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Entrevista

'Locutora Mais Amada da Bahia', Adriana fala do futuro do rádio: ‘Não perde a majestade’

Por Júnior Moreira / Pascoal de Oliveira

'Locutora Mais Amada da Bahia', Adriana fala do futuro do rádio: ‘Não perde a majestade’
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Se a carreira da radialista Adriana Silva fosse resumida, provavelmente o documento não teria poucas páginas. Ao longo dos 22 anos de profissão, a apresentadora começou sua trajetória aos 16 anos e se tornou um dos principais nomes das rádios baianas. “Meu objetivo maior é chegar naquele ouvinte e conquistá-lo através da minha voz”, explicou a comunicadora, que se considera “uma verdadeira cigana” quando o assunto é rádio. Ao Bahia Notícias, a “Locutora Mais Amada da Bahia” – apelido dado pelo público e pelos colegas de trabalho – relembrou períodos marcantes da sua história, como quando perdeu a voz, e avaliou o futuro do seu campo de atuação: “Eu acho que o rádio nunca vai acabar. Ele é um veículo importantíssimo e, mesmo com todo avanço da tecnologia e das redes sociais, acho que o rádio ainda encanta”. Além disso, Adriana, que já conquistou vagas concorridas e que sempre foram ocupadas por homens, garantiu que ser mulher e negra não dificultou seu percurso no meio de comunicação que tanto ama. “Sempre conquistei todos com a minha voz. Aonde eu chegava, não viam a cor, não viam a mulher”, contou. Ainda nessa temática, a radialista, que atualmente pode ser ouvida tanto na freqüência AM como FM pela Rádio Sociedade da Bahia, fez questão de encorajar as mulheres que possuem interesse pela área. “Não tem que ter vergonha, tem que encarar porque o espaço dá para todo mundo”.

 

Você sempre quis ser locutora?

Meu amado... Primeiro que eu sou uma paulista que parou aqui na Bahia, especialmente em Itabuna, no interior. Meus pais vieram e eu peguei a carona [risos]. Eu sempre gostei de rádio, mas nunca pensei em estar em uma rádio. Mas aí, um amigo em comum da família chegou lá em casa e fez assim: “Eu ouvi uma rádio que precisa de uma moça maior de 18 anos e que tenha noções de inglês”. Eu só tinha noção de inglês, mas tinha pouca idade. Ele disse: “vai lá fazer um teste”. Eu disse que não, que eu não iria passar, mas aí eu fui. Foi uma negação, não passei logo de cara. Fui para casa, chorei, e uma semana depois me ligaram e disseram: “olha, tem uma vaga aqui e tem uma menina e você. Quem pegar a mesa primeiro passa”. Eu ia de manhã, de tarde e de noite. Passei em primeiro lugar, peguei a mesa, fiz o teste, passei e comecei na hora certa, com muita alegria. Os vizinhos e meus pais falavam que me ouviam. Minha mãe me levava todos os dias porque eu era menor de idade. Foi gratificante demais porque eu me descobri, lá em Itabuna, e consegui estar em uma rádio. 

 

Você já tinha inspirações naquela época? 

Sempre gostei de rádio e sempre quis ser alguma coisa envolvida com rádio e notícia. Começava a cantar em casa, colocava Maria Bethânia, um vestido longo, cabelo armado... era uma doçura, uma alegria. Eu falava que um dia eu iria estar [na rádio] e aí comecei. 

 

Como foi a sua trajetória até aqui? 

Uma verdadeira cigana. Na rádio de Itabuna, eu consegui fechar a primeira rádio da minha vida. Quando eu falo fechar, é porque a rádio faliu. Era a Musical FM, de um grande amigo, que hoje mora em Salvador. Eu consegui fechar essa rádio, mas fechei com muito carinho. Ele disse: “Olha, só vai poder ficar até hoje na rádio”. Depois, fui para a Gabriela FM, de Ilhéus, conheci o povo de lá e fiquei naquela região Sul, sempre como locutora. Eu queria ir mais adiante e fui chamada para a Ubatã FM, na cidade de Ubatã. Ficando em Ubatã, me chamaram para Jequié. “Venha para a cidade do sol”. Fui para Jequié, fiquei lá e me deu saudades dos meus pais. Eu queria voltar para Itabuna. Lá, abriu uma rádio da TV Bahia e eu falei: “como é que faz para chegar nessa rádio?”. Liguei para minha mãe e falei para ela ver como eu poderia fazer aquele teste. Fui, fiz o teste e passei em primeiro lugar. O teste tinha trinta homens e eu era a única mulher. Passei nessa rádio e inaugurei a Bahia FM Sul. Permaneci lá por cinco anos, mas eu queria conhecer Salvador. Não conhecia ninguém, mas falei que um dia iria conquistar Salvador. Todos os artistas que iam ao Sul da Bahia eu tentava falar porque ali era o meu passaporte. Mas eu não conhecia. Aí, um grande amigo meu, Beto, ia me levar. Ele disse que eu tinha uma voz bonita aí vim para onde era a Salvador FM. Fiz um teste lá, eles gostaram, mas eu não poderia porque eu estava cumprindo aviso prévio na Bahia FM Sul de Itabuna, aí perdi a chance. Mas, como a empresa era da TV Bahia, me chamaram para a Globo FM. “Você quer fazer um mês de férias?”. Vim para férias e fiquei um ano. Foi quando abriu a Tropical Sat, que era mais popular e a minha cara. Na Globo FM, eu só falava: “Para quem gosta de música [risos]”. Fui para Tropical Sat, que era uma rede que pegava no interior todo. Mas aí eu falei: “Ah, eu quero ir para a Band FM”. A Band FM ainda não era notícia, era música. Também permaneci lá. Depois, fui para a rádio Excelsior AM, e para a Itapoan FM, onde fiquei sete anos. Chegou uma hora que eu falei: “Ah, eu quero ir na rádio que é número 1°, que é a Piatã FM”. A rádio, que nunca teve uma mulher, me chamou. Fiquei na Piatã FM, onde fui programadora, fazendo a programação de toda a rádio, além de ter meu horário de meio-dia às três. Depois passei das 18h às 22h com o programa Noite do Prazer. Aí eu falei que queria falar na rádio AM, que era meu sonho. Aí quis ir para a Rádio Sociedade, onde permaneço nas duas sintonias, AM e FM. 

 

Você é conhecida como a “Locutora Mais Amada da Bahia”. Qual a história desse apelido?

Acho que por sempre ser carinhosa sinto que tenho muito carisma. E eu sempre chamava [as pessoas] por amada ou amado, ai foi pegando [risos]. Se eu chego em algum evento, eu vejo o artista e falo: “Olha a amada”. Eles já me conhecem como a amada. Adriana chegou quer dizer que a amada chegou. Começou a pegar, como um bordão. 

 

Dos vários momentos da sua carreira, você se recorda de algum em especial? 

Acabei falando de Itabuna e lá eu fazia, na TV Santa Cruz, um programa de variedades. Minha voz era o carro chefe desse programa. Eles se perguntavam de quem era a voz do programa e um dia fizeram uma entrevista [comigo]. Eu nunca quis aparecer, eu queria ser Lombardi. Me chamaram, eu apareci e foi muito emocionante. Quando você está no rádio, as pessoas só conhecem a voz. Quando eu fiz a entrevista e apareci, senti o quanto minha voz faz bem e o quanto minha voz chegava até a casa do ouvinte ou no hospital onde a pessoa estava internada. Aquele dia foi muito emocionante. Eu levei do rádio para a imagem e senti o carinho tão grande das pessoas que eu falei: “é isso que eu quero para a minha vida toda”. 

 

E dos entrevistados? Qual foi o que mais te marcou?

Ai meu Deus, são tantas pessoas, conquistei muitas pessoas. Até artistas que viraram amigos. Mas um [período] especial, que nem eu e nem ele gostamos muito de falar, foi quando eu perdi a minha voz. Essa pessoa falou: “eu vou cuidar de você”. Eu já o conhecia antes, foi Tayrone. Sempre quando ele vai fazer uma entrevista comigo eu me emociono todas as vezes. 

 

Por que você perdeu a voz?

Eu tive um problema com pus na garganta e a minha voz sumiu, de repente. Eu fiquei muito debilitada, um mês de cama. Faz uns cinco ou seis anos. Ele [Tayrone] foi essencial nessa melhora. Ele me indicou otorrinos, fonoaudiólogos. Sempre que o encontro tenho um carinho especial demais. 

 

Foi difícil começar a trabalhar no rádio sendo mulher? 

Nunca tive problemas por ser mulher e por ser negra. Sempre conquistei todos com a minha voz. Aonde eu chegava, não viam a cor, não viam a mulher. Mas até hoje sinto poucas mulheres presentes. Os homens me tratavam muito bem, as pessoas me tratavam muito bem. Por incrível que pareça, nunca tive problemas com relação a ser mulher e a ser negra. Sempre fui muito bem recebida, muito bem acariciada por todos os colegas, e eu agradeço muito a Deus por isso. 

 

Como você disse, o rádio é um ambiente masculino. O que você acha que está faltando para quebrar essa barreira?

Eu acho que falta mais atitude das mulheres porque às vezes há vergonha. Tem que ter mais: “Óh, eu quero ser locutora, eu quero falar na rádio, eu quero falar na TV”. Principalmente no rádio, que eu vejo poucas mulheres e eu acho que deveria ter mais. Um dia, quando eu ganhar na Mega-Sena, eu vou colocar uma rádio só com mulheres [risos]. Não é preconceito, mas eu acho que tem um toque diferenciado em uma programação. Mas falta atitude delas. Tem mulheres que eu conheço que têm uma voz boa, que podem ir adiante, mas ficam com vergonha. Não tem que ter vergonha, tem que encarar porque o espaço dá para todo mundo. 

 

Você acha que o mercado é aberto para as mulheres?

Ah, eu acho. Eu escolhi o rádio por acreditar ser fácil de chegar. Por mais que se tenha crises e obstáculos, eu acho que a profissão do rádio muda sempre. Ela tem aquela coisa do “Hoje, menino vai para cá, vai para a rádio tal”. Agora que parou um pouquinho, mas acho que sempre teve essa rotatividade, não acho difícil você estar no rádio. 

 

Nos últimos anos, muito se tem discutido sobre o futuro do rádio. Como você vê essas discussões?

Eu acho que o rádio nunca vai acabar. Ele é um veículo importantíssimo e mesmo com todo avanço da tecnologia e das redes sociais, acho que o rádio ainda encanta. Esses dias eu estava na Fonte Nova, em um BaVi, e [um homem] disse assim: “você conhece Adriana Silva? Sou fã”. Ele disse que todo dia me ouve. Você sente quando você fala o nome de um ouvinte na rádio porque parece que ele ganhou o dia, o prêmio da Mega-Sena. 

 

Mas você acha que o rádio pode se segmentar? O vinil, por exemplo, que era uma coisa muito forte, se transformou em algo quase que voltado para apreciadores. Você acha que o rádio pode caminhar para esse lugar?

Não, eu acho que o rádio continua, que ele tem o seu lugar. Não acho que ele acabe não. 

 

Algumas vezes, quem está em casa tem um certo fetiche pela voz do locutor ou locutora. Com as tecnologias, se conhece muito mais quem está por trás daquela voz. Você acha que isso é um ganho, uma perda ou uma mistura? 

Eu sou do tempo que não gosto de me aparecer [risos]. Mas com a tecnologia a gente acaba aparecendo porque na rádio há o Youtube, as redes sociais. É uma coisa importante porque o rádio aproxima, como a TV. A cada dia que passa as pessoas estão entendendo que para você ganhar o ouvinte ou telespectador, você tem que ter carinho, tem que se aproximar dele, tem que mostrar que você está ali. O carinho é a base de tudo. Têm muitas pessoas que precisam só de uma palavra. Se você observar bem as mudanças, chegar mais perto do povo é o importante. Hoje nós temos que inovar e nos adaptarmos. Tem que participar mesmo das redes sociais, tem que estar perto do povo. Mas quando me chamam para apresentar um evento grande eu fico por trás das câmeras e o povo fica procurando. “Quem será que está falando?” Não gosto muito de apresentar lá na frente. Mas através da rádio, das redes sociais e do Youtube, eu apareço sem problemas. 

 

Existe algum ponto que você acha que a tecnologia atrapalhou o rádio? 

Não acho que atrapalhou, só trouxe ganhos. O rádio não perde a sua majestade, mas temos que inovar. E hoje, através das redes sociais a gente vai divulgando, falando, chegando até o ouvinte e ganhando mais seguidores. Eu acho que não perde não, acho que ganha.

 

Qual a maior dificuldade de fazer rádio hoje?

Chegar até a casa da pessoa através do seu gogó e conseguir que o ouvinte permaneça do começo ao final do seu programa. A maior dificuldade é essa, conquistar o seu ouvinte. De chegar na rua e perguntar: “qual o locutor que você mais gosta?” E a pessoa responder que gosta de Adriana Silva, do Show da Tarde. A imagem é diferente, você está vendo. Mas quando você fala, você usa a sua voz e vai mostrar se consegue ou não prender aquele ouvinte. Se conseguir, você conquistou e chegou onde você queria. 

 

Você recomenda a profissão de radialista para as pessoas? Você acha que ainda é uma boa profissão?

Eu acho que é uma profissão maravilhosa. Não me arrependo de ter escolhido ser locutora, de ter escolhido essa profissão. Como eu disse, se você quer ir para o rádio, se quer falar, conquiste isso, vá em busca. Faça uma faculdade, tire seu DRT [registro profissional]. É uma profissão encantadora, o rádio ainda encanta.

 

Os radialistas da Bahia são unidos?

Poderiam ser mais. Não que deixe de existir aquela briga [concorrência], mas poderiam ser mais unidos. Eu estou vendo aí que está chegando um Clube do Rádio que está se reunindo todos os sábados. Uma turma boa de radialistas e jornalistas. Acho que é isso, procurar idéias, inovar, fazer reuniões. [Eles] estão caminhando e é uma coisa boa, que eu nunca tinha visto. E através desse Clube do Rádio, as pessoas falam “vamos ali fazer uma reunião, discutir o mundo do rádio, o caminho que ele vai levar”. Isso é importante. Estão vendo a grande importância do rádio e começaram a se unir mais. 

 

Qual o seu maior objetivo enquanto radialista? 

Conseguir chegar até o ouvinte através do meu carinho, do meu carisma, e levar até ele o que eu mais gosto de fazer, que é falar. E Deus me deu esse dom, então é para mostrar. Meu objetivo maior é chegar naquele ouvinte e conquistá-lo através da minha voz. É isso o que eu faço todos os dias. Quando eu chego ao meu trabalho, sento naquela cadeira e esqueço do mundo. “Agora eu vou falar com a pessoa que está em casa, no hospital, que está precisando de uma palavra”.