Marcus Gusmão lança Livro Em busca de incertezas

“Todos os entrevistados deste livro não estão mais entre nós”. Assim o jornalista Marcus Gusmão abre “Em Busca de Incertezas – entrevistas em páginas amareladas”, uma reunião de 11 textos de entrevistas com personalidades culturais de diversas áreas e também matérias sobre o Campo Grande e Centro Histórico de Salvador. Os textos saíram pelos jornais A Tarde, Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia e como encarte de concerto da OSBA. O texto mais recente, de 2008, que fecha o livro, foi publicado na revista Em Tese, da UNIFACS. A obra dedicada ao jornalista e crítico Clodoaldo Lobo.

 

Em busca de incertezas será lançado no próximo dia 6 de novembro, uma segunda-feira, em dois lugares, na mesma noite.  Das 18 às 20, no Acarajé da Ana, na Rua Padre Daniel Lisboa, e das 20h30 às 22h no Espetinho do Bolero, na D. João VI, ambos estabelecimentos localizados no bairro de Brotas, ou ni Brotas, como se diz na Bahia. O livro estará à venda a partir de terça-feira, dia 7 de novembro, na Casa Boqueirão, na Rua Chile, e na Livraria do Glauber, na Praça Castro Alves.

 

O título do livro foi retirado da entrevista com o maestro e compositor suíço Ernst Widmer. Ele justificou a busca por incertezas como motivação ao decidir migrar para o Brasil aos 29 anos, país em que viveu os 31 anos seguintes, até se aposentar pela UFBA. Entre os entrevistados, o dramaturgo Dias Gomes, o escritor João Ubaldo Ribeiro, o cineastra cubano Santiago Alvarez, o poeta russo Ievgueni Ievtuchenko, Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha, e os arquitetos João Filgueiras (Lelé) e Lina Bo Bardi.

 

Produzido artesanalmente e costurado à mão, com capas de papelão reutilizado, o livro cartonero traz as entrevistas na forma de clipagem, com projeto gráfico, ilustrações e editoração do designer Mauro Ybarros. Acompanham as matérias originais textos explicativos atuais do autor e comentários do poeta e jornalista Nilson Galvão, do cineasta e jornalista Josias Pires e do professor e jornalista Alberto Freire, todos amigos de longa data do autor, e também do professor e criador da editora Vento Norte Cartonero, Gaudêncio Gaudério.

 

Com edição de 100 exemplares, numerados e personalizados com o nome do comprador impresso, o livro foi bancado por um financiamento coletivo por meio da plataforma Catarse, que resultou na arrecadação de R$3.975,00 enviados por 48 pessoas, que compraram antecipadamente o livro ao preço mínimo de R$25 mais recompensas por colaborações maiores. O dinheiro arrecadado foi utilizado na compra de uma impressora e uma guilhotina, bases de corte e material para a confecção dos livros.
Marcus Gusmão editou seu primeiro livro no programa básico word mas desta vez, diante do desafio de publicar os fac-símiles das páginas dos jornais, convidou o designer Mauro YBarros que já teve este tipo de experiência com outros autores.

 

YBarros trabalha com designer desde 1990, quando fez a sua 1a capa de disco, "Recôncavo Identificado", de Edson Gomes. Desde então, tem feito projetos gráficos para revistas, livros e discos de autores e artistas da cena local como The Honkers, brincando de deus, Nelson Cadena, Julio Caldas, Roque Ferreira, Saravá Jazz Bahia, entre muitos outros. Em publicidade, fez direção de arte, redação e direção de criação em diversas agências do mercado. E de vez em quando arrisca-se na poesia, tendo publicado "Algum Blues Aqui Dentro", livro de poesias inéditas, em 2017. Esta experiência contou na elaboração do projeto do livro, feito em parceria.

 

No texto de abertura, Gusmão explica que a decisão de editar o livro foi resultado do incentivo dos amigos e da percepção de que, com a passagem do tempo, as velhas matérias ganhavam um toque especial. Este é segundo livro do autor, que em 2019 lançou “Licuri”, uma coletânea de crônicas publicadas no blog homônimo.

 

Universo cartonero
Desde que lançou “Licuri” seu primeiro livro, Marcus Gusmão mergulhou no universo cartonero, expressão criada por um professor de Literatura da Universidade de Santa Maria que em paralelo ao mundo acadêmico desenvolveu a atividade de cartonero, adotou o pseudônimo Gaudêncio Gaudério e criou a Maria Papelão editora cartonera que deu origem à Vento Norte Cartonero, que edita textos de poetas, escritores, pessoas privadas de liberdade de vários países da América latina. A Vento Norte também organiza exposição itinerante de títulos cartoneros por cidades de Portugal.

 

Gusmão passou a ministrar oficinas e sua editora, a Licuri Livros Artesanais passou a publicar textos do poeta Nilson Galvão, com o lançamento de Versos Búdicos, em 2019 e #Nibrotas em 2020.
A atividade cartonera permite a edição de um livro desde a sua concepção, redação e edição, até a entrega final pelo próprio autor, gerando autonomia total em relação ao esquema editorial convencional. É um trabalho feito também em grupos, com mutirão de confecção de capas e costura dos livros.

 

Os livros cartoneros começaram a ser produzidos na Argentina, em 2002 e hoje são editados em várias partes do mundo. Bibliotecas criaram salas especiais climatizadas para conservar os exemplares, muitas vezes produzidos com decoração de sementes, folhas e outros materiais orgânicos. O livro Licuri, de Gusmão, não está em nenhuma biblioteca brasileira, mas um dos exemplares colocados à venda na Casa Boqueirão, no Centro Histórico, foi adquirido por um agente da Universidade de Stanford, em passagem por Salvador e hoje está preservado em uma destas salas especiais.  

 

PS -  Para a edição de cada exemplar, Gusmão oferece seis capas diferentes para a escolha do comprador, que decide também a cor da linha e indica três músicas para integrar a trilha sonora escutada durante a confecção do livro.