Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote
Você está em:
/

Coluna

Ildazio Jr.: Uma Ópera Baiana

Por Ildazio Jr.

Ildazio Jr.: Uma Ópera Baiana
Foto: Henriqueta Alvarez / Divulgação
Quase vinte e cinco anos atrás eu, então com 28 anos, fui apresentado ao fabuloso universo da Ópera. Ildásio pai, que já era autor de uma peça de teatro, “O Barão de Santo Amaro”, a transformou em libreto para se transformar na Ópera Negra Lídia de Oxum juntamente com a música fantástica do maestro Lindembergue Cardoso, a fazendo acontecer primeiramente no Teatro Castro Alves e logo na sequência na lagoa do Abaeté. Ele trouxe assim à terrinha a primeira ópera negra e cantada em Iorubá e Português do mundo! Tinha que ser na Bahia, essas coisas só rolam aqui, acreditem!
 
Bom, em 2014 iniciei o processo de pagamento da promessa ao meu inestimável pai, feita quando de seus últimos momentos entre nós, que era reeditar Lídia, sua grande vontade! Com passos lentos, uns curtos, outros mais largos, porém todos calmamente estudados, lá fui ao mundo rodar e buscar cada retalho desta colcha belíssima que ora estamos dando os acabamentos finais e que estreia dia 2 de novembro, novamente no Teatro Castro Alves. Como disse no início do texto, o universo da Ópera é fantástico, mais nobre, porém mais caro, minucioso e trabalhoso para produzir. Diria que se trata de uma tarefa Hercúlea!  Criar um projeto no papel, na tela, para daí formatar para apresentar em leis de incentivo, com todas as suas regras e burocracias. Investir em passagens, hospedagens, táxi (o Uber só de 2016/17 para cá), estacionamentos (sim, amigos, 5 anos estacionando carro custa caro!), cafés, almoços, gasolina... Marcar reunião (muitas inclusive que não levam a canto nenhum), desmarcar reunião que você já contava como grande chance de patrocínio, vestir paletó, visitar autoridades, vice-autoridades, quase autoridades, possíveis empresas patrocinadoras, chatear os amigos. Além disso, formar um núcleo artístico de alto nível, com diretor, coreógrafo, cenógrafo e cenotécnicos para construírem uma verdadeira mini cidade, figurinistas e costureiras para criar e vestir todos os 110 participantes, maestros, músicos, bailarinos, cantores, solistas, percussionistas, alugar teatro, som, luz, camarim, maquiadores,  Hair & style... ufa! Larguei sozinho e chego hoje, 5 anos depois, com mais de 200 pessoas que acreditaram em meu sonho. Que orgulho!
 
Essa Ópera Baiana e Negra conta a história de amor inter-racial, no período pré-abolição, entre membros do Engenho Esperança, Lídia, e do Engenho Corrente, Lourenço, que acaba de voltar de surpresa de Lisboa sem o pai e Barão de Santo Amaro, Teodoro,  saber. E para piorar, com ideais abolicionistas! O espetáculo, além de homenagear a data em novembro que apela para que se tenha uma Consciência sobre o histórico desse país racista, chega questionando o conservadorismo que assola o país, o machismo, poder da mulher na sociedade atual que sabe fazer acontecer. Lídia são todas as mulheres negras livres, belas, com o poder de tocar suas vidas e dos seus na sua batalha com honradez, altivez e orgulho.

Lídia chega em um momento onde a Bahia se mostra resistência mais uma vez em um cenário onde o poder deste tal  homem branco impera! Precisamos combater essa chaga para que tenhamos uma sociedade mais justa, mais negra e mais feminina!
 
Venha assistir Lídia e Viva a Bahia!