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Luis Ganem: Ju Moraes, à procura da mágica

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Ju Moraes, à procura da mágica
Foto: Divulgação
As novidades andam escassas em nosso mercado musical. Nada de novo tem acontecido na terra. Alguns ensaios de novos modelos de mercado, novos atores para uma mesma cena, a propagação do pagode pegação – em verdade o termo é outro, mas manteremos esse pela tradição e pelos bons costumes. Mas somente isso – o que é muito pouco, diga-se de passagem.
Bem, continuando a prosa, eis que algumas semanas atrás fui convidado a assistir um novo projeto, um recomeço. Fico sempre ressabiado com esses recomeços, pois quase sempre não dizem nada, sendo apenas ego inflado de artista sumido, tentando um espaço.
 
E lá fui eu assistir a esse novo momento proposto por Ju Moraes. Ela mesmo! Cantora/compositora que tem na sua base enquanto referência o samba, resolveu – não sei se a palavra é essa – desenvolver um outro momento, fora do que a fez conhecida.
 
Confessando aqui meu quê de curiosidade, antes de literalmente ouvir o novo, me coloquei também a ouvir e relembrar um pouco da trajetória da cantora. Até para se fazer um comparativo, era preciso relembrar a história desde o Samba de Ju – projeto que lançou a cantora no mercado musical –, até as suas mais recentes parcerias, aí já em carreira solo (desde 2012 a cantora está em carreira solo).
 
Tendo feito isso, terça-feira, o grande dia. Já no carro, pra não perder a lógica, fui ouvindo a cantora. Rolaram nas caixas de som músicas como ‘Todavia’, ‘A menina dança’ (regravação feita em ritmo do forró) e muitas outras que compuseram sua trajetória. Por falar em trajetória, preciso ressaltar que Ju Moraes tem uma trajetória musical, por assim dizer... variada. Tendo como base o samba, Ju nesses anos de carreira passou também outros momentos, que foram do romântico à salsa.
 
Desço do carro, já pensando que estou atrasado. Pelo fato de o show ser na Sala do Coro, já comecei errando, pois deixei meu carro no estacionamento que fica na curva entre os bairros do Campo-Grande e do Canela – poderia ter deixado no estacionamento anexo feito há pouco tempo no teatro. Mas, enfim, o que não tem remédio, remediado está.
 
Sabia já há algum tempo, conversando com a equipe de gestão da carreira da cantora, que esse novo começo em nada tinha a ver com samba. Olha, desassociar a cantora do samba era algo que, nem nos melhores sonhos, conseguia enxergar, mesmo tendo ouvido outras vertentes dela.
 
Desço as escadas meio que correndo – licença poética –, chego quase no fechar das portas. Fila pra entrar; nada demais! Daí, lembro que sendo um dos últimos, será difícil ter uma boa percepção do som! Mas já era tarde. Tive que ficar lá na parte de cima da Sala do Coro.

Teatro lotado! Cento e muitos lugares repletos de amigos, admiradores, família e... curiosos iguais a mim. Antes do abre cortinas, me pego cantando a música ‘Chegue chegando’; dei risada sozinho parecendo um maluco. E finalmente entra Ju Moraes. Começa cantando a música que propôs ser a música de trabalho chamada: “Mágica”. A primeira coisa que noto é que a forma de vestir está diferente – não sei se pelo show, pelo local ou se é uma mudança mesmo. De logo o que percebo é que a pegada sambista já não se faz mais presente. Lógico! – penso eu –, a artista está tentando não rotular sua arte. Com essa sua passagem por outras pairagens que não a sua de origem, Moraes põe sua cara a tapa para a crítica do mercado musical.
 
E o show continuou. Tudo muito minimalista, tudo marcado, desde luz a formação de palco composta apenas por um baterista, um baixista, um guitarrista e só. De começo, vi uma Ju meio desambientada.Talvez acostumada a entrar já na cadência do samba, deve ter sido estranho ter um outro tipo de marcação percussiva compassando o começo. Mas, depois a mesma relaxou. Em uma mescla de antigas e novas músicas, me pareceu tudo sob controle, eu disse: pareceu.
 
Disse pareceu, pois pequenos detalhes, algo simples pra quem quer carreira solo e sem rótulos, tem que ser notados. Por isso, fora uma artista aparentemente nervosa – o que é normal – a sua banda de apoio deixou um pouco a desejar. Certos sons – na minha visão – exigem musicalidades específicas – que ficaram a desejar com Ju. A musicalidade proposta por ela definha quando repassada pelo contrabaixo que, interposto ao que praticavam os músicos da guitarra e bateria, mantinha um som meio axé, com frases prontas e previsíveis, meio que fora do contexto, posso dizer, um musicalmente fraco para o estilo proposto, deixando uma sensação de espaço vazio no novo som de Ju Moraes.
 
No mais, a maturidade virá com o tempo. Por enquanto o som de Ju parece um grande ensaio para algo maior. A artista demonstra vontade quando se propõe, mesmo que tenha sido mais um show de reggae do que outra coisa. Erros e acertos fazem parte de qualquer empreendimento. Apenas a manutenção dos erros e a insistência perante o comprovado é que mostrarão, a médio prazo, a diferença entre o sucesso e o fracasso.