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Luis Ganem: Meu encontro com Bell

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Meu encontro com Bell
Foto: Bahia Notícias

Agora que acabou política, vamos falar um pouco de música, entretenimento. Apesar do futebol estar vindo aí com a Copa, é preciso falar também do nosso mercado musical, seus lamentos e suas histórias.

 

E uma delas quero contar aqui, sobre um bate-papo agradável que tive com Bell Marques em um encontro inusitado fora da Bahia, num ensolarado dia de domingo, desses que o sol e o céu parecem paisagem.

 

Lá estava eu em São Paulo resolvendo questões pessoais. Tinha saído de Salvador sexta-feira logo no voo da madrugada para poder chegar em SP cedo e, de pronto, começar a tratar tudo que precisava. Importante ressaltar que em São Paulo, a depender de onde você vá, das quatro opções uma: ou só se consegue andar depois das dez da manhã por conta do rodízio de carros; ou se fica preso em engarrafamentos imensos; ou, na via, se anda em velocidades mínimas; ou ainda, nada disso. Por isso minha pressa em chegar logo cedo.

 

São Paulo – diga-se de passagem, graças a Deus – voltou a ser uma grande casa para a nossa música. Falo de todos os nossos ritmos, inclusive o axé. A saber, todo ou quase todo o fim de semana tem um artista baiano tocando. Sempre que vou a São Paulo, procuro lugares onde a música Baiana esteja presente, o que antes da pandemia, com o estado de “coma” do Axé, estava ficando muito raro. Qualquer oportunidade que tenho, arranjo um pretexto para entender como anda nossa música Brasil afora, e São Paulo é importante nesse processo, por ser o celeiro cultural do País. Mas enfim, durante o dia e no decorrer do fim de semana, tendo resolvido quase tudo que queria, fiz meu roteiro musical e encontrei boas referências.

 

De Pablo a Tierry – hoje morando em terras Paulistas –, passando por Felipe Pezzoni da Banda Eva e chegando a Bell Marques, o fim de semana em São Paulo é uma festa metade baiana, metade sertaneja. Graças a Deus!

 

Mas sempre chega o domingo e, como em qualquer lugar do mundo, o domingo é o dia de nada a fazer. Domingo é aquele dia em que a preguiça chega com vontade e, em muitas vezes, se puder, você passa o dia todo na cama. Mas lembrando, eu estava em São Paulo, e fazer nada em terras paulistanas é algo improvável. 

 

Umas das coisas que se pensa em São Paulo, além de trabalho, é comer – eu e todo mundo! Fora a cultura, comer é algo para todos os gostos. Pense em algo pra comer, pode ter certeza ser quase impossível não existir em São Paulo e, nesse dia particularmente de calor insuportável – fazia uns vinte oito graus com uma sensação de trinta e três –, estava eu a pensar onde mataria a fome. Por etapa, ir para barzinhos de rua traria a contrariedade de ficar em uma fila sem saber por que foi formada – paulista adora fila. E no calor que estava fazendo, impossível eu, gordinho (gordo mesmo!), ficar. Da mesma forma que procurar um restaurante fora de shopping me deixaria na fila com fome e, possivelmente, todo suado. Daí o que me restava era ir para algum shopping com o ar-condicionado torando e... enfrentar uma fila (risos!). E foi isso que fiz: fui parar num shopping de São Paulo. 

 

A melhor coisa de almoçar em qualquer lugar fora do seu Estado, principalmente em São Paulo, é que em quase todo estabelecimento tem um baiano, ou um nordestino trabalhando. E lá estava eu almoçando em um desses restaurantes de shopping, quando a movimentação da garçonzada nordestina e dos transeuntes, além daquela voz com sua característica risada, me chamaram a atenção. Pensei: “rapaz, essa voz e essa risada eu conheço!”.

 

A Bahia musical tem muito disso, traços particulares em alguns dos nossos artistas que reconhecemos de pronto. E como percebi: lá estava o homem! Washington “Bell” Marques da Silva. Primeiro fiquei apenas observando a aproximação das pessoas. Estávamos em um shopping de alto poder aquisitivo paulista e, em tese, pessoas endinheiradas não se propõem a bajular ninguém, mas com Bell a coisa não funcionou assim. Muito assediado e mesmo ali almoçando com amigos, foi festejado a todo o momento e não deixou hora nenhuma de se levantar para atender a todos, sempre com seu sorriso característico no rosto.

 

Todo mundo, principalmente os jovens, paravam e pediam uma foto. Aqui confesso meu orgulho de ver isso acontecer. E, assim sendo, depois de ver tudo isso, olhei pra ele e falei: “Diga, Bell!”. De pronto, um sorriso e a voz igual à do carnaval (risos!) e uma resposta: “Diga, Luis!” – rapaz, parecia que estava no trio. Cumprimentos à parte, de forma prática, começamos um bate-papo sobre a música baiana.

 

Além da atenção dada, a conversa foi, por assim dizer, deveras interessante. Se eu tivesse alguma cisma (o que não tinha), teria acabado ali. Além da simpatia característica dele – o que evidenciou que a resenha que ele faz não é um formato carnavalesco que acontece somente em cima do trio ou no palco –, a lucidez e a visão do mercado aliada à simplicidade foram pontos que, confesso, me impressionaram.

 

Bell tem uma visão otimista do mercado, vê o momento da música baiana em um gráfico crescente, principalmente do Axé. Lá no dia, ele me falou que tem feito uma elevada média de shows mensais e que hoje o ritmo já está em alta em alguns lugares do Brasil, coisa impensável até pouco tempo atrás. O impressionante é que, enquanto a conversa rolava na mesa – preciso ressaltar a minha falta de educação, pois entrei no almoço dele com o empresário baiano Marcelo Pessoa, pra poder conversar sobre música e, por mais que Marcelo, por educação, tenha sido partícipe do assunto por mim trazido à baila, meio que atrapalhei a conversa dos caras –, as pessoas continuavam a vir pedir uma foto e eram sempre atendidas com entusiasmo.

 

Conversamos sobre quase tudo. Sobre ele, sobre Rafa e Pipo (seus filhos, também artistas da música Baiana), sobre parcerias com o Sertanejo e com o Forró Eletrônico... Disse a ele em dado momento da nossa conversa que já o critiquei por entender que ele atrapalhava os voos dos meninos, mas entendi a visão do Pai. Enfim, falamos sobre o carnaval 2022/2023, o qual Bell acredita que será o ano da virada da nossa música. 


Bell está feliz, ao menos pareceu assim. Foi bom ouvi-lo. Mesmo que logicamente me veja ali como um ente da mídia, não percebi em momento algum a vontade de parecer maior do que já é, ou vender ilusões ou algo irreal.  A renovação de metas fez bem pra ele, o renovou. Me pareceu um cara feliz, bem resolvido consigo mesmo. Pude conhecer também um Bell clássico, refinado e de uma fina educação. Apreciador de bons vinhos – passaram bons rótulos pelo seu paladar –, Bell tem uma fala linear, pausada, limpa como o som do seu trio. Como disse, pilotar o novo vem fazendo bem pra ele e, acredito, para o mercado. É fato e perceptível que ele conhece seu lugar e sua representatividade nesse nosso negócio.

 

Nossa música é um reino lúdico cheio de nobres. De rainhas como Daniela, Ivete, Claudia, a Reis e príncipes como Durval, Léo Santana, Pablo, Tierry, Xandy do Harmonia e muitos outros, no nosso reino encantando da música Baiana, talvez e somente talvez, também tenha seu Embaixador, aquele que consegue levar o nome do seu reino a todos os cantos.

 

Vi esse personagem em Bell, não pela conversa em si, mas por ter ali naquele shopping que representa o PIB da burguesia paulistana e paulista, várias deferências a sua presença.

 

E como o mesmo diria: Eh! Eh!...Vai! Vai! Vai!

 

Fui.