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Entrevista

'De 2010 para cá, o que se criou de novo na música baiana?', questiona Almir Santana

Por Júnior Moreira / Pascoal de Oliveira

'De 2010 para cá, o que se criou de novo na música baiana?', questiona Almir Santana
Foto: Jamile Amine / Bahia Notícias

Radialista experiente, Almir Santana começou sua carreira há mais de 20 anos na Salvador FM. Da emissora, migrou para a rádio Tudo FM, que em dois anos colocou no topo das mais ouvidas. Com a idealização do empresário e radialista Ricardo Luzbel, foi reunindo nomes de peso da rádio e da TV. Almir conta que somente 10 anos depois deixou a Tudo FM para ser consultor da Rede Excelsior. O comunicador se tornou coordenador geral e levou a Excelsior a ficar entre as cinco primeiras em apenas um ano. Ao Bahia Notícias, Almir comemorou a modernização da emissora e a superação das dificuldades enfrentadas: “Ano passado a gente trouxe muitas contratações, foi a emissora que mais renovou”. O coordenador também garante que pela rádio ser de uma emissora católica, ela também pretende evangelizar os ouvintes. “Ela continua com essa essência, só que trazendo um novo viés, mais jornalismo, um mundo mais atual, contemporâneo”, ressaltou. Com o Carnaval se aproximando, ele aproveitou o gancho para fazer uma análise sobre a festa e suas atrações: “Você não tem nova geração de axé na Bahia. [...] Da época de 2010 para cá, o que se criou de novo na música baiana? Se você pegar os artistas que estão no mercado, todos são veteranos”. Confira a entrevista:

 

Primeiro, acho que você poderia fazer um balanço da sua trajetória no rádio. Como começou? Conta um pouco dessa história para a gente.
Eu comecei no rádio há 20 anos, e uma das primeiras emissoras que eu passei foi a rádio Salvador FM. E nós tinhamos um programa que mudou um pouco a característica da música da Bahia, que foi o Salvador Mania de Pagode. A primeira emissora inclusive a lançar um CD nacional nessa linha. Depois da Salvador FM, teve o projeto Tudo FM, que gravamos por quase 10 anos. Um projeto também desafiador e vencedor, porque a rádio em dois anos chegou entre as cinco primeiras, com horários que circulavam entre 1° e 2° no Ibope, trazendo com idealização de Ricardo Luzbel grandes comunicadores da TV e do rádio. Nós fizemos um cast de apresentadores que na época até assustou o mercado, porque nós reunimos grandes nomes como Raimundo Varela, Daniela Prata, Samuel Celestino, Casemiro Neto, Anselmo Costa, Beto Fernandes e outros nomes da comunicação da Bahia, em uma só emissora. Então a gente tinha o melhor cast do mercado, e assim a rádio seguiu com bastante sucesso e credibilidade até o término do projeto. Foram 10 anos de Tudo FM. A gente tentou reeditar tudo no finalzinho do projeto, mas, após a saída de Ricardo Luzbel, ela chegou a ser arrendada pela Rádio Sociedade. A marca foi cedida para mim, eu continuei com o projeto, mas a gente não tinha uma frequência que pegasse bem na cidade. Esse era o nosso desafio: conseguir que [a rádio] pegasse bem com a nova frequência. Com isso a gente viu que não daria certo. Quando eu recebi o convite da Rádio Excelsior para fazer uns estudos, uma avaliação, eu fiz essa consultoria para eles, identifiquei o potencial da emissora, analisei o Ibope e vi que a emissora tinha uma boa audiência apesar de estar só no AM. Ela detinha quatro emissoras, uma TV e um jornal com 20 mil assinantes. Após esse estudo, que eu levei 1 ano fazendo, definimos a criação da rede Excelsior, e assim foi feito. A frequência 106.1 que era a Rede Vida passou a se chamar Excelsior FM. Integramos as duas programações do interior e viraram a Excelsior Recôncavo, e a gente teve uma programação alimentada pela rede, e claro com o suporte do jornal. Não mexemos na programação da Rede Vida, mas houve uma interferência minha de mudar ela de canal. Ela era canal 44.1 e mudou para o 12.1, que eu acho que ficou perto das demais emissoras, e passou a ser mais concorrente, mais visitada. E a Rádio Excelsior tem um case de sucesso porque em um ano de rede ela já está entre as cinco primeiras em muitos horários, principalmente nos da manhã. E para a gente foi uma surpresa, claro. Geralmente o Ibope não dá uma resposta tão rápida. Mas, com a vinda de grandes profissionais como Heloísa Braga, Anselmo Costa, Josenel Barreto, Dina Rachid, mantivemos alguns profissionais que já estavam na casa, trouxemos também Renato Lavigne para o esporte... E a gente tenta também reforçar um pouco mais para esse ano de 2018. Ano passado trouxemos muitas contratações, foi a emissora que mais renovou. Algumas não foram finalizadas, mas eu acho que a gente vai ter novidades para esse ano. Agora tentamos investir muito nas redes sociais, modernizando o site. Ela tem aplicativos para AM e FM, então as pessoas conseguem sintonizar na Excelsior em qualquer plataforma, que é o que o mercado necessita. Ela é uma das mais acessadas, se você pegar ferramentas de pesquisa você vai verificar que ela tem um potencial muito grande ainda para crescer. Esse é um resumo da história inicial da Excelsior, que tende a se fortalecer mais e se consolidar no seu segundo ano do projeto.
 

Então a sua função na Excelsior é de comando?
Eu sou o coordenador geral da rede. Eu fui responsável pela implantação e por essa gestão.

 

Qual o maior desafio que a rede enfrenta atualmente?
A Excelsior tem dois grandes desafios. Primeiro, ela tem um objetivo maior que é não ter características de evangelização porque ela é uma emissora da igreja católica. Então continua com essa essência, só que trazendo um novo viés, mais jornalismo, e um mundo mais contemporâneo. E o grande desafio é estar entre as três primeiras. Hoje a média de audiência dela está entre as cinco primeiras.

 

O público vem acompanhando essa transmissão?
Ele vem se renovando. Quando eu fiz o estudo da emissora ela tinha um público 50+ altíssimo, ou seja, um pouco mais conservadora, da terceira idade. E ela reinava nesses targets em primeiro lugar. Aí eu identifiquei que precisava renovar. Como é que eu renovo? Trazendo novos comunicadores, e programas para atingir um público infantil e jovem, a exemplo do Tio Paulinho, do Programa Conectados, e do programa de Pietro que é o sucesso da Excelsior nos sábados. Então a gente trouxe novos comunicadores e também comunicadores mais experientes para mesclar um pouco. Aproveitar o grande público dessa faixa etária elevada e também renovar com essa nova essência da comunicação.
 

Percebi que essa aposta em novos comunicadores está aliada às redes sociais, mas é uma empresa voltada para base familiar. Isso procede?
É uma mistura muito forte para família. Ela prega muito pela ética, então a gente evita tocar músicas de duplo sentido que ofende os valores familiares, sempre levando a verdade. A bandeira da rádio é muito imparcial com todos os assuntos, que são éticos, claro. 

 

Tem alguma coisa que não toca na rádio?
Duplo sentido. A gente evita tocar. Não que haja proibição, mas é questão de bom senso, de tentar melhorar um pouco a qualidade da música, tanto da Bahia, quanto da música popular brasileira. Se você tem bons artistas, bons produtos, por que não qualificar isso? Para que até as músicas que chegam como hits populares consigam chegar nessa ponta com um viés mais educativo, mais formador de opinião.

Como exerga o Carnaval de Salvador atualmente? 
Ele vive dois momentos. Um momento bom, de organização, de gestão, de mudanças, de paradigmas que foram quebrados, mas ele tem um problema hoje que é a sua música, a essência cultural do Carnaval. Nós não temos hoje um grande artista nacional que puxe as músicas da Bahia para o topo das mais executadas. Você tem apenas Ivete Sangalo, que consegue descolar um pouco dos demais artistas, mas que também não tem nenhum hit que hoje está entre as dez mais tocadas do Brasil. O que mais me preocupa é a ausência dessa estrela no Carnaval. A Bahia era considerada uma gravadora porque você tinha 10, 20 artistas nos mais executados. E hoje, a gente tem uma invasão da música sertaneja, da música do Rio de Janeiro, do funk, do pop. E a música da Bahia não consegue emplacar mais hits nacionais. Claro que quando chega no período do Carnaval, se reforça um pouco, você tem aí o Psirico e Léo Santana, que tem músicas entre alguns hits, que são executadas mais na Bahia, mas que não conseguem vender muitos shows nacionalmente.

 

Por que você acha que chegou nesse estado? 
A renovação. A Bahia não se renovou, principalmente os blocos. Tinham aquela questão tradicional de ter Camaleão mais Chiclete com Banana. Internacional tinha o InterAsa, na época. O Asa era do Inter. E as bandas e os empresários não se preocuparam com o que vem depois do envelhecimento desses artistas. O que vem depois? O que nós vamos ter depois dessa geração? Você tem nova geração? Você pode considerar Saulo? Acho que não. Você não tem nova geração de axé na Bahia. Geração dos anos 2000 pra cá. Da época de 2010 pra cá, o que se criou de novo na música da Bahia? Se você pegar todos os artistas que estão no mercado da Bahia, são artistas veteranos. O público vai envelhecendo e a nova geração vai chegando. E essa nova geração vai ouvir o que? Eu acho que esse é o grande problema da música da Bahia. A gente esqueceu que precisava haver uma renovação na base.


Existe algum remédio para isso?
O remédio é a valorização da cultura. Criação de festivais, a busca de músicas que o povo quer ouvir. Por que essa tendência de se ouvir música sertaneja? Porque existe uma mídia muito forte em relação a esses produtos nacionais. É necessário entender o quê a população da Bahia hoje quer ouvir e por que a gente perdeu um pouco da tradição da nossa música.

 

Alguns também apontam que pelo caminhar dessas transformações o Carnaval talvez chegue ao fim. Você acredita nisso?
Não, não. O Carnaval de Salvador é um movimento bastante popular, o povo ainda faz o Carnaval apesar das mudanças. Você tinha anteriormente clubes Carnavalescos tradicionais, e hoje você tem camarotes substituindo esse clubes. Clubes esses que às vezes não ficam no sentido do Carnaval, e agora você tem uma concentração dos camarotes no Carnaval. Os blocos perderam a sua força, mas por quê? Porque as pessoas avaliaram que com a criação dos camarotes estavam pagando um valor que pagavam no bloco, ou até um pouco menos, com mais conforto, mais segurança e mais serviços. Então ouve essa compensação. A atração que tocava nas ruas de Salvador hoje não é mais sucesso nacional. Ele não traz mais o turista como atrativo pra sair no bloco. Então isso foi pegando força. Para se colocar um bloco na rua é caro. Tanto de impostos como de despesas, como segurança, como o próprio trio elétrico. Então é muito caro isso. E às vezes não se compensa hoje, você não consegue vender o número de abadás para bancar o seu custo e pagar o número de atrações. Já teve atração no Carnaval de Salvador que custava R$ 1 milhão, R$ 500 mil. Então como é que o bloco paga isso? Ficou realmente inviável e a tendencia é que cada vez mais as atrações pipoca estejam desfilando no Carnaval de Salvador. Antigamente havia os blocos que não tinham cordas. As pessoas saíam em grupos de amigos pra se reunir e iam brincar o Carnaval. E aí começaram a sair esses grupos, depois foram se profissionalizando e foram se formando os blocos. E aí se teve a criação da indústria do Carnaval, com a profissionalização dos blocos que deu certo há muito tempo. Era um sucesso. Você tinha blocos que chegavam no dia seguinte do Carnaval e já não tinham mais nenhum abadá pro próximo Carnaval. 

 

Tem algum ponto que você também ache forte na festa?
Acho que um dos questionamentos do Carnaval é a questão da participação dos soteropolitanos e da vinda dos turistas. Eu acho que Salvador consegue alinhar isso muito bem. O turista e o soteropolitano conseguem viver num espaço democrático. Claro que com alguns problemas ainda, começando com a questão da segurança do Carnaval de Salvador. Você tem concentração de quase 1 milhão de pessoas em alguns pontos juntando os circuitos e você tem ocorrências baixas para um volume de pessoas como esse. Então mostra que o Carnaval é uma festa que, além da democracia, as pessoas têm o objetivo de brincar. Claro que tem fatos isolados, mas teremos o Carnaval por muitos e muitos anos com essa força do Carnaval de Salvador. E se transformando sempre. Exemplo é BaianaSystem, me esqueci de falar. BaianaSystem é um fenômeno no Carnaval.

 

E que tá carregando outros, como Àttooxxá, que vem aí.
Isso. Esse é caminho plural da música da Bahia. Ela não é só mais axé. Nós temos outros ritmos que vão acontecer no Carnaval de Salvador. Como surgiu a Timbalada na época, como surgiu o Olodum, os blocos de fanfarra, que fizeram muito sucesso no passado e hoje só são do Pelourinho. Então tem essas modificações, mas vale a pena.