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Luis Ganem: Tudo como dantes no quartel de Abrantes

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Tudo como dantes no quartel de Abrantes
Foto: Divulgação

Carnaval passou e está “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Ou seja: voltou a ficar tudo igual, nada mais acontece, nada mais se fala. O interessante nisso é que o brado que exigia e exigiu, com a chegada do carnaval, mudanças, espaço, voz e vez, com o fim da festa abaixou o pano, saiu de cena, sumiu e, mais uma vez, esperaremos um ano para que tudo venha a ser “rediscutido” e nada efetivamente seja resolvido.

 

Pra quem não conhece a frase que coloquei no começo desse texto, sua história e o que isso tem a ver, deixa eu contar de forma rápida um pouco da história para poder me fazer entender. 

 

Contam os anais que, com a chegada das tropas francesas e dada a fuga do Rei de Portugal para o Brasil no século 19, dentre muitas cidades tomadas pelo povo de Napoleão, uma foi a cidade de Abrantes, que fica a 152 km de Lisboa. Lá foi instalada a base de operações do exército Francês. Daí – encurtando a história – na volta do Rei a Portugal –, depois da vitória do povo contra as tropas francesas, ajudados pelos ingleses –, a monarquia foi restabelecida, menos na cidade de Abrantes que estava “como antes, na mão dos Franceses”. Daí a célebre frase: “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

 

Mas o que isso tem a ver com o nosso carnaval? Tudo. A frase popular que tomou as ruas de Portugal e ressoou por essas bandas desde o nosso Brasil Colônia cabe como uma luva na nossa repetitiva história carnavalesca. 

 

O carnaval simplesmente saiu da pauta. Seja nas ruas, nas produtoras, na mídia, ninguém mais fala da festa. Se a pauta parecia – como sempre parece todos os anos – uma causa inadiável, ao que parece se tornou fria, quase gélida.

 

Mas e daí, se todos os anos a coisa fica desta mesma forma, que diferença faz? Poderia perguntar agora algum Moicano menos entendedor do assunto. A resposta seria, sem pestanejar, que se o planejamento é pra ser feito de forma a se consultar a sociedade artística como um todo, é preciso que seja feito a partir de agora, colocando os pontos críticos na mesa, ao invés de ficar esperando o tempo passar, a festa chegar, e viver todos os dessabores dos preteridos ou não contemplados.

 

Tanta coisa que poderia ter um começo de discussão agora. Que não precisaria deixar pra cima do carnaval. Coisas simples como, por exemplo, tentar diminuir a escassez de trios a partir de certo horário da noite (esse efeito acontece porque os trios contratados aceleram o passo, ficando um colado ao outro). Como sugestão para isso, poderia se criar pontos de passagem no circuito, em que o trio tivesse que passar dentro daquela zona de tempo, nem mais rápido, nem mais devagar. Inclusive esses pontos serviriam para especificar a distância real entre um trio e outro. Dentro dessa regra poderia também se estabelecer uma zona de tempo mínimo e máximo para que um bloco desfilasse – grandes atrações acabam sempre andando mais rápido e frustram o folião.

 

Poderia colocar aqui várias ideias que repercutiriam de forma positiva principalmente para o folião pipoca. Mas a ideia não é dizer como deve ser feita a festa, nem fazer valer meu pensamento, mas instigar os interessados para que se comece a lançar ideias na mídia com uma antecedência que permita a discussão antecipada e a sua efetiva aplicação quando da chegada da festa.

 

Se mais uma vez deixarmos tudo para a última hora – sei que a festa é pensada o ano todo pelas gestões municipais e estaduais –, ao invés de andarmos para frente, continuaremos com a mesma dinâmica de um bloco com cordas: a frente puxa, e o fundo freia.

 

E “Continua tudo como dantes no quartel de Abrantes”.