos comentários de Natalia Comte aqui no Bahia Notícias, é a oportunidade de esclarecer. O telejornal "Bahia Meio Dia" é de segunda a sábado. Quando se fala [da audiência] de um programa é de acordo com os dias que ele tem. Então, quando você fala sobre a média do programa, você pega todos os dias de exibição. Durante a semana, essa disputa é muito apertada, fica na casa da vírgula. Em determinado momento, até vemos um distanciamento maior da concorrência com a gente, porém quando entramos no final de semana, a nossa distância no sábado é muito grande. Então, quando consolida de segunda a sábado, que é a metodologia usada desde sempre, saímos na frente. Tanto que saímos com números certificados pelo Ibope. Existe, às vezes, principalmente nas redes sociais, os números prévios, mas mudam muitas vezes. Não temos problemas em admitir as derrotas, temos preocupação em conquistar a liderança. É um problema também da Globo, não só das atrações locais.

  

Qual o maior desafio hoje do “Bahia Meio Dia”? Estão contentes com Jéssica Senra?

Acho que é o tempo. É hábito. É se acostumar com a dinâmica, com a voz... Fizemos uma mudança de linguagem e formato que ainda não completou um ano, cabe dizer. Segundo que nesse ano, o "BMD" não ficou no mesmo horário, ele foi mudado diversas vezes. Teve a Copa do Mundo, que fez flutuar a atração na programação, teve também o efeito da greve dos caminhoneiros, que derrubou a grade como um todo, e o ano foi fechado com o período eleitoral, que, de certa forma, mexe com o hábito da população. Então, 2019 é o ano da estabilidade do horário. Jéssica está sensacional. Ela é uma profissional que trouxe uma linguagem nova, extremamente generosa nos bastidores, busca pauta, corre atrás. Acredito que foi uma escolha muito acertada. Para a gente é um aprendizado. Ela é muito afinada com a equipe. É uma mudança ótima. Nós aprendemos com os comentários dela e fizemos também uma temperança para trazer um equilíbrio no que se falar.

 

O “Jornal da Manhã” segue sendo líder de audiência, mesmo após o primeiro aumento. Como segurar um jornal tanto tempo no ar?

Temos algo que nos ajuda a prover todo o conteúdo que é a presença estadual com cinco outras emissoras no interior, mas é um desafio. Um desafio para o Ricardo Ishmael que está ancorando, para as equipes... precisa ser tudo muito pensado para que não se tenha um alongamento, deixando-o assim arrastado e sem ritmo. Cabe dizer que existe uma mudança muito grande do telespectador ao longo desse tempo de duração. Temos que pensar na renovação inclusive de matérias que já foram ditas na mesma atração, pois dificilmente a mesma pessoa assiste o jornal por inteiro, pensando obviamente na população ativa.

 

 Recentemente, o Brasil viu o acidente aéreo que resultou na morte do jornalista Ricardo Boechat. Naquele momento, a TV Bahia não interrompeu a programação – já que estavam exibindo o "Jornal Hoje" com atraso - e o público só foi noticiado muito tempo depois do fato. Qual a dificuldade hoje de derrubar a programação da Globo em casos como esses?

Esse é um dos maiores problemas que nós temos na televisão com a vigência do horário de verão. Enquanto estávamos no ar com o "Bahia Meio Dia", a notícia da morte do Boechat, por exemplo, ainda não tinha vindo. Além disso, nesses tipos de situações, precisamos ter o mínimo de apuração e convicção. Se nós colocarmos algo no ar que não corresponda com a verdade, podemos gerar um pânico. Muitas vezes, os fenômenos acontecem, mas precisamos de um tempo para ter o conteúdo mais assertivo. Bom, quando a TV Globo entra com aquele plantão, ela entra para o Brasil e inteiro, só que dessa vez não aconteceu. Foi angustiante para a gente também. Talvez, e isso ficou de aprendizado, nós devêssemos ter dito algo no break, em caráter semelhante ao plantão, para todo o Nordeste, por exemplo. Não tínhamos liberdade, pois era um conteúdo nacional. É um dos grandes problemas.

 

Mas agora com o alongamento do “Jornal da Manhã”, o “Bom Dia Brasil” também passou a ser exibido gravado aqui na Bahia. Caso situação semelhante ocorra, como irão proceder?

Essa situação de Boechat foi o grande aprendizado. A possibilidade agora é fazermos munidos pela Globo, de entrarmos no break com o plantão, ou o nacional entrar. De qualquer forma continua sendo desafiador, pois operacionalmente são vários riscos.