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Luis Ganem: A idade da pedra

Por Luis Ganem

Luis Ganem: A idade da pedra
Foto: Divulgação

A pergunta que mais tem sido feita nesses tempos é: quando teremos novamente shows? Quando o entretenimento vai voltar? Dizendo isso, estou me referindo, em princípio, aos grandes eventos da música, os chamados festivais – eventos que têm mais de uma banda tocando, que normalmente levam um dia todo com milhares de pessoas. Lógico, a reboque disso coloque também, dentro desse universo, os shows individuais – turnês, apresentações especiais e etc... nas diversas esferas culturais – e nisso incluem-se os diversos elementos da cultura em geral.

 

Esse quadro de incerteza, até então, era uma pergunta que não tinha resposta. O universo musical ainda respirava o começo da pandemia quando foi feito o questionamento. Ainda era tudo muito nebuloso, de muitos achismos sem que se pudesse ser desenhado nenhum rabisco do que aconteceria com o mercado, local e nacional. Mais eis que, com o passar dos dias, semanas e a partir das LIVES – ou como bem disse Geraldo Azevedo, dos AO VIVOS –, rabiscos de um novo mercado comercial apareceram tímidos, rareados, mas lúcidos e sensatos.

 

As apresentações que aconteceram nesse período via rede social deram uma base de como pode vir a se comportar o mercado dentro em breve, e como essa nova forma – que não é absoluta, mas apenas intuitiva, diga-se de passagem – pode vir a atingir quem trabalha nele como um todo. 

 

Se é fato neste momento que os grandes shows acabaram, é importante frisar também que as grandes estruturas podem estar com os seus dias contados. Quando digo grandes estruturas, falo dos grandes artistas e suas equipes de dez, vinte, trinta pessoas. Se o mercado só atendia essa expectativa de gente, quando tinha muito, mas muito bilhete para vender e consequentemente vendido, imagine agora para um momento de contaminação.

 

Prevendo um cenário que espero sinceramente estar totalmente errado, imagine como seria essa mudança. O (a) grande artista, acostumado à sua enorme equipe, teria no máximo a contar com ele, três componentes e olhe lá. Esse desenho que formato no horizonte seria o numero aceitável de pessoas por produto. Podem dizer que estou sendo pessimista ao extremo, mas enxergando o mercado de forma analítica e imparcial, o que vai voltar (se voltar) a médio e longo prazo serão pequenos eventos e, pelo tamanho que se propõem, não poderão ter no seu custo algo muito grande, como por exemplo uma banda completa e mais componentes de produção, justamente por conta da planilha de custos.

 

Por tudo isso é que pequenas estruturas, quase mínimas, projetos especiais, produtoras voltadas a música intimista – quando se ouve sentado, sem muitos arroubos – estariam novamente em alta. Significa que estaríamos voltando aos primórdios, quando um artista ia para a estrada somente com o produtor, que quase sempre fazia as vezes de tudo (técnico de som, roadie, técnico de luz e um tudo mais que tivesse de ser), sua voz, seu instrumento e mais nada. 

 

Mas continuando meu mundo de possibilidades absurdas de acontecer – ou não –, quem sairia na frente nesse no novo show business seriam os artistas nacionais e locais que já fizessem do seu ofício um banco, um computador – com o som da banda toda pronta no software – e seu instrumento.

 

Esse hipotético cenário, no que diz respeito a shows apenas com o artista, um músico e toda uma estrutura tecnológica, já acontece de uma forma ou de outra. Artistas como Flávio Venturini, Guilherme Arantes, Jorge Vercillo e muitos outros que poderia aqui enumerar já têm montado shows solos. É só procurar no Youtube.

 

A pergunta que fica é como um mercado igual ao da musica baiana, voltado ao entretenimento de massa e com uma música em nada intimista, concebida a partir de uma festa em que o contato de corpos é a coisa mais que natural, iria se remodelar a tudo isso. 

 

Certo que nossos artistas começaram em bares, cantando na noite apenas com a sua voz e um músico – quase sempre um violonista – acompanhando. É certo também que por conta disso detêm o conhecimento e o know how pra voltar a fazer o formato que hora fantasio. Mas será que conseguiriam o mesmo cachê aplicado até meses atrás com o número de pessoas que os acompanham?

 

Como seria a vida sem os vultuosos valores? Como seria para o (a) grande artista do ritmo axé, por exemplo, cantar outros estilos? Sei que para essa pergunta todo dirão que seria simples. Mas seria mesmo? 

 

O certo é que, se os shows musicais serão os últimos a voltar, talvez – e mais uma vez quero estar cem por cento errado – o formato que vai vir, pode estar um pouco mais perto do meu dantesco exemplo do que daquele que deixamos antes da pandemia.