Leandro Lopes - cantor do Rapazolla
“Coloquei em minha cabeça que viria para botar a cara pra bater. Para encarar de frente, independente de que teve nome, de quem foi o cantor”. Assim Leandro Lopes definiu a maneira como enfrentou as dificuldades de assumir uma banda famosa, que durante anos foi a casa de um cantor muito talentoso, Tomate. De chinelo de dedo, com uma lata de refrigerante na mão e muito sorridente, o novo cantor da banda Rapazolla concedeu uma entrevista exclusiva ao site Bahia Notícias (Coluna Holofote) e revelou como foi a receptividade do público perante toda mudança ocorrida nda banda. Contou sobre as dificuldades de seguir carreira solo, sobre sua relação com Tomate e sobre suas aspirações para o futuro no Rapazolla. Confira a entrevista na íntegra abaixo.
Coluna Holofote: Você venceu o programa Ídolos em 2006. Com isso imaginava que após essa vitória o sucesso continuaria ou pensava que fosse momentâneo?
Leandro Lopes: Sabia que não seria fácil manter depois que eu saísse do “Ídolos”. Nunca imagei também de estar numa banda grande, como a Rapazolla, em tão pouco tempo. O pensamento que tinha era de trabalhar. Aconteça o que acontecer vou estar sempre trabalhando buscando fazer meus shows, independente de mídia ou não. Mídia é conseqüência do trabalho. Estava muito “pé no chão” com isso. Agente fica com um pouco de medo do que vai rolar. Se vamos cair ou não no esquecimento. Mas graças a Deus até hoje o pessoal fala muito do “Ídolos”; nas cidades onde eu vou a galera pede para que eu toque músicas de minha carreira solo. Já sabia que ia ser difícil e que tinha que estar com o pensamento em trabalhar; de fazer minha parte.
CH: Depois do programa você gravou um CD. Porque não continuou na carreira solo? Caso não viesse para o Rapazolla, você continuaria em carreira solo?
LL: Continuaria; eu estava fazendo shows pelo interior de São Paulo, em Minas e em outros lugares. Eu saí da carreira solo somente por conta do convite do Rapazolla, caso contrário, estaria cantando solo até hoje.
CH: Como surgiu o convite para assumir os vocais do Rapazolla?
LL: Foi repentino. Estava em casa, o telefone tocou e uma mulher disse que eu estava sendo convidado para ser vocalista do Rapazolla no lugar de Tomate. Eu neguei na primeira vez porque não conhecia como funcionava; não era minha praia. Na segunda vez neguei novamente. Na terceira vez que me convidaram pensei que Deus estava querendo me dar um presente e eu estava recusando. Aí eu pedi um CD da banda para escutar. Me deram os dois CDs do Rapazolla e eu achei o som massa. Agora estou no carnaval de Salvador, tocando para multidão, com muita festa. Eu aceitei o convite de coração e estou me sentindo em casa.
CH: Como foi para você primeiro fazer carreira solo e depois assumir uma banda, ou seja, o caminho inverso do que acontece atualmente?
LL: Se já é muito difícil fazer sucesso com banda ou com dupla sertaneja, a carreira solo pode quadruplicar isso. É brabo.
CH: Você já tinha se imaginado cantando Axé?
LL: Não, nunca.
CH: Mas houve algum preconceito ou rejeição quando soube que o convite seria para assumir uma banda de axé?
LL: Eu nunca tive preconceito com o axé ou com o pagode. Mesmo porque eu já conhecia os ritmos e, inclusive, escutava Asa, Ivete, Babado Novo, Jammil, etc. Na verdade, as pessoas de outros locais pensam que o axé e o pagode são a mesma coisa. Eu que vim do pop-rock pensei: será que eu vou ter que cantar e rebolar? Eu adoro o pagode; o pagode é massa pra caramba, mas eu não queria rebolar. Não por conta de preconceito, mas porque eu sou ‘duro’ para dançar [rsrsrs]. Inclusive eu cantei pagode com Tatau no carnaval, cantei com Oz Bambaz, conheço toda galera Black Stile. O Psirico e o Pagodart também são massa. O preconceito é por falta de escutar, de entender. Toda essa questão acaba no carnaval, pois muita gente lá fora fala mal do carnaval, mas o sonho deles é passar o carnaval em Salvador. O preconceito cada dia está acabando, prova disso e que cada vez mais as bandas estão crescendo.
CH: Como foi assumir uma banda que já estava consolidada e coleciona muitos sucessos como “Te Espero no Farol”, “Coração” e “I Love You Baby”?
LL: Coloquei em minha cabeça que viria para botar a cara pra bater. Para encarar de frente, independente de que teve nome, de quem foi o cantor. Rola certo receio, mas, pra isso os caras do Rapazolla, Laerte e Jomar, botaram a minha cara no carnaval para ver qual seria a aceitação da galera. Eu fiquei surpreso e pensei: meu Deus, o que é isso? Não tem nem um mês que eu cheguei à Bahia e a galera do bloco do Asa, do Jammil, de Daniela passava e batia palmas para mim e desejava boa sorte. Os próprios foliões do Rapazolla me receberam super bem. Os cantores e o pessoal das bandas também foram muito receptivos. Rapaz, eu vim para dar a cara para bater. Quando agente vai entrar numa casa que não é sua, mas que vai ser sua, tem que ser devagarinho, tem que dar a cara para bater. Se tiver que tomar na cara, eu vou tomar e vou voltar. Hoje em dia estou aí familiarizado com o Rapazolla, após seis meses.
CH: E o público do Rapazolla te acolheu bem?
LL: Bem pra caramba. Continua indo aos shows. Eu falei para o meu público que estava vindo para o Rapazolla cantar axé. Todo mundo tomou um susto. Eu perguntei parra os meus fãs o que eles achavam e eles me apoiaram totalmente. E a galera do Tomate, que por assistir o “Ídolos” e pela coincidência do cabelo vermelho, me aceitou bem. Lá em Minas, onde o Rapazolla e o próprio Tomate têm um nome gigante, estamos sendo muito bem recebidos. O público continua o mesmo. Inclusive fizemos um show em Itabirinha e batemos o recorde de público. Parecia que eu já era da banda há 10 anos. A galera me acolheu mesmo.
CH: Qual sua relação com Tomate? O que você acha dele?
LL: Eu não posso dizer que somos amigos porque eu não conheço ele a fundo, não trocamos idéias, não saímos pra conversar ou jantar juntos. Nos encontramos algumas vezes no aeroporto, no trio e aqui mesmo em Salvador. Nos falamos e nos abraçamos sempre que no encontramos. Quando nos encontramos no aeroporto ficamos sentados conversando durante um tempão. Isso para mim é normal. Se ele teve ou não um problema no Rapazolla eu não quis nem saber. Trato ele como um bom artista; gosto do trabalho dele. O cara canta pra caramba. Ainda tem gente aqui em Salvador que fala que eu tenho rixa com ele. Mas eu vou ter rixa porque? Eu nunca havia cantado o mesmo estilo de música que ele, a não ser agora no Rapazolla. Ele nunca falou mal de mim ou contra mim.
CH: Houve certa comparação entre vocês, fato que é normal. Mas como você lida com isso?
LL: Vai haver comparações sempre . Já existia antes de eu entrar no “Ídolos”. As pessoas diziam que eu era o ‘cara’ do Rapazolla. Até hoje existe comparação, mas graças a Deus atualmente diminuiu bastante. Digo graças a Deus porque hoje as pessoas sabem distinguir quem é o Leandro e quem é o Tomate. Quando eu vim pra cá, muitas pessoas me chamavam de Tomate.
CH: O que você sentia nesses momentos?
LL: Me sentia normal, pois sabia que ia acontecer isso. Explicava que eu não era Tomate, e sim o ‘cara’ que entrou no lugar dele. As pessoas questionavam o porquê do cabelo ser igual. Mas sempre falava que meu cabelo era daquela maneira por conta dos Mamonas Assassinas. Eu não tenho nenhum problema com isso. Cheguei aqui há pouco tempo, e se eu fizer meu trabalho direito a galera vai saber quem é Leandro Lopes. E o Tomate não tem mais o cabelo vermelho. É preto há tempos.
CH: Como você avalia o comportamento da mídia perante a essa mudança de cantor? Foi positivo ou negativo?
LL: Não houve nada de negativo. A maior resposta sobre se eu dei certo ou não vai ser o carnaval. E eu estou me preparando para isso. Estou malhando, controlando a alimentação e ensaiando muito.
CH: Você disse que a receptividade da classe artística foi bem positiva, o que é uma característica dos artistas baianos. Mas quem é sua referência em se tratando de artistas da Bahia?
LL: Eu admiro praticamente todos, mas cada um com um valor diferente. O Durval tem um valor diferente, Bell tem um valor diferente. Ivete quem não admira no Brasil não é brasileiro. Admiro Claudinha; Alexandre (Guedes) do Motumbá canta pra caramba. Daniela, que é ganhadora de Grammy Latino. Gosto de todo mundo. Mas o que eu gosto mesmo de ouvir e que eu curti muito é Luis Caldas, que pra mim é o Rock’in Roll do Axé. Para mim ele é o cara. Além de ser o precursor do axé ele canta e toca bem pra caramba. A galera daqui sabe como fazer as coisas. Não tem como não pegar influência de vários artistas, mas as maiores influências minhas vieram do Pop.
CH: Você vai trazer um pouco de sua vertente pop para o Rapazolla?
LL: Já estou trazendo. Prova disso é a música “De Bem Com a Vida”, que ficou com uma pegada bem 'cheia'. Além das músicas novas que estamos selecionando ainda.
CH: A música “De Bem com a Vida” teve uma aceitação muito boa. Mas não é uma música de carnaval. Com a proximidade do carnaval vocês devem apostar numa canção mais agitada. Isso já foi pensado?
LL: Já sim. Estamos selecionando algumas canções e devemos gravar um CD ainda este ano.
CH: Pra terminar, conta um pouco sobre os projetos do Rapazolla para esse ano e para o carnaval?
LL: Para o carnaval temos três dias fechados no circuito Barra/Ondina, e as negociações estão encaminhadas para algum dia na avenida (Campo Grande) também. A gravação do CD ou DVD pode ser ainda esse ano. Só depende de algumas confirmações pendentes.
CH: Manda uma mensagem para os fãs do Rapazolla que acessam o Bahia Notícias.
LL: Quero agradecer aos fãs antigos e os novos, a toda galera que batalha pela banda, que sempre está junto com agente. Queria dizer que se vocês agente não vive. Queria também mandar um abraços pra toda equipe do Bahia Notícias, pra Luzbel, e dizer que o Rapazolla está a disposição.
Por Rafael Albuquerque