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Luis Ganem: O fim da Lei de Murici. Novos Tempos! Novos Tempos?

Por Luis Ganem

Luis Ganem: O fim da Lei de Murici. Novos Tempos! Novos Tempos?
Foto: Divulgação

Olha, faz tempo que falar sobre a música baiana, mais precisamente do fim de um ritmo – que alguns chamam de gênero – o Axé, se tornou um “texto” repetitivo e voltado apenas para pontos específicos. Para piorar, com a chegada da pandemia, a mesma trouxe a reboque para a nossa música um momento meio parábola da formiga e da cigarra – com o enredo mudado, óbvio, mas tendo como núcleo central a formiga que somente trabalhava e a cigarra que só fazia curtir. Essa comparação diz respeito a quem economizou pensando no futuro e quem, achando que ele seria eterno, não guardou nada. Isso, é claro, em se tratando de artistas já renomados, visto que os novos e os que não chegaram ao sucesso vivem normalmente com um escasso fluxo de caixa. 

 

Daí, consegui perceber muita coisa. Dentre elas que, a partir do não acontecimento do carnaval, voltamos ao marco zero, ou pelo menos deveríamos aproveitar o momento para fazer isso. Afinal, já que nada podemos fazer para mudar a realidade que aí está, deixemos de lado as vaidades e comecemos a entender e planejar o novo futuro da nossa música. Dito isso pelo prisma que o ano de 2021 estabelece para a música da Bahia – na minha concepção, que fique bem claro! – a linha divisória de um novo começo. 

 

Comecei a olhar para trás desde a data que seria o carnaval. Vi tudo com clareza e a percepção do longo caminho que percorri – nesse mês de março completo cinquenta anos (15/03). Nessa brincadeira já se vão mais de trinta anos participando da folia e da música. Estive na minha maior parte trabalhando. Hoje, com a experiência de quem já viu e ouviu algumas histórias, consigo perceber que a partir de certo momento da trajetória da música da Bahia, principalmente o axé, começamos a “fritar o porco com a própria banha”. 

 

Desde a criação (surgimento) do ritmo Axé, nunca, eu disse nunca, demos atenção ao que realmente merecia e precisava ser visto. A todo momento e em todas as décadas que vieram, estivemos apenas interessados no retorno financeiro e no lucro, negligenciando a máxima de qualquer negócio que se faça que é: de que tirou algo reponha no mesmo lugar. Fato esse que nunca fizemos, ou se o fizemos foi de forma muito superficial.

 

Tudo que envolvia a nossa música envolvia a lei de Murici, cantada em verso e prosa por Bezerra da Silva na década de setenta. A música dizia que igual a lei de Murici (planta nativa do Nordeste) cada um cuida de si, e assim fez a música da Bahia. Se atacando mutuamente, manteve nas prateleiras das lojas de discos afora, um fruto lindo na parte externa, mas que já demostrava sinais de deterioração por dentro.

 

Esse fruto caudaloso e carnudo continuou “matando a fome” do nosso negócio, mas agora apenas de um grupo seleto de oligarcas, que não enxergavam do alto da sua grandeza que o fruto vinha de uma árvore que estava morrendo, e o que é pior, que já tinha suas sementes adquiridas por outras tribos. 

 

Daí, chegamos ao estado do nosso negócio onde são lembrados apenas alguns atores. Normalmente os mesmos, que igual a todos nós, a cada dia que passa, representam uma geração cada vez mais velha. E os novos?, e as novas gerações?

 

Desta vez não vou me repetir. Quase sempre falo sobre isso. Quase sempre destaco a necessidade do novo. Mas agora que estamos literalmente recomeçando, podemos sim, temos tempo para tentar dar espaço ao novo. Não somente o meu novo “filho” ou “filha”, mas sim o novo artista, aquele que está aí esperando que estrelas consolidadas doem um pouco do seu brilho para eles.

 

Existe uma máxima no mundo do empreendedor que diz que na adversidade é que devemos empreender. E digo aqui, que mesmo que as alegadas estrelas da música da Bahia não queiram ou não saibam como ajudar ao novo, que o mercado como um todo comece a mostrar a nova cara do carnaval da Bahia.

 

Alguém disse em algum momento quando se propalava o fim do ritmo (gênero) axé, que estava nascendo um novo Axé – salvo engano foi usado o termo New-axé. Pode ter sido e deve ter sido uma grande jogada de marketing, mas agora realmente podemos fazer surgir essa nova história.

 

O gênero Sertanejo, conseguiu criar novos ídolos e, nem por isso, os já consagrados foram esquecidos. E por que nós não?