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Luis Ganem: A história de Ademar Furtacor nos deixa um alerta

Por Luis Ganem

Luis Ganem: A história de Ademar Furtacor nos deixa um alerta
Foto: Divulgação

Por esses dias estava pensando de novo: Será que o artista está preparado para o outro lado do sucesso? O quanto ele constrói de vida fora da música para garantir o seu futuro, depois que a boa maré passar, ou a idade chegar?

 

Voltei a fazer esse tipo de questionamento, desde que fui assistir ao show beneficente que os cantores Saulo Fernandes e Luiz Caldas fizeram em apoio ao cantor, compositor e arranjador Ademar Andrade ou Ademar Furtacor, que passa por um momento delicado na vida e recebeu esse instante de generosidade desses fantásticos seres humanos. Pra quem não conhece a história de Ademar, posso dizer que a história da música contemporânea da Bahia, no que diz respeito ao Axé Music, se confunde com a história desse artista. 

 

Oriundo das bandas musicais que antecederam o movimento – das quais nesse texto não vou me aprofundar em falar –, Ademar ascendeu e escreveu seu nome na história da música, quando, num dia, Baby Consuelo (na época uma das principais cantoras da Bahia) impediu que o trio dele saísse do circuito (pelo fato de a mesma estar tocando para uma emissora de televisão), fazendo com que um Ademar já cansado de esperar, e dada a arrogância dela (diz-se que ela chamou o carro dele de caixinha de fósforo) cantasse e tocasse a versão de Charles Gounod da música Ave Maria e fizesse com que todos, inclusive Baby, parassem para observá-lo. Surgia então o conhecido Ademar da banda Furtacor. 

 

Ir ao show em homenagem a Ademar foi pra mim motivo de uma reflexão muito séria. Por que isso? Se um fenomenal Ademar, que era um empreendedor nato (tinha dentro do seu escopo profissional um estúdio de gravação), sucumbiu com a derrocada das gravadoras e por estar fora dos palcos por conta da saúde, por não ter feito o chamado “pé de meia”, se viu em um momento difícil, imagine o músico que nada tem de empreendimento e que nunca foi instigado a abrir um outro negócio fora da música. 

 

Isso tudo me fez ver, logo de cara, que a música ainda é vista, por si só, como uma carreira romântica. Lógico que hoje, mais do que nunca, o viés empresarial e comercial tem tomado conta do mercado. Mas ainda existe um quê lúdico que exerce fascínio dentro desse universo. 

 

Por ter estado boa parte da minha vida ligado, de forma direta ou indireta, ao mercado musical, ficou claro que a falta de conhecimento ou de instrução fez e faz com que muitos músicos e artistas não saibam “trabalhar” seu dinheiro para garantir um sustento no futuro.

 

Dito isto, é importante ressaltar que, se existe falta de sensibilidade e vontade por parte de alguns gestores artísticos, outros conseguem enxergar além do próprio umbigo e já tentam estabelecer com seus empresariados um leque de possibilidades de investimentos.

 

Alguns empresários inclusive já estão gerando novos negócios que não envolvem em nada o meio musical, colocando seus empresariados como sócios. Esses negócios vão da área da alimentação, passam pela pecuária e chegam até aos investimentos financeiros, trabalhando com empresas como, por exemplo, a Bahia Partners que atua na área financeira.

 

Ir ao evento em apoio a Ademar me chocou bastante pela realidade encontrada. Não que seja algo inusitado, mas por perceber que, assim como antes, o mercado ainda hoje não se propõe a incentivar e mostrar que se pode e deve fazer negócios fora do meio. Por ser o meio artístico algo muito lúdico e romântico, ter os pés no chão e investir bem o esforço do seu suor é menos importante que noites nababescas, em que a farra e “Hollywood” são mais prioritárias do que a garantia do futuro.

 

Quer um conselho? Converse com seu empresário, peça ajuda a ele. Caso ache que ele não tem uma boa visão de futuro, mude de empresário – o que eu recomendo – ou procure ajuda de um profissional financeiro.

 

Por enquanto, vou ver novamente o desenho da formiga e da cigarra, pra ver onde eu estou errando.

 

Ho, ho, ho. até próxima!