
Ano de 2016, “as que comandam vão no tra, tra, tra”. A música mais executada no carnaval daquele ano, “Metralhadora”, era até então executada por uma banda desconhecida, com uma cantora até aquele momento totalmente desconhecida. Corta para o ano de 2020. Ano de pandemia, Carnaval da Bahia tentando se reerguer perante a chegada de novos valores ao cenário nacional. Corta novamente para esse mesmo ano, porém para outubro de 2020. A cantora Tays – esse é o nome daquela que fez sucesso em 2016 no carnaval de Salvador – expõe de forma “casual” no confinamento que passa no programa da Rede Record, “A Fazenda”, as mazelas pelas quais passou quando à frente da banda que emergiu na supracitada folia – Banda Vingadora –, na qual ganhava meros 0,8% do cachê total – dito por ela – por apresentação.
Repare que não me refiro nem a valores fixos, pois valorar aqui seria entrar no mérito da discussão de culpabilidade ou não dos seus gestores à época. Mas, como não sou juiz, nem estou aqui para fazer juízo de valor sobre os atos de outrem, prefiro falar somente em percentuais, o que também torna o texto menos denso. Menos denso, mas nem por isso menos absurdo – se comprovado o fato.
Bem, feita essa introdução, acredite, o assunto a ser colocado aqui nesse texto não é o fato em si, mas a forma com que se relacionam artista e agenciador (empresário) no mercado cultural, principalmente no mercado musical. Falas como essa da cantora/influenciadora digital são ecos de tantas outras, que já vociferaram tempos atrás, e quiçá ainda ressoam nesse Brasil afora.
Exemplificando uma relação empresarial, a mesma funciona mais ou menos assim: a “voz” tem uma possibilidade de futuro por conta da afinação, beleza, essas coisas, mas não conhece o mercado ou não tem condições de bancar o seu começo. Daí a “voz”, por obra do destino, conhece alguém – o empresário – que investe tempo, dinheiro, sua influência – caso a tenha – e um pouco mais para fazer com que aquela parceria dê certo.
Toda parceria estabelecida naquela relação que se inicia é lavrada em um contrato, com “direitos e obrigações” de ambos, com multa e tudo mais. Bem, o problema normalmente surge quando tudo começa a dar certo. E aí vem quase sempre queixa das partes.
O empresário alega – quase sempre sem comprovação efetiva – que gastou tubos de dinheiro para fazer a “voz” se tornar um sucesso. Coloca na ponta do lápis – normalmente lápis mesmo, se é que me entendem – tudo que fez para aquele sucesso acontecer. Das terras movidas, aos rios desviados, só falta dizer que reabriu o Mar Vermelho da mesma forma que Moisés. A choradeira de gastos é sempre imensa.
Por regra do mercado o mesmo sempre acha – e quase sempre acontece – que a estrela musical, no momento que estiver fazendo sucesso, vai dar um belo de um chute nos seus fundilhos, fazendo com que o mesmo fique fora do processo na parte mais importante que é a “colheita” de todo o projeto. Pensa o empresário que todos os agenciados são iguais mudando apenas a cor da pele e de gênero, mas no fundo o que querem mesmo é usar o pobre coitado.
Já a “Voz” alega para quem quiser ouvir que já nasceu pronta. Jura por tudo que é mais sagrado que o tal empresário nada fez para o sucesso do projeto, ficando tudo ao Deus dará e sendo fruto do seu talento. E ainda vocifera que aconteceu porque estava escrito que iria acontecer. Entende sempre que está havendo desvio de dinheiro – o que nem sempre é desta forma. Para a estrela musical, o empresário é sempre mal- intencionado, e por aí vai.
Em verdade essa relação é algo como esfomeadas Hienas e Leões no meio da savana. Estão morrendo de fome, veem a possibilidade de conseguir uma grande caça e, quando a tem, querem comer tudo sozinho pois não confiam um no outro.
O princípio aqui é da confiança. O que está em jogo com a fala de qualquer artista é poder entender que a pessoa a quem confiou a carreira vai, na hora da prestação de contas ou dos ajustes contratuais, ser honesta e justa. O que tudo isso demonstra é o ditado popular de “farinha pouca...”. Querem garantir lucros vultuosos, pois a rasteira virá no momento oportuno.
Quem está certo nesta relação? Não sei. Quem, artista ou empresário, pensou primeiro em “trair” a confiança do outro? Não sei. Como isso se resolve? Tá aí, deixo essa pergunta para o leitor desse texto. Reflita, opine e responda como se resolve esse dilema.
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