Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Robyssão irá protagonizar filme: 'Quem sabe não concorro ao Oscar?'

Por Pascoal de Oliveira

Robyssão irá protagonizar filme: 'Quem sabe não concorro ao Oscar?'
Foto: Tiago Dias / Bahia Notícias

Robson Costa, o Robyssão da banda “Black Style”, chegou à redação do Bahia Notícias contrariando o comportamento “ostentação” que costuma demonstrar. O cantor, que se tornou um dos nomes mais polêmicos do pagode baiano por causa do teor sexual das suas músicas, falou sobre o personagem que interpreta nos palcos, sua opinião sobre a banda La Fúria, e revelou planos, no mínimo, ambiciosos: ganhar o Oscar por um filme que pretende lançar ainda este ano. Além disso, Robyssão, que sonha em terminar a faculdade de Direito, mostrou que tem opiniões fortes sobre assuntos delicados. “Isso é uma babaquice”, disparou o cantor a respeito da questão da apropriação cultural. Sobre o Carnaval, ao contrário de alguns artistas que se mostram muito positivos ao falar sobre suas experiências, ele admitiu que cantar em trios é “estressante”. Sem hesitar, ele também não mediu palavras para fazer críticas a alguns artistas baianos: “Eu acho que eles estão desesperados”. Confira a entrevista:

 

Você saiu da Black Style para seguir carreira solo no Bailão do Robyssão. Por que você decidiu voltar para a banda?

A Black Style foi onde eu tive a oportunidade de difundir o meu trabalho por quase todo o Brasil. Só que todo artista tem aquele sonho de fazer uma carreira solo. Então foi mais ou menos isso que aconteceu. Eu achei que aquele momento foi pertinente para eu dar inicio a um dos meus sonhos. Então eu me afastei da Black Style em 2013, e fiz uma carreira solo que durou uns 4 anos e alguns meses. Mas as pessoas me pediam na rua: “Robyssão, eu queria reviver aquela época da Black Style em que você cantava aquelas músicas...”. Eu achei bacana, então eu sentei pra ver como estava a marca e resolvi entrar novamente na banda.

 

Essa recepção dos fãs já terminou em assédio?

Ah, muito! Tem lugares que sou tão ovacionado quando chego que parece até que estão vendo um artista internacional. A galera tem um carinho muito grande por mim.

 

Foi divulgado que você vai puxar o bloco “As Kuviteiras“ na Avenida, na segunda-feira de Carnaval. Você prefere estar em cima de um trio ou fazer os shows em casas noturnas?

Eu prefiro casas noturnas porque é menos tempo de show. É 1h20... E trio às vezes você fica 8 horas no percurso. Apesar de na Barra até Ondina o percurso ser menor, na Avenida o percurso é maior. Eles param ali o trio na frente e você fica parado por horas, se estressando por estar repetindo o repertório. Já show em casa noturna é muito melhor, é uma musica atrás da outra, não precisa repetir... Então prefiro fazer em casa noturna.

 

Como você analisaria o recente cenário da música baiana?

Vou ser bem franco: eu acho que os artistas estão desesperados. Os melhores compositores estão aqui, eles são de Salvador. Aqui era uma cidade que tinha diversidade musical e de vozes. E hoje, a situação é calamitosa. Você vê a escassez de talento no mercado. Não tem talento. As pessoas não criam mais, não reinventam. O funk deu certo, vai todo mundo pro funk. Só faz declinar. Enquanto não surgir um artista novo, enquanto eles não se reinventarem, só vai sucumbir o mercado fonográfico da Bahia. [Tem que] Manter o que a Bahia sempre fez de melhor: o batuque, a musicalidade. E não sair daqui para fazer outras coisas como o sertanejo. Estão deixando de fazer Axé Music para fazer sertanejo. Daqui a pouco eles [sertanejo] vem para Salvador tomar conta do Carnaval. O objetivo deles é esse.

 

Uma das principais bandas do atual pagode baiano é a La Fúria. O que você acha do trabalho deles?

Eu acho legal e bacana o trabalho dos meninos. Agora só acho que deveria ter menos apelo sexual na letra. Porque o duplo sentido é normal, sempre existiu. Teve Cremilda, Luis Caldas, Gerônimo... Agora falar diretamente sobre o sexual é algo realmente um pouco ofensivo. Mas eles tão até melhorando, estão tendo mais sutileza nas músicas [risos].

 

Falando nisso, em 2016 circulou um vídeo de Igor Kanario no Salvador Fest citando você e a La Fúria. Ele fez uma crítica a determinadas letras e assuntos que as musicas tratam, e havia dito que não gostaria que a filha dele o escutasse falando termos pejorativos. Como você enxerga isso que ele falou?
Olha só, eu acho que ele não falou pra mim. Ele não falou nenhum nome diretamente. Ele falou “essas músicas aí de algumas bandas”. Eu não me ofendi, achei que não foi pra mim. Até porque quando fiz minha carreira solo, no Bailão do Robyssão, não eram mais picantes. Eram músicas mais tranquilas. 

 

E como seus filhos enxergam o seu trabalho?
Meus filhos gostam das minhas músicas, eles conhecem “roda gigante”, as músicas da Black Style... as últimas que eu levei no Robyssão eles também conhecem. Eles gostam, dançam. Eles já foram pra alguns shows.

 

Em outro momento, você disse que Robyssão era um personagem. Você pode falar mais sobre sobre a diferença entre Robyssão e Robson Costa?

O personagem é boêmio, mulherengo, gosta de ostentar. Já o Robson Costa, não. Ele tem uma vida comum. Posso fazer uma analogia com alguns atores, como os da Globo, por exemplo. Você vê que tem alguns atores que fazem papeis de grande relevância, mas que no dia a dia eles não são aquilo. É só um papel, um personagem. A mesma coisa acontece com o cantor. O que eu faço também é arte cênica. Eu não deixo de atuar em cima do palco. Então essa é a diferença. Tem cantor que realmente vive aquilo no cotidiano. Eu não. 

 

E como é Robson Costa no dia a dia?
É normal. Eu pego uma fila na casa lotérica, aí as pessoas pedem autógrafo na fila. Vou ao shopping comer uma torta, bater papo com os amigos, tomar um Chopp, comprar uma roupa, levar meu filho pra ficar no videogame, enfim... Normal.

 

Dois anos atrás você deu uma entrevista na qual você disse que  daria uma pausa da carreira, para terminar a faculdade de Direito. Você conseguiu concluir?

Precisei fazer terapia, uma tratamento... E foi justamente naquele pausa que eu fiz. Mas não dá pra fazer tudo que a gente quer ao mesmo tempo. É muito pouco tempo para a gente realizar todos os nossos sonhos. Então não deu pra eu consumar a questão da conclusão do curso. Mas quem sabe mais pra frente. Eu vou ter a oportunidade, mais tempo pra voltar... 

 

Entre mil coisas que você poderia escolher, você optou por fazer Direito. Por quê?

Porque desde de muito cedo é uma área que eu gosto. Direito, Psicologia, Antropologia... Foi sempre uma coisa que eu sonhei. Mas a música estava em primeiro lugar. Assim como você também deve ter diversos sonhos. Alguns vou poder realizar agora, outros só mais para frente. 

E você pensa em algum cargo na área?
Não, não. Jamais eu exerceria a função. É só um sonho mesmo de concluir o curso. Eu tenho vários sonhos. Tenho o sonho de fazer teatro também. Eu sou um sonhador.

 

Em março de 2017 você mostrou um novo visual: Loiro e com olhos azuis. Na legenda da foto você tinha feito referência ao tema da apropriação cultural. Como você enxerga essa questão?

Na verdade era uma foto antiga, eu só postei. Eu acho que isso é a maior babaquice. Rola essa besteira de “ah, apropriação cultural, não-sei-o-quê do negro...”. Nós vivemos num país extremamente miscigenado. Aqui é uma mistura de índio, com judeu, com cigano, com japonês, com jegue, com jegue espanhol. Aqui é uma mistura, não tem branco, não tem preto. O cara que é brasileiro e diz que é branco passa vergonha na Noruega. O cara que diz “eu sou branco” e vai pra Rússia passa vergonha. Na Alemanha você é branco? Nunca que você é branco. Então assim, aqui é misturado, é uma mistura. Então essa coisa de “não pode usar o...” é a questão da desinformação também. Eu acredito que as pessoas gostam das coisas mastigadas. Elas não buscam conhecimento profundo. Por exemplo, rolou essa polêmica recente por causa do turbante. “Ah, porque o turbante...”. O turbante nunca foi do africano. O turbante é do indiano. O africano se apropriou da criação indiana. Então assim, é falta de informação das pessoas. “Porque isso daqui é do negro, é da África...”. Sim, mas você não é africano, eu não sou africano. Eu sou brasileiro, brother. Entendeu? “Porque Anitta não pode usar a a trança...” Bobagem, babaquice. 

 

Uma das últimas músicas que você gravou trata de um tema polêmico. A canção, que se chama “Travesti”, narra a história de alguém que conhece uma mulher, a leva para o motel e toma um “susto” ao descobrir que se trata de uma mulher transexual: “pensei que era mulher, mas era travesti”. Você acha que ser mulher e travesti são coisas totalmente diferentes?

Ah, a história de Ronaldinho [Risos]. Para mim são seres humanos que merecem respeito. Todo mundo merece respeito. Todos nós somos iguais. Como diz o artigo 5° da Constituição, todos nós somos iguais perante a lei.

 

Você gostaria de contar mais alguma coisa para os leitores?

Eu queria falar sobre o meu filme. Eu vou gravar um filme, e ele vai contar a origem da Black Style e mostrar o bairro onde surgiu a banda, que é a Fazenda Grande do Retiro. Vai mostrar os problemas sociais de lá também. Enfim, é a primeira banda que vai lançar um filme. E quem sabe concorrer até o Oscar? Pensar alto... Vamos iniciar as gravações em junho desse ano e possivelmente deve ficar pronto em dezembro. É a questão social do bairro, a questão do início da banda, a origem do pagode, vai incluir também desde o samba... 

 

Essa ideia surgiu de onde?
Todo mundo já fez DVDs. Eu queria fazer algo diferente. A princípio eu queria fazer um documentário falando sobre o pagode baiano, algo que nunca fizeram. Tem um documentário que fala sobre o funk do Rio de Janeiro. Tem documentário sobre forró, axé music. Então eu queria fazer um documentário falando sobre o pagode baiano. Falando sobre a origem do pagode. E aí eu pensei, ponderei bastante, e falei “acho que é melhor fazer um filme”. Eu vou ser o protagonista do filme. Já vou realizar um dos sonhos, de ser ator. Já vou atuar no meu próprio filme. Não vou dirigir porque não tenho noção nenhuma de direção de filme, mas vou contratar profissionais que vão me orientar nessa questão. Enfim, o filme vai contar isso, a origem, o quanto o pagode é discriminado por causa da origem. Porque o pagode não é discriminado por causa da letra, porque os outros ritmos, os outros gêneros já abordavam os mesmos assuntos que eu abordo. O duplo sentido sempre existiu. Caetano Veloso tem uma música que diz que ele vai beber e vai chegar em casa e dar tapa na cara da mulher e tal... Só que essas músicas as pessoas não destacam. Mas quando Robyssão canta uma música um pouco polêmica, aí todo mundo cai em cima, entendeu?