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Luis Ganem: Cabeça de Samba-Reggae

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Cabeça de Samba-Reggae
Foto: Divulgação

Uma pergunta tem incomodado os leitores desta coluna. Apesar de ser uma pergunta pertinente, a mesma é redundante, visto que sempre se propaga perto do Carnaval. Pergunta que, tanto hoje quanto ontem, expressa uma realidade, posso dizer, ainda bastante presente, mas temerária em nossa música: a renovação musical.

 

Nesse ano que passou, se no aspecto renovação quase nada ou nada de novo surgiu – e aqui não falo do pagode baiano, mas sim do Axé baiano, que fique bem claro – alguns outros movimentos, mesmo tímidos, aconteceram no mercado musical baiano. Nada grandioso, mas deveras significativo. Falo do movimento para reviver ritmos outrora perdidos e que muito foram importantes para o crescimento do mercado baiano. Sendo mais específico: estou falando do Samba-Reggae. 

 

Já existe há algum tempo meio que uma tentativa de retomada do ritmo em questão. Tendo em vista tudo o mais que foi tentado por nossas bandas como, por exemplo, banda de Axé fazendo Arrocha, Sertanejo e mais um bocado de coisas meia-boca, comprovou-se ou vem-se comprovando ser uma barca furada tentar surfar na onda, no modismo. Por conseguinte, nada mais justo que, de forma repaginada, o Samba-Reggae volte aos holofotes, restituído ao repertório dos principais artistas baianos.

 

E nessa nova versão, algumas figuras têm sido importantes na tentativa. Mas, antes de contar e citar novamente quem são esses importantes personagens, quero fazer uma pequena lembrança pra quem não lembra ou finge que esqueceu porque fomos vanguarda no mercado artístico Nacional.

 

Falando a grosso modo, quando a nossa música invadiu o Brasil, o que começamos a vender foi o amor. Nossa música falava, e muito, do momento da paquera, do flerte. Lógico, falava também das nossas mazelas, da realidade do nosso povo, mas de uma forma voltada de dentro pra fora. Diga-se de passagem, erámos nós que vendíamos aos demais cantos do País a nossa estrutura harmônica, eram eles que respiravam nosso som e não o contrário, como acontece atualmente. Estávamos na crista da onda. A batida cadenciada, a forma peculiar da percussão oriunda da genialidade de Neguinho do Samba, era de parar "Gregos e Troianos”, “Soteros e Politanos” e fizemos isso anos a fio.

 

Pois essa essência foi perdida a partir dos anos 2000. As já propaladas brigas internas para ganhar o mercado – que agora todos negam –  junto às prementes necessidades de se ganhar dinheiro em detrimento da qualidade musical, contribuíram muito para a extinção comercial quase que completa do ritmo que levou a Bahia para os quatro cantos do Brasil e do mundo. O Samba-Reggae se tornou apenas um sopro de lembrança em momentos isolados. Só se tocava o ritmo quando a exigência das palmas e da manifestação do público era importante. Nessas horas, “gritos de guerra” a exemplo do famoso ‘eu falei faraó!’, ecoavam caixa de som afora, fazendo com que a massa humana respondesse de forma uníssona. E lá estava o Samba-Reggae a salvar mais um show.

 

Pois bem, tendo dito isso tudo, eis que de alguns anos pra cá, entusiastas da nossa música e do ritmo em questão, resolveram tentar mudar essa derrocada. Ídolos como o cantor Saulo Fernandes começaram a fazer esse resgate de forma tranquila. Saulo mesmo, no seu primeiro trabalho solo denominado ‘Saulo ao vivo’, gravado na Concha Acústica de Salvador, deu algumas pinceladas na volta do ritmo. Em um trabalho repleto de sons ao mesmo tempo tão comuns, mas que ressoaram tão perfeitos dada a forma como foram apresentados, Saulo imprimiu um misto de orgulho e emoção, que, confesso, marcou.

 

Em outras oportunidades, com a generosidade que lhe é peculiar, Saulo continuou sua jornada em defesa do Samba-Reggae. Do trabalho ‘O azul e o Sol’ de alguns anos atrás, na faixa ‘Deixa lá (dê Xalá) foi impresso também mais um grão de lembrança na memória dos esquecidos e, agora há poucos dias, no seu mais novo EP, Saulo desfila com diversas músicas no estilo, inclusive revivendo grandes sucessos do ritmo. Para bom entendedor, nem precisa dizer mais nada.

 

O bom disso tudo é que, nesse novo momento, o ritmo ganhou um grande reforço. Cláudia Leitte resolveu apostar para o Carnaval suas fichas no Samba-Reggae. ‘Saudade’ é a música de trabalho feita para a folia de Momo. Há muito tempo Cláudia devia uma música que estivesse à altura da sua expressão. Não quero dizer com isso que os trabalhos anteriores não foram bons, mas faltava um quê a mais, um charme no som, e dessa vez creio que ela conseguiu encaixar esse detalhe sonoro. Tudo isso se soma para enaltecer o Samba-Reggae, que agora, além de Saulo, tem defendendo sua volta, repaginada ou não, mais um expoente do primeiro time da nossa música.

 

Não falei de outras estrelas do axé, pois infelizmente não fui municiado por seus representantes de algo que pudesse ouvir. Espero que ainda mandem, pois a nossa música gera emprego e renda e, se ela se fortalece no mercado, ganham todos indistintamente, direta ou indiretamente.

 

E o pagode? O pagode, elas bebem e a gente paa! Paga a conta.

 

Vejo vocês na Avenida! Só cuidado pra não me confundirem com o Rei Momo...