
Há poucos dias o Bahia Notícias e outros veículos noticiaram que Claudia Leitte e Ivete Sangalo fariam, juntas, uma live na data do Carnaval. A data escolhida, creio eu, foi uma forma simbólica de entender que o Carnaval não foi esquecido e ao mesmo tempo homenageá-lo.
Achei muito bacana da parte das cantoras essa iniciativa de fazer uma live no período momesmo. Gesto digno de aplausos, mediante o fato de que todo mundo vai estar em “casa” (#sqn). Confesso que na hora que li a matéria achei muito massa. Que beleza! – pensei eu – precisamos de mais inciativas assim! Vai ser muito bom, ainda mais que as duas devem cantar os grandes sucessos de Carnaval e da carreira das citadas.
Mas daí, algo sempre fica a desejar e, a depender do que seja feito, a sensação que tenho é de um grande “Déjà-vu”. Nada contra quem vai fazer live, até porque, como disse, as iniciativas têm que ser incentivadas. Mas, numa observação mais detalhada e tratando nosso produto musical enquanto comércio, notadamente enquanto o mundo todo evoluiu se tratado do ritmo axé, paramos na década de noventa e de lá não saímos mais.
Digo isso porque, em se tratando de novos valores, muito pouca coisa aconteceu nesse lapso temporal de mais de vinte anos. Repare bem que esse texto reflete o mesmo assunto – renovação da música baiana, mais precisamente do axé – mas com outra abordagem. Enquanto outros ritmos nacionais criaram novos ídolos, mantendo ainda os já consagrados, no axé músic – que pra mim se tornou um ritmo dentro da nossa música – nenhum artista novo conseguiu se tornar sucesso nacional.
Nessa história toda, menos mal com a mea-culpa feita pelos empresários – principalmente os que direcionavam a música baiana – de que nunca quiseram renovar nosso mercado, principalmente o ritmo axé.
Acho muito bom ouvir Ivete, Bell, Durval, mas também seria bom saber que novos nomes com seus dezenove, vinte e poucos anos – reitero mais uma vez que estou falando do axé – estivessem aí abrindo seu espaço e tendo voz para conseguir crescer no mercado musical local e nacional.
Mas você que lê essa coluna agora pode estar pensando que outros ritmos baianos, como por exemplo o pagode, permaneceram em alta no mercado. Daí somente para lembrar: o pagode, diferentemente do axé, já teve diversas figuras que ascenderam à condição de primeira grandeza durante esses anos que se passaram. Da minha parte seria até ingrato citar nomes, mas desde o começo dos anos 2000 que nomes locais ou quase nacionais surgem no universo pagodeiro.
Agora mesmo, com a volta do funk ao cenário nacional, com as “Anittas” da vida, e com o advento das redes sociais – TikTok, Instagram (Reels) – o mundo já conhece o novo pagode baiano. Quando digo mundo, me refiro ao mundo que sai à rua, o mundo de quem dança na rua, que se glomera, que adora festa, que dança atrás de um carro com a mala aberta na praça, na praia, enfim, o “novo” mundo.
Bota aí na rua o som de: O Poeta, O Maestro, A Dama e Menor Nico. Tenha certeza que quase todo jovem vai dançar (digo quase todo pra não fechar em cem por cento). E isso é o novo pagode, gostem ou não. Mas aí eu pergunto: e o novo axé? Onde está? Quem coloca no paredão o novo axé? Quem dança na rua? Quem?
Como pra bom entendedor meia resposta basta, volto a dizer que aplaudo e vou aplaudir qualquer iniciativa dos nossos cantores em fazer lives no período de Carnaval. Todos terão meu respeito e admiração. Meu e da geração que represento. Mas artisticamente falando, sinto falta do novo axé, da nova cantora e do novo cantor ou banda.
Daí, nesse momento o que resta é algo que sempre temi: colocar o dedinho pra cima e cantar as grandes músicas que o ritmo axé lançou no passado.
Literalmente, viva para o Carnaval.
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