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Ildazio Jr.: Uma nova festa chamada ‘Carnaval para Todos’

Por Ildazio Jr.

Ildazio Jr.: Uma nova festa chamada ‘Carnaval para Todos’
Foto: Jotta Fotográfo

Bom, novos tempos, mais claros. Um status de endemia, taxas de vacinação bem altas, a maioria da população mais consciente do que deve fazer e, por conseguinte, que poder aglomerar, máscaras à la vontê... Ou seja, o cenário ideal. E até que enfim, para a volta geral do entretenimento que, aliás, já está a pleno vapor mesmo. 

 

São vários shows rolando, locais, nacionais, em Gotham, paredões a mil, pagodes nos bairros, do subúrbio a Praia do Forte (praticamente um anexo de Salvador e que todos amam), Guarajuba, Lauro, MAM, Beach Clubs pela orla, sem falar na Itaipava Arena Fonte Nova (com A-Há. E vem mais, viu?!), entre outros. Tudo bombando! Ou seja, as coisas tendem a ficar como d’antes no quartel de Abrantes.

 

Que massa, que porreta, mas como fica a maior festa? O que temos que esperar deste marco Cultural maior de toda a nossa cadeia produtiva de entretenimento chamado CARNAVAL, após 2 anos sem um sentimento único (por mais que se repita)? E nesse pós-pandemia, que realidade será essa? 

 

No meu entender e já dito aqui, precisamos aplicar as palavras disrupção (interrupção do curso normal de um processo, nesse caso terminal), desconstrução e renovação artística e empresarial urgente – e se encarar a festa em uma grande angular para de imediato mudar o rumo, separando Cultura de entretenimento, o público do privado. Se isso não ocorrer, dificilmente teremos um projeto sólido de sucesso artístico musical de longo prazo como foi o próprio combalido Axé, que tá aí se remoendo no “das antigas” há mais de uma década! Ou se criam novas regras totalmente inclusivas, diversas, para a festa, ou vamos claudicar de novo! Regras a decentralizando, espalhando para os bairros com grandes, médias e iniciantes atrações, com incentivo à economia criativa local, das ruas, da baiana, da pipoca, do espeto, sem a excessiva mão pública (que diz: beba isso, os circuitos são esses, as bandas essas e não ouço o que anseia a comunidade e sim o que eu decidi). Penso ser até politicamente temeroso nesses dias de cancelamento e eleições. E, ao mesmo tempo, precisamos de um tratamento especial que ajude o privado a investir na festa, trazendo o turista com grana.

 

Prestem atenção nesse breve resumo: o ex-prefeito (sic) João Henrique pegou o carnaval arrumadinho de Imbasshay e o esculhambou de vez, com a sua péssima Saltur [Empresa Salvador Turismo] da época (colocou raposa no galinheiro, digamos assim). Exatamente na mesma época dos últimos suspiros vitoriosos do Axé e da chegada vitoriosa em nossa terra axezeira, do Sertanejo, do Forró do Ceará, funk carioca, DJs e de tudo que se pudesse trazer de fora no carnaval desde que desse lucro, normal. Em uma fila comercial de blocos de aluguel, quem pagar mais leva. E daí, nada de baiano ou banda nova. Como a festa estava sem pé nem cabeça, ao assumir ACM Neto pegou as rédeas da coisa e de maneira estatal tomou conta de toda a festa, a envelopando como manda o figurino do estado, como sua plataforma política a percebe, mais para entretenimento e turismo que cultura. Apesar do furdunço, aumentou o número de dias. E, quer saber? Na época cabia, certíssimo, mas hoje... 

 

Enfim, estava um mangue. E, na real, era um ativo municipal imenso sendo desperdiçado por um bando de empresários turrões e brigões entre si. E daí, caro amigo, “me dê de volta minha porra” – proferiu, com todo respeito, o ex-alcaide. E assim vai ser levado e percebido por Bruno Reis, penso eu. Adiante vai esta coisa mais bela, versátil, diversa que temos, a nossa baianidade, e a naturalidade. Unidas na arte da sedução, vão com a nossa música para dançar, beber e beijar das ruas, ou seja, o Carnaval!

 

Ah, existe um outro lado bem mercadológico a se ficar atento, que são as empresas patrocinadoras. Elas certamente optarão pelas operações que apresentem em seu conteúdo o máximo de ações ligadas a um tsunami chamado ESG (Ambiental, Social e Governança), que fala de diversidade, de gente e como gerir conscientemente pessoas e, claro, a sustentabilidade do planeta! Será que as cervejarias enxergam como política empresarial sustentável patrocinar um carnaval público na Barra, Amazônia Azul onde “a galera massa” joga milhares de latas de suas cervejas no mar, ou os plásticos dos seus refrigerantes? Será que um banco quer ver sua marca agregada a centenas de famílias com crianças catando latinha nos blocos das famosas cantantes baianas? Ter uma Barra como centro quase único do carnaval, com milhares e milhares de pessoas todos os dias se deslocando de todos os bairros, além do interior, e turistas aumentado absurdamente o custo da festa em detrimento de grandes atrações nos bairros periféricos e centrais. É isso que uma operadora de telefonia traçou em sua plataforma de marketing e vendas?

 

Enfim... Ficam aqui meus questionamentos, e estou orando para que se perceba que tudo mudou, a livre escolha está aí, dá muito voto e a importância de se enxergar a festa por todos os aspectos – sociais, de distribuição correta de renda, economia criativa, do menor impacto ambiental possível e, claro, de muitos dividendos pra todos. Do empresariado, que investe e, sim, merece toda a atenção e respeito; até, claro e evidente, a D. Joana, que vai poder “levantar a guia” vendendo a sua feijoada, cerveja, cigarrinho eletrônico no Carnaval de Cajazeiras e ainda cobrar R$ 5 pelo xixi + espelho para retocar a maquiagem. E, de quebra, mais R$ 5 pelo carregador e tomada para o TikTok e Instagram divulgarem nosso carnaval. Pegaram a visão? Ah, tudo no Pix!

 

Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra…
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.

 

Carta aos puros, 

 

Vinicius de Moraes em 1935

 

Paz!