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Entrevista

‘Todos os dias enfrento cobras’: Rick fala de preconceito na TV e sonho de sair da Bahia

Por Bárbara Gomes / Lucas Arraz

‘Todos os dias enfrento cobras’: Rick fala de preconceito na TV e sonho de sair da Bahia
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Repórter, apresentador, ator, performer, digital influencer, youtuber… Ufa! Rick Bandeira, o divertido repórter do programa Universo da TV Aratu, não se divide somente entre seus personagens, como a divertida Ana Célia, como também em diferentes projetos e funções. Se você acha que é muita coisa, para o ator de 30 anos é algo “bastante natural”. Além do Universo, Rick é instagramer e tem um canal no Youtube com a sua mãe. Mas o grande sonho do ator mesmo é sair de Salvador. “Meu grande sonho profissional é viver como ator. É fazer novela, teatro, cinema. Foi para isso que estudei a vida inteira”, diz. Enquanto não realiza o sonho Rick prepara o lançamento de uma peça, enquanto tenta evitar as críticas dentro da televisão. “Todos os dias eu enfrento cobras”, conta. “Eu sofro preconceitos por estar exercendo uma função para a qual eu não estudei”, completa o apresentador. Rick lançou o projeto “Eu lacro Drag”, no último ano, que mostrava drag queens na televisão “na hora da família tradicional baiana”. No final das contas Rick Bandeira faz um pouco de tudo para divertir as pessoas. “Divertir é algo que nos dias de hoje é um desafio grande. E você saber que está atingindo de crianças a idosos é surreal. No fim das contas eu quero fazer a diferença, mesmo que só um pouquinho”, contou ao Bahia Notícias.



Ator e repórter. Como surgiram essas profissões em sua vida? 

Eu comecei como ator aos 15 anos na escola e depois fiz alguns cursos profissionalizantes na área em Salvador (Vilha Velha, Teatro Castro Alves e Cria) e no Rio de Janeiro (Centro de Arte de Laranjeiras). Desde então eu nunca mais parei de atuar. Já como repórter, tudo começou por conta do meu trabalho como ator. Em 2012 participei do trio elétrico do Tomate no Carnaval fazendo o cover de Valéria Bandida. Um apresentador me viu e me convidou para fazer um teste para televisão. Ele queria ver se eu me sairia bem na frente das câmeras. Depois disso nunca mais saí desse mundo. Atualmente eu não sou contratado como repórter, mas como ator por conta dos personagens que eu faço na televisão. Já estou nessa há 4 anos.

 

A Ana Célia foi inspirada em alguém? Como você montou essa personagem?

Ana Célia tem um pouco de minha mãe, mas também foi um pedido de Celisa Felicidade da TV Aratu.  Ela queria que eu tivesse um personagem feminino e disse que eu iria explodir ainda mais se fizesse. Ela dizia que essa era a chance de eu mostrar mais o meu trabalho de ator dentro da TV. Então eu criei a Ana Célia bem despretensiosamente. Comprei a peruca, depois a roupa e comecei a  montar a personagem. A galera amou. Ana Célia é uma apresentadora de programa de culinária. É uma Ana Maria só que da favela, que faz pratos mais populares, como um macarrão quatro queijos, em que se usa o mesmo queijo dividido por quatro. Comecei com essas receitas bem loucas e depois fui para os clipes de dublagem no Youtube. Mas também me inspiro muito nas pessoas que entrevisto. A gente acha cada coisa na rua. São figuras que são personagens vivos.
 

 

Além das dublagens, seu canal do Youtube agora também conta com a paródia da música “Sua Cara”, da Anitta com a Pabllo Vittar, com 1 milhão de visualizações. Conta um pouco da produção?

A "Areia na Sua Cara" foi minha primeira paródia. Eu escrevi a letra e gravei a música. A produção foi enxuta. Eu tinha uma câmera, um cinegrafista e um drone que foi cedido durante 20 minutos. A gente fez todas as cenas com o drone para garantir e depois gravamos as outras cenas das 11h às 17h. A única câmera virou cinco, em diferentes posicionamentos. A produção, o roteiro, a música… Tudo ficou por minha conta e aí eu me virei mesmo. Contei com a ajuda do Yuri [Ferreira] que fez a Pabllo [Vittar], o cara da moto, o cinegrafista e um câmera. Gravamos atrás do parque de exposições e eu não sabia que aquilo era um “morro santo”. Tinha evangélicos no local subindo e descendo ajoelhados, orando alto e eu e o meu colega montados como personagens femininos. Ouvimos tanto "tá repreendido", "tá amarrado em nome de Jesus", "Olha a Pomba Gira", mas continuamos lá “fechando”. Fazer o quê? Acabou que fomos abençoados. O vídeo já está com mais de 1 milhão de visualizações no meu canal.

 

 

O Talk show que você está produzindo é com a Ana Célia? Como é esse projeto?

A gente fez um talk show que vai virar a peça "Ana Célia show" no teatro. O formato estava muito musical com muitos números de dublagem. Agora estamos reformulando isso para que tenha mais texto. O “Ana Célia Show” basicamente vai contar a história da personagem. Quem ela é, o que ela passou… Tudo que fez parte dos clipes no meu canal vai virar texto. Mas as dublagens de "Infiel" e "50 reais" não vão ficar de fora. A trama da peça vai mostrar Ana Célia perdendo seu emprego como apresentadora, seu marido e tudo e como a personagem vai dar uma reviravolta. Estreamos no primeiro semestre de 2018.

 

Como você concilia seu trabalho como repórter com outras das suas outras criações?

As coisas acontecem de forma bem natural. Eu trabalho seis horas dentro da TV. De 13h às 19h. Acordo muito tarde, porque tenho dificuldade de acordar cedo [risos], então uso um tempo ou outro em meio às gravações para fazer alguns dos meus stories. Porém, nesses últimos meses, tenho me dedicado muito mais ao programa do que às redes sociais. Lancei o projeto "Eu lacro Drag", em que botei várias drags na tv durante a hora da família tradicional baiana. Fazer tudo isso é difícil, mas é gostoso.

 

Como foi a recepção do público ao "Eu lacro Drag"?

Foi desafiadora. Apesar da gente estar vivendo uma “era [Pabllo] Vittar", em que as coisas estão aparentemente mais aceitas, o público ainda tem bastante resistência. O Universo atingiu um público específico que não é tão aberto a aceitar certas coisas. Então foi desafiador. Sobretudo com o meio LGBT, que por incrível que pareça, descobri que te sabota. As pessoas criticam muito, mas também não dão a cara a bater. Errando ou acertando, para mim o importante era lançar o projeto. Eu gosto da arte do transformismo. É uma arte incrível. Você se transformar em uma mulher. Pedi 35 minutos de programa para mostrar um pouco dessa arte e foi incrível o resultado final. O quadro ficava no meio do Universo. Conseguimos pontos recordes de audiência no programa com picos de 12 pontos. No final das contas a galera está aberta. 

No meio de tudo isso você se tornou um digital influencer. Com mais de 150 mil seguidores no Instagram, suas publicações são espontâneas e com muito humor. Como avalia isso?

O meu “boom” nas redes sociais foi depois que eu comecei a fazer vídeos com minha mãe. Aquela relação de mãe e filho é algo que existe muito dentro das famílias, mas ninguém fica disposto a mostrar. Eu falava para minha mãe que um dia postaria a maluquices que ela fazia e postei. O primeiro vídeo foi uma baboseira. Tinha minha mãe cantando uma música do Calcinha Preta errada. Minha mãe dá muito palavrão, então, quando eu a corrigi ela largou um "trááá" que acabou. Eu zerei vidas e a partir disso nunca mais parei de fazer coisas com ela e para as redes. Com esses vídeos eu dei um salto no instagram.

 

E como fica a relação entre seu público e esse conteúdo com sua mãe?

Quando eu faço histórias minhas ou até postou uma selfie toda trabalhada, o primeiro comentário é "cadê mainha"?. As pessoas não ligam. Elas querem ver minha mãe. Minha mãe é muito louca então rola uma identificação. A melhor parte é quando leio que alguém doente ou que está em uma má fase, vê minhas histórias e começa a rir. Fico tocado quando gente que perdeu a mãe vem e me pergunta se minha mãe não quer adotar. Isso me dá vontade de fazer o que eu faço, afinal divertir é algo que nos dias de hoje é um desafio grande. E você saber que está atingindo de crianças a idosos é surreal. No fim das contas eu quero fazer a diferença, mesmo que só um pouquinho.

 

E ter muitos seguidores resume em grana? O que isso lhe proporcionou?

As pessoas compram o que eu indico. Resume em grana com empresas. O número de seguidores resulta em número de contratantes. Pessoas me procuram para divulgar a sua marca, divulgar a loja e consequentemente eu cobro. Tenho minha tabelinha de custos. Juntando essa grana com o salário da TV dá para pagar o carro e a gasolina que está cara. [risos]

Você postou um vídeo sobre “cobras” e disse que no seu dia a dia precisa enfrentar algumas. Com a exposição e o trabalho na TV muitas pessoas acabam enxergando só o glamour na sua profissão, mas as cobras existem não é?!

Todos os dias eu enfrento cobras dentro do meio televisivo. Eu sou muito sincero e digo que é um desafio para mim viver dentro desse meio pois eu não compactuo com certas coisas. Cada um tem o seu espaço e você tem que fazer valer aquilo ali. A estrela brilha para todo mundo, cada um tem seu talento específico, mas as pessoas desse meio não entendem isso. Eu sofro preconceitos por estar exercendo uma função para a qual eu não estudei. Já ouvi isso dentro da própria TV. Amigos repórteres me falaram. De tanto ouvir isso mudei a profissão na minha carteira para ator, afinal eu estudei para isso. As pessoas precisam entender que existe o jornalismo e o entretenimento. Eu faço entretenimento. Eu faço graça.

 

Quem são essas cobras?

As cobras vêm e me dizem parabéns, mas não é isso que elas querem dizer realmente. Existem pessoas que se sentem ameaçadas pois acham que você quer brilhar mais. Passa a valer aquela frase "meu pirão primeiro" e elas fazem de tudo para poder te apagar. Eu sonhei com essas cobras e me falaram que era um aviso. O que eu vou falar vale para o meio musical, para o meio artístico e jornalístico: as pessoas não querem te ensinar nada. Não querem ver você melhorar. Existe também a cultura de dizer que tudo está bom, mas esse sempre “está bom” muitas vezes é para que você não venha a melhorar.

 

Qual seu grande sonho?

Meu grande sonho profissional é viver como ator. É ir embora de Salvador, é fazer novela, teatro, cinema. É para isso que eu sonhei e estudei a vida inteira. Eu quero viver novas pessoas, viver texto. Ficar envolvido um ano, dois com uma peça. Estudando e pensando em caracterização, falas... É esse o meu sonho. No momento eu estou vivendo meio que esse sonho, mas quero mesmo é trabalhar com arte. Se tivesse hoje essa possibilidade eu largava tudo e iria fazer.