Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Radialista e ex-vereador, Guerrilha lembra 'pior momento' no rádio e promessa após demissão

Por Júnior Moreira / Pascoal de Oliveira

Radialista e ex-vereador, Guerrilha lembra 'pior momento' no rádio e promessa após demissão
Foto: Priscila Melo / Bahia Notícias

Ouvir de um radialista a frase “eu não dispenso o meu radinho” não causa surpresa em ninguém. Principalmente se ela for dita por um comunicador apaixonado pela profissão como Leandro Guerrilha. Palestrante, cantor, batuqueiro, compositor de bloco, e até mesmo político, o radialista conversou com o Bahia Notícias sobre sua longa trajetória no rádio e apontou o que é preciso para atuar nesse meio de comunicação. “Eu descobri que não é só o talento, é estudo. É acompanhar pesquisa, conhecer o ouvinte que está do outro lado, quais são as palavras que ele está buscando e o que ele quer do rádio. Hoje é muito mais conteúdo do que somente música”. Com passagens por emissoras como “Nova Salvador”, “Tudo FM” e “Itapuã FM”, Guerrilha leva consigo o entendimento de que o papel do rádio não é ser sensacionalista ou tendencioso, mas sim objetivo e ajudar seus ouvintes. “Desde quando o rádio surgiu, ele tem duas funções: informar e fazer as pessoas sonharem”, explicou. Trabalhando também na Câmara Municipal de Salvador, o ex-vereador defendeu que seu "fazer político" não terminou com o fim do seu cargo. “Me sinto um agente político no rádio [...] Com ou sem mandato, você continua fazendo política”. Confira a entrevista completa: 

 

De início, gostaria que você resumisse: como começou sua história no rádio?
Bom, eu comecei no ano de 1993, sou de Salvador. Fui trabalhar no interior do estado, Sul da Bahia, em uma rádio chamada “Ubatã FM”. De lá para cá comecei no rádio através da música. Entrando no estúdio de rádio, na entrevista, eu cantava blocos de percussão da Liberdade, então me apaixonei. [Eu disse] “é isso o que eu quero fazer da vida”, e me tornei radialista. Então a partir daí tudo o que eu consegui, tudo o que eu tive na minha vida foi através do rádio. A política, fui vereador, entrei na militância política... Os conteúdos da minha vida, as músicas, continuo cantando, sou palestrante... lancei um livro recentemente chamado “O Segredo da Alegria”, tudo voltado para a positividade. E no rádio encontrei uma linha de só levar pensamentos e atitudes positivas para as pessoas. A minha linha editorial é de falar das coisas boas pela manhã. Faço isso desde sempre, é encontrar positividade, alegria, uma forma leve... A verdadeira função do rádio, em minha opinião, é fazer as pessoas sonharem. Desde quando o rádio surgiu, ele tem duas funções: informar e fazer as pessoas sonharem. Então, há 25 anos a gente toca essa missão de levar conteúdos de mensagens, músicas, história e alegria no rádio.

 

Você falou que é um cara do rádio, e as pessoas sabem disso. Mas, como e quando surgiu esse interesse?
Desde sempre. Minha mãe ligava o rádio e eu gostava muito mais de ouvir os comunicadores falando do que a música. Ficava imitando os comerciais na televisão também, os comunicadores. E quando eu via qualquer coisa voltada para estúdio eu ficava encantando pela música, né? Então eu gostava de estúdio. E o meu sonho era ouvir a minha voz no rádio. Eu imaginava que fosse cantando. “Ah, eu vou cantar, vou ser cantor”, por causa da linha artística que existia na Liberdade, no bloco. Só que quando eu falava, eu saía muito melhor do que cantando nos blocos. Eu fui batuqueiro, compositor de bloco, e quando eu entrei no estúdio era um encontro daquilo que eu imaginava. “Na verdade, o que eu quero fazer na vida é ser radialista”, foi dessa forma que o rádio me pescou. O estalo foi quando eu entrei no rádio que vi todo o equipamento, sabe? Como aqui na redação. Imagine um jornalista quando entra aqui? “Ah, quero trabalhar como jornalista. Quero ser do Bahia Notícias.” Foi o que aconteceu comigo. Três anos depois peguei minhas coisas e me mandei para uma oportunidade no Sul da Bahia e até hoje, graças a Deus, consegui passar pelas principais emissoras de Salvador. 

 

Você já teve vontade de ir para outra profissão?
Não, nunca. Fiz faculdade, sou jornalista, estou estudando a pós-graduação em Psicologia. Quero fazer várias especialidades, mas nunca deixar o rádio. Uma das coisas que me motiva pela manhã é saber que eu irei para o estúdio, me comunicar com o público, ainda mais hoje, que essa questão da internet, das redes sociais, aproxima muito. Sou apaixonado pelo ser humano, sou apaixonado pelo que a outra pessoa sente. Hoje eu não faço programa só na rádio, eu saio da rádio, continuo conversando com meus ouvintes, mando conteúdos, faço programas na internet também. Eu tenho uma rádio online criada desde 2004, “Alegria Tem Nome”. Talvez seja a rádio [online] mais antiga que tenha... É uma rádio que começou no quarto da minha casa, logo quando eu vi a possibilidade de através do streaming de botar conteúdo, meus conteúdos.

 

 

Essa rádio vincula o quê?
Rádio normal, rádio comercial. Notícia, música, entrevistas, tem portal, tem tudo. Agora, ela é muito voltada para as minhas coisas. É a rádio que eu faço como eu imagino uma rádio. É o meu sonho, porque quando você vai para uma rádio, tem que tocar músicas que às vezes não é de seu agrado, tem que dar notícias que às vezes você é forçado a dar pelo momento... Na minha rádio eu faço aquilo que tenho vontade.

 

Como é “aquilo que você tem vontade”?
Alegria, positividade. Falar de coisas boas, de conscientização. Eu não sou muito fã de sangue, tragédias, sensacionalismo. Hoje, graças a Deus, as pessoas estão mais conscientes, falando mais sobre política. Estão mais preocupadas, inclusive [os leitores] do Bahia Notícias, com a situação da Lava-Jato do que com Copa do Mundo. Há uma mudança de comportamento, uma mudança de paradigma. Quebra de paradigma, né? Graças a Deus. Em outras épocas: Copa do Mundo, Seleção Brasileira, esquece tudo! E se o time for campeão, então está tudo certo, tudo maravilhoso. Hoje as pessoas estão mais preocupadas com o momento atual, com a sua situação, a situação da família, a situação de casa, graças a Deus.

 

O que você mais gosta de fazer na rádio?
Levar alegria às pessoas. Quando eu percebo que eu posso, através de uma fala, de uma coisa de efeito, fazer alguém sorrir e ter a resposta das pessoas. Me dá mais satisfação se uma pessoa me disser: “poxa, você falou aquilo e salvou minha vida, eu estava numa depressão, você me botou aquela mensagem, você deu aquele conselho”. Eu tenho um quadro de conselhos chamado “Minha Vida É Uma História”, no qual as pessoas mandam carta para mim e eu dou conselhos sobre a vida delas, sobre relacionamento familiar ou amoroso, para o povo que enfrentou alguma situação difícil. Então, [alguém] dizer que através da minha voz, da minha mensagem, conseguiu superar aquela situação, é o que me dá mais satisfação, é o oxigênio que me dá diariamente para ir ao rádio. 

 

Você já passou por diversas rádios como “Nova Salvador”, “Tudo FM” e “Itapuã FM”. Como essas estações somaram na sua vida profissional?
Eu aprendi com cada um dos profissionais e eu tive a felicidade de trabalhar com os melhores. Aprendi com cada um. Sempre que me perguntam quem sou eu como profissional eu digo que “sou um pouquinho de cada um com quem eu trabalhei”. É pra isso que servem as relações, né? Você trabalha com alguém que você aprende. O que fazer, o que não fazer. Você pode também ensinar alguma coisa. E hoje cada vez mais muitos jovens no mercado de trabalho, especialmente jornalistas, radialistas. Você consegue trocar essa experiência, o contato humano é a marca, né? São pessoas. E trouxe amigos em todas as emissoras onde passei. Amigos mesmo, de sair, de jantar, de conversar, sou padrinho de casamento de um, sou compadre de outro, jogamos bola, torcemos todos pro mesmo time. Essa amizade que ficou com cada profissional que eu trabalhei. É o que mais me fascina de ter passado nas rádios. Quando a gente sai e deixa portas abertas. “Ah, entrei no rádio por causa de você, aprendi isso com fulano”. É muito legal o que você pode deixar, é o que a profissão nos dá de bom.

 

Seu nome hoje é associado com a liderança de audiência, como uma marca. Como é ter isso? A que você atribui isso? 
A muito trabalho. A muito amor. É como eu te falei, eu não faço somente aquelas três horas na rádio, eu faço comunicação com o meu ouvinte o tempo todo. Até em casa, respondo a uma dúvida... Respondo a um questionamento familiar, uma dúvida sobre trânsito, sobre a área de saúde... As pessoas estão sempre me procurando e eu estou sempre conectado com elas, então isso é confiança. E talvez eu seja um dos poucos profissionais que consegue levar a sua audiência de uma rádio para outra. Isso é que me dá satisfação, porque isso é uma responsabilidade. Hoje eu sou muito mais que um radialista. Hoje eu me sinto mais como um agente social, que através do rádio melhora a vida das pessoas. E elas sentem gratidão em sintonizar e saber que vão me encontrar ali. Quando eu não vou para a rádio trabalhar [as pessoas perguntam] “você está onde?”, “está fazendo o quê?”, “por que não foi trabalhar hoje?”. Graças a Deus que tem o meu CD, o meu livro, a rádio online e que aos domingos as pessoas podem me acompanhar. Mas, se eu pudesse, ficaria o tempo todo lá, 24 horas conversando com eles. 

 

É uma coisa que te dá muito prazer.
Amo. Eu nasci pra fazer rádio. Eu nasci para me comunicar. Não imagino a minha vida fazendo outra coisa a não ser rádio. Eu posso fazer o que for, mas rádio tem que estar sempre no meio. 

 

A sua trajetória é composta por rádios muito populares. É difícil fazer rádio popular e agradar a níveis tão grandes?
Quando você busca fazer o seu trabalho com amor, com dedicação, o resultado é natural. Basta você fazer com naturalidade. Através de muito estudo, eu tive que me reinventar quando fiquei desempregado. Eu descobri que não é só o talento, é o estudo. É acompanhar pesquisa, conhecer o ouvinte que está do outro lado, quais são as palavras que ele está buscando, o que ele quer do rádio. Hoje é muito mais conteúdo do que somente música. Um profissional que quer ter resultados, primeiro tem que avaliar o que você tomou do seu último trabalho. Todos os dias você tem que fazer uma avaliação e ser melhor a cada dia. A responsabilidade de estar em grandes emissoras é que a exigência é sempre maior. Você tem que estar sempre dando o melhor de si. Eu coloquei na minha cabeça que onde eu passasse eu seria no mínimo a maior audiência da rádio. E isso foi refletindo no município, no estado. Eu sou muito ligado a números, eu sou muito ligado a resultados.

 

Você se considera competitivo?
Sou. Cobro de mim mesmo. Quero estar sempre melhorando. Você viu que a gente chegou aqui falando de “como é isso, como é aquilo?”, então tenho que estar sempre antenado. E o profissional não pode ficar parado, né? Quem fica parado é melhor pegar a chuteira, pendurar e ir para casa. Quem quer trabalhar em qualquer setor tem que estar sempre quebrando os seus limites, quebrando os seus recordes, melhorando a cada dia e entendendo o momento de cada situação. Hoje o rádio divide o bolo de audiência com sites, com rádios online, com a música, com tantas coisas. A rádio hoje está maior, você encontra um maior número de rádios, graças a Deus. Outros veículos [estão] fazendo música também, é por isso que está se reinventando. Senão, você acaba ficando para trás. 

 

Esse é o conselho que você daria para a galera nova? Sempre buscar e se reinventar para se manter no rádio?
Primeiro é o talento, não é? Você tem que ter o seu talento. Tendo talento, vai lapidar a cada dia. Não pode achar que tá bom, achar que é melhor. Saber que você pode aprender com outros profissionais, se espelhar em outros profissionais, ouvir outras praças, saber o que é que o jovem está querendo, quem está ouvindo a rádio. Se é o publico masculino, feminino, qual classe está ali ouvindo, onde você está sendo ouvido, acompanhar as medições... isso ajuda, são ferramentas. A informação está aí pra todo mundo. A diferença é o que você faz com as informações. E eu sou apaixonado por informação. Qualquer informação que me traga sobre IBGE, números, quem está ouvindo, como é que está o rádio. Especialmente [se for] na minha área, que é o radio, me interessa e talvez essa seja a diferença. Conhecendo fica mais fácil de você desenvolver um trabalho com excelência. Talvez por isso meu nome seja bem lembrado quando diz respeito a isso. E conteúdo. O que o ouvinte quer? O que o ouvinte busca?  O que ele está esperando de você? Tudo isso são perguntas que sendo respondidas, o resultado com certeza vai ser positivo.

 

Você falou que em 2001 passou por um momento em que você ficou desempregado, como isso aconteceu?
Foi o pior e o melhor momento da minha vida. 

 

Por quê?
Porque estava justamente nessa linha de achar que radialista era chegar, ligar microfone, e quando acabasse o horário, desligar. Acabou, não existe mais. 

 

Onde você estava quando isso aconteceu?
Eu estava na “104 FM”, trabalhava no grupo “A Tarde”. E justamente quando a rádio trocou o modelo, a gestão, foi quando eu fui demitido pelo meu melhor amigo. Imagine? O meu melhor amigo teve essa missão de me demitir.

 

Ele é seu melhor amigo até hoje?
Até hoje. Leleco Júnior, que é um profissional que é o meu espelho. A gente tinha um sonho de renovar a rádio, de melhorar o estúdio, a estrutura. Brigávamos por isso e, quando isso aconteceu, eu fui demitido. Talvez a minha frustração tivesse sido aquela, “poxa, lutei tanto pra conseguir isso aqui e tô sendo tirado desse sonho”. Mas depois eu entendi que eu precisava melhorar, eu precisava arriscar tanto no relacionamento com as pessoas quanto com a minha profissão. O que foi que eu fiz? Chorei o dia todo, fiquei imaginando e aí disse: “Eu sou um bom profissional, tenho talento, agora eu preciso me reinventar”. Aí fui estudar, fiz uma faculdade, fui procurar como ser um profissional que não seja demitido. A partir dali eu prometi que eu nunca mais seria demitido. Vou demitir a empresa. Então foi isso que aconteceu. Melhorei, acertei os pontos que precisava na minha carreira, tive uma oportunidade. Fui para a “Itapuã FM”, voltei para a “104 FM” e de lá, pedi demissão quatro anos depois. Em todos os lugares pelos quais eu passei, sempre fui buscar um lugar melhor para trabalhar. “Não está bom aqui? Vou para outro.” Então graças a Deus eu consegui até hoje não ser demitido mais. E espero que não aconteça isso [de novo].

 

Você acha que os radialistas profissionais que escolhem trabalhar com o foco no popular sofrem preconceito por rádios tidas como mais adultas?
Hoje se confunde muito o que é rádio popular e o que é rádio adulta. Não tem como você tirar uma definição. Uma rádio que toca mais música classe A... você consegue atingir a mesma faixa-etária, de 25 a 45 anos. Então tem uma confusão aí, uma grande confusão, sobre rádio popular e as chamadas classes A, B e C. Graças a Deus, hoje, o que o ouvinte quer é música de qualidade. O ouvinte busca mais informação, ele quer mais conteúdo. Mas é lógico que quem trabalha numa rádio classe A, que tem mais notícias, precisa ser mais informado. Você fala com um público mais exigente a título de dicção, de você estar antenado e informado. O que não significa que quem trabalha em uma rádio popular também não tenha esse conteúdo, apenas ele não consegue, pela linha editorial da empresa que ele trabalha, expor esse tipo de conteúdo que ele pode oferecer para os ouvintes que acompanham [a estação]. Mas hoje em dia está muito igual, está muito nivelado. O que diferencia um profissional do outro é a capacidade que ele tem de lidar com as informações, de se comunicar. Hoje, graças a Deus, os profissionais estão estudando mais, até porque muita gente boa entrou na rádio. Muita gente nova já veio com informação. Antes era só talento. Antes você tinha uma voz bonita, hoje não. Você tem que estudar, [fazer] faculdade, cursos, tem que ser uma pessoa que investe na sua profissão. O nível hoje está muito melhor. A gente tem um nível de pessoas com a cabeça muito mais voltada para resultados, e isso é muito interessante. 

 

Qual o seu maior desejo enquanto comunicador? O que você quer passar às pessoas quando está trabalhando?
Meu desejo é ver notícias boas acontecendo no dia-a-dia. Pessoas entendendo mais o seu papel na sociedade. Ver os profissionais ainda buscando ser melhor a cada dia, respeitando o ouvinte. Respeito ao ouvinte. Tanto da parte do empresário, tanto da parte de quem atende ao telefone. O meu sonho é ter o rádio muito próximo ao ouvinte. É não ter essa ideia de que quem ouve rádio popular é apenas empregada doméstica. O advogado também me ouve, a juíza também me ouve, o empresário, médicos, políticos, deputados estaduais e federais também me ouvem. Antigamente existia uma cultura de que quem ouve rádio popular é apenas aquela pessoa que trabalha em casa de família, a chamada emprega doméstica. Isso era uma falta de respeito. O rádio é consumido por todas as classes sociais. Seja no carro, seja no seu telefone, smartphone ou onde for. Eu acho que saber pra quem você tá falando é o meu sonho. Ver um público igual sendo ouvido, porque hoje o ouvinte precisa também participar e ser cortejado por todos. 

 

Em recentes entrevistas feitas pelo Bahia Notícias com radialistas, como Jefinho e Adriana, a longevidade do rádio foi defendida. Acreditam que ele nunca perderá a majestade. E, além disso, há essa discussão sobre as novas tecnologias, se ajudam ou não o rádio. Como você percebe isso? Você concorda que o rádio tem o seu lugar garantido e que independente das coisas novas que chegam, isso não muda? Acha que temos que ter um cuidado maior, pensar em estratégias? Como você vê o futuro do rádio?
Nós precisamos sim. O momento do rádio é muito bom. Pesquisas recentes dizem que mais de 90% do público no Brasil consome o rádio. Ele é o melhor e mais rápido meio de comunicação. Mas isso por si só não basta. Hoje a velocidade que as coisas se transformam é muito rápida. Você está lá no topo, amanhã você pode estar caindo e isso é público e notório. Quem faz os rádios são os profissionais, são as pessoas, são os empresários. Os empresários precisam olhar com mais carinho para as emissoras. Os profissionais precisam estar cada vez mais capacitados e entendendo o modelo. O rádio é único. Pode, um dia, como em alguns países, terminar a forma de transmitir o rádio, como já acontece em alguns lugares onde não tem mais frequência modulada. Estamos agora com a migração do AM para o FM. Em pouquíssimo tempo, a tendência é que o AM acabe. Já tivemos a OC, ondas médias, ondas curtas... Daqui a alguns anos pode ser que a frequência modulada não exista mais, mas o rádio sempre vai existir. A forma de se comunicar é que está mudando. As pessoas precisam entender que hoje não é só no aparelho que as pessoas ouvem. Hoje não é só a voz, é imagem também. Então a grande preocupação é essa, é como você vai fazer o seu rádio. Você vê programas hoje com estúdios de rádio. Transmitindo rádio e televisão. Hoje o rádio tem imagem também. Daqui a uns dias pode ser que as pessoas queiram só assistir TV e rádio. Podemos voltar a ouvir. Eu não dispenso o meu radinho.

 

 

Você acha positivo o advento dessas novas tecnologias?
Adoro! Acho importantíssimo. Porque antes era só uma comunicação de mão única. Eu falava, você ouvia e pronto. Eu não sabia que emoção você estava [sentindo] do outro lado, como você estava. Hoje você quer ser ouvido, e se eu falar alguma bobagem você vai me questionar. Se eu disse coisas boas você também vai me elogiar. Então essa é a grande dinâmica do rádio. Estar mais próximo do ouvinte. E esse é o segredo. O rádio vai continuar. E o modelo de rádio que sobreviver é o que entender de uma vez por todas essa troca. É uma sinergia. Eu falo, você escuta e também fala. É uma troca. 

 

É um jogo compartilhado?
É um jogo compartilhado. Não é mais somente eu estar em uma cabine falando e do outro lado uma pessoa. Tem muitas pessoas [que] não ligam, não mandam e-mail, não mandam carta, não telefonam, mas estão ouvindo. Hoje as pessoas têm WhatsApp, têm o telefone, as pessoas têm os e-mails, as pessoas têm o Instagram, tem toda uma forma de se comunicar, de dizer: “olha, estou aqui e gostaria de registrar minha audiência, eu sou importante, você é importante para mim”. E trabalhar com verdade, as pessoas sabem quando você não está dando uma notícia de verdade, quando você não está cuidando do produto rádio. É que nem você escrever um texto. Quem lê o seu texto e percebeu alguma coisa que não convença, vai dizer “esse profissional aqui eu não vou mais consumir. Eu vou consumir aquele que tem cuidado com o produto”. O produto rádio precisa de muito cuidado. Graças a Deus só está até hoje do jeito que está porque tem bons profissionais sendo inseridos ainda, como eu que tenho 25 anos, dentro do rádio.

 

É muito louco pensar essa relação das pessoas com o rádio. Quando eu penso em rádio eu penso como algo muito familiar...
Rádio é família. Seus filhos, sua esposa, vão ter a mesma lembrança. Só que agora no fone de ouvido. 

 

E hoje em dia o engarrafamento é o momento em que a gente mais está consumindo rádio.
No trânsito de Salvador, quando você está de noite estudando, quando você está triste, você ouve rádio para se alegrar; se você quer se informar você liga o rádio para ser informado... é o melhor veículo. E o mais dinâmico, mais rápido. 

 

Falando um pouco de política, você e Kiki Bispo saíram juntos do PDT, após o partido deixar a base de Neto. Hoje, você está um pouco longe da política. Mas você ainda apoia ACM Neto?
Eu continuo na política. Trabalho diretamente na Câmara Municipal com Léo Prates, inclusive instalando a Rádio Câmara. Nós somos responsáveis pela instalação da rádio, que vai aproximar a população do Legislativo municipal. Sou da base do prefeito ACM Neto e nós vimos que com o partido em que estava não haveria a possibilidade de continuarmos juntos por conta de ideologias partidárias. O PDT saiu da base também e fomos para outro partido. O que aconteceu? O que pode acontecer em qualquer linha de democracia: tive mais votos que na primeira eleição, mas não consegui me eleger. Mas, fiquei muito feliz porque o prefeito teve mais que 70% da votação. Fizemos uma campanha para o prefeito ACM Neto. Kiki Bispo me representou muito bem no partido, ainda sou do PTB. E a qualquer momento ainda podemos voltar aí como vereadores de Salvador, porque continuamos na militância. E como falei, eu ainda me sinto um agente político no rádio. A conscientização, as pessoas ligam denunciando onde não tem iluminação, onde está faltando água, posto de saúde que não está funcionando, onde está tendo assalto, onde não tem ônibus... A gente continua ainda fazendo essa política positiva. Eventos para as famílias, que é a minha bandeira. Acredito que política, quando você entra, é que nem o rádio: você jamais deixa de fazer. Com ou sem mandato, você continua fazendo política porque a ela está em tudo na nossa vida. Graças a Deus que as pessoas estão mais conscientes hoje.

 

O que você achou da desistência dele para candidato ao governo do estado?
No meu íntimo, no meu pensar, nunca me convenci de que o prefeito ACM Neto fosse ser candidato a governador. Primeiro, ele tem um compromisso com a cidade. Um sentimento de cuidar. ACM Neto é apaixonado por Salvador. Então eu acho que Bruno Reis, que está na sua vice [liderança], ainda vai ser um excelente quadro para substituir ACM Neto. Ele tem ainda muito que contribuir, para mim não precisa ter pressa. Eu, na posição de ACM Neto, digo que ele fez o correto, mesmo tendo criado muita expectativa e o desejo que ele se lançasse, colasse o seu nome. Mas ele não iria abrir mão de um projeto para ser governador. Tudo tem o seu tempo. Na hora certa ele vai colocar o nome à disposição para o governo.

 

Você continua na base do prefeito ao mesmo tempo em que é comunicador. Você acha que ter uma bandeira política te atrapalha como comunicador em algum lugar?
Me ajuda. Me ajuda porque nós nunca tivemos medo de falar com as pessoas, de olhar nos olhos das pessoas quando vem com questionamentos. Política tem os seus lados, suas ideologias, e eu faço a política do bem, a política das coisas certas, do que é correto. Nunca tive nenhum problema de chegar na câmara municipal e fazer um discurso contra alguma atitude do prefeito ACM Neto. Como fui, por exemplo, contrário à questão do IPTU, como fui favorável ao aumento do plano de salário dos professores, quando fui exigir do prefeito que nós tivéssemos uma Operação Chuva o ano inteiro. Então, graças a Deus, a minha relação com o eleitor, o ouvinte e a política sempre foi de maneira pacífica, tranquila. Mas nunca atrapalhou, ao contrário, ajuda. Porque eu posso no rádio ampliar os desejos da comunidade. Toda vez que eu vou numa comunidade e lá eu ouço uma reclamação, eu posso externar isso na rádio, que me permite fazer isso sem nenhum problema. Eu que não abuso. Mas toda vez que sinto necessidade de criticar uma linha de transporte ou o governo estadual por não ter segurança em algum lugar, ou a Embasa porque falta água em algum local, a gente faz isso com toda tranquilidade. Ajuda, porque o comunicador não tem nada a ver com o político, com o vereador. 

 

E você deseja voltar a concorrer a algum cargo do tipo?
Sim, a gente tá planejando. Eu espero que até a próxima eleição para vereador, que acontece em 2020, eu dispute a eleição. Mas espero que quando chegue lá, eu já esteja, como já sou suplente, com o cargo de vereador. É como eu falei, o quanto eu puder contribuir com as famílias, seja com mandato ou sem mandato, eu estarei aí sempre. E o meu público não esquece de mim, porque onde eu vou, eles falam: “olha, estou com você, estamos juntos, onde você estiver”. Assim como eles me acompanham na rádio, eles me acompanham também na política. 

 

Para finalizar, qual foi a sua maior experiencia dentro do legislativo municipal?
Maior ou melhor?

 

Maior, mas pode ser melhor também.
Minha maior experiência foi quando eu fui a Brasília, quando fomos justamente tratar da migração do AM pro FM no rádio. Quando eu fui discutir também o plano de cargos e salários para os profissionais de rádio, o piso único, que é um sonho dos radialistas, a questão de ter uma carteira nacional, de ter vantagens em Brasília para o reconhecimento dos profissionais, a manutenção do RPR, que é o Registro Profissional para Radialista. Porque assim como fizeram infelizmente para os jornalistas, ainda tentam tirar a obrigatoriedade de quem trabalha no rádio ter o registro profissional. Isso me deixou muito feliz. Também quando eu pude aprovar na câmara municipal o reconhecimento das rádios comunitárias. O serviço de autofalante - que é um projeto nosso - me deu muita felicidade. Me deu muita felicidade quando eu pude entregar a Charles Fabian, que fez um trabalho maravilhoso no Sport Clube Bahia, [o título de] cidadão de Salvador para ele, que é da cidade de Itapetinga. E quando eu fundei a Comissão da Família. Ter uma comissão da família dentro da câmara municipal discutindo as vontades da família, falando da necessidade de trazer vantagens e olhar para todas as pessoas, para as famílias carentes de Salvador, que são muitas, me deu muita alegria. Valeu a pena passar por tudo, valeu a pena me afastar meses, fazer campanha, ouvir tantas coisas, ouvir tanto xingamento... Colocar em cheque, né? Valeu a pena, graças a Deus, e eu fui muito feliz enquanto vereador. E tenho saudade. 

 

Há algum assunto que não tocamos e que você acha importante falar?
Falar sobre como o rádio é importante na vida das pessoas. Como o rádio está nas casas, [nos aparelhos] de quem está indo para a faculdade, para o trânsito, que está triste, que está precisando ouvir uma palavra amiga, ouvir uma música pra te alegrar. E também a valorização da nossa cultura, da música. Como é bom saber que nós temos um veículo que faz com que a estima do baiano seja sempre elevada com alegria. E que nós tenhamos essa consciência de que o rádio é imbatível, é o melhor veículo de comunicação. Portanto, você que está lendo essa matéria agora, ligue o seu rádio, acompanhe, conheça a sua cidade através do rádio, conheça suas músicas, seus políticos e compartilhe a música. Porque música é o que dá o tom da vida, embala nossa vida.