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Entrevista

‘Seduzida’ por novo formato, Smetak diz que ‘não queria ser peça de marketing' na Record

Por Ian Meneses / Gabriel Rios

‘Seduzida’ por novo formato, Smetak diz que ‘não queria ser peça de marketing' na Record
Fotos: Priscila Melo / Bahia Notícias

Atual líder de audiência no programa Bahia no Ar, na Record TV Itapoan, Jéssica Smetak decidiu fazer Jornalismo "sem saber o que iria encontrar pela frente". Ela enfrentou os pais, que queriam que ela fizesse Direito ou Medicina, se formou e chegou à TVE, onde passou por um "susto" em uma das primeiras participações ao vivo que teve. Mas nem o imprevisto fez com que tivesse medo.

 

Por isso, quando surgiu a oportunidade de trabalhar com produção na TV Bahia, não pensou duas vezes. Dedicada a aprender, Smetak ouviu quem já estava lá há mais tempo, observou os colegas e, quase por acaso, se tronou parte da equipe de reportagem. "Acabou surgindo uma pauta no dia que precisava de uma repórter. Eu tinha uma bagagem da TVE, que é um laboratório, pois você faz tudo. Então a pessoa que estava nesse dia para fazer essa pauta era Jéssica", lembrou.

 

Foi com essa mesma vontade de aprender que Jéssica decidiu ir para a Record, após quase 5 anos na filiada da TV Globo: "Uma linguagem diferente, um projeto diferente, um jornalismo cidadão, tudo isso que a Record já faz e é reconhecida, além do fato de fazer um jornal sozinha. Foi bacana. Não teve como pensar duas vezes".

 

A única coisa da qual Smetak fez questão foi garantir que não era apenas moeda de troca. O convite para assumir o Bahia no Ar veio após a antiga âncora do programa, Jéssica Senra, ser contratada pela TV Bahia. "Quando eu falei com Fábio Tucilho, eu disse: 'Fábio, por quê Jéssica? Eu não quero ser peça de jogo de marketing'. Mas ele disse: 'não. Eu escolhi você por ser jovem, por estar em ascensão, e porque eu sei que você tem potencial para abraçar esse formato diante de todos os outros profissionais de mercado que eu olhei'. Ele foi bem franco".

 

Vamos começar falando da sua carreira. Quando você decidiu que iria fazer Jornalismo?

Fiz jornalismo meio que sem saber o que iria encontrar pela frente. Não tinha nenhuma afinidade com exatas, com sangue, com uma leitura tão densa como Direito, embora eu tenha entrado numa faculdade de Direito depois de fazer Jornalismo por uma necessidade profissional. Então foi pela afinidade com a escrita, por gostar de ler. Meu pai é um homem de televisão, cresci nesse ambiente e queria trabalhar com televisão. Engenharia não dava, porque matemática sempre passava arrastada... Fiz Jornalismo contra o gosto dos meus pais e tem dado certo, estou satisfeita com a escolha.

 

E eles diziam o quê quando você falava que ia seguir no Jornalismo?

Eles queriam algo mais formal, tipo Direito ou Medicina. Algo mais clichê de formação.

 

Como você falou, seus pais foram contra a sua decisão. Eu imaginava que seu pai poderia ter sido um dos influenciadores por ter trabalhado tantos anos nesse meio. Você teve alguma influência ou alguém que te inspirou?

Não teve nenhuma influência. Nasceu de mim. Meus pais contestaram quando me inscrevi para o vestibular de Jornalismo, mas aceitaram depois. Eles achavam que eu não teria estabilidade de carreira, que é uma preocupação que todos os pais têm. Também achavam que quem faz Direito faz um concurso público, vai ter estabilidade, vai ser um juiz ou desembargador, então eles queriam isso para mim. Fui na contramão, era uma profissão incerta, e isso causou certa resistência, mas depois eles viram a minha dedicação, que eu sempre corri atrás e isso foi dando uma certa tranquilidade a eles. Tive uma criação rígida e sempre tomei decisões baseada na autorização ou não deles. Então foi a primeira vez que eu comecei a romper o cordão umbilical.

 

Além de ser repórter e apresentadora na TV Bahia, você foi produtora logo no início de sua passagem na emissora. Como você lidou com essa experiência atrás das câmeras?

Antes de entrar na TV Bahia, eu fui da TVE. Quando eu saí da TVE para a TV Bahia, só tinha vaga para produção. Fui para a vaga de produção, mesmo sendo um campo completamente novo. Acabou surgindo uma pauta no dia que precisava de uma repórter. Eu tinha uma bagagem da TVE, que é um laboratório, pois você faz tudo  faz rádio, reportagem, transmissão, eles apostam todas as fichas, porque é uma equipe mais enxuta. Então a pessoa que estava nesse dia para fazer essa pauta era Jéssica. Aí foi a minha primeira no BA TV.

 

E como foi passar por essa experiência de produção?

Com o método que uso até hoje para aprender o que não sei. Ouvir quem já está lá dentro. “E aí, como é que faz? Onde é que está a agenda de contato? Como é que pensa a pauta?”. Nosso chefe na época era bastante exigente, o Roberto Appel, que foi quem me contratou. Então ouvi muito o que ele esperava da linha editorial, que é o que eu tenho feito agora na Record, que querendo ou não é um jornal completamente novo. A pegada é essa. Ouvir quem está lá há mais tempo, olhar os colegas que são bem sucedidos. Tem que observar para fazer.

 

Como aconteceu a sua saída da TV Bahia e ida para Record? O que você buscava com essa mudança?

Eu estava de férias da TV. Recebi um telefonema em casa, tinha uma viagem agendada para o dia seguinte, aí foi Fabiano, a pedido do nosso diretor Fábio Tucilho, que falou que gostaria de conversar comigo. E eu perguntei: “Sobre o quê?” e ele respondeu: “Queremos que você venha trabalhar com a gente”. Então marcamos de conversar e acabou que a proposta de fazer um formato diferente, tudo isso seduziu demais. Uma linguagem diferente, um projeto diferente, um jornalismo cidadão, tudo isso que a Record já faz e é reconhecida, além do fato de fazer um jornal sozinha. Foi bacana. Não teve como pensar duas vezes.

Na sua despedida, você disse que estaria indo para um no projeto novo e desafiador. Após esses três meses, como você avalia essa mudança na carreira?

Extremamente positiva. Hoje me vejo muito mais Jéssica, por exemplo, podendo usar o sotaque, uma expressão que as pessoas conversam realmente na rua, é mais normal. Estou mais "olho no olho" com o público da tela. Sinto muito no público na rua também. É um comentário geral: "Agora você está podendo falar, né?" (risos). Isso é gostoso para a gente. Nós do jornalismo temos muito isso de contestar, de ser a voz do povo e lá permite bastante isso. Eles dão carta branca para que nós experimentemos, para que a gente tente novas ferramentas e novas formas de fazer. Se não deu certo, a gente tenta outra coisa novamente. Essa carta branca é gostosa.

 

Na TV Bahia você não tinha essa liberdade?

Não. Lá existe liberdade, mas é mais conservadora. É uma liberdade supervisionada. São dois formatos diferentes de fazer jornalismo. Não é nenhuma novidade. A gente segue à risca uma linha editorial, um formato tradicional. Com menos ousadia. A época que eu trabalhei lá era assim.

 

Você sentiu alguma cobrança ou pressão ao saber que seria âncora num programa líder de audiência?

Pressão não houve. Todo mundo me deixou plenamente tranquila, e isso foi maravilhoso. “Você está aqui para aprender, seu sucesso é nosso sucesso e conte sempre com a gente”. De produção, do cinegrafista, editor, diretor... Tudo foi muito à vontade, foi de uma forma muito natural e respeitosa. A bagagem que eu já vinha trazendo comigo, pelos quatro anos que eu tinha trabalhado em um formato, e para o novo que estava ali exposto para mim. “Vá no seu ritmo, aos poucos o jornal vai ter sua cara, não precisa correr, estamos com você”... É a pegada do pai que bota o filho debaixo do braço. Assim não tem como hesitar, como entrar com medo. Lógico que tem uma apreensão, mas você sabe que em qualquer dificuldade terá alguém no estúdio para apoiar e dar o suporte.

 

É constantemente falado sobre a briga de audiência entre Record TV Itapoan e TV Bahia. As últimas informações dão conta a Record continua em primeiro lugar no horário, mesmo após as mudanças. Para você, qual o diferencial da Record para conquistar bons números de audiência?

É meio que um estudo econômico e sociológico da nossa cidade e do nosso estado. A maioria do nosso público é B, C, D e E. O público A é enxuto. Quando você tem uma linguagem formal de jornalismo, é natural que você fale para a parcela do público A que prefere essa formalidade. Pode ser meio estigmatizado esse meu ponto de vista, mas é o que a gente vê na prática. É natural que, pelo fato da maioria da nossa população seja B, C, D e E, que ela estará com a gente. É a maneira que a Record tem de fazer jornalismo. É o fato de estarmos presentes na comunidade, mostrando os problemas... A forma que a gente cobra. Isso é representação, as pessoas se sentem representadas.

 

No jornalismo ao vivo, sempre há imprevistos. Você já passou por alguma situação difícil ou engraçada durante o programa?

Oxe, um dos primeiros ao vivo que eu fiz para a TVE foi uma festa de Iemanjá. Estava tão nervosa. No barracão onde fica o presente, falaram "vamos ao vivo agora com Jéssica Smetak, que está no Barracão. Olá, boa tarde". Onde é que eu estava? Deu um branco, olhei para o papel não enxerguei nada, engoli seco e devolvi para a redação. Nesse dia eu não pisei os pés na redação. Fiquei lá para fazer a reportagem, entreguei a fita pelo lado de fora que ninguém nem viu minha cara. Mas fazia parte. Eu tinha 21 anos e a TVE é uma parada mais solta, aprenda por si. Chegam umas pessoas que te ensinam, mas é muito de "aprenda você aí". Na TV Bahia foi mais tranquilo, pois eu já tinha aprendido, já vinha com uma bagagem. Questão de pegar mais ritmo com deadline, pois a gente vai pegando numa emissora maior.

Quando você mudou de emissora, como foram as reações das pessoas próximas?

Teve gente que falou: "Oxe, vá! Não pense duas vezes não". E os conservadores disseram: "Você vai trocar o certo por um formato novo?". É natural, também questionei isso dentro de mim. Tinha quatro anos de emissora, ia fazer cinco em junho. Vou trocar o certo pelo que eu não conheço? Como eu não tenho medo das coisas, eu fui e não me arrependo. Tenho certeza que foi uma decisão assertiva.

 

Você resolveu abrir a função de perguntas no insta e recebeu algumas mensagens como: "se der mole eu te pego", "caia na minha vida", "Mulherão da porra, casa comigo?". Como você consegue lidar com esse assédio e quando você percebe que saiu do limite? Você já sofreu algo do tipo no trabalho?

Vou falar o quê? Eu botei de propósito, para fazer gozação. Acho que é tudo perturbação. Nunca sofri assédio em ambiente de trabalho.

 

Mas você já viu na internet comentários de algumas pessoas...

Existe, pois gente ruim existe em todo lugar. Gente bem intencionada e mal intencionada. Depende muito de como você lida com isso. Se você pega uma coisa ruim e se importa? Aí o foco vai para essa coisa ruim. Mas se você vai na brincadeira, aí toma um outro rumo. Foi como foi na cantada, que eu tirei sarro para o pessoal dar uma aliviada na pegada. Depende do ponto de vista que você dá.

 

Atualmente você está apresentando o Balanço Geral numa jornada dupla. Mesmo assim, nas redes sociais, você mostra que mantém a sua rotina na academia. Vi que você treina há 18 anos. Por que decidiu adotar essa rotina de malhação? Foi por questão de saúde? Além da academia, faz outro esporte?

Minha mãe sempre foi uma mulher que gostou de atividade física. Meus pais tem uma academia que eles abriram há 18 anos. Desde pequena eu nadava com meu pai, tipo oito anos de idade. Quando eu tinha 11, eles abriram a academia, que até hoje funciona, a House Fitness em Brotas. Cresci nesse ambiente de academia. Entrava numa sala de ginástica às 16h e só saía às 20h porque meu pai me levava para casa pra dormir que no outro dia eu estudava. Isso foi muito presente em minha vida, e não por vaidade. É por gostar. Me dá prazer demais, correr, suar, é muito gostoso. Hoje em dia faço o crossfit com musculação, corro e também faço spin bike. Você acha que para fazer um jornal desse não precisa de condicionamento físico? Cansa demais. Eu que faço isso tudo procuro oportunidades para me sentar durante o programa.

 

O que há de diferente na Jéssica do início da carreira para a Jéssica de hoje?

A Jéssica da TVE era medrosa, hoje em dia sou uma Jéssica valente. Descobri que quando me proponho a fazer alguma coisa, você não tem que ter medo, você tem que se jogar e fazer. Se aquilo caiu para você, mata nos peitos e vamos resolver. Hoje em dia enxergo isso com muita naturalidade. Antigamente eu tinha medo. É com dificuldade que a gente cresce.

Como é que você pensa o futuro da sua profissão?

Nunca me preocupei com o futuro da minha profissão. Tudo sempre aconteceu antes de desejar ter, por isso me sinto tão abençoada. Entrei na TVE de uma maneira que eu não esperava. Entrei de repórter, virei apresentadora que eu também não esperava. O convite para a TV Bahia veio de forma inesperada. De produção para reportagem, de reportagem para apresentação... Reajuste do salário acontecendo tudo direitinho. E da TV Bahia para a TV Record também, pois eu não enviei currículo para a Record, eu não conhecia Tucilho, então as coisas vêm acontecendo antes de eu desejar ter. É só agradecer e abraçar a oportunidade. Vejo outros colegas de faculdade que se formaram e que às vezes fazem um trabalho aqui e outro acolá, ou que nem estão no mercado de trabalho. Por isso que quando as coisas vêm pra mim, eu abraço e cuido com muito cuidado, porque sei que tem uma expectativa grande de um gestor que me colocou lá dentro e tenho que corresponder.

 

Qual a sua perspectiva ao jornalismo baiano como um todo? Em relação a outros estados...

Eu vou falar pela Record. A gente "tá um pipoco" no Brasil. As audiências aqui no estado estão em nível de excelência. Os outros estados têm nos respeitado muito. Eu percebo isso porque fui para São Paulo, eu e Patrícia Abreu, para recebermos o "DNA da Record". E a Bahia está sendo muito respeitada. Quando você tem audiência, é porque as pessoas gostam do seu trabalho. A nossa reputação está muito boa. Todo mundo recebeu a gente em São Paulo de braços abertos e com respeito. É magnífico.

 

Você acha que outras emissoras estagnaram?

Eu não vejo assim. Vejo que as outras emissoras estão sendo muito pautadas pelo que acontece dentro da Record. "Por que está crescendo tanto assim e o que precisamos fazer para tomar esse público?". Então as redações estão sendo dirigidas pelo que a Record está fazendo.

 

Há um jornalismo mais “policialesco” na emissora que você trabalha hoje com relação à Rede Bahia. De alguma forma, você discute isso enquanto jornalista? De uma eventual exploração da tragédia humana?

Eu tenho um ponto de vista para isso. Acho o termo "policialesco" bastante pejorativo, mas poderia ser sim um jornalismo policial. Se a gente fala para o público da comunidade, então temos que estar na comunidade. Infelizmente é na comunidade que acontece miséria. É lá que o aluno é baleado indo para a escola, é o assalto no bairro, é a rua que está escura, o sequestro que aconteceu no São Cristovão... Então, se a população quer se sentir representada, acaba que a gente mostra isso, não porque queremos, mas sim para a providência que precisa ser tomada. Se fizéssemos para o público A, estaríamos no museu. Infelizmente o público que a gente fala sofre de injustiça social. O que trazemos é no tom de cobrança, e não de criar um espetáculo para isso.

 

A Natália Comte brinca muito que a Record trocou uma Jéssica pela outra. Te incomoda essa comparação com a Jéssica Senra?

É uma coisa repetitiva sim. Aconteceram de ser duas Jéssicas, poderia ser Adriana e Jéssica, Ana Paula, enfim... Quando eu falei com Fábio Tucilho, eu disse: "Fábio, por quê Jéssica? Eu não quero ser peça de jogo de marketing". Mas ele disse "Não. Eu escolhi você por ser jovem, por estar em ascensão, e porque eu sei que você tem potencial para abraçar esse formato diante de todos os outros profissionais de mercado que eu olhei". Ele foi bem franco. Me olhou no olho para falar isso. Mas infelizmente a criatividade das pessoas não vai além disso para interpretar como Jéssica Smetak sendo o potencial que é. Até hoje tem telespectador que não sabe direcionar as coisas. Teve um que colocou no meu Instagram: "Vá trabalhar que você não está batendo suas metas na TV Bahia". Eu disse que estava na Record e falei para ele ir assistir TV.

 

Te incomoda?

Não incomoda. Eu tento compreender que a percepção da pessoa só vai até aquele ponto. Eu sou bem pacífica, não gosto de criar polêmica.