Modo debug ativado. Para desativar, remova o parâmetro nvgoDebug da URL.

Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Saulo Fernandes diz que Ivete é quase insubstituível, nega ter indicado Felipe Pezzoni para ser seu substituto e fala da nova fase

Por Fernanda Figueiredo

Saulo Fernandes diz que Ivete é quase insubstituível, nega ter indicado Felipe Pezzoni para ser seu substituto e fala da nova fase
Foi como uma bomba que o público recebeu a notícia da saída de Saulo Fernandes da banda Eva. O cantor, que fez parte da família Eva por 11 anos – o que mais demorou de todos os artistas que por lá passaram – conseguiu desvincular a imagem de Ivete do grupo e deu sua cara a uma das maiores bandas da Bahia. O segredo do sucesso de Saulo? Como ele mesmo diz: foi não ter substituído Ivete logo quando ela saiu. Missão ingrata que coube a Emanuelle Araújo. “Se eu entrasse ali naquele momento, antes de Emanuelle, acabou Saulo. Você nem ia ouvir falar de mim hoje. Eu peguei aquela fase da transição de Manu, aquela coisa mais ali, mais estável, entendeu? Não era IveTONA, né cara? Então, foi mais fácil para mim”, explica o cantor, que já contou como se deu o processo de decisão da sua saída do grupo e revelou qual poderá ser o nome da sua próxima banda. Um nome, aliás, curioso e carregado de “espiritualidade”, como gosta de dizer e, ao ler essa entrevista, você irá entender o porquê. E sobre ser substituído por Felipe Pezzoni, Saulo nega que tenha indicado o rapaz e fala das inevitáveis comparações que o novo cantor terá que conviver. Se ele será uma Emanuelle Araújo da vida? Leia esta entrevista para saber o que Saulo pensa! Não está tão suave quanto Saulo costuma ser. Confira!
 
 
Coluna Holofote: Quando você deu entrevista para a Coluna Holofote, pela primeira vez, eu lhe perguntei se passava pela sua cabeça deixar o Eva e você negou com veemência. E agora, de repente, essa notícia: Saulo vai deixar o Eva. O que foi que aconteceu?
 
Saulo Fernandes: Cara, não é de repente assim, não. Não foi de repente, não.
 
CH: Para quem está de fora, foi de repente...
 
SF: Mas pra mim, não. Para a gente aqui, que está no dia-a-dia, não é de repente. Sabe, existe aquela coisa da nuvem aconchegante e isso às vezes incomoda, de você não ter um objetivo e você ficar ali, só no marasmo. E aí, eu acho que a gente estava um pouquinho nisso. Então, existia um certo desconforto, sobretudo da minha parte, da questão musical, eu querendo umas coisas e tal. Tem uma música no disco Rede Tambor, que chama “Crescer e Só”, que é uma música que, se a galera prestar atenção na letra, fala muito bem disso. Que é “Supõe alguma coisa nova/Quem sabe até o amanhã é sempre/ E você ficou de me encontrar no mesmo tempo/ Em mim Ficou a impressão de que algum destino me soprou/ Que um dia chegaria esse dia”, então...
 
CH: Chegou o dia...
 
SF: Exatamente. E dessa forma tranquila, suave, como foi essa relação esse tempo inteiro: gradativa, bonita, vencedora, vitoriosa.
 
CH: Mas aconteceu algo específico que culminasse nessa decisão?
 
SF: Não. Como eu falei, foi gradativo. Não aconteceu nada de específico, que fosse brusco. Foi um procedimento. Como era a decisão mais difícil que eu estava tomando, então precisava também desse tempo.
 
CH: Agora há pouco, você disse que sentia uma nuvem de acomodação no Eva. Por isso, a decisão. No entanto, em seu show na Concha, você avisou ao público que tudo continuaria a ser como era antes, e que você ia mudar apenas de casa... Não fica meio sem lógica isso?

SF: De acomodação que eu falei, foi quando eu estava... Isso, há dois anos atrás, que eu estava assim nesse processo de querer coisas e tal. Só que, quando você toma a decisão e tal e que tudo se estabelece, aí agora a gente quer mil coisas. A gente vai trabalhar muito.
 
 
CH: E todos os músicos da banda vão lhe acompanhar?
 
SF: Sim, claro. É a minha galera, né? É a galera que está comigo desde o Chica Fé, que já sonha comigo a mesma coisa faz um tempo...
 
CH: E vocês já sabem para qual produtora irão?
 
SF: Não, não. A gente tem uma coisa a cumprir com o Eva, um compromisso mesmo. Não só do papel, mas a coisa das pessoas, sobretudo. Então, eu tenho até a terça-feira da pipoca, que é a despedida, e eu tenho que cumprir isso, essas coisas todas e a partir daí, a gente vai ver o que é que vai acontecer. Claro, a gente tem o nosso planejamentozinho, está pré-pensando em coisas, mas acho que é a partir da quarta-feira de cinzas que a gente vai estabelecer essas coisas.
 

 
CH: Mas teve um marco, um dia que vocês sentaram e conversaram “é hora de encerrar o ciclo no Eva”?
 
SF: Não. Eu acho que é gradativo. Como eu falei, já era um sentimento que vinha de muito tempo, mas tudo de forma suave, sem, sem... Saca?
 
CH: Mas essa semana o Eva divulgou um vídeo já apresentando Felipe Pezzoni, como se tudo já tivesse sido decidido há algum tempo e o terreno estivesse sendo preparado com uma certa antecedência também...
 
SF: Não, isso foi por agora. Porque a gente tem uma questão ética também, né? E a gente trabalhou muito suave nisso. A coisa do tempo: poxa, quando Saulo anuncia ali, sai o vídeo do Eva. Mas não tinha nada, parecendo que já estava tudo programado, não. Eu gravei aquele vídeo, sei lá... Três dias antes de ele ser divulgado. Foi a minha parte e de muita gente gravar, então, a gente estava nessa fase de transição mesmo. O importante dizer é isso e que as pessoas entendam: é uma transição natural. Embora não pareça, mas é. Porque tem o afeto e essa expectativa das pessoas: “ai, meu Deus! Saulo vai sair, e agora?”. Mas eu entendo esse afeto e essa expectativa que gera em torno desse aspecto. Mas é preciso entender que tem a naturalidade também. Como eu falei antes e vou reforçar aqui: a saída de uns é a oportunidade de outros. Então, é importante falar de Felipe neste momento. De falar coisas boas dele, de desejar coisas boas para ele.
 
CH: Felipe Pezzoni já era o nome pensado desde que você comunicou a sua decisão?
 
SF: Eu não sei. O que eu sei é que eu fui lá no Eva um dia e estava conversando e tinha um disco da Mil Verões lá. E como eu já tinha ouvido falar de Felipe através de umas fãs da gente, que foram a um show da Mil Verões e adoraram o repertório, aquela coisa... Então, eu já tinha ouvido falar e comentei: “porra, cara. Esse menino, esse Felipe”. Aí os caras: “é”... O disco assim, meio, embaixo da mala assim (risos). Aí eu peguei o disco e disse: Porra, Felipe, Marcelinho, eu conheço esses caras.
 
CH: Foi você quem indicou Felipe para ser seu substituto?
 
SF: (risos) Não foi indicação. Porque os caras disseram “não, foi Saulo que indicou”. Não, não foi. Até porque os caras já estavam sabendo e eles já estavam contratando a Mil Verões para a produtora. Então, já tinha uma conversa com os caras. É isso que eu estou dizendo: a gente vê que é tudo verdadeirão mesmo. Não teve essa estratégia que muita gente pensa.
 

 
CH: Quando Ivete saiu do Eva e Emanuelle assumiu, de repente, por ter sido uma mulher, as comparações foram inevitáveis e Emanuelle não conseguiu êxito no Eva. Agora, o Eva tem a cara de Saulo e um outro homem vai assumir. Você acha que as inevitáveis comparações podem atrapalhar a carreira de Felipe no Eva?
 
SF: Não. Eu não acho que isso seja – eu vou metaforizar – eu não acho que isso seja tão cronológico assim, não. Que isso seja tão fundamental. Porque assim... Cada um pegou uma fase diferente. E eu vou lhe dizer: é difícil e quase que impossível substituir Ivete. Se eu tivesse substituído Ivete eu ia me fuder geral, saca? Porque eu tinha essa coisa também, da expectativa de entrar antes de Emanuelle. Então, se eu entrasse ali naquele momento, antes de Emanuelle, acabou Saulo. Você nem ia ouvir falar de mim hoje. Então, quando Manu... E é bom falar, também, porque a galera esquece que Emanuelle fez uma carreira em Portugal, com a banda Eva, muito importante, a qual a gente pegou a extensão disso quando eu entrei no Eva. Então, foi bem vitorioso aquilo. E eu peguei aquela fase da transição de Manu, aquela coisa mais ali, mais estável, entendeu? Não era IveTONA, né cara? Então, foi mais fácil para mim.
 
CH: Mas assim como o Eva tinha a cara de Ivete quando Emanuelle assumiu, o Eva hoje tem a sua cara...
 
SF: Mas o Eva é o Eva. Na boa. E agora, eu vendo de fora, eu sinto isso. Eu acho que o Eva é o Eva que sempre foi, o mesmo: revelador, saca? Uma casa de hospedagem, onde se dá liberdade, onde se ouve os artistas.
 

 
CH: É escola, né? Como vocês deixaram evidente no vídeo institucional. Mas então, isso nos leva a pensar que todo mundo que entrar, vai estudar e depois que aprender a lição direitinho, vai deixar o grupo e seguir carreira solo. É isso?
 
SF: Eu não sei se isso também é meio macumba, não. Eu não acho que seja, não. Mas, enfim... Eu acho que tudo é natural, cara. Eu vou fazer agora o 11º carnaval, que é o meu último no Eva. Eu fui quem mais ficou no Eva. Ivete ficou seis anos e eu 11 anos. E, cara, eu vi um vídeo de 2003, que Wandinha [Wanda Chase] passou e eu fiquei puto com ela [risos], porque eu estou gordão, sem barba, horrível, rei. E aí, eu vejo como é aquilo, é horrível, é duro, é desajeitado, é estranho, é inseguro e ainda hoje eu sinto a mesma coisa, mas aprendi mais um pouco, entendeu? É como eu sinto Felipe, também. As coisas têm um tempo de maturação mesmo. O importante de falar é que eles têm um trabalho coeso: Felipe e Marcelinho. Então, como o Eva é essa casa de hospedagem, então, eu acho que eles trazem isso também, esse trabalho que eles já têm consolidado aqui também. Então, é isso.
 
CH: E o novo endereço de Saulo vai ser mesmo Rua 15, como você deu a entender durante seu show?
 
SF: Rapaz, eu acho, velho. Eu gosto desse nome, sabe por que? Porque esse nome é meio... Eu compus com Fábio, né? “Domindo, Rua 15” e aí, depois que essa música fez um barulho e as pessoas conheceram, eu estava conversando com minha mãe e ela falou “filho, você sabia que eu morei na Rua 15, em Juazeiro?”.
 
CH: Você não sabia?
 
SF: Eu não sabia. Foi coincidência. A diferença é que minha mãe é crente e a música fala de macumba. Porque “Ô zuzum bá zumbaiôba Oba oba oba... Festa da quizumba lá na casa de mãe”. No caso de minha mãe seria “festa dos crentes lá na casa de mãe”, a única diferença é essa, risos.
 
CH: Mas o Rua 15 de sua música foi aleatório?
 
SF: Foi, veio na hora. Depois foi que minha mãe falou. Então, eu acho que tem uma espiritualidade, um tambor rolando aí, entendeu?
 
CH: Você vai fazer um novo começo. Existe algum receio para essa nova fase?
 
SF: Eu posso responder com um texto? Daniela [Mercury] responde cantando e eu respondo com texto: “Por onde começar? Eu sigo a impressão. Sujeito a tropeçar, jurei convicção. E quanto vale ser liberto pra dormir tranquilo? O dom de não temer me instiga e me refaz. Coragem até demais, eu hei de absorver. Caminho do meio é só um simples manual, a cor do sol é tão bonita e floresceu... Que venha o amanhã!”